Um texto, publicado no Blog do Noblat, vem despertando a indignação não só dos defensores dos animais, mas também de todo aquele que tem uma causa de verdade pela qual lutar. É o texto intitulado “Salvem os seres humanos!”, da publicitária pernambucana Téta Barbosa, em que ela assume ignorância em relação à significância da causa animal, mas transforma essa ignorância em preconceito, discriminação, falsa dicotomia e também hipocrisia.
Inicialmente ela confessa que, de alguma forma, não gosta de animais não humanos (vide início do texto – “Eu gosto de animais, com ressalvas, muitas ressalvas”) nem nunca teve qualquer contato afetivo com eles, nem mesmo com animais domésticos. Diz que no passado temia muitas espécies de animais, até cães, gatos, coelhos e hamsters, e os únicos “bichos” com quem tinha contato frequente eram de pelúcia. E prossegue dizendo que não compreende a comoção e defesa das pessoas pelos animais, nem o furor da campanha pela ampliação da pena por maus-tratos (incluindo abandono) contra animais não humanos.
Bem que ela poderia aproveitar isso para assumir que não conhece a essência do movimento de defesa animal e por isso deveria evitar dar uma opinião sobre o que não sabe. Mas não foi o que aconteceu. Ela converteu seu desconhecimento na ignorância em seu sentido mais negativo e começou um discurso de que nem os animais, nem seus defensores, nem os ativistas humanitários que ela finge apoiar precisam.
A escrita que segue é nada mais do que uma versão prolixa da velha máxima reacionária “Por que vocês perdem tempo defendendo animais enquanto tem tanta criança morrendo de fome por aí?”. Investe numa dicotomia que não existe entre os defensores dos animais e os filantropos humanitários – e ignora que há muitos por aí que têm esses dois atributos ao mesmo tempo. E ainda ousa:
a) tentar convencer o Greenpeace a trocar o ambientalismo pela segurança pública em sua pauta ativista;
b) afirmar erradamente que a entidade ainda defende baleias – quando na verdade a ONG abandonou a causa há alguns anos, sendo ela abraçada hoje, mais notadamente, pelo Sea Shepherd;
c) sugerir que o mesmo Greenpeace venda seus navios para custear a alimentação dos moradores do Coque (um dos bairros mais pobres de Recife/PE);
d) reduzir o problema dos mesmos moradores do Coque à alimentação, ignorando questões como educação e emprego – o que mostra que ela sequer sabe defender a causa que diz ser “superior” à causa animal;
e) sugerir como tema de manifestação ou ação ativista o bordão “Salve os seres humanos!”, como se existisse ativismo de engajamento em causas tão difusas e vagas sem escolher uma pauta e objetivo específicos (como a assistência aos menores abandonados de Recife ou a capacitação empregatícia dos jovens do Coque);
f) o principal: não se oferecer a nenhuma causa humanitária em seu discurso, preferindo, ao invés, dar sua “grande contribuição” ao mundo tentando rebaixar a causa dos outros, mandar no que esses outros defendem e chamar sutilmente os animais não humanos de seres inferiores.
b) afirmar erradamente que a entidade ainda defende baleias – quando na verdade a ONG abandonou a causa há alguns anos, sendo ela abraçada hoje, mais notadamente, pelo Sea Shepherd;
c) sugerir que o mesmo Greenpeace venda seus navios para custear a alimentação dos moradores do Coque (um dos bairros mais pobres de Recife/PE);
d) reduzir o problema dos mesmos moradores do Coque à alimentação, ignorando questões como educação e emprego – o que mostra que ela sequer sabe defender a causa que diz ser “superior” à causa animal;
e) sugerir como tema de manifestação ou ação ativista o bordão “Salve os seres humanos!”, como se existisse ativismo de engajamento em causas tão difusas e vagas sem escolher uma pauta e objetivo específicos (como a assistência aos menores abandonados de Recife ou a capacitação empregatícia dos jovens do Coque);
f) o principal: não se oferecer a nenhuma causa humanitária em seu discurso, preferindo, ao invés, dar sua “grande contribuição” ao mundo tentando rebaixar a causa dos outros, mandar no que esses outros defendem e chamar sutilmente os animais não humanos de seres inferiores.
Certas “ajudas” teriam melhor serventia se não fossem oferecidas. E também, quem assume ignorância em relação a temas como a defesa dos animais deveria aproveitá-la para buscar conhecimento sobre eles, e não transformá-la em preconceito soberbo e tentar depreciar aqueles que outras pessoas tanto amam, protegem e defendem. Além do mais, nós gostaríamos de saber qual é a causa humanitária em que Barbosa está engajada, a ponto de considerá-la superior e excludente em relação a outras causas militantes, e também que crianças ela pretenderá defender quando o meio ambiente entrar em colapso e impossibilitar a sobrevivência da humanidade.
Por fim, o pseudo-humanitarismo dicotômico de Téta Barbosa está atraindo os protestos de muitas pessoas que realmente têm uma ou mais causas a defender. É tempo ainda de continuar protestando, por via dos comentários à sua postagem no Blog do Noblat e por e-mail – enfatiza-se aqui que as mensagens de protesto devem ser educadas e racionais. E também vale relembrarmos a lição de Francisco José Papi a esse tipo de gente que tanto acha impossível lutar ao mesmo tempo por duas causas nobres como não luta por nenhuma.
Comentário
A única resposta a ser dada para a ignorância intelectual é o silêncio, opinião só os imbecis dão
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