A verdadeira face da experimentação animal


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A VERDADEIRA FACE DA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL
Sua Saúde em perigo
Sérgio Greif & Thales Tréz
Sociedade Educacional Fala Bicho (2000)
Capítulo I – Vivissecção
1.1 - O que é vivissecção
1.2 - História da vivissecção
1.3 - Os animais utilizados
1.4 - Quem financia a vivissecção
1.5 - Que tipos de experimentos são realizados
1.6 - A experimentação animal na educação
1.7 - Experimentos realizados no Brasil
Capítulo II – Antivivissecção
2.1 - Primeiros movimentos
2.2 - Porque combater a vivissecção
2.3 - Movimentos antivivisseccionistas
2.4 - As diferenças que fazem a diferença
2.5 - Perguntas mais freqüentes em relação à experimentação animal
2.6 - Literatura antivivisseccionista
Capítulo III – Pesquisa sem animais
3.1 - As Alternativas
3.2 - Métodos Alternativos na Educação
3.3 - Métodos Alternativos na Pesquisa
Capítulo IV – Os três R’s
4.1 - A origem dos Três R’s
4.2 - A evolução(?) dos Três R’s
4.3 - Justificativas medíocres e falácias dos comitês
4.4 - Os Três R’s no Brasil
4.5 - Por que após tanta documentação que prova a vivissecção como um
método falho, os Três R’s ainda serão uma tendência?
4.6 - Conclusões
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I – VIVISSECÇÃO:
1.1 - O que é Vivissecção?
O termo “vivissecção” literalmente significa “cortar (um animal) vivo”, mas é aplicado
genericamente a qualquer forma de experimentação animal que implique em intervenção com
vistas a observar um fenômeno, alteração fisiológica ou estudo anatômico.
A vivissecção encontra apoio na ciência vigente à medida que esta última se apóia em
pressupostos equivocados: a intervenção é superior à observação; o paliativo é preferente à
prevenção; a constatação só se dá pela indução de um fenômeno; a evolução das espécies se dá
por uma escala unitária progressiva e linear; entre outros. Explicando: a ciência vigente só
reconhece um fenômeno quando este pode ser repetido (no caso, induzido em animais) em
laboratório e raramente uma observação de campo é considerada, principalmente na área da
saúde; o atual sistema de saúde (saúde?) sustenta a produção e fornecimento de drogas para o
povo, quando os mesmos fundos seriam melhor utilizados se dirigidos a “evitar” que o povo
adoecesse (um verdadeiro sistema de saúde, e não um sistema de doença); apesar de ratos e seres
humanos serem ambos mamíferos, há que se considerar nossas diferenças, e não nossas
semelhanças: ratos não são seres humanos em miniatura, como a ciência vigente quer fazer
parecer, e a tentativa de extrapolação de informações de um organismo para outro geralmente é
mal sucedida, já que raramente possuímos a mesma resposta fisiológica frente a um mesmo
estímulo. Obviamente, esta é uma visão bastante simplista da coisa, já que a vivissecção não é
apenas um mero erro metodológico da ciência vigente, mas sim envolve interesses políticos e
acima de tudo financeiros.
Não é exagero afirmar que a vivissecção é um dos negócios mais lucrativos do mundo:
envolve fabricantes de aparelhos de contenção, de gaiolas e de rações, fornecedores de animais,
fundações de pesquisa que angariam fundos, conselhos de pesquisa nacionais e, é claro, muitos
cientistas. Apesar de serem proporcionalmente poucos os beneficiários da vivissecção, é nas
grandes massas que ela encontra seu apoio.
A meta principal da ciência vigente é fazer a população crer ser dependente de seus
remédios, crer que sua vida depende da morte de animais. Mesmo sabendo evitar o câncer, o
diabetes, e todas as doenças degenerativas, bem como as infecciosas, as pessoas tendem a preferir
levar uma vida de risco, para depois se entregar nas mãos da medicina, em busca de curas
milagrosas obtidas através de drogas que, quando muito, só funcionam em animais
experimentais. “Assim avança a ciência”, diriam muitos, “por que mudar justo agora?”. De fato, a
vivissecção animal não é uma coisa recente, o que não invalida a afirmação: “jamais qualquer
benefício para a saúde humana foi conseguido mediante a experimentação animal”.
1.2 - História da vivissecção
A vivissecção é uma prática antiga, que remonta aos tempos em que a religião e a ciência
não eram bem claramente distintas: Hipócrates (aprox. 450 a.C.), considerado o pai da medicina
ocidental, já relacionava o aspecto de órgãos humanos doentes com o de animais, alegando
propósitos didáticos. Os anatomistas Alcmaeon de Cróton (500 a.C.), Diocles de Caristo (séc. V
a.C.), Herophilus da Calcedônia (330-250 a.C.) e Erasistratus de Quios (305-240 a.C.) realizavam
dissecações em animais com o objetivo de observar estruturas e formular hipóteses sobre o
funcionamento das mesmas. Posteriormente, Galeno (129-210 d.C), em Roma, talvez tenha sido
o primeiro a realizar vivissecção com objetivos experimentais, ou seja, testar variáveis através de
alterações provocadas nos animais. Talvez a primeira proposta de observação sistemática de
animais dissecados com propósitos científicos tenha sido realizada por William Harvey, em seu
"Exercitatio anatomica de motu cordis et sanguinis in animalibus", publicado em 1638. Neste
livro, o autor apresentou os resultados obtidos em estudos experimentais sobre a fisiologia da
circulação, realizados em mais de 80 espécies de animais diferentes.
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Atualmente, têm-se a idéia de que a vivissecção teria se iniciado devido à proibição por
parte da Igreja Católica de dissecar-se corpos humanos. Isto porém, conforme verificado na breve
revisão acima, não é verdadeiro. A vivissecção era praticada já 5 séculos antes do surgimento do
cristianismo. Apesar disto, a acusação de a Igreja ter sido a maior culpada por séculos de
inferioridade da medicina ocidental frente à medicina oriental e árabe, durante a Idade Média, é
absolutamente verídica; a dissecção de corpos humanos já era mal vista, entretanto, desde a
Grécia Antiga, sendo a perfeição estética da arte helênica fruto de observações da anatomia de
superfície de modelos humanos vivos. De fato, Aristóteles (384-322 a.C.), pai da anatomia
comparada entre homens e animais, parece jamais haver dissecado um cadáver humano.
Herophilus e Erasistratus foram acusados por Celso (aprox. 30 a.C.), Tertuliano (aprox. 155-122
d.C.) e Santo Agostinho (354-430 d.C.) de dissecarem seres humanos vivos. Só Tertuliano
acusou Herophilus de haver dissecado 600 pessoas vivas, além de incontáveis fetos. No final do
século I, a dissecção de cadáveres humanos ainda era praticada em Alexandria, mas já no século
II, parece ter sido abolida em todos os lugares, até mesmo na Roma Antiga, onde não se
respeitava qualquer direito humano (vide o tratamento conferido aos gladiadores e mesmo aos
soldados).
Nos séculos XII e XIII, a dissecção de cadáveres humanos foi introduzida nas
universidades, e se tornou prática comum em escolas de medicina. Em 1537, o Papa Clemente
VII autorizou o ensino de anatomia através do uso de cadáveres humanos.
O aumento da demanda por cadáveres humanos, devido ao aumento do número de escolas de
medicina, por volta do século XVIII e XIX, gerou problemas relacionados à aquisição destes
cadáveres. Estudantes que roubavam tumbas, chamados de “ressurrecionistas”, e o caso de
William Burke e William Hare, em Edimburgo, que em 1832 mataram pelo menos 16 pessoas
para dissecção, fizeram com que se tornasse proibida a doação de cadáveres à escolas médicas.
Nos séculos que se seguiram à Renascença, apesar de a Igreja haver afrouxado a
perseguição aos dissecadores de cadáveres humanos, a vivissecção animal continuou a figurar, no
entanto, como metodologia padrão de investigação científica e de ensino da medicina. A escolha
por este modelo se dava devido a três fatores principais: 1. Costume: Uma vez que estes modelos
eram já usados e consagrados, não havia problema em continuar usando-os; 2. A vida animal não
tinha valor algum (a vida de alguns seres humanos também não tinha, mas escravos eram mais
caros do que animais de criação); 3. Cadáveres humanos eram difíceis de se conseguir Devido à
inércia, a vivissecção animal continuou até os dias de hoje, não tendo sido suficientemente
contestada.
Desnecessário dizer que graças à escolha destes modelos animais, muitos enganos foram
cometidos, o que causou um atraso no desenvolvimento científico mundial. Apenas para
exemplificar: Galeno, através de suas observações em animais, e por meio de extrapolações para
o ser humano, acabou especulando sobre a teoria humoral e criou também a filosofia teleológica
(teoria de que todas as coisas existem para uma finalidade, no caso a causa humana). Estes
conceitos errôneos se mantiveram por séculos, paralisando toda a possibilidade de avanço
científico, vindo a ser absorvidos pela Igreja Católica e incorporado aos antigos fundamentos da
ciência ocidental.
Vejamos a história da descoberta de algumas doenças e curas, e sua relação com a
experimentação animal:
Diabetes
Apesar da ligação entre o pâncreas e o diabetes haver sido observada muito antes em
cadáveres humanos, apenas quando Banting e Best conseguiram induzir um sintoma semelhante
em cães, através da extirpação de seus pâncreas, a idéia foi amplamente aceita. Com tudo isto,
eles foram creditados como os primeiros a isolar a insulina (que já havia sido isolada antes), ou
ainda segundo muitas fontes, como os descobridores das causas da doença (quando sua
descoberta era muito anterior). A primeira observação sobre a relação entre diabetes e pâncreas
foi feita por Thomas Cawley, em 1788, examinando pacientes que haviam morrido da doença.
Mais tarde, autópsias demonstraram que o diabetes estava relacionado à degeneração do
pâncreas, idéia que foi rejeitada por muitos médicos da época (incluindo Claude Bernard), que
insistiam na tentativa de induzir o diabetes em animais, através de intervenções no pâncreas.
Finalmente, em 1889, Mering e Minkowski conseguem induzir o quadro de diabetes em cães,
após remoção cirúrgica do pâncreas, confirmando o que os clínicos já sabiam havia anos, sem
precisar ter recorrido à experimentação animal. Em 1908, Zuelzer administrou extratos
pancreáticos a pacientes, que apresentaram melhora dos sintomas – os experimentos, entretanto,
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tiveram que ser suspensos devido à toxicidade dos extratos. Os experimentos de Banting e Best,
baseados em cães, quando primeiramente aplicados em seres humanos, foram desapontadores,
levando Banting a afirmar que “os resultados não foram tão satisfatórios quanto os obtidos por
Zuelzer, em 1908”. Devido à elevada toxicidade dos primeiros extratos desenvolvidos, entretanto,
os mesmos não tiveram sucesso como medicação para o diabetes, o que só veio a ocorrer quando
J. B. Collip purificou os extratos pancreáticos existentes e, então, produziu uma preparação
insulínica menos tóxica e mais eficaz. Muito melhor todos os fundos gastos neste mais de um
século de pesquisa sobre o diabetes fossem dirigidos a campanhas de prevenção (educação
alimentar, atividade física), para assim evitar que o povo adquirisse a doença, em vez de se
buscar em vão uma cura para a mesma.
Vacina contra a Poliomielite
A poliomielite (pólio) é uma doença viral que, em 1916, alcançou proporções epidêmicas,
acometendo mais de 29.000 pessoas, nos EUA. A transmissão viral se dá por ingestão, indo o
vírus se instalar no intestino do hospedeiro. O vírus, inicialmente, produz infecção sistêmica
branda ou assintomática, e nesse estágio a maioria das pessoas produz anticorpos e consegue
eliminar o vírus. Em um percentual muito pequeno dos pacientes, o vírus não é eliminado,
atingindo a medula espinhal e o encéfalo, provocando febre, cefaléia e rigidez, seguidas de
fraqueza muscular em graus variados. Pode-se ter óbito por parada respiratória. A prevenção se
dá através de dois tipos de vacina: a Salk, que é uma vacina injetável de vírus inativado; e a
Sabin, que é uma vacina oral de vírus vivo atenuado.
Através de estudos feitos com pacientes humanos, grandes avanços foram obtidos no
campo da patogenia da poliomielite, evidenciando que a doença apresenta duas fases, a sistêmica
e a neurológica, sendo que os casos de doença sistêmica são freqüentemente responsáveis pela
transmissão viral de uma pessoa para outra. Os estudos com humanos também revelaram a
presença de vírus nas paredes e conteúdo intestinal, sugerindo que a transmissão se dá por via
digestiva (orofecal). Estudos com pessoas também indicaram desenvolvimento de imunidade ao
poliovírus, em indivíduos convalescentes e saudáveis. Em 1948 e 1949, John Paul, estudando
esquimós que viviam isolados, descobriu que uma vez adquirida a imunidade (através de infecção
branda ou assintomática), a mesma persistia por vários anos. Pesquisadores da Universidade
Johns Hopkins e da Universidade de Yale detectaram o poliovírus no sangue de pacientes
humanos, antes de se manifestarem os sinais neurológicos. O avanço mais importante no
desenvolvimento da vacina da pólio veio em 1949, quando Enders, Weller e Robbins
demonstraram que o vírus da polio pode crescer em tecido humano – o que lhes garantiu o
prêmio Nobel em 1954. Juntos, esses vários achados em humanos não apenas ajudaram a
entender a via de transmissão da doença, como também indicaram que a prevenção da pólio
poderia ser conseguida através de uma vacina.
A experimentação animal, no campo da poliomielite, só serviu para atrasar os avanços na
área e confundir a comunidade científica. Os macacos, cobaias padrão dos estudos
vivisseccionistas sobre poliomielite, levaram os cientistas a pensar que a via de transmissão da
doença fosse nasal, após o quê o vírus iria direto para o cérebro. Isso provou ser um equívoco,
posteriormente, mas fez com que vários estudos clínicos emergenciais em humanos, indicando a
transmissão pela via oral, fossem negligenciados. Em 1937, baseados nas descobertas feitas com
os macacos, os pesquisadores tentaram prevenir a ocorrência de pólio através da pulverização
nasal de crianças com produtos químicos. Tal tentativa foi um fracasso total, e algumas das
crianças “imunizadas” perderam para sempre seu olfato.
Outro grande fiasco ocorreu quando pesquisadores imunizaram macacos contra pólio através de
injeção intraespinhal de soro obtido de macacos tratados. Variantes dessa técnica foram testadas
em humanos, em 1910 e 1914, mas somente em 1931 estudos controlados em populações
humanas revelaram a completa ineficácia da imunização passiva (uso de soro) no combate à
poliomielite. Em 1934, John Kolmer e o grupo de Maurice Brodie, nos EUA, desenvolveram uma
vacina a partir de medula espinhal de macacos infectados pelo poliovírus. A vacina foi então
administrada a mais de 20.000 crianças, das quais doze ficaram paralíticas e seis morreram. A
vacina foi então retirada do mercado. Mas os desastres provocados pela experimentação não
param por aí. Cientistas envolvidos com a elaboração de uma vacina contra a pólio cultivavam o
vírus em tecido nervoso de macaco, o que resultou na seleção de linhagens laboratoriais do
poliovírus que atacavam preferencialmente o cérebro e a medula espinhal. Infelizmente, os dados
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obtidos a partir dessas linhagens virais produzidas em laboratório reforçaram a idéia incorreta da
transmissão da pólio pela via “naso-cerebral”, em humanos.
Finalmente, em 1949, John Enders e colaboradores provaram ser possível cultivar o
poliovírus em cultura celular humana, utilizando células outras que não neurônios, descobrindo
alterações celulares características, o que veio a apressar a substituição do modelo animal na
produção da vacina contra poliomielite. Mas mesmo as vacinas atuais (Salk e Sabin) também
estão associadas à vivissecção. A vacina Salk, por exemplo, era feita a partir de vírus isolados de
humanos e cultivados em células renais de macaco. Em 1954, ano de lançamento da vacina Salk,
a mesma foi testada em macacos para verificação de sua segurança e os resultados foram
satisfatórios. Entretanto, de 650.000 pessoas, entre indivíduos vacinados e contactantes desses
indivíduos, mais de 200 contraíram pólio, determinando onze mortes. Atualmente, os
pesquisadores recomendam que o poliovírus seja cultivado em tecido conjuntivo humano pois,
além de ser mais barato, este método elimina o sério risco de contaminação do produto por vírus
de animais. A vacina Sabin, de uso oral, também foi responsável por episódios desastrosos, entre
1973 e 1984, quando provocou poliomielite em 101 indivíduos, num total de 138 ocorrências
naquele período.
Portanto, deve-se entender que à medida que os cientistas se afastam do modelo animal para
produzir e testar vacinas humanas, mais seguras as mesmas se tornam.
É importante salientar que o próprio Albert Sabin reconheceu, na House Committee on
Veterans Affairs, em 1984, que o fato de haver realizado pesquisas em macacos Rhesus atrasou
em mais de 10 anos a descoberta da vacina para a polio: “... o trabalho na prevenção [da polio]
foi atrasado por uma concepção errônea da natureza da doença humana, baseada em falsos
modelos experimentais em macacos”.
Sistema circulatório e fisiologia
O médico grego Galeno, autor de mais de 400 tratados de medicina, baseou todas as suas
observações anatômicas e fisiológicas em experimentos com animais. Seus ensinamentos foram
adotados pela Igreja católica, vindo a se constituir na base do conhecimento médico Ocidental
durante a Idade Média. Harvey, que idolatrava Galeno, sofreu muito ao descobrir, 1500 anos
depois, que este estava errado e que, por exemplo, o sistema circulatório do homem não coincidia
com o de nenhum modelo animal estudado (a Igreja chegou mesmo a admitir que se de fato as
observações orgânicas de Galeno e Harvey eram antagônicas, e uma vez que Harvey podia provar
em humanos que estava certo, o organismo humano haveria de ter mudado no espaço de tempo
entre os dois personagens, de forma a não desmentir Galeno, o que seria quase uma heresia).
De forma semelhante, vários livros da coleção hipocrática contém aferências errôneas,
resultado da extrapolação de observações realizadas em animais, para a fisiologia humana.
Aristóteles também possuía muitos conceitos errados graças às suas extrapolações de animais
para humanos. Por volta do século XVII, Versalius, professor de anatomia da Universidade de
Pádua, na Itália, publicou seu notório manuscrito de 7 volumes, o DeFabrica, onde corrige pelo
menos 200 erros cometidos pelos modelos de Galeno, baseados em experimentação animal.
Nesta época, a Igreja ainda permitia o uso de cadáveres para o estudo de anatomia. Décadas
depois, o médico suiço Paracelso escandalizou seus colegas depois de queimar em público os
trabalhos de Galeno, afirmando: “Isto é a causa da miséria do mundo, de que nossa ciência é
fundada em mentiras. Vocês não são professores da verdade, mas professores da mentira”.
William Harvey, em 1628, através de estudos em si mesmo e cadáveres, realizou
importantes descobertas, e confirmou outras, como as de Leonardo da Vinci, sobre as válvulas e a
direção do sangue, descobertas através de dissecções em cadáveres humanos. Apesar disso, ele
mesmo afirma ter experimentado suas descobertas em mais de 80 espécies, Provavelmente a
escolha por estudar também em animais foi devido à sua idolatria por Galeno, querendo provar
que havia realizado experimentos suficientes para fundamentar sua teoria, o que talvez explique o
atraso de cerca de 10 anos em sua publicação.
A descoberta da circulação do sangue não dependeu, então, da experimentação animal, mas de
cuidadosas observações em humanos.
Transplantes de órgãos
Os transplantes foram exaustivamente testados em animais, antes de serem aplicados em
humanos. Mas isso não impediu que as primeiras aplicações de cirurgias de transplante a
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pacientes reais fossem mal-sucedidas, causando morte ou sofrimento prolongado aos receptores.
Sabe-se que não as experiências com animais, mas sim as observações clinicas foram e
continuam sendo a causa do aperfeiçoamento destas técnicas cirúrgicas. O primeiro transplante
de coração foi realizado em 1967, por Christian Barnard. Seu paciente “viveu” por 18 dias. O
próprio Lancet (março, 1980) considerou os resultados das tentativas subsequentes como “muito
desastrosas”. Um dos melhores centros de transplantes de coração fica na Universidade de
Stanford, na Califórnia. Em um período de 9 anos, cerca de 400 transplantes foram realizados em
cães, o que não impediu que os primeiros pacientes humanos morressem após os transplantes por
complicações não previstas em estudos preliminares. O mesmo vale para o transplante de
pulmões: dos primeiros 39 pacientes, apenas 2 sobreviveram por mais de 2 meses. Os
transplantes de coração e pulmão, simultâneos, também foram desastrosos: 3 pacientes morreram
após 14 horas, 8 dias e 23 dias respectivamente. Em 1966, o London’s Westminster Hospital
realizou 20 transplantes de rins, onde apenas 3 pacientes sobreviveram por mais de 66 dias.
O primeiro transplante de fígado foi realizado pelo Dr. Thomas Starz (Denver, E.U.A.),
1963; dos 16 pacientes operados, 6 morreram imediatamente e os outros 10 vieram a óbito em um
prazo bastante curto, após agonia no hospital. Já o primeiro transplante de pâncreas foi realizado
em 1967, pelo Dr. Walton C. Lillehei (Minneapolis, E.U.A.); dos 25 pacientes transplantados, 23
morreram imediatamente e dois, alguns dias depois. A aplicação da droga ciclosporina A, para
evitar a rejeição, tem, ironicamente, sérios efeitos colaterais nos rins. O Stanford Heart
Transplant Group noticiou que 17 de 32 pacientes que sofreram transplante de coração, tratados
com a ciclosporina por mais de um ano, apresentaram sérias complicações renais, e 2 destes
tiveram que fazer diálises devido a perda das funções renais. Importante salientar que estes
efeitos colaterais não foram registrados em testes com animais, a não ser em uma linhagem de
rato chamado Kyoto, especialmente alimentado para apresentar pressão baixa. É importante
lembrar que o fato desta linhagem de ratos ter apresentado efeitos colaterais semelhantes não os
torna bons modelos para o transplante renal em humanos, já que em muitas outras características
eles são diferentes de nós. Um outro fato que não pode ser negligenciado é que os animais que
sofreram transplantes experimentais apresentaram muito mais complicações do que os humanos.
Rejeição e falhas eram as regras, e não a exceção. Muitos poucos sobreviveram por muito tempo.
O Dr. Donald Gould, em uma carta ao The Times (dezembro, 1979), disse: “Aqueles de nós que
consideram os transplantes de coração, rins e fígado como má medicina, o fazem não baseados no
fato de que cirurgiões estão desperdiçando recursos escassos em um tratamento que deveria
continuar como experimental, mas devido ao reconhecimento de que esta cirurgia nunca trará
algum impacto significativo sobre as mortes prematuras provocadas por doenças preocupantes”.
Atualmente, uma percentagem maior de pacientes sobrevive aos transplantes, no entanto,
sua qualidade de vida permanece baixa. Alega-se que o transplante traz um aumento na
expectativa de vida, quando na realidade funciona apenas como um paliativo, não significando a
cura efetiva do mal. Quanto a esta "cura efetiva", a ciência vigente está longe de almejar . Afinal,
não é fácil para o organismo suportar o trauma fisiológico causado por essa intervenção
cirúrgica. A cirurgia de transplante, como a maior parte das intervenções cirúrgicas, não é
terapêutica mas sim paliativa, uma vez que retirar um órgão ou um tecido não significa
necessariamente atacar o mal pela raiz.
Se hoje em dia algumas pessoas que passam por transplante conseguem sobreviver, a que
se deve essa mudança? O prof. Giulio Tarro, virologista e membro da diretoria da Liga
Internacional Médicos pela Abolição da Vivissecção - LIMAV, diz que a diferença está na não
aplicação dos resultados das experiências com animais ao homem (o desastre dos primeiros
transplantes era decorrente da extrapolação direta de informações obtidas do animal). Além disso,
a diferença também está na aplicação de técnicas diferentes de pesquisa, que não requerem o
uso de animais (estudo de anatomia e autópsias de cadáveres humanos), como base para
desenvolvimento de técnicas de transplante.
O xenotransplante (transplantar órgãos de uma espécie animal para outra) é uma outra
questão que envolve, além de questões técnicas e éticas, os interesses de indústrias farmacêuticas
e de biotecnologia. Estas empresas argumentam. que não existem órgãos humanos suficientes
para transplantes. Os xenotransplantes estão se tornando a “galinha dos ovos de ouro” para
muitos setores biomédicos. Enormes quantidades de dinheiro estão sendo aplicadas no
desenvolvimento deste tipo de transplante, de imunossupressores, etc., quando campanhas sérias
de doação e, principalmente, prevenção, poderiam ser realizadas.
As diferenças entre as espécies também é uma barreira para os testes de corações artificiais,
geralmente testados em cães. Ignora-se o fato de que o sangue destes animais é diferente do
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humanos em termos de coagulação; são animais quadrúpedes, o que requer menos esforço do
sistema circulatório do que nos humanos; os ventrículos destes animais estão arranjados em
oposição ao dos humanos; e, clinicamente, são animais saudáveis, ao contrário dos pacientes
humanos que estão à espera de um coração (Levin & Danielson, 1991). O Presidente da Centre
d’Information Vivisectionniste Internacional Scentifique - CIVIS, o suíço Hans Ruesch declarou:
“um coração mecânico não pode funcionar satisfatoriamente por muito tempo, porque o coração
natural é sensível as mais ínfimas influências psicossomáticas e aos complexos processos
metabólicos que constantemente atuam no organismo vivo... Medo ou raiva, por exemplo,
acelerariam naturalmente as batidas de um coração natural; descanso ou sono diminuem este
ritmo. Mas um coração mecânico continua em um ritmo constante, independente dos impulsos
emocionais emitidos pelo sistema nervoso e as pequenas variações metabólicas... se o coração
não reage à estes impulsos – e nenhum coração mecânico pode fazê-lo – o paciente pode sofrer
sérias psicoses, delírios, e problemas biológicos que não o permitirão viver muito” (Ruesch,
1986). Não é de surpreender que o primeiro transplante deste tipo tenha sido um fracasso.
Barney Clark, a primeira vítima, “morreu 112 dias depois de ser conectado ao seu coração de
plástico e aço. Após sua morte, foi revelado que o corajoso dentista enfrentou muita dor e
delírios, e a maior parte do tempo esteve ligado à uma máquina” (New York Post, 1985). A
revista Time anunciou ainda que Clark esteve “…com problemas renais, problemas respiratórios
crônicos, inflamação do cólon e perda de pressão sanguínea” (Time, 1983). Após outras várias
tentativas de transplantes de corações artificiais, e após gastar enormes quantidades de dinheiro e
tempo, as pesquisas nesta área foram abandonadas.
1.3 - Os animais utilizados
Estima-se que o número de animais torturados e mortos anualmente nos laboratórios dos
EUA divirja largamente de 17 à 70 milhões de animais (Orlans, 1994). O Animal Welfare Act, lei
que regulamenta a experimentação animal naquele país, requer dos laboratórios o registro do
número de animais usados em experimentos, mas o Act não abrange camundongos, ratos e aves
(usados em 80 à 90 % de todos os experimentos) (Orlans, 1994). Devido à não cobertura pela lei
destes animais, eles permanecem incontáveis, e o que se pode fazer é tentar estimar seu número .
A maior companhia criadora de animais para laboratório dos EUA é o Charles River Breeding
Laboratories (CRBL), centrado em Massachusetts e de propriedade da Bausch & Lomb. Ela
comanda 40-50% do mercado de camundongos, ratos, porquinhos-da-Índia, hamsters, gerbilos,
macacos rhesus, primatas importados e porcos anões (Reddy, 1989).
Uma vez que camundongos e ratos não são protegidos pelas regulamentações do Animal
Welfare Act, o Departamento de Agricultura Americano (USDA) não requer que os criadores
comerciais destes roedores sejam registrados ou que o Serviço de Inspeção de Saúde Animal e de
Plantas do USDA (APHIS) inspecione estes estabelecimentos (Soos, 1986).
Roedores não são nem de perto semelhantes ao ser humano no que se refere ao seu
metabolismo e anatomia, não sendo segredo para ninguém que a escolha por esta modelo se deve
exclusivamente a fatores de ordem econômica: São animais pequenos, mansos, fáceis de manter,
se alimentam pouco, ocupam pouco espaço e produzem prole numerosa, fornecendo um número
grande de animais para a pesquisa por um menor preço. No entanto, os dados obtidos destes
animais geralmente não são aceitos como satisfatórios para a aplicação em seres humanos,
levando à pesquisa em animais de outras espécies.
Cães e gatos também são usados em experimentos. Eles vêm de criadouros como o CRBL
ou vêm de carrocinhas, abrigos de animais e fornecedores organizados que obtêm animais de
anúncios de doações gratuitas, em murais de lojas de animais, anúncio de jornais etc.. Estes
animais são também da mesma forma reconhecidos como modelos ruins para a aplicação ao ser
humano, sendo no entanto continuamente utilizados devido à facilidade de aquisição. Aves, rãs,
porcos, ovelhas e muitos animais naturalmente encontrados em nossas casas são vítimas comuns
de experimentos. Conforme escrito, animais geralmente usados na alimentação são cobertos pela
regulamentação do Animal Welfare Act apenas minimamente, e em base temporária, quando
usados, por exemplo, em experimentos de transplantes do coração; mas não são cobertos em nada
no que concerne ao seu uso no estudo da agricultura.
Exceto um ou outro caso onde o cientista vivisseccionista procura justificar sua pesquisa
baseado em argumentação cientifica, posição que não se mantêm após alguns questionamentos
básicos, a maioria dos cientistas justifica a adoção de determinado modelo apenas baseado em
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argumentos econômicos e não cientificos, ou ainda contra-atacando com o célebre dilema
intelectualista: “Se não em animais, vou experimentar em que então, em gente?”
A escolha pela espécie ultimamente tem se baseado também na opinião pública, uma vez
que muitos cientistas acreditam que escolhendo animais menos “simpáticos” como ratos e porcos,
receberam menos criticas do que se utilizarem animais considerados mais simpáticos, como o cão
e o coelho.
1.4 - Quem financia a vivissecção?
O Instituto Nacional de Saúde (NIH) nos EUA é o maior financiador mundial de
experimentos em animais. Esse órgão gasta 7 bilhões de dólares provenientes dos impostos
arrecadados com bolsas, anualmente, dos quais U$ 5 bilhões vão para pesquisas envolvendo
estudos em animais (Stoller, 1990). Em 1993, o Departamento de Defesa norte-americano gastou
em torno de US$180 milhões em experimentação animal, utilizando 553.000 cobaias. Ainda que
esta figura represente um decréscimo de 36% no número de animais usados na década passada,
os militares não oferecem dados detalhados sobre este assunto (Krizmanic, 1994), dificultando
uma interpretação precisa do quadro. Exemplos de torturas praticadas pelas forças armadas
contra os animais, e financiado com os impostos públicos, são os experimentos sobre ferimento,
radiação, efeitos de exposição a armas químicas, e outras categorias, o que nitidamente não tem a
proposta de poder ser utilizado no tratamento de feridos em combate, mas antes, promover a
própria guerra. É fato que instituições de caridade, a maioria internacionais, utilizam doações de
cidadãos para financiar experimentos em animais.
Experimentos no setor agropecuário são conduzidos com bovinos, ovelhas, porcos,
galinhas e perus, objetivando encontrar formas de fazer com que as vacas produzam mais leite,
com que as ovelhas produzam mais lã, e com que todos os animais se reproduzam mais e mais,
ou seja, visando a otimizar a geração de produtos de origem animal a ser aproveitados pelo
produtor e trazendo malefícios ao consumidor.
No Brasil, a pesquisa vivisseccionista é uma das mais bem financiadas, e pode-se observar um
fenômeno típico: ao passo que muitos alunos de pós-graduação se vêem privados de
financiamento dos órgãos públicos, os biotérios das instituições são submetidos a reformas
milionárias. Não há segredo que todo este dinheiro provêm de verbas públicas, geradas pelo
pagamento de impostos da população, no entanto, poucos cidadãos tem conhecimento do que é
realizado às suas custas nas instituições, e de quem estas pesquisas visam realmente beneficiar. É
difícil, entretanto, avaliar com exatidão quanto dinheiro é gasto com a experimentação animal,
parte devido ao caráter confidencial das pesquisas, e parte porque o financiamento provém de
agências variadas. Sabe-se que o total investido é realmente vultoso. O Conselho Nacional de
Pesquisa - CNPq, em 1998, gastou mais de 39,5 milhões de reais com bolsas de estudo e fomento
à pesquisa, só na área de Ciências Biológicas e gastou mais de 25,5 milhões de reais na área de
Ciências da Saúde. Não se pode considerar todo este volume de dinheiro dirigido à vivissecção,
mas pode-se considerar boa parte dele dirigido a esta atividade.
Apesar de todo este financiamento, pesquisadores vivisseccionistas costumam reclamar devido
às faltas de verbas para o biotério (talvez porque este seja um dos centros mais dispendiosos à
instituição), solicitando maiores verbas para a pesquisa em universidades e entidades de caráter
científico (Fiocruz, Instituto Butantã, Instituto Biológico etc.). A Fiocruz recebeu, em 1999, mais
de 2,5 milhões de reais para pesquisas em Ciências Biológicas. O FSE (Fundo Social de
Emergência) cobriu gastos de 1,7 milhão de reais, em 1995, apenas com alimentação de animais
usados em pesquisas de universidades federais.”
1.5 - Que tipos de experimentos são realizados
Indústria Química
A cada ano, dezenas de milhões de vários tipos de químicos são manufaturados para uso
comercial, industrial, agrícola, militar, doméstico e pessoal.
São estes químicos tóxicos e perigosos que contaminam nosso ar, solo, rios, oceanos, águas
subterrâneas, assim como nossa comida e corpos. Eles o fazem no processo de produção, uso e
descarte. Eles poluem o ar quando os químicos escapam para a atmosfera através das chaminés
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durante o processo de produção, uso e dispensa, quando são incinerados ou por outros meios.
Eles poluem rios quando as indústrias liberam resíduos diretamente nestes, ou pela chuva. Os
químicos poluem os oceanos quando estes rios desaguam nele, ou quando os químicos são
lançados diretamente no oceano. Eles poluem os suprimentos de água no solo e no subsolo
quando os químicos são intencionalmente aplicados no solo, como pesticidas. A contaminação
também ocorre quando os químicos penetram no solo quando ductos quebram ou tanques vazam.
De acordo com o Departamento de Conservação do Estado da Califórnia, os EUA produzem
aproximadamente 95% dos resíduos tóxicos no mundo.
- Poluentes Químicos
O número exato de químicos manufaturados é desconhecido. A Chemical Manufacturers
Association (CMA) estimou que cerca de 20 milhões de diferentes tipos de substâncias químicas
e produtos estão sendo produzidos nos EUA. Por outro lado, a Federal Occupational Safety and
Health Administration (OSHA) estima que existam cerca de 40 a 70 milhões de diferentes tipos
de produtos perigosos em uso por indústrias norte-americanas. Somente os pesticidas constituem
40.000 diferentes formulações, e drogas prescritas são 205.000.
Estes produtos são produzidos de aproximadamente 70.000 tipos de ingredientes
químicos. Em várias combinações, estes ingredientes resultam na formulação de dezenas de
milhões de produtos que são utilizados em todo EUA. E, numa busca interminável por produtos
“novos” e “aperfeiçoados”, a lista de 70.000 ingredientes químicos está subindo a uma taxa de
aproximadamente 1.000 novos químicos sintetizados por ano.
- O papel da vivissecção
De modo a tornar estes venenos atrativos e aceitáveis para o público, as empresas
químicas, farmacêuticas e petrolíferas se refugiam na vivissecção. A sua volta, em sua casa e em
seu trabalho existem produtos químicos que foram declarados “seguros” e/ou “aceitáveis” para o
uso. Pode-se perguntar: de onde vem estas garantias “seguras”? Estes garantias foram todas
obtidas em laboratórios de vivissecção. Estes produtos, e seus ingredientes químicos, são testados
em animais. Ratos, camundongos, porcos-da-índia, hamsters, micos, coelhos, peixes, sapos,
lagartos, insetos, cães, gatos, macacos, chimpanzés, pássaros selvagens, codornas, pombos, perus,
galinhas, vacas, cabras e cavalos estão entre os animais utilizados. Inúmeros testes são aplicados
sob o título do “teste de toxicidade”. Testes como: Lethal Dose (LD) 50, LD 40, LD 30, LD...;
Lethal Concentration (LC) 50, LC 40, LC 30, LC...; e Lethal Dose Low (LDLo), Total
Concentration Low (TCLo), Maximum Tolerable Dose (MTD) etc.
Outras pesquisas incluem testes de irritação de pele e olhos (o infame Draize Test – veja
Indústria Cosmética), testes de carcinogenicidade (câncer) e mutagenicidade (mutações
genéticas), estudos de teratogenicidade (defeitos de nascimento) e toxicidade reprodutiva, estudos
de hepatotoxicidade (fígado) e nefrotoxicidade (rins), neurotoxicidade, etc.
Destes estudos, enormes quantidades de dados inválidos, ambíguos, e contraditórios são
compilados. São destes dados que os cientistas tiram suas conclusões científicas. E, obviamente,
a experimentação animal serve perfeitamente para tais propósitos, pois sua natureza inconclusiva
e contraditória conduz os cientistas e os produtores químicos à qualquer conclusão que desejem.
Indústria Cosmética
Todos os anos, milhões de animais sofrem e morrem em testes dolorosos para determinar
a “segurança” de cosméticos e produtos de limpeza doméstica. Substâncias que variam desde
sombra de olho e sabão até produtos para polimento de mobília e limpadores de forno, todas são
testadas em coelhos, ratos, porquinhos-da-Índia, cachorros e outros animais, apesar do fato de os
resultados dos testes não ajudarem na prevenção de feitos indesejáveis ou no tratamento dos
mesmos.
1. Teste de Irritação Ocular (Draize Eye Test)
Este teste é realizado desde 1944, e visa a avaliar alterações oculares e perioculares
provocadas por produtos químicos os mais diversos. Para execução do teste, são colocados 100
mg de solução concentrada da substância que se quer testar, nos olhos de um grupo (6 a 9) de
coelhos albinos conscientes, ou seja, que não receberam anestesia. O coelho albino é o mais
usado pois é dócil, barato e tem olhos grandes, o que facilita a avaliação das lesões. Os coelhos
permanecem em caixas de contenção, imobilizados pelo pescoço (muitos o quebram, tentando
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escapar). Não se usam analgésicos, pois os cientistas dizem que seu emprego altera os resultados
do teste, e as pálpebras dos animais freqüentemente são presas com grampos que mantêm os
olhos constantemente abertos. Embora 72 horas geralmente seja suficiente para obtenção de
resultado, a prova pode durar até 18 dias, quando então o olho do animal se transforma em uma
massa irritada e dolorida. Muitas vezes, usam-se os dois olhos de um mesmo coelho, para não
encarecer os custos. As reações observadas incluem processos inflamatórios das pálpebras e íris,
úlceras, hemorragias ou mesmo cegueira.
Críticas: Os olhos do coelho apresentam estrutura e fisiologia diferentes dos olhos
humanos. Além de a córnea do coelho ser mais delgada que a nossa (0,35mm contra 0,51mm do
olho humano), suas glândulas lacrimais não são tão eficientes quanto as nossas, e os coelhos
piscam menos que as pessoas. Além disso, os coelhos têm membrana nictitante (3ª pálpebra),
que nós não temos, e seu humor aquoso é muito mais alcalino (pH 8,2) que o do ser humano (pH
7,1-7,3), dificultando a dissolução das substâncias testadas. Por conseguinte, a leitura dos
resultados do teste é muito subjetiva e de baixa confiabilidade, variando de laboratório para
laboratório e também de coelho para coelho não servindo para predizer o que ocorreria no olho
humano.
Alternativas: existem mais de 60 métodos alternativos ao teste Draize, entre eles o Eytex e
o Matrex, bem como córneas (animais e humanas) de indivíduos mortos e células corneais
mantidas “in vitro” .
2. Teste de Sensibilidade Cutânea (Draize Skin Test)
Para que se realize o teste, depilam-se áreas no corpo do animal, raspa-se a pele (até o
sangramento, às vezes) e aplica-se a substância a ser estudada. Observam-se sinais de
enrijecimento cutâneo, úlceras, edema etc..
Críticas: É uma prova extremamente dolorosa e é incoerente achar que o protocolo desse
experimento sirva para predizer reações em humanos, haja vista as diferentes constituições
epidérmicas da pele humana e dos animais (coelhos, roedores, porcos) utilizados no teste. Além
disso, não se pode aceitar que resultados de valor científico real podem advir de animais
estressados, submetidos à dor e portanto em condições totalmente alteradas. Por fim, ressalte-se
que as reações imunológicas são características de cada espécie, invalidando o uso de coelhos ou
ratos como modelos para o homem.
Alternativas: métodos “in vitro” que empregam culturas de células da pele, tais como
Corrositex, Skintex, Epiderm e Episkin.
Vale lembrar que a indústria química também realiza experimentos de toxicidade, como o LD50,
por exemplo, para determinar a “segurança” (para os humanos e meio ambiente) dos produtos
que lançam no mercado.
3 - DL50 (Dose Letal 50)
A prova consiste de forçar os animais a ingerir uma determinada quantidade da substância em
teste, através de uma sonda gástrica, o que muitas vezes produz morte do animal por perfuração.
Os efeitos observados incluem convulsões, dispnéia, diarréia, úlceras, emagrecimento, postura
anormal, epistaxe, hemorragias da mucosa ocular e oral, lesões pulmonares, renais e hepáticas,
coma e morte. Continua-se a administrar o produto, até que cinqüenta por cento (a metade) do
grupo experimental morra, caracterizando a dose letal para 50% do grupo. A substância também
pode ser administrada por via subcutânea, intravenosa, intraperitoneal, misturada à comida, por
inalação, via retal ou vaginal. As cobaias utilizadas para esta prova incluem ratos, coelhos, gatos,
cachorros, cabras e macacos.
Críticas: O teste pretende medir a toxicidade das substâncias, porém não se constitui em
método científico confiável, haja vista que os resultados são afetados pela espécie, idade, sexo,
condições de alojamento, temperatura, hora do dia, época do ano e o método de administração da
substância.
Alternativas: Provas de citotoxicidade, que são métodos mais precisos e de maior
relevância para o homem, pois usam células humanas. Ressalte-se que 70% de todas as reações
de toxicidade ocorrem a nível celular, reforçando o valor dos testes de citotoxicidade.
Indústria Armamentista
1 - Experimentos de guerra
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Apesar de toda a atmosfera de segredo que permeia o establishment militar, sabe-se que aí
são executados vários experimentos envolvendo animais. As Forças Armadas Britânicas põem
em prática testes de irradiação (cobaias são expostas a diferentes tipos de radiação, apresentando
sintomas como vômitos, salivação intensa e letargia), provas químicas (gases letais), provas
biológicas (exposição a mosquitos hematófagos), testes balísticos (animais servem de alvo), bem
como provas de explosão (as cobaias são expostas ao efeito de bombas). Já as Forças Armadas
Americanas realizam testes de inalação de fumaça, provas de descompressão, testes de consumo
de drogas e álcool, testes sobre a força da gravidade, testes com gases tóxicos, entre outros, sendo
que o Departamento de Defesa Norte-Americano (DOD), juntamente com a Administração dos
Veteranos (VA) são o segundo maior usuário de animais para experimento, nos EUA. Nos países
ricos, grande variedade de animais é utilizada nos testes militares, incluindo ovelhas, porcos,
cães, coelhos, roedores e macacos.
No Reino Unido, entretanto, apesar do largo emprego de animais em tais teste militares, testes
com voluntários humanos também são conduzidos paralelamente. Isso evidencia a baixa
confiabilidade dos resultados obtidos com as provas envolvendo animais, dada a grande diferença
existente entre o homem e os demais animais.
A conclusão a que se chega, infelizmente, após avaliação minuciosa dos experimentos militares e
dos “benefícios” por eles trazidos, é que tais testes são executados meramente para testar a
eficiência de armas de guerra, e não para otimizar o tratamento de vítimas de guerra, como
informam os responsáveis por tais experimentos. Ou seja, justifica-se o uso de animais com
motivos defensivos em relação à segurança nacional, mas o que se observa, na verdade, são
motivos ofensivos, ou seja, promove-se a guerra em vez de se evitar a mesma. Pior quando
constatado que a maioria dos resultados de tais “pesquisas” já foi verificada em humanos (em
guerras anteriores), o que mais uma vez revela o caráter pouco científico de tais testes.
2 - Animais no programa espacial
Animais foram e continuam sendo usados na pesquisa aeroespacial, notadamente em
casos em que há risco de morte humana (astronautas). Várias espécies têm sido usadas, mas as
preferidas são os macacos (EUA) e cães (ex-União Soviética) .
Experimentos com animais incluem testes com balões, foguetes, cápsulas espaciais, mísseis e
pára-quedas. Durante tais testes, são avaliados os parâmetros fisiológicos das cobaias (cães,
macacos, roedores, coelhos e até tartarugas), estando as mesmas conectadas a sistemas
eletrônicos por meio de fios, agulhas, máscaras etc.. Testes comportamentais também são
conduzidos, bem como experimentos sobre a força da gravidade.
Outras experiências
1 - Comportamento e Aprendizado
Nos laboratórios, são conduzidos diversos estudos de agressividade, aprendizado e
comportamento sexual; ex.: animais são descerebrados e colocados em labirintos para que achem
a saída; macacos esfomeados, com eletrodos implantados no cérebro, são ensinados a conseguir
comida apertando um botão (caso apertem o botão errado, recebem um choque elétrico); gatos
operados e reduzidos a um estado meramente vegetativo são deixados durante dias inteiros em
equilíbrio, sobre plataformas cercadas de água, para evitar que durmam, com objetivo de registro
de suas reações durante a vigília.
Se o animal agride espontaneamente, ele o faz geralmente para garantir sua sobrevivência,
enquanto o homem quase sempre se torna agressivo por ganância, por vingança, levado por
sentimentos que não têm nada a ver com a necessidade de sobrevivência. É a agressividade
maligna de que fala Fromm. Naturalmente, o homem pode também se tornar agressivo no sentido
“benigno” (ex.: por motivos de legítima defesa), mas ele o faz de maneira diferente do animal,
segundo os modelos ensinados pela sociedade de onde provém. O homem é bem diferente dos
animais sob o ponto de vista psicológico. Os próprios fatores sociais característicos da sociedade
humana, é único.
Outro grave problema dos experimentos psicológicos é a condição dos animais, onde a
privação de liberdade, por exemplo, faz com que o comportamento seja diferente do
comportamento observado na natureza. O grau de desenvolvimento neurológico também tem
uma grande influência nos processos psicológicos, assim como as diferentes formas de interação
com o meio e a percepção deste.
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2 - Doenças Mentais
São realizados estudos sobre amnésia, dependência, hipotensão, delírios, depressão e
suicídio.
Uma das formas de tratamento para doenças mentais é o choque elétrico. O choque
elétrico foi inventado graças à experimentação animal, pois cientistas descobriram que o
eletrochoque provocava suspensão imediata ou gradual da atividade consciente, em conjunto com
fortes modificações das funções do organismo. Hoje em dia, graças a observações clínicas, sabese
que o eletrochoque é uma das piores formas de se inibir as reações de crise de um paciente.
3 - Cirurgias Experimentais
Animais de diversas espécies, mas principalmente cães, gatos, macacos e porcos são
usados como modelos experimentais para o desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas ou
aperfeiçoamento de técnicas já existentes, na falsa expectativa de que avanços na saúde humana
poderão advir de estudos feitos com outros animais. Cirurgias de todo tipo (torácicas,
abdominais, ortopédicas, neurocirurgicas) são praticadas em cobaias, antes de serem aprovadas
para a prática em pessoas. As técnicas de transplantes de órgãos também são amplamente
praticadas nos animais de laboratório, antes de serem adotadas em centros cirúrgicos humanos.
Não é segredo nem surpresa que muitas técnicas cirurgias, quando executadas em humanos pela
primeira vez, apresentam efeitos muitas vezes diferentes daqueles observados nos procedimentos
experimentais envolvendo animais. É a falsa crença de que o modelo animal pode ajudar no
aprimoramento da medicina humana, através da prática vivisseccionista.
4 - Experimentos com tabaco
Apesar de os vários anos de observação das populações humanas já terem claramente
evidenciado os riscos que o fumo traz à nossa saúde, ainda hoje animais são utilizados na
investigação dos efeitos do tabagismo. Dessa forma, é simplesmente inaceitável que se justifique
a inalação forçada de fumaça, por animais de laboratório, como forma de se avaliar os efeitos da
nicotina e alcatrão sobre a saúde humana.
Dentre os experimentos envolvendo o tabaco, citamos:
1. Medição de alterações ultraestruturais de macrófagos alveolares de ratos, induzidas pela
fumaça do tabaco. Uma comparação entre cigarros com altos e baixos teores de alcatrão.
2. Patologia pulmonar comparada em ratos, após a exposição à fumaça de cigarro e de charuto.
3. Hipersecreção traqueal induzida pela fumaça do tabaco em ratos.
4. Alguns efeitos da nicotina sobre o consumo de alimento e água em ratos.
5 - Experimentos com álcool
Apesar de já se saber há tempos que o etilismo afeta a saúde dos fetos humanos,
experimentos com fetos de camundongos ainda são corriqueiramente praticados. Além disso, não
há propósito em se observar o comportamento agressivo de ratos, cães, gatos, macacos, aves e
mesmo peixes (!) alcoolizados, quando a Ciência sabe que o álcool afeta diferentes pessoas de
modos diferentes. O que dizer, então de comparações entre espécies diferentes ? Quanto às
pesquisas relacionadas ao alcoolismo, incluem-se:
1. Passagem para o feto e líquido amniótico de etanol administrado por via oral a camundongos
fêmeas prenhes.
2. Efeitos do etanol no comportamento de camundongos agressivos pertencentes a duas linhagens
diferentes.
3. Acúmulo hepático de triglicerídeos, induzido pelo etanol, em camundongos e diferenças
genéticas na síndrome de abstinência física do etanol.
4. Efeitos agudos do álcool sobre a atividade da creatino-quinase (CK) plasmática do rato.
1.6 - A Experimentação Animal na Educação
São várias as finalidades dos experimentos realizados com animais nas universidades
brasileiras: observação de fenômenos fisiológicos e comportamento a partir da administração de
drogas; estudos comportamentais de animais em cativeiro; conhecimento da anatomia interna; e
desenvolvimento de habilidades e técnicas cirúrgicas. Estes experimentos são comuns em cursos
de medicina humana e veterinária, odontologia, psicologia, educação física, biologia, química,
enfermagem, farmácia e bioquímica, e eventualmente em outras áreas das ciências biológicas.
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Abaixo estão descrições breves de alguns dos experimentos mais encontrados nas universidades:
1. Miografia: um músculo esquelético, geralmente o zigomático, na perna, é retirado da
rã, onde estuda-se a resposta fisiológica deste músculo à estímulos elétricos. As respostas
são registradas em gráficos. O músculo é retirado da rã ainda viva, eventualmente
anestesiada com éter.
2. Sistema nervoso: uma rã é decapitada, e um instrumento pontiagudo é introduzido
repetidamente na espinha dorsal do animal, observando-se o movimento dos músculos
esqueléticos do restante do corpo.
3. Sistema cardiorespiratório: um cão é anestesiado, tem seu tórax aberto, e observa-se
os movimentos pulmonares e cardíacos. Em seguida aplica-se drogas, como adrenalina e
acetilcolina, para análise da resposta dos movimentos cardíacos. Outras diversas
intervenções ainda podem ser realizadas. O experimento termina com a injeção de uma
dose elevada de anestésico, ou de acetilcolina (o que causará parada cardíaca).
4. Anatomia interna: diversos animais podem ser utilizados para tal finalidade.
Geralmente os animais já estão mortos, ou são sacrificados como parte do exercício, com
éter ou anestesia intravenosa.
5. Estudos psicológicos: animais como ratos, porcos-da-índia, ou pequenos macacos,
podem ser utilizados como instrumentos de estudo. São vários os experimentos que
podem ser realizados: privação de alimentos ou água, para estudos diversos (caixa de
Skinner, por exemplo); experimentos com cuidado materno, onde a prole é separada dos
genitores; indução de estresse, utilizando-se métodos como choques elétricos, por
exemplo; comportamento social em indivíduos artificialmente debilitados ou
caracterizados. Alguns animais são mantidos durante toda sua vida em condições de
experimentos, outros são sacrificados devido à condições extremas de estresse ou quando
não podem mais ser reutilizados.
6. Habilidades cirúrgicas: muitos animais podem ser utilizados para estas práticas. Os
animais geralmente estão vivos e anestesiados, enquanto as práticas se procedem. Os
exercícios de técnica operatória são comuns em faculdades de medicina veterinária e
humana, e exigem uma grande quantidade de animais.
7. Farmacologia: geralmente pequenos mamíferos, como ratos ou camundongos.
Drogas são injetadas intravenosa, intramuscular ou diretamente no estômago (via trato
digestivo por cateter, ou por meio de injeção). Os efeitos são visualizados e registrados. O
“diabetes” também pode ser induzido em animais, de modo a verificar-se os efeitos de
substâncias no organismos destes animais, como a glicose, por exemplo.
Estas práticas vêm sendo severamente criticadas por muitos educadores e profissionais, onde
argumentos de ordem ética e, em alguns casos, técnica, são levantados em favor de uma educação
mais inteligente e responsável.
A grande maioria destes experimentos pode ser substituída por alternativas tecnológicas
que envolvem simulações em computadores (CD Rooms), modelos anatômicos e vídeos
interativos. Existe um crescente número de artigos científicos que comprovam que estudantes que
passaram por estas técnicas aprendem igualmente, e em alguns casos melhor, do que estudantes
que passaram pelo uso tradicional da vivissecção. As vantagens destas alternativas são muitas:
Economizam tempo: gasta-se muito tempo com a preparação da experimentação animal. É
comum que experimentos práticos com animais não dêem certo, ou dão margem à interpretações
confusas de certos fenômenos fisiológicos.
Possibilitam melhor aprendizado: simulações interativas permitem que o estudante volte atrás
em algum passo ou estágio do experimento, o que não é possível em muitos experimentos in vivo.
Cada estudante pode, desta forma, aprender de acordo com seu ritmo, e repetir todo o
experimento, se necessário. Além do que, esta tecnologia não cria a dependência do laboratório e
de pessoal especializado para o estudo, permitindo que o estudo seja realizado até mesmo em
casa. Outras muitas informações e recursos ainda podem ser acessados, dependendo da
alternativa utilizada.
São econômicas: ao contrário do que muita gente pensa, as alternativas são financeiramente
viáveis. Isto porque o uso de animais implica em grandes gastos com manutenção (cuidados,
alimentação, instalações, etc.) e pessoal especializado (técnicos e veterinários), e as alternativas
possuem um tempo de vida muitas vezes indeterminado, não sendo descartáveis como os animais
utilizados.
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São éticas: o oferecimento de alternativas respeita os princípios éticos, morais ou religiosos de
estudantes que se opõem ao uso de animais para estas finalidades.
São possíveis: muitas universidades de muitos países têm abolido o uso de animais nos
currículos de diversos cursos e viabilizado alternativas para os estudantes. As experiências destas
universidades comprovam que a aplicação de alternativas são possíveis e viáveis.
Porém, não podemos pensar nas alternativas apenas como recursos tecnológicos ou
softwares. Muitas alternativas envolvem a experiência clínica real em hospitais, onde estudam-se
nos pacientes, como por exemplo, o efeito de drogas administradas clinicamente, e acompanha-se
o tratamento destes pacientes até sua recuperação. Outra alternativa, neste caso para o estudo de
anatomia e técnica operatória em animais, é o convênio de faculdades com fazendas ou clínicas
veterinárias, onde animais mortos podem ser adquiridos para posterior estudo.
No caso da técnica operatória humana, médicos cirurgiões e educadores questionam o uso de cães
para o ensino de cirurgia (veja as entrevistas a seguir). Os principais motivos que levam à este
questionamento são as discrepâncias entre a anatomia humana e a canina, assim como a
elasticidade da pele, o coeficiente de vazão sangüínea epidérmica e outras características que não
se aplicam na cirurgia humana. Outro ponto importante que se salienta é a dessensibilização que
os estudantes sofrem ao terem que passar por práticas que contrariam princípios médicos como o
de salvar vidas. As alternativas para tais práticas são o acompanhamento de cirurgias humanas
em hospitais e clínicas, primeiramente com observação, seguida de estágios de intervenções
simples severamente supervisionadas por cirurgiões experientes, passando para intervenções
sucessivamente mais complexas. Assim se aprende cirurgia em muitos países, como Inglaterra e
Estados Unidos.
As alternativas também possuem a vantagem de serem combinadas. As práticas e
experiências clínicas podem ser acompanhadas de reforço por alternativas e metodologias
diversas, aumentando a experiência do estudante, e contribuindo para formação de um
profissional sensível e responsável.
As barreiras que mais tem impedido a substituição de animais nas faculdades brasileiras
são, basicamente, decorrentes da falta de informação e de discussão sobre as alternativas, e sobre
os aspectos que envolvem o uso de animais na educação. Estudantes não expõem suas opiniões
sobre tais práticas, pois tem medo de repreensões por parte da instituição, dos professores e até
mesmo de seus colegas. A grande maioria dos professores não aborda o assunto, fazendo com
que as práticas de vivissecção se tornem métodos normais e inquestionáveis; e a maioria das
abordagens são, inevitavelmente, em favor do uso de animais, não havendo possibilidades de
discussão, o que inibe os estudantes de se inteirarem mais profundamente sobre esta questão.
No Brasil, a Rede de Informações pela Educação Humanitária – REDE – é uma das
poucas fontes que tem contribuído para as informações sobre o uso didático de animais em nossas
faculdades. Os contatos da REDE podem ser adquiridos neste livro.
1.6.1 - A Técnica Operatória – Opiniões de cirurgiões e veterinários
Entrevistas cedidas à Thales Tréz, no período entre agosto e dezembro de 1999.
1) Dr. Corina Gericke, Veterinária - Alemanha
Education as Medical Technician Assistent
Employed at Society for Epilepsy Research
Studied veterinary medicine at the University of Giessen/Germany
Founded the Federal Society of Students against Animal Misuse in Education in 1988
Employed at 4 different small animal clinics in the United Kingdom (1995-1998)
1. Você acredita que o uso de animais durante a educação médica é indispensável para o
ensino de técnica cirúrgica? Porquê?
Dr. Corina – Não é necessário o uso de animais para aprender técnicas cirúrgicas nem em
qualquer outra parte do estudo médico. Porquê? Veja a questão 2.
2. Que tipo de alternativas você sugeriria para a substituição dos animais durante o
treinamento cirúrgico?
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Dr. Corina – A única maneira apropriada de aprender cirurgia é primeiro praticá-la em cadáveres,
então observar um experiente cirurgião, auxiliar este cirurgião e finalmente praticar a cirurgia,
sendo supervisionado por um cirurgião experiente. Aprendendo passo a passo. Isto se aplica tanto
para cirurgiões veterinários ou humanos. Na minha opinião, não existe outra maneira de se
aprender cirurgia.
Se um estudante pratica em animais de laboratório e algo dá errado, é fácil dizer: “E daí, é apenas
um animal de laboratório, pegaremos outro”. Na vida real, em uma operação real, você não pode
dizer isto. Quando se usa animais de laboratório na cirurgia, os estudantes aprendem a atitude
errada sobre a vida e a morte.
3. Que tipos de prejuízos (éticos, psicológicos, etc.) o uso de animais na educação médica
pode causar ao estudante de medicina?
Dr. Corina – Os estudantes de tornam insensíveis e duros quando usam animais para seu estudo.
Estudantes de medicina e doutores deveriam ter respeito pela vida, incluindo a vida de animais.
4. Cirurgiões daqui dizem que o estudante deve estar em contato com tecidos vivos, e que
sem isso é impossível aprender a técnica cirúrgica. Alguns desconhecem universidades pelo
mundo que não utilizem tecidos vivos para o ensino de cirurgia. É verdade?
Dr. Corina – É óbvio que os estudantes devem estar em contato com tecido vivo, mas deve ser
um tecido vivo de uma operação real em um paciente. Quando um estudante observa e ajuda um
cirurgião experiente, ele/ela está em contato com tecido vivo, com hemorragias, etc.
Não existe NENHUMA universidade de medicina na Alemanha onde os estudantes tenham que
participar de experimentos animais para aprender cirurgia! De acordo com seus professores,
todos cirurgiões alemães deveriam ser cirurgiões inexperientes, o que eu asseguro que não é
verdade.
5. É possível ser um bom cirurgião sem ter aprendido com animais?
Dr. Corina – Você não pode ser um bom cirurgião quando aprende com animais.
6. Você pode explicar mais sobre o período de residência (por exemplo), onde os estudantes
estão em contato com pacientes humanos e aprendem métodos cirúrgicos em seres humanos?
Dr. Corina – Depois de 6 anos na universidade, os estudantes alemães de medicina devem fazer
um “ano prático”, que é dividido em 3 partes: medicina interna, cirurgia e uma parte optativa. É
aí que começa a se aprender cirurgia. Leva diversos anos de prática e experiência para se tornar
um bom cirurgião. Não se espera aprender tudo isso em um curto período na universidade.
7. Realidade virtual e outras tecnologias não dão ao estudante informações importantes
sobre sinais vitais, hemorragias, tato. É verdade?
Dr. Corina – Realidade virtual, simulações em computadores, filmes são alternativas boas para o
ensino de fisiologia, mas não para o ensino de cirurgia. Existem alguns métodos alternativos
disponíveis para o ensino de cirurgia: por exemplo, um “braço para a prática de sutura” (suture
practice arm), que é feito de uma pele sintética. Ele tem diversos ferimentos, que permite ao
estudante a prática da sutura de ferimentos. Então ele/ela pode abrir e tentar novamente. Outra
alternativa feita de borracha (ruber foam) simula um estômago, no qual você pode praticar certas
técnicas cirúrgicas. Em um outro modelo, órgãos provenientes de abatedouros (como fígado, rim,
et.) são submetidos à uma corrente de um líquido semelhante ao sangue. Isso pode ser utilizado
para o manuseio de vasos hemorrágicos. Em um rato artificial, você pode aprender microcirurgia,
por exemplo, anastomose de vasos sangüíneos finos (NT.: o estudo de anastomose microcirúrgica
pode ser estudado também, e com maior eficiência, em vasos sanguíneos de placentas humanas).
8. Na Alemanha, quantas escolas de medicina substituíram animais durante a educação
médica?
Dr. Corina – Existem 36 universidades médicas na Alemanha. Em 14 delas você pode estudar
sem a utilização compulsória de animais. As outras universidades utilizam animais em cursos de
fisiologia e/ou zoologia/morfologia.

2) Dr. Stefano Cagno, Médico Cirurgião – Itália
Laurea in Medicina e Chirurgia presso Università Statale di Milano (Itália)
Dirigente Medico Ospedaliero
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Membro do Comitato Scientifico Antivivisezionista (Roma)
Autor do livro "Sobre animais e pesquisa" - Franco Muzzio Editora, e de outras 100 publicações
sobre a vivissecção, direitos animais e bioética.
1. Você acredita que o uso de animais durante a educação médica é indispensável para o
ensino de técnica cirúrgica? Porquê?
Dr. Stefano - O uso de animais na pesquisa médica e científica não traz nenhum benefício ao
progresso científico. Os animais possuem uma anatomia diferente da do homem e uma
consistência/estrutura dos tecidos também diferente. O cirurgião depois de ter experimentado as
técnicas nos animais, passa para o homem que será a verdadeira cobaia experimental. Os
cirurgiões experimentais, convencidos que aquilo que viram nos animais tem validade para o
homem, no momento que passam para este último, se tornam menos prudentes do que deveriam
ser, e consequentemente fazem mais danos.
Iluminadoras são as palavras do Prof. Salvatore Rocca Rossetti, nefrologista e urologista, docente
da universidade de Torino: "Vi cirurgiões experimentar em alguns órgãos de cão pensando que
fossem idênticos àqueles do homem e não sabendo que estavam cortando um órgão diferente, até
uma glândula linfática, invés da tireóide. Nenhum cirurgião se tornou tal porque aprendeu a
operar num animal; pelo contrário no animal ele desaprendeu....Eu fiz dezenas de milhares de
cirurgias no homem e não as havia feito primeiro em animais".
2. Que tipo de alternativas você sugeriria para a substituição dos animais durante o
treinamento cirúrgico?
Dr. Stefano - É importante colocar que se fosse investido mais dinheiro para métodos
substitutivos da vivissecção, existiriam até muito mais possibilidades válidas. Atualmente
existem muitíssimos softwares úteis para procedimentos cirúrgicos experimentais. Um desses
chamado "virtual section" recebeu a aprovação e o investimento (sponsor) financeiro de parte da
Universidade de Stanford na Califórnia. Depois existem indústrias que produzem membros
artificiais feitos de material com a mesma consistência dos tecidos humanos. Neste caso os
jovens cirurgiões podem praticar (“fare la mano”) nesses manequins.
3. Que tipos de prejuízos (éticos, psicológicos, etc.) o uso de animais na educação médica
pode causar ao estudante de medicina?
Dr. Stefano - O estudante de medicina que não critica o uso dos animais na pesquisa experimental
adere a uma lógica mecanicista que já fez danos gravíssimos no passado. Habitua-se a pensar que
os seres vivos são constituídos de pedaços (órgãos) destacados e destacáveis entre eles. Ignora as
conseqüências psicológicas do correto funcionamento dos seres vivos (homens e animais),
esquecendo, por exemplo, que situações estressantes como aquelas experimentais diminuem a
eficácia do sistema imunitário e então predispõe os animais a reagir de maneira ineficaz a eventos
potencialmente patogênicos. Mas sobretudo, os estudantes tornando-se insensíveis ao sofrimento
animal, se acostumam a fazer o mesmo com o sofrimento humano. Neurologistas canadenses
que, depois de ter transcorrido um período de 6 meses em laboratórios de vivissecção, voltavam
ao hospital, quando colocados a testes psicológicos, demonstraram muito menos sensibilidade ao
sofrimento do paciente se comparado com sua atitude antes do período que ficou no laboratório
com os animais.
Para os vivisseccionistas os animais se tornam coisas, objetos para serem usados para os próprios
fins. O passo em direção aos humanos é sempre muito curto/breve.
4. Cirurgiões daqui dizem que o estudante deve estar em contato com tecidos vivos, e que sem
isso é impossível aprender a técnica cirúrgica. Alguns desconhecem universidades pelo mundo
que não utilizem tecidos vivos para o ensino de cirurgia. É verdade?
Dr. Stefano - Como eu disse antes, o fato que os animais ofereçam aos estudantes jovens ou aos
jovens cirurgiões a possibilidade de exercitar-se em tecidos vivos não quer dizer que isso seja
realmente útil. A pressão que o cirurgião deve fazer no bisturi para abrir o abdome de um suíno
não é a mesma que deve ser feita no homem.
Na Itália a partir do ano que vem a Universidade de Modena deveria abolir qualquer
experimentação animal, com objetivo didático, em qualquer das faculdades
O fato que muitíssimas universidades se continue a usar animais na experimentação cirúrgica não
quer dizer que todos os cirurgiões efetivamente a usem (ver declarações precedentes do professor
Rossetti)
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5. É possível ser um bom cirurgião sem ter aprendido com animais?
Dr. Stefano - Sim. Também nesse caso repito as declarações do prof. Rocca Rossetti. A anatomia
humana se aprende nas salas de anatomia e observando as operações dos cirurgiões mais velhos.
Depois que se aprende um procedimento numa espécie animal, o cirurgião experimental, tem que
desaprender para virar um cirurgião humano.
6. Você pode explicar mais sobre o período de residência (por exemplo), onde os estudantes estão
em contato com pacientes humanos e aprendem métodos cirúrgicos em seres humanos?
Dr. Stefano - Na Itália infelizmente os estudantes de medicina e cirurgia não são obrigados a
freqüentar muito as salas de cirurgia e anatomia. Eu ao invés mantenho que, depois da colação de
grau, um médico que queira se dedicar à profissão de cirurgião deveria freqüentar diariamente
por alguns anos as salas cirúrgicas. Lá ele aprenderá tudo que lhe servirá para a profissão.
Se fosse para escolher entre sofrer uma cirurgia feita por um cirurgião com longa experiência
prática em animais e um outro com longa experiência teórica com homens, eu não teria dúvidas:
escolheria o último!
7. Realidade virtual e outras tecnologias não dão ao estudante informações importantes sobre
sinais vitais, hemorragias, tato. É verdade?
Dr. Stefano - A realidade virtual é um rapidíssimo progresso e atualmente existem programas que
mimetizam qualquer situação. Existem manequins que mimetizam, por exemplo, qualquer
situação cardio/cardiocirculatória, kits para exercitar-se nas anastomoses e nas incisões. Os
eventos imprevisíveis depois se verificarão, independente do método usado para se exercitar o
para aprender. Não esqueçamos que, por exemplo nos casos dos transplantes, as primeiras
cirurgias feitas no passado foram todas falidas para os eventos que eram verificados nos homens,
mas não nos animais. Sobre o assunto ler os seguintes interessantíssimos artigos:
Jamieson S.W. et al. Combined heart and lung transplantation, The Lancet, May 21, 1983, 1130.
Burke C.M. et al. Twenty-eight cases oh human heart-lung transplantation, March 8, 1986 517-
519
8. Na Itália e na Europa, quantas escolas de medicina substituíram animais durante a educação
médica?
Dr. Stefano - Não conheço esse dado precisamente. Na Itália o uso de animais para exercícios
universitários está em franca diminuição e poderia em pouco tempo ser vetado. Como
anteriormente lembrei, a universidade de Modena a partir do próximo ano deverá ser o primeiro
caso onde o emprego de animais será vetado em todas as faculdades.
9. Algum comentário adicional?
Dr. Stefano - As respostas foram sintéticas, mas o argumento é muito vasto e importante. A
medicina, e as disciplinas biológico/científicas em geral, progredirão com mais velocidade
quando definitivamente for abolido o uso de animais. A vivissecção é um método que deveria
ofender a inteligência dos que amam a ciência e as matérias científicas. Eu considero a
vivissecção no mesmo nível que a bruxaria.
3) Dr. Jerry W. Vlasak, Médico Cirurgião – Estados Unidos
Trauma Surgeon, San Bernardino County Medical Center
Trauma Surgeon, Loma Linda University Medical Center
Level I Trauma Center- All aspects of Trauma/ Critical Care
Associate Director of Surgery, Waterbury Hospital Health Center
Full-time involvement with resident education.
Director, Surgical Intensive Care Unit
Associate Director, Trauma Services
Private Practice, Santa Barbara County, California.
Founded and developed Central Coast Surgical Group.
1. Você acredita que o uso de animais durante a educação médica é indispensável para o
ensino de técnica cirúrgica? Porquê?
Dr. Vlasak: Obviamente que não. Nenhum cirurgião nos EUA aprendem cirurgia praticando em
animais. Apenas uma universidade daqui requer animais de laboratório, e todas oferecem
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alternativas para a dissecção animal. Animais são tão diferentes em tantos aspectos, e a prática
provinda deste tipo de experimento não são confiáveis quando praticamos a medicina humana.
Mais importante, como podemos esperar que jovens cirurgiões desenvolvam sensibilidade,
quando eles são ensinados a matar animais saudáveis.
2. Que tipo de alternativas você sugeriria para a substituição dos animais durante o
treinamento cirúrgico?
Dr. Vlasak: Como citado anteriormente, animais não são utilizados para se aprender técnicas
cirúrgicas nos EUA. Os animais ainda são usados em pesquisa básica, não porque eles são um
bom meio para se aprender mais, mas porque tal prática é tão estabelecida, e há tanto dinheiro
sendo gerado pela indústria animal-biomédica.
3. Que tipos de prejuízos (éticos, psicológicos, etc.) o uso de animais na educação médica
pode causar ao estudante de medicina?
Dr. Vlasak: Como um jovem médico pode justificar a matança de um ser saudável para se
aprender o que pode ser facilmente aprendido, em um nível muito mais real, através do uso de
simulações de computadores e ambientes clínicos? Muitos estudantes de medicina nos EUA tem
tido uma posição muito forte contra a matança de animais nas faculdades, e tem sido os grandes
responsáveis pela substituição dos animais de laboratório. Mesmo em faculdades de veterinária
os estudantes estão substituindo o animal de laboratório por experiências clínicas e outros
métodos de ensino.
4. Cirurgiões daqui dizem que o estudante deve estar em contato com tecidos vivos, e que sem
isso é impossível aprender a técnica cirúrgica. Alguns desconhecem universidades pelo
mundo que não utilizem tecidos vivos para o ensino de cirurgia. É verdade?
Dr. Vlasak: Nos EUA, a cirurgia é ensinada por cirurgiões mais experientes, conduzindo jovens
residentes através de procedimentos cada vez mais complicados na sala de operações humanas. O
tecido vivo é usado, como também se aprende corretamente sobre fisiologia e anatomia humana.
Gostaria de repetir que nenhum cirurgião nos EUA aprendem cirurgia em animais não-humanos.
5. E alguns deles também afirmam que mesmo que não se exija o uso de animais durante o
período de graduação, certamente utilizarão após a graduação. É verdade?
Dr. Vlasak: Como expliquei acima, o treinamento em animais na graduação e pós graduação não
é requerida, mas usualmente existe uma opção para aqueles que desejam realizá-la. Mesmo no
treinamento cirúrgico, é uma opção estritamente de pesquisa orientada, e não é obrigatória.
Apenas nas escolas de medicina das forças armadas existe a exigência de dissecção no currículo.
Enfim, os estudantes não são exigidos na prática de dissecção em estágios mais avançados.
6. É possível ser um bom cirurgião sem ter aprendido com animais?
Dr. Vlasak: Sou um bom cirurgião, e não aprendi em animais.
7. Você pode explicar mais sobre o período de residência (por exemplo), onde os estudantes
estão em contato com pacientes humanos e aprendem métodos cirúrgicos em seres humanos?
Dr. Vlasak: Temos um período de 5 a 7 anos de residência em cirurgia nos EUA. Começando no
primeiro ano, os residentes são conduzidos através de operações simples, como reparos de hérnia
e biópsias de mama, com um cirurgião mais experiente supervisionando atentamente. Desta
forma se ensina as técnicas de tecido corretamente, e é combinado com o ensino didático da sala
de operação e enfermarias. A medida em que o período de residência avança, o residente vai
tendo contato com operações cada vez mais complexas, sempre sob supervisão de um cirurgião
experiente.
8. Realidade virtual e outras tecnologias não dão ao estudante informações importantes sobre
sinais vitais, hemorragias, tato. É verdade?
Dr. Vlasak: A realidade virtual está ficando cada vez melhor com o passar do tempo.
Especialmente na área de cirurgia laparoscópica, alguns dos simuladores são recursos muito bons
no ensino de destreza e coordenação olho-mão.
9. Algum comentário adicional?
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Dr. Vlasak: Os animais não somente são desnecessários e raramente usados na educação médica
nos EUA, como a ausência da matança de indivíduos saudáveis propicia o ensino da compaixão e
preocupação nos jovens médicos. Eu estive viajando pela Europa oriental, onde as técnicas nãoanimais
são adotadas com entusiasmo, e novas simulações de computadores foram apreciadas. O
uso de animais não-humanos para ensinar medicina humana é um conceito do passado, e está
sendo substituído por alternativas mais eficazes e humanas.
4) Dr. David Collins, Cirurgião Pediátrico - Canadá
Pre-med University of British Columbia, Vancouver, Canada, BA, 1947
Medicine- McGill University Montreal, Canada MD, CM 1954 Residency in pediatric Surgery,
Boston Children's hospital. 1956-62.
1. Você acredita que o uso de animais durante a educação médica é indispensável para o ensino
de técnica cirúrgica? Porquê?
Dr. Collins: Animais não são necessários. A técnica cirúrgica é primeiramente aprendida pela
observação, assistência e então praticada sob supervisão, e ensinando os procedimentos, tudo em
humanos (veja uma, faça uma, ensine uma).
2. Que tipo de alternativas você sugeriria para a substituição dos animais durante o treinamento
cirúrgico?
Dr. Collins: Modelos plásticos estão disponíveis para o aprendizado de algumas técnicas, e
mesmo em pessoas.
3. Que tipos de prejuízos (éticos, psicológicos, etc.) o uso de animais na educação médica pode
causar ao estudante de medicina?
Dr. Collins: Não geram o respeito próprio pelos animais como criaturas senscientes.
4. Cirurgiões daqui dizem que o estudante deve estar em contato com tecidos vivos, e que sem
isso é impossível aprender a técnica cirúrgica. Alguns desconhecem universidades pelo mundo
que não utilizem tecidos vivos para o ensino de cirurgia. É verdade?
Dr. Collins: Tecidos vivos sim – humanos.
5. É possível ser um bom cirurgião sem ter aprendido com animais?
Dr. Collins: Sim
6. Você pode explicar mais sobre o período de residência (por exemplo), onde os estudantes
estão em contato com pacientes humanos e aprendem métodos cirúrgicos em seres humanos?
Dr. Collins: Sim, este é o meio padrão que todos nós aprendemos cirurgia.
7. Realidade virtual e outras tecnologias não dão ao estudante informações importantes sobre
sinais vitais, hemorragias, tato. É verdade?
Dr. Collins: Não tão bem quanto o real, mas a realidade virtual pode ajudar no aprendizado de
algumas técnicas, como as suturas.
5) Dr. David Morton, Médico - Inglaterra
Head Centre for Biomedical Ethics, Division of Primary Care, Public and Occupational Health,
(Director Biomedical Services Unit). University of Birmingham.
1. Você acredita que o uso de animais durante a educação médica é indispensável para o ensino
de técnica cirúrgica? Porquê?
Dr. Morton: Dependerá das alternativas disponíveis. Deveria haver um estágio onde se
desenvolveria habilidades em objetos inanimados, e então progredir, se necessário, para animais,
mas não há nunca qualquer necessidade de que estes recubram a consciência, na minha opinião.
2. Que tipo de alternativas você sugeriria para a substituição dos animais durante o treinamento
cirúrgico?
Dr. Morton: Existem kits disponíveis no comércio para a prática de sutura e para a laparoscopia e
outros tipos de cirurgia. Costurar cascas de banana e pedaços de elástico podem ser um começo.
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Uma alternativa mais avançada é assistir um cirurgião experiente e gradualmente adquirir as
habilidades necessárias em um certo período de tempo.
3. Que tipos de prejuízos (éticos, psicológicos, etc.) o uso de animais na educação médica pode
causar ao estudante de medicina?
Dr. Morton: Pode fazer com que o estudante não respeite a vida animal, o que pode progredir
para o desrespeito à vida humana (veja Kant e outros). A compaixão pelo vulnerável é uma
importante qualidade para aqueles que seguirão profissões de cuidados.
4. Cirurgiões daqui dizem que o estudante deve estar em contato com tecidos vivos, e que sem
isso é impossível aprender a técnica cirúrgica. Alguns desconhecem universidades pelo mundo
que não utilizem tecidos vivos para o ensino de cirurgia. É verdade?
Dr. Morton: Existe alguma verdade nisto, mas o estágio acima descrito responde à estas dúvidas
(...). Na Inglaterra, desde 1876, e em cada vez mais países do mundo, animais não estão sendo
mais usados como eram no passado. Tecidos vivos também podem ser obtidos de animais recém
mortos ou de abatedores.
5. É possível ser um bom cirurgião sem ter aprendido com animais?
Dr. Morton: Sim, todos cirurgiões britânicos aprenderam sem o uso de qualquer material vivo de
animais. Por acaso pensa-se que na Inglaterra, Irlanda (e acho que em outros países) arriscaria-se
a vida humana pelo bem dos animais? Se fosse realmente necessário usar animais, assim seria
feito.
6. Você pode explicar mais sobre o período de residência (por exemplo), onde os estudantes
estão em contato com pacientes humanos e aprendem métodos cirúrgicos em seres humanos?
Dr. Morton: Na Inglaterra estamos nos afastando do ensino em hospitais para os primeiros
socorros. Também temos um programa de 5 anos de treinamento de especialistas após a
qualificação como doutor de qualquer disciplina médica de prática geral ou cirurgia. Depois
segue um período de aprendizagem por mais 5 anos, de modo que não se possa praticar a cirurgia
independentemente até que se tenha, por exemplo, 34 a 35 anos de idade, tendo pelo menos 10
anos de treinamento após a graduação.
7. Realidade virtual e outras tecnologias não dão ao estudante informações importantes sobre
sinais vitais, hemorragias, tato. É verdade?
Dr. Morton: Elas podem ajudar no treinamento de estudantes, adquirindo um amplo campo de
experiência (Albeit Virtual), de maneira mais rápida que a experiência obtida na sala de
operações.
O que cientistas importantes têm a dizer
“Nenhum cirurgião pode obter conhecimento de experimentos em animais, e todos os grandes
cirurgiões do passado e presente concordam com isso. Não se aprende cirurgia através da
operação de animais. Animais são completamente diferentes do homem anatomicamente, suas
reações são diferentes, sua estrutura é diferente, sua resistência é diferente. O estudo em animais
confunde o cirurgião” - Prof. Dr. Bruno Fedi, Diretor do Instituto de Anatomia Patológica no
Hospital Geral de Terni, Itália (Fedi, 1986).
“Os vivissectores argumentam que a vivissecção ajuda o iniciante a adquirir habilidade manual.
Mas como alguém pode imaginar que esta habilidade venha da operação de gatos, cães ou ratos,
cujos intestinos são muito menores, cujos vários órgãos tem uma relação anatômica totalmente
diferente entre eles do que no homem, de forma alguma comparável ao do homem? O mesmo
vale para consistência dos ‘innards’, sua coloração, resistência ao corte e tudo mais” Prof. Dr.
Ferdinando de Leo, Professor de Cirurgia e Terapia Patológica Especial da Universidade de
Nápoles, Itália. Cirurgião Chefe no Hospital Pelligrini. Declaração em um programa de televisão
em 1978 (De Leo, 1978).
“Tive que desaprender tudo que tinha ‘aprendido’ em cães, e começar novamente pela anatomia
humana. Atrasei meu progresso em cerca de 12 anos” – Dr. Lawson Tait, considerado pai da
21
cirurgia moderna, ao criticar suas aulas de cirurgia prática em cães – “O fato é que as doenças
em animais são tão diferentes do homem, assim como ferimentos, que as conclusões obtidas pela
vivissecção são absolutamente inúteis” (1882) (respectivamente Risden, 1967; Tait, 1882).
“A base da cirurgia é a anatomia. Isto explica o porque que a cirurgia deve ser aprendida
primeiramente em tratados e atlas anatômicos, e depois pela dissecção de um grande número de
cadáveres. Assim você não aprende apenas sobre anatomia humana, como também adquire a
indispensável habilidade manual. Daí você parte para o aprendizado da prática de cirurgia. Esta
pode ser aprendida apenas em hospitais, em contatos diários com os pacientes. Você precisa ser
um assistente antes de ser um cirurgião... Finalmente, vamos examinar como alguém chega a
operação cirúrgica. Primeiro você observa, depois você auxilia um cirurgião. Isso por várias
vezes. Depois que tiver compreendido os vários estágios de uma operação, as dificuldades que
podem surgir, e a contornar estas dificuldades, somente então você pode começar a operar.
Primeiro em casos simples, sob a supervisão de um cirurgião experiente, que pode avisá-lo de
qualquer passo errôneo ou advertir se você tiver alguma dúvida de procedimento... Esta é a
verdadeira escola da cirurgia, e eu afirmo que não existe outra. Depois de explicar sobre a
verdadeira escola de cirurgia, é fácil de entender porque todos os cursos de cirurgia baseados em
operações em cães tem levado a falhas miseráveis. O cirurgião que conhece sua arte não pode
aprender nada destes cursos, e os iniciantes não aprendem deles a verdadeira técnica cirúrgica, e
se tornam cirurgiões perigosos” - Dr. Abel Desjardins, em 1932. Na época, Presidente da
Sociedade Francesa de Cirurgiões, Cirurgião Chefe do Colégio de Cirurgia da Faculdade de
Paris, e professor de cirurgia da France's Ecole Normale Superieure (Ruesch, 1983).
“A técnica operatória descrita nestas páginas são apropriadas para animais, geralmente cães.
Entretanto, não sugere-se que sejam igualmente apropriadas para seres humanos. Negamos que o
estudante tenha a pretensão de que ele faz é a operação de um paciente para a cura de uma
doença” – J. Markovitz, Manual de Cirurgia Experimental, 1954.
“O objetivo deve ser treinar o cirurgião em pacientes humanos, passando gradualmente de estágio
à estágio em dificuldade, e rejeitar explicitamente a aquisição de habilidade pelo treino em
animais... que é inútil e perigoso no treinamento de um cirurgião torácico” – Prof. Dr. R.J.
Belcher, no Simpósio de Cirurgia Torácica, em Florença, Itália (1980), sobre o treinamento de
cirurgiões (Fadali, 1986).
“Assim que grandes cirurgiões são formados. Equipados na sala de cirurgia sob a tutela de um
mestre, e não na sala de vivissecção” – Dr. Moneim Fadali, Diplomata da American Board of
Thoracic Surgery e da American Board of Surgery, e membro do Colégio Real de Cirurgiões do
Canadá, em seu livro Animal Experimentation: a Harvest of Shame (1996).
1.7 - Experimentos realizados no Brasil
Apesar de o Brasil não realizar experiências com animais na mesma proporção que os
países do Primeiro Mundo, sabe-se que aqui também é praticada a vivissecção, seja no âmbito da
indústria (químico-farmacêutica, alimentos, etc) ou das instituições de pesquisa científica
(universidades, institutos, etc.). O Brasil segue o modelo norte-americano de testes realizados em
produtos a ser comercializados, ou seja, põe em prática os itens preconizados pela FDA (a
agência oficial de alimentos e drogas do governo dos EUA). Sabe-se que a FDA não exige testes
com animais para avaliação da segurança de cosméticos e produtos de uso domiciliar, mas exige
que as indústrias ponham em prática quaisquer testes necessários à avaliação da segurança de seu
produto, antes que o mesmo seja comercializado. Quanto aos medicamentos, entretanto, a política
da FDA é diferente; faz-se necessária a realização de testes em animais para avaliação da eficácia
e segurança dos mesmos. Dessa forma, apesar das alternativas aos testes com animais que se
encontram à disposição da indústria de medicamentos, estes últimos só podem chegar ao mercado
após terem sido testados em animais. É uma questão de mérito judicial, portanto, devendo ser
encarada de modo diferente daquele pelo qual se avalia o comportamento da indústria de
cosméticos e domissanitários, para os quais não são exigidos testes com animais.
Não é possível listar todos os experimentos realizados em território nacional, notadamente
aqueles executados pela indústria, haja vista a dificuldade de se obter informações precisas junto
22
ao Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) das empresas, conforme constatado várias
vezes, por entidades brasileiras que se opõem à prática vivisseccionista. Dessa forma, embora
seja de conhecimento de tais entidades a realização de vivissecção, ao nível industrial (testes de
segurança do consumidor), não é possível listar quais testes são empregados, e em que proporção
isso ocorre. Outra questão envolve o caráter multinacional da grande maioria dos laboratórios
químico-farmacêuticos estabelecidos no Brasil, o que muitas vezes implica na realização de testes
com animais apenas no país-sede do laboratório, e não no Brasil, dando a falsa impressão de que
o laboratório não pratica vivissecção.
Por outro lado, qualquer indivíduo que tenha curso na área biomédica pode afirmar ter
vivenciado, pelo menos uma vez, prática vivisseccionista, durante sua formação acadêmica. Nas
instituições de ensino superior, os animais de laboratório são amplamente empregados em aulas
práticas e nos diversos experimentos conduzidos com finalidade de obterem-se títulos de pósgraduação.
Verifica-se, entretanto, que a maioria das aulas práticas ou é completamente
desnecessária ao aprendizado do aluno ou pode ser substituída por métodos que dispensam
animais, ou verificar que grande parte dos experimentos de pós-graduação postos em prática não
tem qualquer relevância para o bem-estar da humanidade, servindo apenas para “enriquecer” o
currículo e a conta bancária dos “pesquisadores” envolvidos. Sabe-se que várias instituições
nacionais de ensino de medicina, enfermagem, nutrição, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia,
psicologia, biologia, zootecnia e veterinária lançam mão de grandes contingentes de animais de
laboratório (coelhos, roedores, cães, rãs etc.) para realizar aulas práticas dos seus cursos de
graduação e pós-graduação. Há grande utilização de animais em experimentos da área biomédica,
notadamente no treinamento de cirurgiões médicos e veterinários, apesar de todas alternativas
disponíveis.
Quanto aos Institutos de Pesquisa (Vital Brasil, Biológico, Pasteur, Butantã, Fundação
Osvaldo Cruz etc.), sabe-se que ali vários projetos são conduzidos envolvendo experimentação
animal, com a justificativa de se avançar no estudo de doenças infecto-contagiosas e moléstias de
grande relevância em saúde pública (AIDS, malária, doença de Chagas, febre amarela, viroses da
infância).
Referências
De Leo, F. From interview on Rome television, Channel 5,1978.
Fedi, B. From a video interview with CIVIS in Rome, January 11, 1986.
Krizmanic, Judy, "Military Increases Animal Experiments," Vegetarian Times, August 1994
Levin, E. & Danielson, D. Cardiac Arrest. CIVITAS. New York, 1991.
Milly Schär-Manzoli Holocausto. 1ed ATRA – AG STG. 1995.
New York Post. November 16,1984.
Not Show. Perspectives in Biology and Medicine, 37, 2. Winter 1994
Orlans, F. B. Data on Animal Experimentation in the United States: What They Do and Do
Reddy, Kal. THETA Corporation, Research Animal Markets Report, No. 982, September 1989
Risden, W. Lawson Tait: A Biographical Study, NAVS, 1967.
Ruesch, H. Slaughter of the Innocent. CIVIS. Klosters, Switzerland. 1983
Ruesch, H. Naked Empress, or the Great Medical Fraud. 2nd Edition. CIVIS. Klosters,
Switzerland. 1986.
Stoller, Kenneth, M.D., "Animal Testing: Why a Doctor Opposes It," The Orlando Sentinel, June
25, 1990
Tait, L. Birmingham Daily Mail, January 21, 1882
Time Magazine. April 4, 1983
23
II- ANTIVIVISSECÇÃO
2.1 - Primeiros movimentos
A primeira lei a regulamentar o uso de animais em pesquisa foi proposta no Reino Unido,
em 1876, através do British Cruelty to Animal Act. Porém, esta não vem a ser a primeira lei de
defesa animal existente. Em 1822, já havia sido instituída a Lei Inglesa Anti-crueldade (British
Anticruelty Act), que era também conhecida como Martin Act, em memória de seu defensor
Richard Martin (1754-1834), e era aplicável apenas para animais domésticos de grande porte.
Antes mesmo desta havia uma outra lei proposta na colônia de Massachussets Bay, em 1641, que
propunha que: “ninguém pode exercer tirania ou crueldade para com qualquer criatura animal que
habitualmente seja utilizada para auxiliar nas tarefas do homem”.
No século XIX foi que surgiram as primeiras sociedades protetoras dos animais. A
primeira foi criada na Inglaterra, em 1824, com o nome de Society for the Prevention of Cruelty
to Animals. Em 1840 esta Sociedade foi assumida pela Rainha Victória, recebendo a
denominação de Royal Society (RSPCA). Em 1845 foi criada na França a Sociedade para a
Proteção dos Animais. Em anos posteriores foram fundadas sociedades na Alemanha, Bélgica,
Áustria, Holanda e Estados Unidos. A primeira publicação norte-americana sobre aspectos éticos
da utilização de animais em experimentação foi proposta pela Associação Médica Americana em
1909.
Geralmente as leis de proteção animal, bem como as sociedades que se propõe a protegelos,
não fazem referências à sua utilização nos laboratórios. Isto se deve a uma série de fatores,
entre eles: 1. Carência de conhecimentos científicos, o que impede a contra-argumentação frente
à argumentação à favor da utilização de animais na ciência; 2. Carência de conhecimentos de
história da ciência, o que leva até mesmo protetores de animais a crerem que realmente tais
experimentos foram e continuam sendo de alguma forma necessário para o avanço da ciência; 3.
Receio em contrariar a “religião vigente” que se tornou a ciência, e seus sacerdotes, os cientistas
(de fato, em nossa sociedade jamais a ciência é questionada, e raramente os cientistas são
contestados, senão que por outros cientistas); 4. A crença de que os animais não sofrem durante
as intervenções, e que ao final do experimento recebem uma morte digna (seja lá o que isto
queira dizer).
Apesar de não ser a pretensão deste documento se ater ao lado ético da experimentação
animal, cabe no entanto aqui uma ressalva, uma vez que o inicio dos movimentos restritivos à
vivissecção têm origem na proteção animal: Se sociedades que se propõem a proteger animais
forem condizentes com sua utilização, seja para qual fim o homem lhes destine, então o termo
“proteção animal” não tem qualquer razão de ser; se as pessoas pertencentes a estas instituições
ou envolvidas de alguma forma com elas abraçam a reconfortante idéia de que os animais
utilizados em pesquisa realmente não sofrem durante as intervenções, e que ao final do
experimento recebem uma morte humanitária (seja lá o que este termo queira significar), elas não
apenas são indiferentes ao sofrimento e à morte animal, como ainda pode-se acreditar que sejam
uns de seus maiores promotores. Crendo nas verdades absolutas dos sumo-sacerdotes da ciência,
os protetores de animais não apenas permitem, como também apoiam a vivissecção.
Daí haver uma aberrante distinção entre os ditos “anti-vivisseccionistas”, os opositores da
vivissecção animal. Por um lado, os “protetores de animais” e os “alternadores”, satisfeitos com
as promessas dos cientistas de que estão se esforçando em usar o menor número de animais
possível, e que estão buscando aplicar as metodologias mais indolores possíveis; e tudo isto, é
claro, seguindo todas as normas referentes à utilização de animais em laboratório, e sujeitos a
fiscalização de um comitê de ética (o capitulo IV trata mais profundamente deste assunto). E por
24
outro lado, os “abolicionistas” e os cientistas de caráter, que fundamentam seu discurso na
ciência a serviço do homem (e não o contrário), e se abstêm de discutir sobre a ética (ou a falta
dela) para com os animais, refutando todo e qualquer tipo de tentativa de extrapolação de dados
obtidos de animais para seres humanos.
A importância desta observação se dá devido ao legalismo que certos vivisseccionistas
tem feito uso, quando possuem como aliados grupos de proteção animal, já que tendo o aval
destes grupos, são capazes de convencer a população como um todo de que “todos os
experimentos são indolores aos animais”. Se algum ânimo mais exaltado ousa se levantar em
protesto contra a falta de necessidade da pesquisa, ou qualquer de seus aspectos, os cientistas
argumentam que tal ou tal sociedade os apoiam, ou que estas podem dar testemunho de que
nenhum animal alí foi submetido a sofrimento desnecessário (ocorre que não cabe a estas
sociedades decidir pela vida ou pela morte de quem quer que seja, assim como não podem decidir
o quanto de dor determinado organismo merece sofrer).
Em toda a história dos movimentos anti-vivisseccionistas do mundo, curiosamente a maior
movimentação não partiu nem de movimentos de defesa animal, nem de cientistas conscientes
das mazelas da experimentação animal. Em 1903, dois estudantes de medicina suecos publicaram
uma brochura chamada Shambles of Science (confusões da ciência). Ela continha anotações de
aulas de fisiologia que eles haviam assistido na University College e outras instituições na
Universidade de Londres.
Seu propósito era despertar o sentimento anti-vivisseccionista, em parte argumentando
que os termos do 1876 Act (aquele que regulava, e até hoje regula, a pesquisa com uso de
animais) estavam sendo desobedecidos flagrantemente pelos fisiologistas. Com base nas
evidencias apresentadas por estes dois suecos, o secretario honorário da National Anti-
Vivissection Society (NAVS), Stephen Coleridge, acusou publicamente o Dr. William Bayliss da
University College de estar fraudando a lei. Bayliss, argumentando como todo vivisseccionista
que sua pesquisa visava o bem estar humano, levou Coleridge ao tribunal e por fim ganhou o
processo.
Três anos mais tarde, o Conselho de Battersea (local de funcionamento do maior abrigo
de cães da Inglaterra e lar do último hospital anti-vivisseccionista do país) inaugurou a estatua de
um cão com uma placa: “Em Memoria do Cão Terrier Marrom Levado à Morte nos Laboratórios
da University College em Fevereiro de 1903, após haver sofrido vivissecção por mais de dois
meses e tendo sido manipulado por vários vivissectores sucessivamente até sua morte, para sua
libertação. Também em memória dos 232 cães vivissectados no mesmo local durante o ano de
1902. Homens e Mulheres da Inglaterra, até quando isto vai continuar?”
Os dizeres da placa foram considerados ofensivos, e a estátua incomodou demais muita
gente na Universidade de Londres, havendo, inclusive, muitas tentativas por parte de estudantes
de medicina de destruí-la. No entanto, a estátua não se resumia a simbolizar um animal,
simbolizava a luta dos fracos contra o forte, e muitas pessoas se identificaram com esta posição.
Não foram pessoas apaixonadas por animais nem cientistas conscientes da ciência verdadeira que
defenderam a estátua, mas sim os fracos da Inglaterra.
Os estudantes de medicina revoltados foram contra-atacados pelo sindicato dos
trabalhadores, liderados por John Burns, e por sufragistas (defensoras do voto feminino) como
Charlotte Despand. Os estudantes por vezes atacavam mulheres em reuniões sufragistas, gritando
“abaixo com o cão marrom!!”. Três anos depois, um novo Conselho em Battersea acabou tirando
a estátua. Apenas em 12 de dezembro de 1985 uma nova estatua para o “Velho Cão Marrom” foi
inaugurada no Battersea Park, com uma cópia idêntica da primeira placa.
As chamadas “Provocações do Cão Marrom” entraram para a tradição da pesquisa médica
na Inglaterra, lembrada tanto por vivisseccionistas quanto por anti-vivisseccionistas. Esta história
é inteiramente descrita no livro de Coral Lansbury, The Old Brown Dog: Women, Workers, and
Vivisection in Edwardian England (University of Wisconsin Press, 1985), embora a autora se
esquive de ser uma especialista em vivissecção ou feminismo, ou ainda movimentos operários. A
única característica marcante de seu livro é que em meio a esta briga de põe estatua, tira estátua;
provocação daqui e dali, foi criada uma breve aliança entre dois grupos tradicionalmente arquirivais:
os trabalhadores (homens) e as mulheres de classe média. Mas por que? Um grupo nem
gostava tanto assim do outro, e muito menos se importavam com a vivissecção propriamente
dita?
Parece que a autora não se preocupou muito com o simbolismo do momento, ela quis
mais comentar os fatos, mas defendeu claramente uma tese: Existe uma identidade simbólica
entre um animal de experimentação em uma mesa de laboratório, e uma mulher esperando por
25
um exame ginecológico. Em ultima análise, ambos estão sem duvida ligados um ao outro por
uma esfera de fantasia sádica. A estátua simbolizava a vítima, fosse ela qual fosse (animal,
mulher ou trabalhador). Temos então uma nítida equação, onde a vítima – animal – mulher é
subjugada pelo pornógrafo – vivissector – ginecologista (os três últimos acabam então por se
tornar palavras sujas).
Raciocinando-se por este lado, é de se estranhar que muitas mulheres defendam a
vivissecção. Mulheres mais do que ninguém deveriam sentir na própria pele o que é ser tratado
como “um pedaço de carne inerte”. E estranho também que pessoas que se sintam exploradas,
seja por seus patrões, seja pelo governo, não sejam opositoras da exploração de seres em
condições de desvantagem. Como diz o ditado: “o cão é o pobre do pobre”.
Em 1980, Henry Spira denunciou a Indústria de Cosméticos Revlon pelo uso
de coelhos para fins de testes de toxicidade de cosméticos (Draize Eye Test). Após
ter tentado convencer a empresa em contribuir para a realização de pesquisas sobre métodos
alternativos de investigação de toxicidade, mandou publicar, em 15 de Abril de 1980, um anúncio
de página inteira, no jornal New York Times, com a seguinte frase: “How many rabbits does
Revlon blind for beauty's sake ?”. (“Quantos coelhos a Revlon cega em prol da beleza”) . A partir
de 1986 as indústrias cosméticas progressivamente abandonaram os testes utilizando animais
vivos. Em 1989, tanto a Avon quanto a Revlon deixaram de usar animais para fins de pesquisas
de seus produtos. Várias empresas de cosméticos utilizam um selo para identificar seus produtos
que não foram testados em animais em seu processo de produção, posicionando-se muitas vezes,
inclusive, contra os testes em animais.
2.2 - Porquê combater a vivissecção?
Porque é um caminho errado.
Existem muitas razões para que todos se oponham à vivissecção, mas poucas são as
razões que tentam justificá-la. Por exemplo, existem enormes variações fisiológicas entre ratos,
coelhos, cães, porcos, e seres humanos. Um estudo de 1989 para determinar a carcinogenecidade
de fluorido ilustra este fato. Aproximadamente 520 ratos e 520 camundongos receberam doses
diárias do mineral por dois anos. Nenhum dos camundongos foi afetado pelo fluorido, mas os
ratos apresentaram problemas de saúde incluindo câncer na boca e nos ossos. Concluímos daí que
os dados do teste não podem ser extrapolados com segurança do camundongo para o rato, que é
um animal muito próximo, o que dizer de qualquer tentativa de extrapolar-se dados de animais
para seres humanos?
Em muitos casos, os estudos em animais não só causam o desperdício de vidas e dinheiro,
eles podem ser perigosos também para a saúde das pessoas. Drogas como a talidomida, o Zomax,
e DES foram todas testadas em animais e julgadas seguras, mas tiveram conseqüências
devastantes para os humanos que fizeram uso delas. Um registro da General Accounting Office
publicado em maio de 1990, diz que mais da metade das drogas prescritas aprovadas pela FDA
entre 1976 e 1985, causam efeitos colaterais sérios o suficiente para tirar a droga do mercado ou
para fazer com que seja reelaborada. Todas estas drogas foram testadas e aprovadas em animais.
A experimentação em animais também conduz o pesquisador à pesquisa errada . O Dr.
Albert Sabin, que desenvolveu vacina oral da polio, citou em testemunho em um congresso este
exemplo de perigos ligados à pesquisa em animais: “a pólio paralítica pode ocasionar na
prevenção apenas da destruição irreversível de um grande número de neurônios motores, e o
trabalho de prevenção foi abandonado por uma concepção errônea da natureza da doença humana
por modelos experimentais ruins como a doença em macacos.” (Stoller, 1990)
Qual é o caminho certo?
O Physicians Committee for a Responsible Medicine (PCRM), um comitê de profissionais
da saúde contrários à vivissecção, relata que métodos de pesquisa sofisticados que não requeiram
animais são mais precisos, menos caros e menos demorados que os métodos de pesquisa
tradicionais que usam animais. A preocupação destes profissionais da saúde não é a proteção
animal, mas sim a proteção da própria saúde humana. Argumentam que se as companhias e
agências do governo implementassem as alternativas eficientes para a pesquisa em animais os
pacientes poderiam ser poupados de aguardar tantos anos por drogas úteis para o tratamento e
alivio de seu sofrimento. Optando pelo caminho de pesquisa correto, ocorreriam menos mortes
causadas por efeitos colaterais de drogas e tratamentos. Isto, é claro, seria conseguido apenas
minando a maquinaria burocrática que envolve a validação de técnicas científicas e os interesses
da indústria vivisseccionista. Segundo o PCRM os impostos seriam melhores gastos prevenindo o
26
sofrimento humano em primeiro lugar através de programas de educação e assistência médica
para indivíduos de baixa renda em vez de tornar animais artificialmente doentes para depois
tentar trata-los. A maioria das doenças mortais que afetam a humanidade (doença de coração, e
pressão alta, cânceres, diabetes, derrame, artrite reumatóide, osteoporose, paralisias e falências de
órgãos e sistemas em geral) podem ser prevenidas através de uma alimentação estritamente
vegetariana, com baixos níveis de gordura, proteínas e sódio, evitando-se o fumo e o abuso de
álcool, e exercitando-se regularmente.
Não é de se surpreender que aqueles que ganham dinheiro com a experimentação em
animais, fornecimento de gaiolas, dispositivos de contenção, comida para animais enjaulados, e
guilhotinas minúsculas para destruir animais cujas vidas já não são consideradas úteis, insistem
que quase todo o avanço médico foi feito pelo uso de animais. Da mesma forma não é interesse
da indústria farmacêutica a promoção da saúde da população, uma vez que seus lucros advém
justamente da venda de remédios.
Renomados cientistas de caráter afirmam-se contrários à idéia de que a ciência dependa da
vivissecção, apenas para citar alguns exemplos:
O Dr. Charles Mayo, fundador da renomada Clínica Mayo (que só realiza pesquisas não
invasivas), explica, “eu detesto a vivisseção. Deveria ser pelo menos restringida. Melhor, deveria
ser abolida. Eu não conheço nenhuma realização conseguida pela vivisseção, nenhuma
descoberta científica que não poderia ter sido obtida sem tal barbarismo e crueldade. A coisa toda
é má”. (Hendrix, 1961).
O Dr. Edward Kass, da Escola Médica de Harvard, disse em um discurso que fez no
Infectious Disease Society of America (Sociedade Americana de Doenças Infecciosas): “Não há
pesquisa médica que tenha barrado a tuberculose, difteria, pneumonia e septicemia puerperal; o
crédito primário para estas monumentais realizações têm de ser dado para a saúde pública,
melhoria de condições sanitárias e a melhoria nas condições gerais de vida...” (Prouix, 1995).
Hans Ruesch enumera mais de 1000 depoimentos de médicos de renome coletados entre
1924 e 1989; todos argumentando abertamente contra a vivissecção (Ruesch, 1989)
2.3 - Movimentos Antivivisseccionistas
A lista que se segue não pretende ser completa e nem poderia, dada a existência de
inúmeros movimentos em todo o mundo, alguns de alcance internacional, outros limitados apenas
ao seu próprio município. Os movimentos aqui listados são divididos segundo suas tendências e
objetivos, se (abolicionistas ou reducionistas, se de argumentação cientifica ou ética, etc) porém
esta divisão não é o bastante precisa, uma vez que a linha que muitos movimentos adotam
encontra-se no limiar entre estas linhagens, adotando ora posturas abolicionistas, mas vindo logo
depois mostrar-se em atos como reducionistas; adotando ora argumentos científicos, ora
argumentos éticos. No entanto, fique aqui estabelecido que esta divisão não é bem clara, podendo
vir a ser revisada.
2.3.1 - Movimentos abolicionistas
2.3.1.1 - Movimentos que seguem a linha de antivivisseccionismo científico:
Estes movimentos seguem os seguintes princípios estabelecidos e inspirados em seu patrono, o
escritor suíço Hans Ruesch:
1) Todos os experimentos em animais devem ser rejeitados por motivos éticos, e principalmente
por motivos científicos;
2) Os experimentos com animais destroem o respeito pela vida e dessensibilizam o
experimentador ante o sofrimento de seus pacientes;
3) Experimentos em animais não são uma forma correta de diagnosticar, pesquisar ou curar
doenças humanas. As diferenças orgânicas, anatômicas, biológicas, metabólicas, genéticas e
psíquicas entre homens e animais são tão diferentes que o conhecimento obtido de animais
para humanos é não apenas sem valor, como também errôneo e até prejudicial;
4) Experimentos com animais são conduzidos apenas para vantagem dos próprios
experimentadores, de seus financiadores comerciais, e da industria de criação de animais de
laboratório. Eles preenchem uma função de álibi. Jamais houve uma prova estatística
científica de que seus resultados são aplicáveis para seres humanos;
27
5) Muitas das doenças contemporâneas não são orgânicas, mas possuem causas psicológicas,
sociais, dietéticas, ambientais ou em estilo de vida inadequado. A ciência médica oficial, no
entanto, não possui tratamentos causais a oferecer. Não podem ao menos curar um resfriado
comum, ou reumatismo, artrite, câncer, nem qualquer das doenças milenares, mas mais do
que isso, as multiplicam, inventando ainda novas doenças (ex.: Herpes, AIDS, etc.). Tentando
apenas livrar o doente dos sintomas, e impedindo que este reconheça e elimine as causas;
6) Com seu maior consumo de animais de laboratório do mundo, a América deveria ser também
o país mais saudável do mundo, mas é um dos países mais doentes e é o 17º em expectativa
de vida, estando atrás de diversos países subdesenvolvidos onde tais experimentações são
praticamente desconhecidas;
7) Cuidados com a saúde requer antes de mais nada a prevenção, além da aplicação de uma ou
várias disciplinas que tem sido ignoradas pela medicina oficial devido à sua obsessão pela
experimentação animal, por exemplo a dietética, psicossomática, a psicoterapia, a observação
clínica, ambientalismo, epidemiologia, vegetarianismo, reabilitação, homeopatia, osteopatia,
quiroprática, naturopatia, naprapatia, macrobiótica, diatermia, oligoterapia, eletroterapia,
hidroterapia, helioterapia, aromaterapia, curas pela fé, herbalismo, acupuntura, jejuns e mais,
que tem se provado efetivos, e econômicos ainda por cima;
8) A medicina deve se referir à pessoa como um todo, adotar métodos que relacionem as causas
aos pacientes, ao invés de aplicar a medicina veterinária aplicada ao ser humano, que no
melhor substitui os sintomas agudos com doenças crônicas, mas freqüentemente criam novas
doenças;
9) As escolas veterinárias devem seguir os mesmos princípios humanos: nenhuma intervenção
artificial e violenta em animais saudáveis para inflingir-lhes doenças e mutilações, ou para
dessensibilizar os estudantes; mas sim estudos cuidadosos e tratamentos simpatéticos de
doenças espontâneas e acidentes naturais;
10) Por todas estas razões, para exigir a total abolição (proibição por lei) de todos os
experimentos com animais não é apenas possível, mas necessária.
* Centre d’Information Vivisectionniste Internacional Scientifique (CIVIS)
Via Molta 51, Massagno, Lugano – Suíça, 6900
Tel/Fax: (091) 966-3976
www.civis.org
Fundada por Hans Ruesch no final de década de 70, após a publicação de seu primeiro
livro “Slaughter of the Innocents”, é uma sociedade influente principalmente na Europa, sendo
porém boicotada pela maioria dos movimentos de defesa dos animais.
* S.U.P.R.E.S.S.
P.O. Box 1062, Pasadena, CA 91102
* The Nature of WellNess
P.O.Box 10400, Glendale, CA, 91209-3400. EUA
http://www.animalresearch.org
Sociedade representante do movimento abolicionista de argumentação científica na
América, seguindo os mesmos princípios estabelecidos por Hans Ruesch
* Frente Brasileira para Abolição da Vivissecção (FBAV)
C.P. 8169, CEP 21032-970, Rio de Janeiro -RJ
www.geocities.com/Petsburgh/8205
Sociedade fundada por Rosely Bastos, difunde os princípios do abolicionismo com bases
científicas no Brasil
* New Zealand Anti-Vivisection Society, Inc. (NZAVS)
P.O. Box 9387, Christchurch – Nova Zelândia
http://www.nzavs.org.nz
Sociedade fundada em 1978 por Bette Overell, é a principal difusora do movimento
abolicionista na Oceania.
2.3.1.2 - Movimentos de profissionais da saúde contra a vivissecção:
28
Alguns destes movimentos possuem estreita relação com os movimentos inspirados em
Hans Ruesch, outros tem maior afinidade pelos movimentos de proteção animal. Reside neste
fato, portanto, que a maioria destes movimentos podem ser considerados abolicionistas, enquanto
que alguns outros devem ser considerados apenas reducionistas ou protecionistas. A importância
dos movimentos profissionais abolicionistas é óbvia, já que fornecem maior subsídio para a
argumentação contrária ao uso de animais por motivos científicos. Por outro lado, os movimentos
que adotam posições reducionistas são dos mais perigosos, podendo vir a se constituir em
causadores da vivissecção melhores do que qualquer outra entidade, já que possuem o respaldo
de cientistas para argumentar em favor da necessidade de animais na ciência.
*Physicians Committe for Responsible Medicine (PCRM)
P.O.Box 6322, Washington, DC 20015 EUA
www.pcrm.org
* NORINA – Banco de dados de alternativas – mais de 4 mil disponíveis on-line
http://www.oslovet.veths.no/NORINA
* Association of Veterinarians for Animal Rights (AVAR)
P.O. Box 208, Davis, California 95617-0208, U.S.A.
Ou P.O.Box 6269, Vacaville, CA, 95696
http://www.AVAR.org
* ATRA (Associação Suíça para a Abolição da Vivissecção)
Arbedo – Suíça
* Doctors Against Dog Labs –
http://www.doctorsagainstdoglabs.com
* Liga Internacional de Médicos pela Abolição da Vivissecção (LIMAV)
Casa Orizzonti CH-6517, Arbedo – Suíça
Tel: (091) 829-1336 / Fax: (091) 829-4113
* People for Reason in Science and Medicine - PRISM
http://www.livelinks.com/sumeria/health
* Medical Research and Modernization Committee (MRMC)
P.O.Box 6036, Grand Central Station, New York, NY, 10163-6018
* Psychologists for the Ethical Treatment of Animals (PsyETA)
P.O.Box 87, New Gloucester, ME 04260
www.psyeta.org EUA
* National Association of Nurses Against Vivisection (NANAV)
P.O.Box 42110, Washington, DC 20015
2.3.2 - Movimentos de defesa dos animais:
Os movimentos aqui comodamente agrupados são de direitos dos animais e
protecionistas, porém nem todos agem de maneira semelhante ou defendem exatamente as
mesmas idéias. A base de sua argumentação é em sua maior parte baseada em nossos deveres
éticos para com os animais, o que geralmente é com sucesso contra-argumentado com a falsa
premissa de que sendo a pesquisa em animais necessária para o bem estar humano, esta deve ser
conduzida. Por se permitirem ignorar os fatos, tais movimentos terminam muitas vezes por se
enveredar pelo caminho do reducionismo e do falso protecionismo animal, vindo a se constituir
não em combatentes, mas provedores da vivissecção. Um olhar inocente poderia nos revelar que
isto se daria apenas pela ignorância dos fatos, mas em se havendo movimentos abolicionistas
autênticos, difusores do antivivisseccionismo científico, estes movimentos com seu
protecionismo não tem razão de ser. Hans Ruesch os acusa de boicotarem a literatura e ações
29
abolicionistas, devido principalmente à infiltração de interessados na vivissecção dentro do
movimento. Conforme a história mostra, estes movimentos não apenas arrecadam fundos para
suas campanhas contra a vivissecção, como também cuidam que esta se mantenha por longos
anos, e desta forma suas verbas não deixem de existir – seu efeito é portanto contrário ao que
poderia parecer, já que frente à opinião publica adotam uma posição que em verdade não
sustentam.
Nem todos os movimentos abaixo citados porém, participam desta fraude, sofrendo infiltração; a
maioria de fato nem mesmo é especializada em anti-vivissecção, atuando nas diversas outras
frentes de combate à exploração animal, como sua exploração na industria alimentícia, na
diversão e no trabalho. No entanto, os argumentos éticos bem utilizados para estas outras frentes
não surtem efeito no caso da vivissecção, uma vez que a ciência carrega o trunfo de alegar a falta
de ética em impedir-se pesquisas que potencialmente podem salvar vidas. No confronto entre o
bem estar humano e animal, tendemos a optar pelo bem estar humano, sendo por isso a
vivissecção bem aceita em nossa sociedade. Somente através da argumentação científica a
vivissecção pode ser combatida, e todos os movimentos de direito dos animais que buscam
verdadeiramente o fim da vivissecção devem negar o reducionismo, ou a proposta de abolir a
vivissecção a longo prazo, e adotar os princípios listados no item 2.3.1.1.
* British Union for the Abolition of Vivisection (BUAV)
16a crane Grove, London, N7 8LB, 01-700 4888 – Reino Unido
http://www.buav.org/
* In Defense of Animals (IDA)
816 West Franscisco Blv., San rafael, CA 94901
www.idausa.org
* Last Chance for Animals (LCA)
18653 Ventura Blvd. #356, Tarzana, CA 91356
* United Action for Animals (UAA)
205 E. 42nd St. New York, NY 10017
* American Anti-Vivisection Society (AAVS)
Suite 204, Noble Plaza, 801 Old York Rd.
Jenkintown, PA, 19046-1685– EUA
http://www.aavs.org
* People for the Ethical Treatment of Animals (PETA)
P.O. Box 42516, Washington, DC, 20015
www.peta-online.org Norfolk – EUA
Uma das sociedades de direitos dos animais mais ricas do mundo, tendo boa cobertura da
imprensa.
* National Anti-Vivisection Society (NAVS)
53 West Jaqckson Blvd. Suite 1550, Chicago IL 60604 – EUA
83 Upper Rd., Kennington, Oxford, Ox 1 SLW, Inglaterra
* New England Anti-Vivissection Society (NEAVS)
333 Washington St., #850, Boston, MA 02108 - EUA
*Irish Anti-Vivisection Society
P.O.Box 13, Greystone, CO Wicklow, Irlanda
* Save Animals from Exploitation (SAFE)
P.O. Box 331139, Takapuna, Auckland – Nova Zelândia
P.O.Box 13366 Christchurch, Nova Zelândia
* Sociedade Educacional “Fala Bicho”
Caixa Postal 31047 – CEP 20732-970 – Rio de Janeiro/RJ
30
www.falabicho.org.br
* ADDA (Asociación para la Defensa de los Derechos del Animal)
c/ Bailén, 164, local 2 interior - 08037 - Barcelona - Espanha.
http://www.intercom.es/adda
* Animal Aid
7 castle Street, Tontridge, Kent TN9 1BH – Reino Unido
* Animal Liberation Supporters Group
BM 1160, London, WC 1N3XX - UK
Braço político do ALF (Animal Liberation Front), atua junto ao público na conscientização da
importância deste grupo, considerado terrorista, organizando campanhas pela liberdade de seus
ativistas presos.
2.3.2.1 - Movimentos de estudantes por uma educação mais humana ou pela liberdade de
escolha frente à vivissecção:
Estes movimentos possuem projetos para educar a comunidade acadêmica e os cidadãos
com relação ao abuso de animais e a negligência que ocorre nos laboratórios. Preocupam-se com
o desperdício dos impostos destinados a financiar pesquisas com animais. Muitos destes
movimentos, porém não todos, argumentam buscar o completo fim da vivissecção apenas como
objetivo a longo prazo, limitando-se a denunciar as pesquisas que consideram abusivas e
defender o direito dos estudantes que sentirem constrangimentos morais em participar de
vivissecção.
* European Network of Individuals and Campaigns for Human Education – EuroNICHE
11 Beckingham Road, Leicester LE2 1HB, Reino Unido.
http://www.euroniche.internetworking.de Europa
* REDE – Rede de Informações pela Educação Humanitária
Caixa Postal 758 – CEP 88010-970 – Florianópolis/SC
www.geocities.com/redeniche
*AnimaLearn
Suite 204, Noble Plaza, 801 Old York Road, Jenkington, PA 19046, EUA
* Humane Education Committee (HEC)
P.O.Box 445, New York, NY 10128 – EUA
*National Association for Humane and Environmental Education (NAHEE)
P.O.Box 362, East Haddam, CT 06423
Possui a publicação Humane Education
*Student Action Corps for Animals (SACA)
P.O.Box 15588, Washington, DC 20003-0588
* Humane Society of the United States – HSUS
http://www.hsus.org
*Student Organization for Animals Rights
235CMU, 300 Washington Ave, SE, Minneapolis, MN 555455
http://waste.org/~soar
2.3.3. - Grupos de “bem estar” animal, reducionistas e promotores do conceito dos 3Rs:
Alguns destes movimentos são inclusive subsidiados por governos. Não são movimentos
contrários à vivissecção, apesar de se declararem preocupados com o bem estar animal. São
grupos que defendem ser a vivissecção um “mal necessário”, mas que o uso de animais deve ser
31
restringido. Defendem o conceito dos Três Rs, criticado no quarto capítulo. A única importância
destes movimentos é que ignorando a maior parte de suas publicações, voltadas a convencer a
opinião pública da importância das pesquisas em animais, e principalmente sobre a preocupação
do referido movimento em promover o “bem estar” dos animais que “devem” morrer por algo
superior, estas organizações detêm os maiores bancos de dados sobre técnicas substitutivas à
experimentação animal. Cabe porém lembrar que, dado a natureza duvidosa de suas publicações,
apenas uma mente perfeitamente coerente e certa de que a vivissecção é uma fraude deve
consulta-las, evitando assim a sedução por sua linguagem florida.
* Animal Welfare Information Center – AWIC
10301 Baltimore Avenue, 5th Floor
Beltsville, MD 20705-2351
http://www.nal.usda.gov/awic
* FRAME (Fund for the Replacement of Animals in Medical Experiments; editora da ATLA)
Russel & Burch House, 96-98 North Sherwood Street ,Nottingham NG1 4EE– Reino Unido
http://www.frame-uk.demon.co.uk
* American Fund for Alternativas to Animal Research (AFAAR)
175W. 12th St. Suite 166, New York, NY 10011
* ECVAM (European Centre for the Validation of Alternative Methods)
JRC Institute for Health & Consumer Protection, 21020,Ispra (VA) – Itália
*The International Foundation for Ethical Research
http://www.ifer.org
2.4 - As diferenças que fazem a diferença
Cada indivíduo apresenta resposta diferente aos estímulos externos, tais como taxa
metabólica, respostas à determinadas drogas ou agentes patológicos, etc. O mesmo vale para
diferentes sexos e raças. Tais diferenças, entretanto, mostram-se mais aparentes ao nível das
espécies, e as diferenças interespecíficas representam uma das maiores falhas da metodologia
vivisseccionista. Para que fazer testes envolvendo animais, e em seguida realizar testes em
humanos, se somente estes últimos têm valor real? Por que não abolir, por completo, os testes
com animais? Eles são caros, impõem sofrimento ao animal e, principalmente, conduzem a
resultados enganosos que podem atrasar ou dificultar pesquisas científicas importantes, sendo
altamente perigosos para o ser humano. Tais resultados enganosos e perigosos devem-se
essencialmente à diferença que há entre o homem e as espécies mantidas em laboratório.
Os testes que se realizam em animais e seus resultados, em princípio, só servem para a
espécie com a qual se está trabalhando. A razão deste fato é tão simples que induz a reflexão
imediata. Animais diferentes – respostas diferentes. As diferenças fisiológicas entre espécies se
tornam mais evidentes quando os fármacos vão para o mercado, depois de passar pelos testes
com animais, podendo-se então observar os efeitos secundários dessa drogas, às vezes tão
desastrosos como no caso da talidomida. Efeitos indesejáveis freqüentes como tonteiras, mal
estar, confusão mental, dor de cabeça, formigamento e outros não podem ser expressos por
animais de laboratório. Aliás, um experimento realizado em animais só é realmente válido
quando se reproduzem em voluntários ou pacientes humanos os efeitos previamente observados
nos animais.
Outro ponto é a preocupação de que agentes potencialmente úteis à saúde humana sejam
recusados por apresentarem resultados adversos quando testados em animais, não vindo a chegar
ao mercado. Somente testes clínicos, em humanos, poderiam comprovar a falha do modelo
animal. Segue uma pequena lista de exemplos que ilustram bem como os resultados obtidos de
animais não podem de forma alguma ser extrapolados para os seres humanos.
* Morfina – Há grande variação da dose letal, entre as espécies testadas; provoca
excitação, em gatos, e sedação, em humanos.
32
* Coelhos não choram – O teste Drayze, para prever a irritabilidade dos olhos humanos a
diferentes agentes químicos (cosméticos) fazendo uso de coelhos como cobaias parte de
pressupostos totalmente falhos; como explicado em capítulo anterior, as diferenças estruturais e
bioquímicas entre o olho humano e o olho dos coelhos invalida completamente tal teste, e apesar
dos coelhos apresentarem olhos mais sensíveis que os nossos, algumas substâncias são
inofensivas para eles mas não para nós.
* Drogas que matam - Fenilbutazona (Butazolidina®) e oxifenilbutazona (Tanderil®)
apresentam ações muito diferentes, no homem e nos demais animais; o homem metaboliza 15%
da dose de fenilbutazona administrada, em um período de 24 horas, enquanto a maioria dos
animais testados leva apenas 2 horas para metabolizar a dose total administrada (dados de cães,
coelhos e eqüinos); quanto à oxifenilbutazona, o homem precisa de 72 horas para metabolizar
metade da dose administrada, ao passo que o cão só requer ½ hora; ambas as drogas foram
implicadas na morte de 10.000 pessoas, por isso seu uso é proibido ou restrito.
* Sacarina – Causa câncer em ratos (estes possuem uma globulina (espécie de proteína)
que, ao reagir com a sacarina, resulta em neoplasia vesical); por isso, a sacarina foi proibida
durante muito tempo, nos EUA, até que se verificou que seu consumo não oferecia qualquer
risco à saúde humana (pois o homem não produz a tal globulina).
* Penicilina – fatal para o porquinho-da-Índia, mesmo em doses baixas; hoje, amplamente
usada na Medicina; caso os dados de porquiinhos-da-Índia tivessem sido considerados e a droga
não fosse testada em humanos, certamente não poderíamos contar hoje, com tão importante
antibiótico.
* Lítio – usado no tratamento de distúrbios afetivos (psicose maníaco-depressiva) do ser
humano; quando usado em animais, entretanto, não há qualquer indicação de tal valor
terapêutico; ou seja, a pesquisa em animais nunca levaria à descoberta do lítio como agente
terapêutico.
* Aspirina – teratogênica para roedores, cães, gatos e macacos, mesmo quando em doses
muito baixas (cães: doses 2-3 vezes maiores que a terapêutica são suficientes para ocasionar
defeitos fetais); amplamente usada como antitérmico e antiinflamatório em humanos.
Alguns exemplos de efeitos distintos das drogas em animais cobaias e humanos:
Droga Efeito em cobaias Efeitos em seres humanos
Ácido Fenclózico
Seguro em ratos, camundongos e macacos Toxicidade
hepática
Acutano Seguro defeitos de nascimento
Acetilcolina
Dilata as artérias coronárias de cães Contraem as mesmas
* Amanita
Phalloides (espécie
de cogumelo)
Alimento de coelhos tóxico, podendo levar à morte
Aminoglutetimida Anticonvulsivante inibidor de cortisol
Amidopirina Nenhum efeito importante Doenças sanguíneas
Amil Nitrato Glaucoma Reduz a pressão interna dos olhos
Antimonia engorda suínos fatal
Arsênico Seguro em largas quantidades em ovelhas fatal
Aspirina mata gatos, causa defeitos congênitos
em cães, macacos, ratos e gatos
Analgésico e retarda a coagulação
sanguínea
Atromida Diferente causa mortes por câncer, inflamação dos pâncreas, e problemas
na vesícula biliar
Atropina Inofensivo para coelhos e cabras fatal em altas doses
* Beladona Inofensivo para coelhos e cabras fatal
Bradiquinina contrai os vasos sanguíneos cerebrais em cães relaxa
Butazolidina não afeta a medula óssea afeta a medula, geralmente fatal
33
Canamicina sem efeitos colaterais preocupantes danos renais e surdez
Cetoconazole Seguro danos hepáticos, possibilidade de morte
Cloranfenic
ol Seguro Danos irreversíveis à medula óssea
Clorofórmio Asfixia enfarto cardíaco como causa mais comum
Clorpromaz
ina Doença motora Tranquilizante, pode causar danos ao fígado
Clindamina Seguro em ratos e cães Diarréia, as vezes fatal
Clioquinol sem registro Cegueira, paralisia e morte
Clonidina Descongestionante nasal anti-hipertensivo
Contraceptivos
Orais Hemorragias em cães Trombose, ataques cardíacos, derrames e
tumores no fígado
Cortisona Defeitos congênitos em
camundongos e coelhos
Problemas endócrinos, pressão alta, psicose, etc.
Sem defeitos congênitos
Cianido seguro em corujas fatal
Depo-Provera
câncer; infecções uterinas e de mamas em cães seguro
DES seguro Câncer em filhas de mães que receberam DES, e defeitos
congênitos em suas filhas
Digitalis Aumenta pressão sanguínea em cães Diferente
Dinitrofenol Não provoca cataratas provoca cataratas
Diptrex Nenhum dano nervoso danos nervosos
Disulfiram anti-helmíntico Reações tóxicas após a ingestão de álcool
Domperidona Nenhuma mudança no ritmo cardíaco Arritmias sérias
Encainida seguro ataques cardíacos e morte. Junto com a Flecaidine, cerca de 3 mil
pessoas morreram por usarem estas drogas
Eraldin Altamente
seguro
danos à córnea, incluindo cegueira.
danos ao aparelho digestivo e morte.
Estricnina não mata porcos-da-índia, macacos e
galinhas fatal em humanos
Fenacetina sem efeitos importantes danos renais e às células vermelhas do sangue
Fenformina Diferente mortes
Flecainida
(idem Encainida)
Fluorido Nenhuma Inibe as cáries dentárias
Furmetida
seguro, mesmo quando
em contato com os olhos
de coelho por longo
tempo
Obstrução permanente do canal lacrimal na
maioria dos pacientes que usaram a substância por
períodos de 3 meses
Furosemida danos hepáticos em camundongos e outros Nenhum
Glutetimida Anticonvulsivante Sedativo e hipnótico
Halotano Sem danos
hepáticos danos hepáticos e morte
* Hemlock Inofensivo para cabras, camundongos, cavalos e ovelhas Fatal
Holofenato Hipolipêmico Hipouricêmico
34
Ibufenac
Sem danos hepáticos, apenas em ratos quando expostos
à doses letais
Danos hepáticos e
morte
Imipramina Depressivo anti-depressivo
Isoniasida
Sem danos hepáticos Pode causar danos hepáticos
Isopretenerol Sem efeitos importantes Pode causar danos hepáticos
Maxiton
Diferente Danos cardíacos e nervoso
Metildopa não reduz a pressão sanguínea eficiente em reduzir a pressão sanguínea
Metilsergida sem efeitos
sérios
Fibrose retroperitonial, que pode ser fatal por obstruir os vasos
sanguíneos e ureteres. Danos as válvulas cardíacas foram
registrados
Mianserina sem desordens sanguíneas Desordens sanguíneas fatais
Morfina Tornam gatos maníacos Analgésico e depressor respiratório
Opren (Oraflex) Seguro em altas doses em
primatas não humanos Danos hepáticos e morte
* PCP
(ou “angel dust”)
Sedativo para cavalos altamente estimulante
Penicilina fatal para porquinhos-da-índia Antibiótico
Pentazocina Antagonista narcótico Analgésico
Perexilina Sem danos hepáticos Danos hepáticos e morte
Plaxin e Pronap Diferente morte de bebês
Prenilamina
reduz o ritmos cardíaco em muitos
animais taquicardia ventricular
Prostaglandinas efeitos diferentes no ritmo e força de contração
cardíaca Diferente
Psicofuranina sem danos cardíacos em camundongos, ratos, cães ou
macacos
Tóxico ao
coração
Quimiotripsina Perfuração córnea e danos
severos aos olhos de coelho Nenhuma complicação séria
Selacrin Seguro Danos hepáticos e fatalidades
Sorbitol Férreo Câncer no local da injeção Nenhum
Suprofen Seguro danos renais sérios
Tegretol Seguro
Doenças sanguíneas potencialmente fatais, e descobertas
epidemiológicas sugerem um aumento na incidência de defeitos
congênitos
Talidomida Seguro Defeitos congênitos e morte do feto
Trilergen Diferente Hepatite
Zimelidina Seguro febre, danos hepáticos, dores nas articulações, danos nervosos e
paralisia
Zipeprol Considerado
seguro
Sintomas neurológicos sérios em doses altas – ataques e
mortes
(Fonte: Fadali, 1996, com exceção das drogas marcadas com *)
35
Algumas das milhares de drogas com efeitos colaterais
Não previstos pelos testes em animais
Droga Indicação Resultados
Clioquinol Contra a diarréia 2 mil mortes, 30 mil cegos, paralíticos
Isoproterenol Contra a asma Mais de 3.500 mortes
Talidomida Contra insônia
Contra náusea
Mais de 10 mil defeitos congênitos;
Mais de 3 mil natimortos
DES anti-depressivo Câncer, defeitos de nascimento
Cigarros Droga social 420 mil mortes por ano 1
Fenilbutazona anti-inflamatório Mais de 10 mil mortes
Cloranfenicol Antibiotico Anemia, mais de 42 mortes
Opren 2 Contra artrite Danos hepáticos, mais de 61 mortes
Fialuridina anti-hepatite Danos hepáticos, mais de 5 mortes
Clofibrato anti-colesterol Ataques cardíacos fatais em 37%
Eraldin Cardiotônico cegueira, mais de 23 mortes
Parlodel Para a produção
de leite Ataques cardíacos, 13 mortes (em 1993)
Zolmid 3 Anti-depressivo Danos nervosos e hepáticos, convulsões, síndrome
Guillain-Barre e pelo menos 7 mortes
Dados da tabela válidos somente para os EUA. Os testes conduzidos em animais com a tentativa de induzir câncer de
pulmão foram sem sucesso. A British Empire Cancer Campaign afirmou que, mesmo com a inalação, injeção,
alimentação e absorção cutânea de tabaco e derivados, camundongos, coelhos e outros animais não desenvolviam
nenhum sinal de câncer. Isso fez com que a indústria tabagista afirmasse, durante longos anos, que não havia
correlação entre o tabagismo e o câncer de pulmão. Declaração de William Campbell, Presidente da Phillip Morris
nos EUA:
Questão: O cigarro causa câncer?
Resposta: Pelo que sei, não foi provado que o cigarro causa câncer.
Q. Em que se baseia?
R. Me baseio no fato de que tradicionalmente existe, em termos científicos, obstáculos relacionados à causa, e até o
presente momento não se conseguiu reproduzir câncer em animais a partir do fumo de cigarros.
Fonte: The New York Times, December 6, 1993
(2) O Opren foi testado inclusive em macacos Rhesus. Doses 7 vezes maiores que a humana não resultaram em
nenhum quadro de toxicidade nestes animais. Este medicamento teve sucesso nos testes com ratos onde a artrite foi
induzida, mas, além de não obter os mesmos resultados em humanos, causaram mortes e problemas hepáticos
(BBC1, 1983).
(3) Testes em ratos e cães com doses 5 vezes maior que a humana não resultaram em nenhum quadro de toxicidade
(Heel et al., 1982). Em 1983, o Zolmid foi tirado de mercado.
Um outro exemplo histórico foi o desenvolvimento da vacina para a tuberculose, quando Roberto
Koch anunciou, no 10° Congresso Internacional de Medicina, em Berlim, que a tuberculina
curou tuberculose em porcos-da-índia. Koch ignorou fatos biológicos: porcos-da-índia não são
seres humanos, e a tuberculose se manifesta diferentemente nestes animais. O resultado foi um
fracasso total, com a droga não apenas não tendo efeito algum de cura, como agravando o quadro
dos pacientes tuberculosos (Dowling, 1977).
Estes poucos exemplos demonstram o quão perigoso e dúbio se torna o rótulo “testado
seguramente em animais”
2.4.2 - Drogas perigosas
Entre 1968 e 1993, pelo menos 124 produtos farmacêuticos foram retirados do mercado,
por medida de segurança, na Grã Bretanha, França e Alemanha. Todos eram drogas que, após ter
passado pelos testes com animais, ganharam licença e tiveram sua segurança atestada. Entretanto,
o uso em humanos provou não ser esse o caso, havendo inclusive óbitos devido ao uso de tais
drogas.
Testes
No Reino Unido, o 1968 Medicines Act controla todos os aspectos de segurança,
qualidade e eficácia de drogas e outros produtos médicos. Tal lei, juntamente com Diretrizes
Européias subseqüentes, confere poder à Comissão de Medicamentos (Medicines Comission)
para emitir ou não “licenças de produtos” (Product Licences) antes da comercialização de
qualquer droga.
36
Para que tal licença seja obtida, faz-se necessário o envio de informações acerca de efeitos
farmacológicos e tóxicos da droga a ser avaliada, por parte do requerente da licença (o
laboratório). Tais informações baseiam-se em vários testes envolvendo animais, como por
exemplo testes de carcinogenicidade em roedores, testes de toxicidade a curto e longo prazo em
grande variedade de espécies animais, e vários outros testes. Só em 1993, mais de 1.260.000
procedimentos com animais foram executados para selecionar ou testar produtos médicos a serem
aprovados, somente no Reino Unido.
Como é sabido que a experimentação animal não é parâmetro confiável para previsão das
reações no homem, uma série de experimentos humanos (com voluntários e pacientes) também é
exigida antes que uma licença seja fornecida. Muitas drogas experimentais que se mostram
seguras e eficazes, em experimentos com animais, acabam sendo rejeitadas nesses testes com
humanos, evidenciando uma vez mais quão imperfeitos são tais testes envolvendo animais. Uma
estimativa da Ciba Geigy afirma que de cada 20 drogas em potencial, que passam pelos testes
com animais, apenas uma (5%) é aprovada e chega ao mercado.
Os testes com animais não apenas são inválidos na determinação da segurança de uma
droga, como a própria indústria farmacêutica, em suas bulas, adverte o consumidor: “Estudos na
área de reprodução foram conduzidos em coelhas, ratas e fêmeas de camundongo, em condições
laboratoriais, e não forneceram qualquer evidência de alteração da fertilidade ou dano fetal. Não
há, entretanto, estudos adequados e controlados, em mulheres grávidas. Já que os testes com
animais nem sempre são capazes de prever a resposta da droga em humanos, a mesma só deve ser
usada, durante a gestação, caso seja realmente necessária.” The Physician’s Desk Reference.
2.4.2.1 - Drogas retiradas do mercado
No Reino Unido, há muito mistério rondando a segurança das drogas. Constitui-se em
ofensa criminal a explicação, por parte de qualquer membro do comitê de procedimentos de
regulamentação, das causas da retirada de uma droga do mercado. Dados de segurança,
especialmente relativos a testes com animais, raramente são liberados e o público quase não tem
acesso a informações que permitiriam fazer decisões embasadas na segurança de drogas.
Exemplos de drogas retiradas do mercado após aprovação, devido a ocorrência de efeitos
colaterais, ou mesmo morte:
Manoplax, fialuridina, ácido tienílico, zimelidina, benoxaprofeno, clioquinol, domperidona,
ibunfenac, mebanazina, nomifensina, oxifembutazona, practolol, prenilamina, temafloxacina,
terodilina, zomepirac, vacina contra cachumba.
Talidomida:
Droga originalmente indicada para mulheres grávidas, de efeito ansiolítico, não foi testada em
fêmeas grávidas de animais de laboratório, antes de ser liberada para o consumo. Os primeiros
resultados obtidos de testes com animais foram publicados em 1956, pelo fabricante (Chemie
Grunenthal): “Toxicidade aguda – a droga provou possuir toxicidade tão baixa que não foi
possível determinar LD50 em camundongos. Ainda, 10g do princípio, dissolvidos em água e
administrados a cães, não apresentaram quaisquer efeitos colaterais. Toxicidade subcrônica –
quando administrada por 30 dias, a 50 camundongos, 20 ratos, 20 porquinhos-da-Índia e 10
coelhos, a talidomida não provocou qualquer efeito deletério. Efeito sedativo foi verificado em
camundongos, através do registro da atividade espontânea dos animais, em sistema de gaiolas
específico. Comparou-se, ainda, o efeito sedativo da talidomida ao de outras drogas, em cães.”
Outros testes: camundongos em bastões rotativos; atividade cerebral (eletrodos invasivos) de
gatos; atividade anticonvulsivante, em ratos (convulsões induzidas por choque elétrico) e
camundongos (indução química do quadro convulsivo); efeitos sobre o aparelho cárdio-vascular e
respiratório, em cães e gatos; efeito antipirético, em coelhos; excreção da droga, em coelhos;
efeitos sobre tumores e infecções experimentais, em camundongos, e interação com antibióticos.
O estudo conclui: “Nossos experimentos demonstram que o K17 (talidomida) combina ação
sedativa central favorável e efeitos colaterais incrivelmente discretos, bem como toxicidade
extremamente baixa. Portanto, pode-se justificar a execução de ensaios clínicos (em humanos).”
Infere-se que os testes com animais, desde o início, apenas reforçaram o fato de que o
homem é extraordinariamente sensível à talidomida e, como saiu no Sunday Times: “Sofram as
Crianças. Não somente a gama de espécies animais empregada mostra variação considerável
quanto à sensibilidade individual ao composto, mas também as malformações vistas em espécies
não-primatas raramente se assemelham àquelas observadas no ser humano.”
37
James Schardein (1976): “Até hoje, aproximadamente 10 linhagens de ratos, 15 de
camundongos, 3 de hamsters, 11 raças de coelhos, 2 de cães, 8 espécies de primatas, além de
gatos, suínos, tatus, furões e porquinhos-da-Índia foram testados com a talidomida, e apenas
ocasionalmente houve efeitos teratogênicos. A tragédia da talidomida ampliou a realização
rotineira de testes de teratogenicidade, em roedores e coelhos, mas uma vez que há grande
variação entre as espécies, não há garantias à saúde humana e é só questão de tempo até que outro
desastre como esse volte a ocorrer.” Ressalte-se que os experimentos com fêmeas prenhas,
citados por Schardein, foram realizados após a talidomida ter sido liberada para o uso humano.
Dr. Mann (1984): “A dificuldade de se prever riscos para a saúde humana a partir de
testes de teratogenicidade envolvendo animais é ilustrada pelo fato de que a aspirina, embora seja
comprovadamente teratogênica para o rato, camundongo, porquinho-da-Índia, gato, cão e
macaco, é amplamente usada por mulheres grávidas e, entretanto, não se verificou qualquer tipo
de malformação característica, nos fetos de tais mulheres.”
Escritório de Economia da Saúde, organização mantida pela Associação da Indústria
Farmacêutica Britânica: “No caso da talidomida, portanto, é pouco provável que testes
específicos, envolvendo fêmeas prenhas, tivessem apontado para o risco iminente: a espécie certa
provavelmente nunca seria usada.” (pois simplesmente não há uma espécie certa!)
2.4.3 O Chimpanzé, o rato e o humano
Chimpanzés são os animais alegadamente mais indicados como modelo para o homem uma vez
que são os que mais de perto se assemelham à nossa constituição corpórea.; no entanto, dado seu
alto preço e dificuldade de manejo, não são os mais empregados. Os ratos e camundongos não
possuem alegadamente seus sistemas tão semelhantes aos nossos, mas devido ao seu baixo custo
de aquisição e facilidade de manutenção, são os animais mais utilizados como cobaias. Adiante,
tendo como exemplos as cobaias respectivamente mais recomendadas e mais utilizadas, segue
uma critica destes dois modelos tomando como base algumas das pesquisas nas quais são
empregadas.
2.4.3.1 O chimpanzé como modelo
Os chimpanzés, por serem geneticamente semelhantes ao ser humano, vêm servindo de
“modelo” para muitas doenças humanas. Mas as diferenças devem ser consideradas.
Existe uma preocupação crescente quanto ao uso de chimpanzés na experimentação de
laboratório. Estas preocupações vão desde a conservação destes animais em seus hábitats (estimase
que apenas 10% dos animais sobrevivam ao processo de captura e transporte), até as
discrepâncias de fisiologia que apresentam em relação à nós, humanos. Nem mesmo a
argumentação de um suposto benefício para os próprios chimpanzés justificaria sua utilização em
laboratórios. Na natureza estes animais são bastante ativos, locomovendo-se cerca de 10 a 12 Km
diariamente, destinando 70% de seu tempo em busca de comida, e apresentando uma estrutura
social complexa. Todos estes hábitos são impedidos dentro de uma gaiola em um laboratório, o
que causa uma depreciação imunológica nos espécimes, invalidando qualquer tentativa de estudo
de seu comportamento ou fisiologia.
Não podendo ser considerados bons modelos para os próprios chimpanzés, que dizer para o caso
do ser humano, onde as diferenças fisiológicas e anatômicas são ainda maiores?
- AIDS
Desde 1984 os cientistas tentam infectar chimpanzés com o vírus HIV. Até hoje nenhum ficou
clinicamente doente, mesmo com as tentativas de serem infectados com diferentes tipos de vírus,
terem seus sistemas imunes alterados, etc. Porquê? Aparentemente isto está relacionado ao fato
dos chimpanzés possuírem muito mais linfócitos T8, e com maior velocidade proliferativa de
resposta, e menores taxas de linfócitos T4. Alguns chimpanzés demonstram uma queda na taxa
de linfócitos T4 após a infecção pelo HIV, mas esta queda não se compara a quase eliminação
das células T4 nos humanos. Esta redução drástica encontrada nos humanos parece ter uma
relação com o sistema auto-imune, uma vez que uma cultura de sangue humano infectado com
HIV encontram-se linfócitos T que eliminam linfócitos T4 não-infectados com o vírus. Estes
linfócitos T não são encontrados nos chimpanzés infectados. A resposta dos anticorpos
produzido pelos linfócitos B é muito mais poderosa do que nos humanos, destruindo células
infectadas no começo da doença. Esta capacidade não é encontrada nos pacientes humanos em
qualquer estágio da doença. Da mesma maneira, pacientes humanos apresentam uma queda de
38
anticorpos logo no início do quadro clínico da doença – queda esta que não é observada nestes
animais. Também nestes animais, o HIV é encontrado apenas em células sangüíneas (com
algumas poucas exceções), enquanto que no humanos, é encontrado livre no plasma. As
discrepâncias são ainda maiores devido ao estresse que estes animais sofrem em cativeiro, que
tem uma influência direta no sistema imunológico.
Um outro problema enfrentado pelos experimentadores são os animais infectados que não
possuem mais interesse científico, e que não podem ser reintroduzidos. Grandes quantidades de
dinheiro são destinadas ao restante da vida miserável destes animais. Ainda é comum que estes
animais se encontrem em estados de inanição em laboratórios que, clandestinamente, desviam
este dinheiro para outras finalidades. O custo de manutenção para cada chimpanzé durante toda
sua vida gira e torno de U$ 250 mil.
- Hepatite B
Chimpanzés se tornam portadores saudáveis do vírus da hepatite B, e apresentam evidências
microscópicas em suas células hepáticas, não sofrendo severamente da doença como nos
humanos. Os portadores humanos podem progredir para a hepatite ativa, ao contrário dos
chimpanzés portadores, que não progridem. Ainda nestes animais, a produção de vírus é
contínua, ao contrário dos humanos.
Um outro fator que afeta o “modelo” é que os chimpanzés apresentam 17% a menos de
variabilidade nos níveis da enzima GGT, que é usada para determinar a extensão dos danos
hepáticos provocados pela hepatite. Desta maneira, estudos para relacionar o nível de GGT à
doença são influenciados por esta variação de forma mais acentuada em humanos do que em
chimpanzés.
- Arteriosclerose
Vários experimentos têm sido feito, de maneira a produzir doenças arterioscleróticas associadas
ao alto nível de colesterol sangüíneo. Os chimpanzés alimentados com dietas ricas em gorduras
apresentam um aumento nos níveis de colesterol apenas em betalipoproteínas, enquanto que nos
humanos, o aumento também se dá em alfalipoproteínas.
- Ortopedia
As diferenças entre a estrutura esquelética e muscular entre estes animais e o homem são várias,
devido à formas de locomoção e hábitos diferenciados.
- Outras diferenças
Apesar do código genético de um chimpanzé ser em 98,4% idêntico ao de um ser humano, isto
não significa que o chimpanzé é 98,4% humano, nem vice-versa. Vamos supor que existisse um
peixe cuja sequência de DNA fosse 40% igual à humana. Isto tornaria o peixe 40% humano?
Não, pois ele continua 100% peixe.”
2.4.3.2 Os ratos como modelos
O rato é um dos animais preferidos pelos viviseccionistas. São utilizados para o estudo de
várias doenças humanas. Ratos diferem dos humanos em muitos aspectos, tornando a
extrapolação de dados uma aventura perigosa à saúde humana.
- Colesterol e Doenças Cardíacas
Ratos diferem dos humanos na forma em que processam gordura e colesterol. Por exemplo, os
ratos possuem uma atividade muito maior da enzima 5-desaturase, que tem o papel de mudar a
estrutura química das gorduras. Esta enzima é encontrada em muitos tecidos do corpo. O
resultado é que “o rato é um modelo humano não apropriado para estudos envolvendo lipídeos”
(Siguel, 1983), de acordo com um pesquisador da Boston’s Tufts University. Outro pesquisador
escreveu: “não é possível extrapolar diretamente estudos em ratos para humanos devido à
diferenças no metabolismo de proteínas plasmáticas (colesterol e triglicerídeos) entre as espécies”
(Nishina, 1991).
Em humanos, os ácidos na bile são formados a partir de colesterol no fígado, excretados
para a vesícula biliar e então para o intestino. Ratos não possuem vesícula biliar, e eles produzem
um ácido da bile chamado ácido muricólico, não encontrado em humanos. Pesquisadores
39
acreditam que este ácido é responsável pela rápida eliminação do colesterol do organismo (Story,
1993).
Os resultados desta diferença são que ratos são mais resistentes à mudanças no colesterol
no soro e às placas nas artérias, induzidas por dietas. Para produzir estas lesões em ratos, deve-se
administrar uma combinação de colesterol, tioracil (uma droga que inibe a tireóide), caseína, e
ácido cólico (um ácido bílico). Humanos precisam apenas adicionar gorduras em sua dieta para
provocar tais lesões.
Os níveis da enzima ATPase no coração de ratos é muito maior, o que os torna muito
resistentes à Digitalis, usadas em humanos para ataques cardíacos. Também apresentam uma
anatomia diferente no sistema cardiovascular, e a média de batimento cardíaco são cerca de 300 à
500 por minuto.
- Câncer
Beta Caroteno e Vitamina A: Os carotenóides têm papéis centrais no câncer e pesquisas
nutricionais. Ratos armazenam beta-caroteno diferentemente dos humanos, utilizando uma
enzima especial encontrada nas paredes intestinais, formando a vitamina A. Humanos, em
contraste, absorvem os carotenóides, e armazenam aproximadamente 15% dele no corpo. Em
uma dieta normal, humanos armazenam um total de 100 a 200 mg de carotenóides no tecido
gorduroso (80%), fígado (10%) e sangue (1%), e outros tecidos. Os ratos não armazenam betacaroteno
em tecido gorduroso, e pequenas quantidades são encontradas em seus fígados apenas se
são suplementados com grandes quantidades de beta-caroteno.
Vitamina C: Ela tem um papel muito importante no combate de radicais livres,
prevenindo o câncer e o escorbuto, e em outras funções fisiológicas. Ratos sintetizam vitamina C
em seus fígados a partir da glicose, através de uma enzima chamada L-gulonoxidase. Humanos
não sintetizam vitamina C, apesar da maioria das espécies animais produzirem. Um rato pode
apresentar uma média de 20 a 30 mg de vitamina C em seu corpo (Burns et al., 1954), o
equivalente à 7,5 gramas em um adulto humano.
-Testes de Câncer:
Ratos são maus indicadores de substâncias cancerígenas. Testes feitos em ratos e camundongos
discordam em 30% das vezes, e os resultados se aplicariam em humanos em um percentual ainda
menor.
Ratos machos são mais susceptíveis à câncer na bexiga do que humanos, devido à altas
concentrações de 2 proteínas, chamadas alfa-2U-globulina e albumina, em sua urina. J.A.
Swenberg, da Chemical Industry Institute of Toxicology in Research Triangle Park, escreve:
“humanos não sintetizam a alfa-2U. Desta forma, uma extrapolação direta de dados obtidos de
ratos não pode ser realizada”. No macho, a globulina é sintetizada no fígado e secretada no
sangue, onde é filtrada pelos rins e eliminada pela urina. A alfa-2U-globulina liga-se com
facilidade à substâncias químicas industriais ou ambientais. Estas substâncias químicas se
acumulam nas células dos rins, causando uma reação de proliferação, o que pode ocasionar um
câncer, ou morte celular. A globulina também reage com a sacarina depois de filtrada na urina.
Esta combinação forma cristais de silicato na bexiga, que mecanicamente irritam as células e
podem causar câncer. O resultado são testes em animais que não se aplicam em seres humanos.
- Derrame
Os derrames, e as condições que levam à ele, são raros em ratos e outros animais. Modelos
animais de derrames tem sido produzidos, mas vem sendo severamente criticados pela
comunidade científica. De acordo com pesquisadores da Universidade de Iowa e da Mayo
Clinic, “embora modelos animais de isquemia cerebral venham sendo usados extensivamente
para testar novas terapias nos derrames em humanos, sua capacidade de identificar drogas
clinicamente eficientes tem sido desapontadora”. De 25 componentes que foram auxiliares nos
modelos animais de derrame, nenhum funcionou em pessoas. Estes autores afirmam: “a
insistência em tais modelos pode impedir, ao invés de avançar, o progresso científico na busca do
tratamento desta doença” (Wiebers et al., 1990).
- Outras diferenças
- Ratos necessitam de 20-27% de suas calorias como proteínas para uma dieta básica.
Humanos precisam de menos da metade.
40
- Ratos jovens crescem 5-6 gramas por dia em peso, o que corresponde a 10% de seu peso
corpóreo. Crianças crescem em taxas muito menores, de 5-6 gramas por dia, que corresponde a
0,00025% de seu peso corpóreo.
Ao contrário dos humanos, ratos possuem um tecido mamário que se estende do peito ao
abdômen.
- Ratos vivem apenas 2,5-3 anos, de forma que a proporção de idade é de 1:30 quando
comparado aos humanos. A pele possui uma camada externa queratinizada adicional, e é mais
fina que a dos humanos. Estes animais possuem um cérebros sem circunvoluções, o que indica o
desenvolvimento do córtex. Ratos não possuem amígdalas, e são mais susceptíveis à doenças
respiratórias (respiram unicamente pelas narinas). Eles não podem vomitar, o que também os
torna mais susceptíveis à toxinas ingeridas.
“O que cientistas importantes têm a dizer:”
“Tem sido demonstrado que os resultados da experimentação animal são inaplicáveis aos seres
humanos. Existe uma lei natural relacionada ao metabolismo (a soma de todos os processos
químicos e físicos encontrados nos organismos), de forma que uma reação que foi estabelecida
para uma espécie é válida somente para aquela espécie em particular, e não para outra. As vezes 2
espécies bem próximas, como o rato e o camundongo, podem reagir de maneira totalmente
diferente” – Dr. Gianni Tamino, pesquisador da Universidade de Pádua e membro do Parlamento
Italiano (Tamino, 1984).
“As variação biológica entre as espécies fazem com que os experimentos realizados em uma
espécie seja inaplicável para qualquer outra espécie, incluindo os humanos. Em adição à isso, as
várias doenças que agem no ser humanos não ocorrem naturalmente em espécies não-humanas,
ou acontecem de uma forma muito diferenciada. De uma forma simples, animais nunca
apresentarão uma doença humana devido ao fato biológico de que eles não são humanos.
Pesquisas experimentais em animais contém ainda uma falha maior do que o fato da variação
biológica entre as espécies. Os vivissectores procuram reproduzir doenças em animais utilizandose
de condições laboratoriais artificiais que não tem qualquer semelhança com a complexa
variedade de condições que levam à doença humana, como a dieta, genética, estilo de vida,
estresse e ambiente” – Dr. Emil Levin (Levin, 1994).
“A razão pelo qual sou contra a pesquisa em animais é devido ao fato de que ela não funciona.
Não tem valor científico. Não se pode extrapolar resultados obtidos de pesquisas em animais nos
humanos, e todo bom cientista sabe disso... Eu devo me opor à charlatanice; uma vez que os
experimentos em animais não tem validade, e eles levam a medicina à charlatanice. Eu devo me
opor à experimentos em animais enquanto cientista” – Dr. e Prof. Robert Mendelsohn, professor
de medicina preventiva na Universidade de Illinois, presidente da Medical Licensing Board for
the State of Illinois e então diretor nacional do Project Head Start's Medical Consultation Service
(Mendelsohn, 1986).
“Estou convicto de que o estudo da fisiologia humana através da experimentação animal é o erro
mais grotesco e fantástico até hoje cometido pela atividade intelectual humana” – Dr. G.H.
Walker, médico do Royal Hospital e Children’s Hospital em Sunderland, Inglaterra (Walker,
1933, p.335)
"Todos deveriam saber que a maioria das pesquisas sobre o câncer é uma grande fraude, e que as
maiores organizações de pesquisa de câncer estão em débito com seus deveres para as pessoas
que a apoiam” - Linus Pauling, PhD, 1986, 2 vezes ganhador do Prêmio Nobel.
2.5 – Perguntas mais Freqüentes em relação a
Experimentação Animal
Quando se ouve falar na abolição completa da experimentação animal em todos os níveis,
freqüentemente surgem muitas questões referentes ao assunto. O que se segue é uma coletânea de
alegações mais freqüentes com relação a vivissecção, e sua resposta correspondente em defesa da
abolição.
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2.5.1 - Sobre a conduta do pesquisador frente à vitima:
Talvez com vistas a alcançar a simpatia da opinião pública, ou ao menos para amenizar
seus humores, os cientistas freqüentemente se dizem “amantes de animais”, preocupados com seu
bem estar e em proporcionar-lhes tratamento ético. Seguem as alegações mais freqüentes de
cientistas com referência às suas vítimas, e a correspondente verdade:
“Os animais não são anestesiados durante os experimentos dolorosos ou incômodos?”
R. Aproximadamente 3/4 dos experimentos não incluem nenhum tipo de anestesia e aqueles em
que há protocolo anestésico geralmente não são realizados de forma adequada. Segundo os
vivisseccionistas, alguns experimentos não poderiam ser realizados com a administração de
anestésicos, pois podem “influenciar nos resultados da pesquisa”.
Para se anestesiar adequadamente um paciente (homem ou animal), requer-se que o
indivíduo tenha estudado e praticado por muito tempo, pois anestesia é algo extremamente sério,
de grande complexidade. Entretanto, o que comumente se observa são pesquisadores que
meramente sedam os animais a ser trabalhados, e a sedação não impede que o animal sinta dor.
Outras vezes, os pesquisadores utilizam drogas que paralisam o animal (bloqueadores
neuro-musculares, como o curare), mas os deixam conscientes e com sensibilidade. É muito
comum, também, a retirada das cordas vocais de cães, impedindo que a vizinhança ouça os
gemidos e ganidos dos animais.
“Os animais de experimentos não são bem tratados? São mantidos em ambiente agradável, com
controle de temperatura, umidade, luminosidade, e as gaiolas estão dentro dos padrões exigidos
para cada espécie”.
R. Como pode o ambiente ser agradável para os animais se, apesar de haver controle de
temperatura, luminosidade e alimentação balanceada, os animais vivem confinados, sem espaço
para se movimentar, isolados e, muitas vezes, sofrem maus tratos por parte dos pesquisadores?
Como pode haver conforto se os animais podem prever sua própria morte? As gaiolas estarem
dentro das especificações determinadas por um conselho de vivisseccionistas não quer dizer que
sejam realmente adequadas para o animal.
Um exemplo típico de desconforto no manejo são os macacos de laboratório que, apesar
de viverem em sociedade na natureza, levando uma vida extremamente ativa, diversificada e rica,
quando levados para instituições de pesquisa são forçados a viver em gaiolas individuais, quase
sempre desconfortáveis, privados de seu convívio social e tolhidos da ampla gama de atividades
lúdicas que normalmente executam na natureza.
“Porque alegar que os pesquisadores não se preocupam profundamente com seus animais? Eles
cuidam muito bem dos mesmos antes, durante e depois dos experimentos.”
R. Há abundância de provas do descaso dos pesquisadores com seus animais, como explicitado
nos informativos de diversas entidades anti-vivisseccionistas, bem como em vídeos produzidos
por entidades afins, onde se podem ver pesquisadores divertindo-se com o sofrimento animal.
Um desses vídeos mostra um experimento, realizado em um laboratório da Pensilvânia, EUA, em
que os “cientistas” golpeiam violentamente a cabeça de um babuíno com um martelo pneumático.
O objetivo de tal “pesquisa” era estudar os efeitos de certas lesões infligidas à cabeça do animal.
Podem-se ver os “pesquisadores” zombando do animal e regozijando-se com seu martírio.
Alunos da área de biomédica freqüentemente presenciam o descaso de seus professores
para com os animais de experimentação, apesar dos discursos contrários à estas observações.
Pode-se notar um discurso onde o animal é exaltado, dada sua “sua contribuição à ciência”, mas
em particular o que se nota é o descaso. Alguns pesquisadores usam o argumento de que o
sofrimento animal faz parte da pesquisa, para justificar suas crueldades. Não é necessário ser um
perito no assunto para saber que não há ciência que exija sofrimento animal para ser praticada.
“Os cientistas estão preocupados com a saúde das pessoas, por isso se dedicam tanto às
pesquisas. O que é a morte e o sofrimento de alguns animais, se como recompensa temos o
benefício de toda a humanidade?”
R. A verdade é que grande parte dos cientistas dá importância muito maior às possibilidades
financeiras que podem advir da experimentação animal, esquecendo do real caráter científico de
seu trabalho. Afinal, não é difícil para a maioria dos pesquisadores delinear um experimento de
relevância científica altamente duvidosa mas que venha a render algumas páginas em revista
42
científica de renome e, por conseguinte, convites para participação em congressos e seminários,
aumento de salário etc. É a valorização pessoal sobrepondo-se ao verdadeiro espírito científico.
2.5.2 - Sobre a necessidade da vivissecção para o progresso da ciência biomédica:
Argumentar contra a vivissecção animal deveria ser considerado algo redundante,
considerando sua origem mitológica e suas premissas errôneas; no entanto, uma vez que esta
ainda existe, a argumentação baseada em documentação necessita ser realizada. Se os motivos
iniciais que compelem muitas pessoas a se oporem à vivissecção possuem conotação moral,
deveriam estas buscar na argumentação técnica subsídios para defender seu ponto de vista: Uma
vez que a moral pode ser considerada particular de cada indivíduo, e desde que os legisladores
geralmente não possam ser considerados os indivíduos dentro de uma população com a moral
mais elevada, e as leis dependam destes, o cientista possui a liberdade de agir como bem deseja.
Aceitando o mecanicismo e o cientificismo imposto pelos cientistas, o anti-vivisseccionista moral
condena-se a primeiramente aceitar a falsa idéia de que a vivissecção é de alguma forma
necessária à saúde humana, e em segundo lugar contrapor argumentos de ordem moral, como os
que contrastam os interesses entre, por exemplo, poupar a vida de cobaias ou salvar a vida de
crianças.
Uma vez que esta prática existe no meio científico, é pelo meio científico que deve ser
combatida. Segue uma lista de argumentos que deve ser considerada, no que se refere ao
problema da vivissecção:
“Qual a diferença entre os seres humanos e os animais utilizados nos experimentos?”
R. As diferenças são óbvias e evidentes, basta um olhar superficial. Entretanto, além das
diferenças estruturais exteriores, há muitas diferenças fisiológicas, internas e invisíveis para os
leigos, mas reais o suficiente para invalidar qualquer pesquisa humana executada em modelos
animais. Além do mais, muitas enfermidades dos seres humanos não afetam os outros membros
do reino animal, embora a classe científica insista em se basear nos outros animais para entender
melhor a nossa saúde. Por exemplo, os principais tipos de câncer que afetam os pacientes
humanos são muito diferentes daqueles que acometem os ratos. O tipo de tuberculose que afeta
as pessoas é muito diferente do tipo que é produzido, artificialmente, em animais.
Também é muito diferente a maneira pela qual várias drogas afetam os outros membros
do reino animal. A penicilina mata os porquinhos-da-Índia, porém pode salvar os seres humanos
com infecções bacterianas. A aspirina pode ser fatal para os gatos, mas é eficiente analgésico para
o homem. O arsênico é extremamente perigoso para o ser humano, porém seus efeitos são muitos
diferentes em ratos e ovelhas. A morfina é um sedativo para o ser humano, porém excita os gatos,
as cabras e os cavalos.
As diferenças são incontáveis e a experimentação de produtos e procedimentos em
animais põe em perigo vidas humanas. Muitos fármacos foram lançados no mercado, com
entusiasmo, depois de terem sido testados em animais com resultados otimistas. Depois de
utilizados por várias pessoas, ficou claro que os resultados dos testes com animais estavam
completamente equivocados. É impossível afirmar com precisão quantos pacientes humanos
morreram ou foram severamente afetados por drogas testadas em animais e posteriormente
aprovadas para consumo, vitimas da excessiva confiança das indústrias farmacêuticas nos testes
envolvendo animais.
Um informe publicado no Diário Britânico de Medicina mostra que quatro de cada dez
pacientes que tomam um medicamento com receita podem sofrer efeitos secundários graves ou
pelo menos dignos de nota. Hoje em dia, se um paciente sofre de mais de uma doença, há grandes
chances de a segunda ter sido decorrente do tratamento recebido para curar a primeira.
Como resultado da enorme epidemia iatrogênica (causada pelo próprio homem, na pessoa
de médicos e outros profissionais da saúde) que vivenciamos no presente, um número cada vez
maior de médicos conscientes estão se posicionando contrários à vivissecção.
Muitas das enfermidades que nos acometem são resultados de nossa própria mente, mas o
estresse proposital provocado em animais não os conduzem ao mesmo estado. Por exemplo, os
animais também sofrem de estresse e ansiedade, mas suas respostas são bem diferentes. Como
então comparar os resultados de uma medicação cujos resultados são tão diferentes e subjetivos?
Como testar um remédio para pressão alta em animais que nunca sofreram desse mal? E o que
43
dizer de remédios para problemas pré-menstruais, que são testados em porquinhos-da-Índia
macho? Aliás, nem mesmo as fêmeas dessa espécie menstruam...
A menor diferença anatômica ou físiológica pode inutilizar um resultado experimental,
gerando informações equivocadas e perigosas. A avaliação da segurança de medicamentos
humanos em ratos, antes de serem administrados a pessoas, é uma idéia completamente absurda.
A verdade é que a vivissecção não tem nada a ver com o progresso da Ciência Médica. Confiar
em testes animais implica aceitar que os produtos classificados como seguros, após testados em
cobaias, sejam lançados no mercado e prescritos por médicos a milhares de pacientes, sem que
haja comprovação real de sua eficácia e segurança para humanos. A própria indústria
farmacêutica assume, quando lhe convém, que os resultados obtidos com a vivissecção não
podem ser extrapolados para o homem. É o caso de uma senhora que processou uma importante
companhia de medicamentos, pelo fato de um de seus produtos haver provocado paralisia e danos
à sua vista. Essa senhora conseguiu provar que a companhia dispunha, havia mais de vinte anos,
de documentos atestando que a medicação havia lesionado a vista de coelhos, havia cegado e
matado ovinos adultos, e havia matado e causado paralisia em cães, na fase de testes
preliminares. A empresa acusada, entretanto, defendeu-se da acusação de negligência,
cinicamente alegando que os experimentos realizados em animais não poderiam prever os
resultados em humanos !!!
Se os experimentos não são relevantes para os seres humanos, por que então são
realizados? Pode alguém crer, seriamente, que as companhias químico-farmacêuticas provam
cosméticos ou medicamentos em coelhos porque querem realmente testar sua eficácia ou
possíveis efeitos colaterais? Estariam realmente preocupadas com a saúde e o bem estar do
consumidor? Ou será que a prática da vivissecção representa uma forma de obterem autorização
para comercializar seus produtos, e até mesmo de se defenderem de possíveis acusações de
consumidores que sofrem efeitos colaterais?
Às vezes, as companhias vivisseccionistas dão explicações absurdas para justificar os
experimentos que executam em animais. Nas últimas décadas, por exemplo, as empresas de
tabaco têm gasto milhões de dólares em investigação, e ainda que os resultados não sejam de todo
confiáveis e ainda que as próprias indústrias tenham chegado perto de admitir a relação existente
entre o câncer de pulmão e o consumo de cigarros, os porta-vozes dessas mesmas empresas são
hábeis em dar explicações bem criativas.
“Seres humanos e outros animais não são a mesma coisa, sob o ponto de vista da organização
celular?”
R. Não. Cada espécie de animal tem uma estrutura e um sistema celular únicos. De fato, existe
um ramo das ciências biológicas chamado histologia, que é dedicado ao estudo da estrutura dos
tecidos. Um histologista pode sem maiores dificuldades identificar uma amostra de tecido, se é de
um cão, gato, humano ou outro animal. Somos todos diferentes, mesmo ao nível celular.
“Os experimentos com animais são indispensáveis à indústria de cosméticos, pois a lei obriga
que testes de segurança sejam feitos com novos produtos, antes de os mesmos irem para o
mercado.”
R. Muitas indústrias de cosméticos não mais utilizam animais para testar seus produtos, o que não
impede a comercialização dos mesmos, evidenciando claramente a inutilidade das práticas
vivisseccionistas, cuja confiabilidade é sempre questionada. Tais empresas, realmente
preocupadas em oferecer ao consumidor produtos de qualidade comprovada, lançam mão de
métodos substitutivos para testar a segurança de seus novos produtos, ou usam ingredientes
seguros em suas formulações.
“Mas é necessário testar em animais produtos de uso domiciliar e cosméticos, de modo a se
proteger as pessoas de possíveis efeitos indesejáveis ?”
R. Bem, independente de haver exigência legal de testes em animais para tais produtos, não serão
tais testes que irão proteger o consumidor dos possíveis efeitos colaterais dos mesmos, posto que
vários desses efeitos indesejáveis somente são observados em humanos, após o produto ter sido
posto no mercado, não sendo possível reproduzir os tais efeitos em animais, sob condições
laboratoriais. De fato, o grande valor dos testes com animais, para a indústria químicofarmacêutica,
é a garantia que tais testes representam contra eventuais processos judiciais
movidos por vítimas de medicamentos, cosméticos ou outro produto previamente testado em
animais e considerado seguro para consumo humano. A indústria, assim, salvaguarda sua posição
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de inocente ante os efeitos desastrosos de seus produtos, graças à máquina vivisseccionista,
amplamente amparada pela lei.
“Você preferiria ver seu filho morrer a dar apoio à experimentação animal ?”
R: A maioria das pessoas que defendem os experimentos com animais admite que os resultados
obtidos podem salvar vidas humanas. Esta é a maior e a mais efetiva das mentiras, pois constitui
a base de um poderoso argumento emocional, “ou o rato de laboratório ou seu próprio filho”.
Para apoiar este argumento de caráter chantagista, os defensores da vivissecção citam diversos
avanços médicos obtidos ao longo da História, alegando que os mesmos se deveram à
experimentação animal.
Na verdade ninguém jamais terá que tomar tal decisão entre a vida de uma criança e a de um
animal, posto que simplesmente a escolha real não recai sobre o interesse entre duas vidas, mas
sim no interesse entre a boa ciência e a má ciência. E a má ciência é aquela que se baseia na
vivissecção, originando resultados muitas vezes desastrosos (a talidomida, por exemplo) que,
então, são responsáveis pela morte de várias pessoas, inclusive crianças. Aliás, muitas crianças já
pagaram com suas vidas o preço dessa ciência fraudulenta e perigosa, ciência que se baseia em
ratos, coelhos, cães e macacos para atestar o que é perigoso e o que é inócuo para nós,
freqüentemente desabando em erros imperdoáveis.
“Quem é contra a vivissecção defende o uso de simuladores para o treinamento de cirurgiões,
você permitiria que um cirurgião que jamais tenha cortado um ser vivo operasse seu filho de
apendicite?”
R. Você permitiria que um cirurgião que só tivesse prática com ratos realizasse uma cirurgia de
apendicite no seu filho? A pergunta é relevante, porque a argumentação recai sobre dois
organismos vivos diferentes; no entanto, desconsiderando suas diferenças, ressalta a idéia de que
ambos tem em comum serem organismos vivos, e que portanto um pode servir de modelo ao
outro melhor do que qualquer simulador artificial. Ora, a bicicleta e o avião são, da mesma
forma, ambos meios de transporte, então a pergunta poderia ser reformulada: Você deixaria seu
filho voar em um avião pilotado por alguém que até então só tenha pilotado bicicletas? Ou
preferiria um piloto que tenha sido treinado em simuladores de vôo, programados para ensinarlhe
os procedimentos que deve executar em cada variável? Tanto a bicicleta quanto o avião são
meios de transporte, mas são meios de transporte tão distintos que mesmo o melhor bici-crosser
poderia pilotar com êxito um avião. Outro ponto que aqui deve ser enfatizado também é que,
assim como o piloto treinado em simuladores de vôo não pode simplesmente pegar um avião e
sair por aí voando, mas antes precisa preencher tantas horas de vôo, da mesma forma um
cirurgião treinado em simuladores biomédicos não pode sair por aí operando crianças de
apendicite, mas necessita acompanhar um cirurgião experiente, para com o tempo ir assumindo
funções na mesa de operação, até que esteja apto a assumir a operação.
“Como a experimentação animal afeta o meio ambiente?”
R. Os testes em animais podem provar e desprovar qualquer coisa. Por exemplo, usando
diferentes animais, uma mesma droga pode ser considerada carcinogênica ou não-carcinogênica –
dependendo do que o pesquisador quer provar! A natureza errônea e não-conclusiva da
experimentação animal cria uma cortina de fumaça – um álibi que permite que sejam produzidos
mais de 70 milhões de tipos diferentes de substâncias tóxicas e químicas perigosos. Ironicamente,
estes venenos aparentemente “testados seguramente” são os mesmos que estão a poluir o ar,
água, solo e alimentos.
“Porque afirma-se que, num momento, uma certa substância, como a sacarina, é segura, e
depois afirma-se que é cancerígena, e depois novamente que é segura?”
R. A razão para estas confusões conflitantes são os testes baseados em animais. Como dissemos,
animais reagem diferentemente a diferentes substâncias. Estas “notícias” são baseadas em testes
de maneira que permitem que o pesquisador (ou os produtores) descubram o que lhes convém.
Uma pesquisa pode afirmar que a sacarina é cancerígena (em ratos, por exemplo), e outra
pesquisa pode afirmar que a sacarina não tem qualquer efeito. A sacarina é um ingrediente
encontrado em adoçantes artificiais vendidos para consumo humano. Presumivelmente, não é um
carcinogênico, mesmo que em ratos seja “comprovado” sua carcinogenecidade.
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Tudo depende de como os testes são noticiados e de quais interesses que a noticia defende. Por
exemplo, se convir a alguém, pode-se demonstrar em uma pesquisa baseada em ovelhas que o
arsênico é comestível, e não causa qualquer mal maior ao ser humano.
“Os experimentos com animais não tem providenciado curas para as doenças humanas no
passado?”
R. Por décadas, o público tem sido induzido à acreditar que a experimentação animal é
responsável por todas as “curas milagrosas” e os “avanços médicos”. Mas a verdade é que a
experimentação animal não curou uma simples doença humana. A razão é simples: a
experimentação animal não pode produzir nenhuma cura porque é baseada em uma premissa
cientificamente falsa. Consequentemente os índices de incidência de doenças está aumentando,
assim como as mortes provenientes destas doenças. Por exemplo, nos Estados Unidos, desde que
o então presidente Nixon declarou “guerra ao câncer” em 1971, o índice de incidência de câncer
aumentou, até setembro de 1994, em 18%; e o índice de mortalidade causada pela doença
aumentou em 7% com relação ao crescimento populacional.
O único progresso significante realizado contra doenças no século 20 foi o controle de doenças
infecciosas no começo do século, graças à nutrição, higiene e medidas sanitárias – e não devido à
pesquisa em animais.
A questão principal é esta: Se a metodologia da pesquisa biomédica – a pesquisa em animais – é
válida, então porque as curas para doenças velhas e novas não estão se materializando?
“E sobre a vacina da pólio? Foi desenvolvida através da experimentação animal.”
R. Esta é uma das maiores mentiras embutidas no público: Primeiro, a vacina da pólio teve
muitos problemas e não fez nada pela contenção da doença. Quando a vacina foi lançada para uso
na década de 50, o índice de incidência da poliomielite já estava declinando devido ao ciclo
natural específico de microorganismos patogênicos (eles crescem, atingem um pico e então
decaem). De fato, nos EUA em países onde a vacina da pólio nunca foi utilizada, a pólio
continuou a desaparecer no mesmo ritmo, sem qualquer intervenção médica.
Em segundo lugar, hoje, existem mais de 40 doenças neuro-musculares diferentes, todas
enquadradas como “distrofia muscular”. Nenhuma destas doenças possui cura. A pólio é uma
doença neuro-muscular. Não poderia esta doença, que em 50 era conhecida como poliomielite,
ser uma destas 40 doenças que hoje são conhecidas como “distrofia muscular”? Muitos indícios
dizem que sim, uma vez que os gráficos médicos demonstram uma diminuição no número de
casos de poliomelite, ao passo que se abstêm em demonstrar o aumento no número de casos de
doenças como a meningite viral, por exemplo.
“E sobre o testes de drogas? Não é melhor testar antes em animais, prevenindo os humanos de
seres expostos à medicações perigosas?”
R. Pelo contrário. O fato é que os animais reagem diferentemente à diferentes substâncias
químicas, não apenas em relação ao homem, mas também entre espécies. Aspirina mata gatos e
penicilina mata porcos-da-índia. Da mesma maneira, porcos-da-índia podem comer estricnina,
um dos venenos mais poderosos para o humano, mas não para macacos. Ovelhas podem ingerir
enormes quantidades de arsênico, usada para envenenar seres humanos. O potássio cianídrico,
mortal para humanos, é inofensivo para corujas. A lista de exemplos é enorme.
A questão é: se os testes em animais são tão confiáveis, então porque a FDA (Food and Drug
Administration – EUA) retira milhares de fármacos das prateleiras? Estes, em uma triagem inicial
realizada em animais, são considerados como “seguros” para o consumo humano, e apenas após
sua liberação no mercado e utilização por suas verdadeiras cobaias, os seres humanos, é que seus
reais efeitos são conhecidos. Se os testes em animais são um indicativo de reações humanas,
porquê tantos efeitos colaterais se tornam visíveis depois que o homem “cobaia” é exposto à
droga?
Quando um novo medicamento chega ao mercado, são os consumidores humanos as primeiras
cobaias de fato, independente da quantidade de testes conduzidos previamente, em animais. Ou
seja, somente nós, humanos, podemos exibir efeitos desejáveis ou colaterais na espécie humana,
para qualquer substância testada. Fica evidente, assim, a fraude científica em que se constituem
os testes de segurança utilizando animais de laboratório conduzidos pelas indústrias químicofarmacêuticas
antes de lançar um produto novo no mercado. Não há como negar que muitas
drogas atuam de modo bastante diferente, nas várias espécies animais em que são testadas e,
ainda assim, os dados obtidos são manipulados de tal forma que se obtêm valores padronizados e
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aplicáveis à espécie humana. Sendo assim, a indústria da vivissecção não apenas coloca em risco
nossas vidas como também impede que outras vidas sejam salvas, como ao exigir, por exemplo,
que uma nova terapia anti-AIDS seja primeiramente testada em animais, privando pacientes
aidéticos de ter uma chance à uma vida normal.
“Diz-se que a experimentação animal tem ajudado os médicos a compreender as enfermidades
coronarianas e descobrir novos tratamentos para problemas tais como pressão alta.”
R. É correto afirmar que hoje em dia sabemos muito mais sobre as enfermidades coronarianas e
sobre a pressão alta. Também é certo que os cardiologistas têm acesso fácil a novos tratamentos
para problemas circulatórios. Entretanto, toda a informação útil sobre as causas das enfermidades
coronarianas e da hipertensão (estresse, sedentarismo, obesidade, tipo de personalidade,
tabagismo, excesso de gordura na dieta, etc.) foi obtida estudando-se seres humanos e não,
animais.
Os animais que são usados em experimentos de cardiologia e angiologia não podem
manifestar as enfermidades humanas relacionadas de modo natural. Por exemplo, os
pesquisadores só podem provocar hipertensão nos animais tamponando suas artérias ou extraindo
seus rins, ou seja, interferindo na anatomia e fisiologia normal dos mesmos.
Entretanto, há mais de 15 anos que se sabe que a maior parte dos casos de hipertensão
pode ser controlada apenas com melhora da qualidade de vida, ou seja, através do controle de
peso, diminuição do estresse, prática de exercícios físicos, opção pelo vegetarianismo, etc..
Esses resultados foram obtidos graças à atividade prática de médicos, atendendo pacientes reais
em hospitais e clínicas, e não através de pesquisas envolvendo animais mantidos em laboratórios.
O dinheiro que foi e que ainda é gasto com a experimentação animal poderia salvar muito mais
vidas caso fosse empregado em programas de melhoria da saúde pública.
É importante ressaltar que as indústrias farmacêuticas dependem de um sistema médico
do tipo curativo, ou seja, baseado na prescrição de medicamentos, e não na prevenção de
doenças. E, infelizmente, os testes em animais são exigidos para comprovar a segurança dos
novos produtos medicamentosos, em humanos. Além disso, a realização de testes, diretamente
em humanos, revelaria serem ineficazes ou mesmo perigosos vários produtos medicamentosos
novos, o que exporia a fragilidade científica da experimentação animal e o caráter mercantilista
da prática vivisseccionista.
“Dizem que os experimentos com animais têm permitido aos cirurgiões realizar transplantes
com êxito”.
R. O cirurgião grego, Galeno, realizou vários estudos em porcos. Em sua época, não era
permitido dissecar cadáveres humanos, então suas pesquisas eram todas baseados em modelos
animais. Hoje em dia, os historiadores consideram que os trabalhos de Galeno frearam o
progresso da medicina durante vários anos. Uma vez que se permitiu a dissecação de cadáveres
humanos, diferenças marcantes entre a anatomia de porcos e a humana foram descobertas,
invalidando o modelo animal até então usado. Incrivelmente, ainda hoje se usam suínos como
modelos experimentais no estudo da saúde humana.
As cirurgias de transplante têm sido realizadas, em caráter experimental, em uma ampla
gama de animais (experimentadores entusiasmados transplantam rins, corações e até cabeças),
porém estes experimentos mais confundem do que ajudam os cirurgiões.
Os primeiros resultados de transplantes humanos foram desastrosos, apresentando taxa de
mortalidade extremamente elevada. Ressalte-se que esses primeiros transplantes, marcados pelo
fracasso, foram executados por cirurgiões cujo treinamento se baseou em modelos animais, pois
achava-se que os mesmos seriam perfeitamente adequados ao aprendizado da técnica a ser
realizada em humanos. Só mais tarde, após a realização de vários transplantes em humanos, e o
concomitante aprendizado baseado em pacientes reais, é que a taxa de mortalidade diminuiu.
Pode-se concluir, assim, que os primeiros pacientes de cirurgias de transplante foram as
verdadeiras cobaias.
Os experimentos com animais não têm valor científico real. Durante um período de nove
anos, foram realizadas centenas de transplantes em animais, como modelo experimental para
futuros transplantes em pessoas, mas os primeiros pacientes reais faleceram devido a
complicações que não haviam se manifestado durante a fase experimental. As diferenças
fisiológicas e anatômicas existentes entre o homem e os demais animais invalidam totalmente as
cirurgias de transplante realizadas em animais, como modelo para futuros procedimentos
semelhantes a ser executados em humanos.
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“Não são os animais essenciais à realização de transplantes de órgãos, dada a falta de órgãos
humanos ?”
R. Não. Afinal, apesar do alarde em torno dos transplantes de órgãos, o impacto real dessas
cirurgias sobre a vida humana, como um todo, é praticamente nulo! Apenas um percentual
ínfimo de pessoas, em todo o mundo, pode se beneficiar de tal possibilidade médica. Por outro
lado, a grande maioria das doenças para as quais são indicados transplantes (cardíacas, hepáticas,
renais, etc) é passível de prevenção, bastando para isso a adoção de estilo de vida mais saudável.
Infelizmente, o total investido em campanhas de saúde pública que visam a informar a população
acerca da prevenção de tais doenças, quando confrontado com as cifras gastas com pesquisas
sobre transplantes, é praticamente inexistente. Entretanto, caso o transplante de órgão seja
realmente necessário, o mesmo deve ser realizado com órgão transplantado de outro ser humano,
por razões óbvias. Afinal, apesar da grande semelhança entre homem e macaco, o fígado de um
macaco não é um fígado humano, não podendo substituir completamente este último. Deve-se
atentar, ainda, para o fato de os xenotransplantes (transplantes envolvendo espécies diferentes;
homem X porco, homem X macaco) oferecem sérios riscos para os receptores dos órgãos, devido
à maior possibilidade de rejeição e possível transmissão de doenças até então exclusivas da
espécie doadora. Vírus que infectam somente macacos, por exemplo, podem estar presentes no
órgão transplantado e, após contato com o organismo humano, podem se tornar violentos para a
nossa espécie, inclusive provocando a morte das pessoas. Apesar de todos esses riscos, mais uma
vez verifica-se que as quantias de dinheiro investidas nas pesquisas sobre xenotransplantes são
muito mais expressivas que aquelas gastas em campanhas de incentivo à doação de órgãos. E
apesar de toda a fortuna desperdiçada nos estudos envolvendo transplantes de órgãos de animais
para o homem, não se tem notícia de um só indivíduo que, após ter sido submetido a cirurgia de
xenotransplante, tenha sobrevivido por mais de nove meses.
“Dizem que os tranqüilizantes foram desenvolvidos com a ajuda dos experimentos com
animais.”
R. É correto afirmar que foi graças à experimentação animal que se descobriu o poder
tranqüilizante dos benzodiazepínicos. Mas os reveses decorrentes da vivissecção só se
evidenciaram quando essas drogas começaram a ser utilizadas em seres humanos. Na verdade, as
companhias farmacêuticas e a classe médica só foram reconhecer os perigos dos
benzodiazepínicos após vinte anos de uso dos mesmos, depois de terem sido consumidos por
milhões de pacientes. Percebeu-se que essas drogas causavam dependência e distúrbios
psicológicos, alterações que não foram observadas na fase experimental de desenvolvimento
dessas drogas. Tais efeitos adversos também são observados em outros animais, mas parece que
os pesquisadores não foram observadores atentos o suficiente para percebê-los. É bem provável
que os experimentos com animais tenham sido responsáveis, em grande parte, pela descoberta
tardia dos efeitos secundários dos benzodiazepínicos.
“A única esperança na descoberta de um tratamento eficiente para a AIDS sustenta-se na
experimentação animal.”
R. A verdade é que mesmo infectando-se animais de laboratório com o vírus da AIDS, nenhum
animal irá contrair a doença, pois o HIV é um vírus que provoca doença somente no homem.
Hoje em dia, existem provas muito bem fundamentadas de que o vírus da AIDS teve origem em
laboratórios. Durante os anos 70, muitos cientistas, nos Estados Unidos, estavam ocupados com
experimentos que objetivavam transmitir vírus de um macaco a outro, só para ver o que
acontecia. Dessa forma, novos vírus foram se desenvolvendo, e verificava-se sua possível
transmissão para outras espécies. Havia grande intercâmbio de tipos virais, entre os laboratórios,
de modo a se tentar comprovar as teorias sustentadas pelos diferentes pesquisadores, espalhados
pelos EUA.
“A artrite é a mais comum das enfermidades do aparelho locomotor. Dizem que os experimentos
com animais têm ajudado os cientistas a encontrar novos e valiosos fármacos para combater a
artrite e advertem que, sem a experimentação com animais, não haverá nunca cura para essa
enfermidade.”
R. Outra mentira absurda e premeditada divulgada para defender a vivissecção e os benefícios
que ela traz para alguns grupos de indivíduos, como mencionado anteriormente.
48
Durante as últimas décadas, a indústria farmacêutica mundial tem produzido, com a ajuda de
testes em animais, uma quantidade quase infinita de medicamentos antiinflamatórios que têm que
ser retirados do mercado pois provocam vários efeitos indesejáveis que, às vezes, são letais.
Centenas de pacientes ficam com seqüelas decorrentes do uso de tais medicações.
Um dos problemas que os pesquisadores enfrentam é que os animais de laboratório não sofrem de
artrite. Para comprovar a eficácia de novos medicamentos contra a artrite, substâncias irritantes
devem ser introduzidas nas articulações de ratos, coelhos e outras cobaias, a fim de se tentar
produzir uma reação inflamatória. Obtém-se, assim, um quadro que mimetiza os sintomas da
artrite, mas que não reproduz fielmente a artrite humana.
Os experimentos realizados para se observar a influência de mudanças na dieta, sobre
essas “falsas artrites”, são dos mais comumente observados, empregando-se ratos. Tais
experiências são completamente insensatas, pois ratos não comem o mesmo que nós, seres
humanos, e não parece que esses roedores irão responder de maneira confiável às dúvidas
referentes à artrite humana. Concluindo, são pesquisas desnecessárias, pois existem muitos
humanos com artrite naturalmente adquirida que podem servir de modelo para a avaliação dessas
novas dietas.
“Pesquisas com ratos, gatos, cães e macacos ajudarão a descobrir a cura do câncer.”
R. O câncer é uma palavra que espanta muita gente e os pesquisadores utilizam esse medo para
defender suas pesquisas. É muito comum os pesquisadores afirmarem que os experimentos com
animais têm sido úteis ao desenvolvimento de uma terapia anticâncer, e também não é raro ouvir
cientistas dizer que estão perto de descobrir a cura do câncer, só faltando para isso alguns milhões
de dólares, que seriam empregados na realização de mais experimentos com animais.
A verdade é que as provas disponíveis mostram que os experimentos com animais, na área
de pesquisas sobre câncer, são uma perda de tempo e simplesmente não levam a comunidade
científica a lugar algum, apesar do alarde da mídia e dos pesquisadores que se sustentam na
vivissecção.
Sabe-se que os animais usados nos laboratórios desenvolvem câncer de uma forma bem
diferente da observada em humanos, além de reagirem de maneira diferente aos fármacos
empregados no combate à doença. O certo é que essas pesquisas atrapalham mais do que ajudam,
e têm freado muito o avanço da medicina.
Existem mais de duzentos tipos de câncer, e parece insensato investir milhões de dólares na busca
de uma cura geral para a doença, pois simplesmente não pode haver um único tratamento que
“cure” tantas enfermidades diferentes.
De acordo com o Doutor Irwin Bross, após juntar provas a ser apresentadas ao Congresso
Nacional dos Estados Unidos: “Os resultados obtidos com animais têm atrasado e dificultado a
guerra contra o câncer e não têm produzido nenhum avanço na prevenção e tratamento do câncer
humano”. Não são poucos os especialistas em câncer que criticam os experimentos envolvendo
animais. O doutor Doyer, um especialista francês, disse: “Os experimentos com animais são de
todo insatisfatórios, dado que nunca é possível estar seguro de que os animais podem desenvolver
as mesmas enfermidades que os seres humanos, e da mesma forma que estes”. O professor
Hastings Gilford, que realizou um grande estudo sobre câncer disse: “Tenho me ocupado em
realizar estudos exaustivos sobre o câncer, em todos os seus aspectos, e não creio que qualquer
pessoa que tenha feito algo semelhante e que tenha a mente aberta, possa chegar a outra
conclusão que não a de que a busca da causa ou da cura para o câncer, através dos experimentos
com animais, é inútil”. Tempo e dinheiro gastos em vão.
A Administração Norte Americana de Drogas e Alimentos- FDA, apresentou à comunidade
científica um “banco de provas”, à base de tecido muscular humano, que pode ser perfeitamente
utilizado nos testes de drogas anticâncer. E a pergunta faz-se inevitável: você preferiria tomar um
medicamento testado e aprovado em ratos ou um medicamento cujos testes foram feitos em
células exatamente iguais àquelas que você tem em seu próprio corpo?
Apesar da busca desenfreada pela cura do câncer, conhecem-se 80% das causas do câncer.
Sabe-se, por exemplo, que produtos químicos, o tabagismo, comidas gordurosas e raios solares
provocam câncer, então porque não investir em campanhas educativas alertando para esses
“perigos”?
Além disso, tudo o que foi descoberto sobre as causas do câncer foi conseguido através de
observação médica, acompanhando-se regularmente os pacientes... humanos. A relação entre os
diversos produtos químicos, o raio X, a alimentação e os vários tipos de câncer foi descoberta
49
através de estatísticas epidemiológicas e estudos clínicos, e não através da experimentação
animal.
“Realmente algumas pesquisas realizadas com animais são irrelevantes, mas outras tantas são
importantes e não devem ser impedidas. Deveria haver uma maior fiscalização, e não a abolição
completa da vivissecção, ou estaríamos impedindo a pesquisa relevante.”
R. A qualidade do trabalho realizado pelos pesquisadores com animais é tão baixa que ainda que
os resultados fossem relevantes, não seriam de confiança.
Excetuando-se a problemática que é a própria vivissecção em si, esbarraríamos ainda com outro
problema técnico com referência à seleção de quais pesquisas são relevantes, e quais não são.
Como toda grande corporação, os centros de pesquisa possuem códigos de ética internos que
impedem que um pesquisador acuse o outro de estar realizado pesquisas irrelevantes. Por outro
lado, a vaidade de cada pesquisador tão pouco o permitirá a perceber por si só a irrelevância de
sua pesquisa. Reside aí, sem contarmos com a metodologia errada, o principal problema do
“reducionismo”.
Outro problema: Grande parte do trabalho realizado pelos vivisseccionistas é secreto,
sendo impossível de se conhecer que tipo de experimentos são realizados, e quão relevantes eles
poderiam ser. Isto se dá devido ao fato de que os pesquisadores estão preocupados com as
entidades defensoras dos direitos dos animais. Eles temem que, se os detalhes de seus trabalhos
chegarem até a opinião pública, esta se indignaria e se oporia à experimentação. O temor dos
cientistas se baseia também na idéia de que a divulgação de sua linha de pesquisa e resultado
antes da publicação do trabalho poderia levar à pirataria (que também ocorre no meio cientifico),
tendo sua pesquisa, por pior que seja, publicada por outro antes dele.
Seguem exemplo de pesquisas realizadas em animais, mas cujos resultados jamais poderiam ser
aplicados aos seres humanos: A equipe do professor Pappenheimer, na Universidade de
Harvard, Estados Unidos, depois de descobrir que o cérebro desperto produz uma substância que
se acumula em torno dos “centros do sono”, e que o sono se manifesta depois que essa substância
completou seu ciclo, retirou doses desse líquido do cérebro de carneiro, injetando-o em ratos e
coelhos, que “adormeceram”. A conclusão “científica” é a seguinte : Os doentes que sofrem de
insônia, recomenda-se uma trepanação do crânio com injeção cerebral de um líquido proveniente
de um cérebro de carneiros.
No Canadá, pesquisadores forçaram três ursos polares a nadar em um tanque com petróleo. Na
tentativa de limpeza, os ursos ingeriram tanto petróleo que sofreram graves lesões e morreram.
Conclusão: Se deve manter os ursos afastados das marés de petróleo. Estes são exemplos de
pesquisas e conclusões tão tolas que mesmo cientistas vivisseccionistas riem ao lê-las; no
entanto, um olhar crítico sobre qualquer pesquisa com animais não escapa de ser ridicularizada,
digna de prêmios ignóbeis, assim como estas.
A grande maioria dos pesquisadores não distingue as enormes diferenças existentes entre
o comportamento de um animal preso em uma jaula mínima e o comportamento de um animal
em seu habitat natural. A dieta obtida em laboratório não pode ser comparada à obtida na
natureza, nem a obtenção fácil do alimento substitui o entretenimento produzido pela catação;
menos ainda a jaula reflete algum aspecto do habitat natural dos animais. Os médicos sabem que
a administração de fármacos aos pacientes em circunstâncias anormais altera drasticamente os
resultados. Porém o que há de mais antinatural do que administrar drogas a animais enjaulados?
Todos os testes com animais são realizados em laboratórios em circunstâncias anormais.
O mais importante é que a grande maioria dos vivisseccionistas parece não se importar com o
papel do estresse no desenvolvimento de doenças. Hoje em dia, todos compreendem que o
estresse que o bovino sofre antes do abate afeta tanto os níveis hormonais que o sabor e a textura
da carne são afetados; porém os vivissectores parecem ignorar esse fato. Essas condições
estressantes e a ansiedade podem acelerar o crescimento de tumores e tornam os animais mais
vulneráveis às infecções.
O problema maior é quando se percebe que alguns pesquisadores estão apenas buscando o
reconhecimento e o dinheiro das pesquisas, e acabam por manipular os resultados de pesquisa de
forma a conduzi-los aos resultados esperados, ocasionando em fraudes científicas. Um exemplo
foi o caso do Doutor William Sunnerlin que foi contratado por um instituto de Nova York para
trabalhar com transplante de pele e os possíveis problemas de rejeição.
Sunnerlin parecia haver obtido uns resultados surpreendentes neste tema, porém nenhum outro
laboratório do mundo pôde obter tão bons resultados. Finalmente pressionado, Sunnerlin admitiu
haver falsificado um “pouquinho” os experimentos. Se supunha que ele havia transplantado pele
50
de um rato negro para um rato branco sem ter havido rejeição. A verdade é que ele havia pintado
a pele do rato branco com tinta preta, e não realizado realmente o transplante.
Outro caso foi de um pesquisador que matou dezenas de ratos para eliminar as provas de um
experimento cujos resultados contradiziam com os obtidos de um experimento anterior.
Uma extensa investigação mostrou que cerca de 75% dos trabalhos publicados contém
conclusões erradas.
A triste verdade é que a ciência, tal como a prática de experimentação animal tem ficado
contaminada pela farsa e pela busca de maiores benefícios, maiores laboratórios, mais diplomas e
mais artigos científicos publicados.
2.5.3 - Sobre a necessidade de utilização de animais no aprendizado de técnicas
biomédicas
“Mas os animais não são necessários ao treinamento dos estudantes de medicina ?”
R. Não. Se os animais podem ser substituídos por métodos alternativos ao ensino da Medicina
Veterinária, é lógico que são muito menos importantes para o ensino da Medicina. Afinal, o
médico deve entender profundamente a anatomia, fisiologia e farmacologia do homem e, não,
dos outros animais. Aliás, as principais instituições de ensino da Medicina, nos Estados Unidos,
não usam animais em suas aulas práticas, pois reconhecem que tais aulas não são necessárias à
formação do médico. Aliás, as diferenças anatômicas entre homem e cão, por exemplo,
dispensam qualquer comentário acadêmico. Os estudantes de Medicina podem praticar
intensamente o que aprendem em aulas teóricas através da utilização de vídeos, modelos
anatômicos, cadáveres, placentas, programas de computador e, logicamente, acompanhando
casos de pacientes humanos reais (exames físicos, radiológicos , ultrassonográficos, cirurgias
etc.). Há grande oferta de métodos substitutivos, no campo da educação em Ciências Biomédicas.
“Os estudantes devem ser expostos a sistemas de vida complexos.”
R. Esta exposição pode se dar frente a pacientes humanos que sofrem cirurgias necessárias.
Muito mais pode ser aprendido deste modo sobre anatomia humana e respostas
farmacológicas/fisiológicas do que por uma experiência terminal com um cachorro, porco,
ou outro animal. Programas de computador podem ser suplementos úteis e podem simular
sistemas biológicos e suas respostas a vários estímulos.
“Esta é a sua primeira experiência clínica, o seu primeiro paciente. ”
R. A primeira experiência clínica de um estudante não deveria estar vinculada à vida? Lidar
com pacientes envolve muito mais do que apenas a fisiologia, a farmacologia, e a cirurgia;
envolve o aconselhamento, escutar sobre suas necessidades e, acima de tudo, ajudando-os
ao invés de prejudicá-los. Isto é parte da razão por que a elite das escolas médicas envolve
os estudantes em clínicas e quartos operacionais (sob supervisão acirrada) cedo em seu
treinamento, e tem substituído os animais de laboratório.
“Nós temos que mostrar como uma droga, sozinha e em combinação, afeta o corpo... é
importante ver como algumas predições feitas por programas de computador ou livros de
ensino nem sempre são verdadeiras.”
R. Este conhecimento pode ser conseguido observando como os pacientes humanos reagem
à drogas administradas durante os cuidados de rotina. Programas pedagógicos
computacionais são projetados para prover variabilidade e o estudo de casos claramente
demonstram este princípio.
“Os estudantes precisam estudar a fisiologia em ação, não em um livro de ensino.”
R. Estudantes de medicina precisam estudar a fisiologia humana, não canina. Existem
amplas oportunidades para ganhar esta experiência observando-se uma variedade de
procedimentos necessários em pacientes humanos. Programas de computador, CD-Rom’s, e
vídeos também provêem este reforço.
“A instituição não estaria oferecendo estes laboratórios a menos que a faculdade pensasse
que eles são parte importante de seu treinamento.”
51
R. Atualmente, muitas instituições podem estar simplesmente continuando uma tradição há
muito ultrapassada. Muitas das maiores faculdades do mundo, como Harvard, Columbia,
Stanford e Yale, julgam os laboratórios com animais vivos desnecessários para o
treinamento médico. Se os laboratórios foram tão cruciais, por que incontáveis doutores e
outros profissionais da saúde educados todos os anos nestas escolas, sem praticar neles não
comprometeram suas habilidades profissionais? Técnicas pedagógicas constantemente estão
evoluindo e é tempo das escolas que ainda têm animais de laboratório unirem-se aos anos
90.
“Um entendimento profundo dos mecanismos e funções de sistemas de mamífero vivos é
essencial na educação de um médico moderno.”
R. Há uma gama de modos de conseguir-se esta compreensão. Muito vem de livros de
ensino e conferências. Modelos, programas de computador e simuladores oferecem
conhecimento adicional. De fato, programas de computador, modelos e livros de ensino
oferecem informação muito mais detalhada sobre a função de vários sistemas dos
mamíferos que poderia qualquer pequeno laboratório. Em última instância, estudantes
aprendem sobre humanos estudando os humanos. Médicos jamais executam uma cirurgia
sem antes ajudar médicos mais experientes que podem lhes mostrar os ligamentos.
“Modelos de plástico não podem imitar o tato, os sons, e as respostas que um médico
encontrará quando enfrentar seus primeiros pacientes.”
R. Um animal de laboratório também não o pode. Primeiro, a maioria dos animais de
laboratório são destinados a demonstrar a fisiologia e não para ensinar técnicas cirúrgicas.
Segundo, o único modo para produzir todos estes fenômeno é através da observação e em
última instância a participação supervisionada em cirurgias humanas e procedimentos
clínicos. Estudantes não aprendem muito experimentando em cachorros ou outros animais.
Incontáveis aspectos, que vão da quantidade de pressão de incisão necessária para cortar a
pele até o tamanho e localização dos órgãos internos, mostram que os cachorros são
diferentes dos humanos. Menos cuidado certamente é tomado para prevenir a cicatrização e
os traumas colaterais em um animal do que seria tomado em um paciente humano.
“Os estudantes gostam dos laboratórios.”
R. Muitos estudantes não gostam. Muitos estudantes simplesmente não expressam o seu
desconforto ou oposição ao procedimento por medo de repercussões acadêmicas. Claro que,
comparado ao tédio das aulas em salas de aula, os estudantes gostam de por a mão nos
aparelhos cirúrgicos e entrar no laboratório. Eles podem ganhar esta experiência pela
observação de procedimentos necessários na sala de operações de humanos. Considerando
que esta é freqüentemente sua primeira experiência prática, os estudantes podem desfrutar
estes aspectos, mas eles podem experimentar esta excitação observando uma cirurgia
humana.
“De qualquer forma estes cães morreriam na carrocinha.”
R. Nesse caso, eles não serão sujeitos ao trauma de prisão continuada, envio, preparação, e
experimentação antes de sua morte no laboratório. Não é raro que cachorros despertem
durante o a prática de laboratório ou recebam traumas adicionais por uma falha de
procedimento. Isto freqüentemente traumatiza os estudantes também.
“É a melhor oportunidade para praticar um procedimento antes de usá-lo em um paciente.”
R. Estudantes são melhor preparados para procedimentos em humanos observando e tendo
uma participação limitada nesses procedimentos, sob supervisão acirrada. A maioria dos
animais de laboratório não ensina qualquer procedimento, eles simplesmente demonstram
os efeitos conhecidos de agentes farmacológicos ou fisiológicos. Programas de computador,
CD-Rom’s, e vídeos também o permitem, para uso e prática repetidos, de acordo com as
necessidades dos estudantes.
“Não é apropriado para os estudantes questionarem o que a universidade pensa que eles
necessitam para tornarem-se bons doutores. Eles não são qualificados para fazer esta
determinação.”
52
R. Estudantes têm um dever de se pronunciar quando pede-se que façam algo que viola seus
princípios. Parte do que é ser um bom doutor é viver pelos princípios que primeiro o
motivaram a buscar pelo estudo nas artes curativas, e aqueles que vieram com o
aprimoramento ético, como “Primeiro, não cause nenhum dano”, a famosa advertência de
Hipócrates. Todo estudante é qualificado a determinar o que é certo e errado de acordo com
suas próprias convicções morais pessoais. Estudantes que estão pagando por esta educação
deveriam poder questionar e objetar a uma parte de seu programa que seja desnecessária,
antiquada, e viola sua ética. A Associação de Estudantes de Medicina Americana (AMSA)
apoia o direito dos estudantes de medicina de optar por não praticar em animais de
laboratório.
“Nós permitimos aos estudantes que se opõem à prática em animais de laboratório que se
retirem, mas todos os anos a maioria das classes participa.”
R. Estudantes participarão freqüentemente em uma prática com animais de laboratório por medo
de posicionarem-se contra os estudantes de classe, para evitarem chamar atenção imprópria para
si mesmos ou desaprovação do professor. Muitos estudantes também se preocupam de estar em
desvantagem na hora das provas. Porém, a política da Associação de Estudantes Medicina
Americana é que os estudantes não devem ser penalizados por não participar em uma prática com
animais de laboratório.
2.6 - Literaturas Anti-Vivisseccionistas
1) From Guinea Pig to Computer Mouse. EuroNICHE / 1997
2)The Cruel Deception. Dr. Robert Sharpe / 1986
3) Animal Experimentation: A Harvest of Shame. Dr. Moneim Fadali / 1996
4) Animal Liberation. Peter Singer.
5) Animals in Education: The Facts, Issues and Implications. Lisa Ann Hepner / 1994
6) Vivissection and Dissection in the Classroom: A Guide to Conscientious Objection. Gary
Francione e Anna Charlton.
7) Animal Research takes Lives: Human and Animals both suffer. The New Zealand Ant-
Vivisection Society.
8) Alternatives to Animal Testing. Christoph Reinhardt.
9) Holocausto. Dr. Milly Schär-Manzoli. (Publicação na lingua portuguesa)
10) Naked Empress or the Great Medical Fraud. Hans Ruesch.
11) Slaughter of the Innocent. Hans Ruesch.
12) Coping and Beyond : Being a Surgeon’s Reflections on Medicine, Science, Art, and a Life
Worth Living. Monein Fadali / 1990
13) Vivisection or Science ? : An Investigation into Testing Drugs and Safeguarding Health.
Pietro Corce / 2000
14) Lethal Laws : Animal Testing, Human Health, and Environmental Policy. Alix Fano /
1998
15) Animal Models of Human Psychology. Kenneth Shapiro / 1998
16) Lab Animal Abuse : Vivisection Exposed. Joseph Covino
53
17) Vivisection Unveiled : An expose of the Medical Futility of Animal Experimentation. Tony
Page
18) Animal Experimentation and Testing : A Pro/Com Issue (Hot Pro/Con Issues). Geraldine
Woods / 1999
19) Dissection and Vivisection in the European Renaissance. R.K. French / 1999
20) Animals’ Rights : Considered in Relation to Social Progress. Henry Stephens Salt / 1980
21) The Dark Face of Science. John Vyvyan / 1989
22) In Pity and in Anger : A Study of the Use of Animals in Science. John Vyvyan / 1988
23) Lab Animal Abuse : Vivisection Exposed. Joseph Corvino / 1990
24) Personal Care For People Who Care. National Anti-Vivisection Society / 1998
25) Vivisection and the True Aims of Education in Biology. George K. Russell / 1990
26) Vivisection in the Historical Perspective (Wellcome Institute Series in the History of
Medicine). Nicolaas Rurke / 1987
27) Vivisection of Contemporary Man. Walter M. Dixon / 1984
28) Vivisection Unveiled : An Expose of the Medical Futility of Animal Experimentation. Tony
Page / 1998
29) Alternatives to Pain in Experiments on Animals. Dallas Pratt
30) Animal Experimentation and Human Medicine. Al Frazza
31) Antivivisection and Medical Science in Victorian Society. Richard D. French
32) Biohazard : the silent threat from biomedical research and the creation of AIDS : a report
by the National Anti-Vivisection Society.
33) The Case for Animal Experimentation : Na Evolutionary and Ethical Perspective. Michael
Allen Fox
34) Compassion is the bugler : the struggle for animal rights. Clive Hollands
35) The Crimson Cage. Margaret Wheaton Tuttle
36) Forgotten Animals : The Reahbilitation of Laboratory Primates. Linda Koebner
37) Man and Mouse : Animals in Medical Research. William D.M. Paton
38) Men and beasts : an animal rights handbook. Maureen Duffy
39) Painful Experiments on Animals. Dallas Pratt
40) Religious leaders’ views on vivisection
41) Use of Laboratory Animals in Biomedical and Behavioral Research
42) Victims of science : the use of animals in research. Richard D. Ryder
54
43) Animal Laboratory Exercises in Medical School Curricula. Mitchell Wolfe, Neal Barnard
and Suzanne M. McCaffrey
44) Use of and Alternatives to Animals in Laboratory Courses at U.S. Medical Schools. Neal
Barnard, Jeffrey Stolz and Liza Baron
45) A Comparision of Interactive Videodisc Instruction with Live Animal Laboratories. Amy
L. Fawver, Charles E. Branch, Landa Trentham, B.T. Robertson and S.D. Beckett
46) Alternatives to the Use of Animals in Medical Education. Neal D. Barnard
47) Editorial Debate Defiende los animales. ADDA (Asociación para la Defensa de los
Derechos del Animal) / 1998
(A maioria destes livros estão disponíveis por distribuidores como a Amazon Books e a Barnes &
Noble, ou diretamente com as organizações)
Referências:
BBC1. The Opren Scandal. January 19, 1983.
Burns JJ, Mosbach EH, Schulenberg S. Ascorbic acid synthesis in normal and drug-treated rats,
studied with L-ascorbic-1-C14 acid. J Biol Chem 1954;207:679-87
Dowling, H.R. Fighting Infection. Harvard University Press. 1977
Heel, R. C., et al. Drugs. volume 24. 1982
Levin, E. Personal interview. PRISM. May 30, 1994.
Nishina PM, Schneeman BO, Freedland RA. Effects of dietary fibers on nonfasting plasma
lipoprotein and apolipoprotein levels in rats. J Nutrition 1991;121:431-7.
Personal interview with Jon A. Story, Ph.D., 24 March 1993
Prouix, Lawrence, "A History of Progress," Washington Post, Feb. 21, 1995.
Quoted by William H. Hendrix, New York Daily News, Mar. 13, 1961.
Ruesch, H.1000 Doctors (and many more) Against Vivisection – CIVIS, 1989.
Siguel EN. Cancerostatic effect of vegetarian diets. Nutrition and Cancer 1983;4(4):285-91.
Stoller, Kenneth, M.D., "Animal Testing: Why a Doctor Opposes It," The Orlando Sentinel, June
25, 1990.
Wiebers DO, Adams HP, Whisnant JP. Animal models of stroke: are they relevant to human
disease? Stroke 1990;21(1)1-3.
Tamino, G. Domenica del Corriere. No. 48, December 1, 1984.
Mendelsohn, M.D., Robert S. Interview from video Hidden Crimes, Javier Burgos/SUPRESS.
1986.
Walker, M.D., G.F. Medical World. December 8, 1933.
Tamino, G. Domenica del Corriere. No. 48, December 1, 1984.
Levin, E. Personal interview. PRISM. May 30, 1994.
Mendelsohn, M.D., Robert S. Interview from video Hidden Crimes, Javier Burgos/SUPRESS.
1986.
Walker, M.D., G.F. Medical World. December 8, 1933.
55
III- PESQUISA SEM ANIMAIS
A primeira documentação histórica sobre uso de alternativa ao uso de animais na ciência
data de cerca de 2000 a.C.: Um modelo de argila de fígado de ovelha foi encontrado em uma
escola-templo da Babilônia e era usado para o ensino de divinações. O modelo encontrado era
recoberto por inscrições coneiformes que forneciam um diagrama explicativo de um texto de
presságios no qual as particularidades em questão foram registradas juntamente com a
interpretação que lhe deve ser atribuída. Os lobos deste modelo, a fissura portal, a vesícula biliar,
o ducto cístico e parte do ducto hepático são visíveis. Os nomes técnicos são dados para todas
estas e para as outras partes. Os prognósticos são determinados pelas peculiaridades anotadas nas
regiões do fígado assinaladas por buracos.
A adoção pelos babilônios deste modelo de argila não tinha qualquer propósito
“protecionista animal”, tanto é que uma vez treinado, o sacerdote passava a sacrificar animais
para ler a sorte em suas vísceras. Na realidade o modelo era adotado por propósitos meramente
econômicos, já que o modelo de argila era praticamente eterno (tanto é que o modelo existe até
hoje no Museu Britânico) e podia ser usado por todos os aprendizes de adivinho; e se estes se
dirigissem a aprender a técnica em fígados de animais de verdade, isto se constituiria em um
grande desperdício econômico à escola-templo, até que o aprendiz se formasse.
Na realidade, um estudo mais aprofundado sobre a história da medicina revela que as
maiores descobertas que produziram um avanço considerável na área da saúde humana ou
animal não foram realizadas mediante estudo de animais experimentais, mas sim através do
estudo da doença ocorrendo nas populações, da dissecção de cadáveres mortos por causas
diversas e outros métodos. Atualmente estes métodos são chamados genericamente como
“Alternativos à Experimentação Animal”, porque anos de ciência vivisseccionista pregaram o
estigma de que a ciência se construiu com bases na experimentação animal. Nada mais falso.
Estes são métodos científicos, em oposição à vivissecção - um método errôneo de
experimentação. Qualificar estes métodos como “alternativos” é na realidade considerar a
vivissecção como o método oficial. No entanto, fica estabecido aqui após estas considerações,
que apesar de contrariar qualquer idéia de benefícios advindos da vivissecção, será adotado ainda
assim o termo “alternativas”, mas por motivos de comodidade.
3.1 - As Alternativas
A luta dos opositores à vivissecção, como já dito anteriormente, não é uma luta contra a
ciência propriamente dita. Muito pelo contrário. A luta pela abolição da experimentação animal,
tanto na ciência como na educação, requer que outros caminhos sejam percorridos, alguns novos,
outros esquecidos ou pouco lembrados.
Afirmar que os avanços da medicina de hoje não seriam possíveis se a experimentação
animal fosse abolida é, no mínimo, subestimar a ciência e a capacidade humana. Um objetivo
pode ser alcançado não somente por um único caminho, mas sim por vários. No que tange à
ciência, nós, cientistas, temos o dever de adaptar estes caminhos de acordo com a nossa realidade,
e de acordo com as necessidades. A análise desta realidade, principalmente a da saúde humana,
mostra que está se falhando em alguma coisa, e que é preciso escolher, o mais rapidamente
possível, outros caminhos.
A experimentação animal parte do conceito errôneo de que espécies diferentes reagem de
maneira idêntica, ou similar (uma palavra não muito específica), à determinadas drogas e/ou
substâncias. Mas abolir-se a experimentação animal agora, que caminhos estão sendo percorridos
no sentido de buscar alternativas à este método antigo chamado vivissecção?
A resposta à esta pergunta vai depender do tipo de objetivos que é procurado. Mas cada
vez mais caminhos alternativos estão sendo percorridos. Será mostrado, a seguir, quais são alguns
destes caminhos.
1 - Tecnologia In Vitro: Cultura de Células, Tecidos e Órgãos
56
São várias as aplicações desta tecnologia: pesquisa de câncer; imunologia (mecanismos de
rejeição e aceitação); testes toxicológicos; produção de vacinas; desenvolvimento de drogas;
estudo de doenças infecciosas; diagnose de doenças; estudo de doenças ou distúrbios genéticos.
A tecnologia para a cultura de células vem sendo cada vez mais aperfeiçoada. O famoso cirurgião
Moneim Fadali cita que na escola de Medicina Johns Hopkins, em Baltimore (EUA), existe até
hoje uma cultura de células obtidas da morte de uma paciente vítima de câncer em 1951 (Fadali,
1996). O efeito desastroso da talidomida poderia ter sido evitado se tal tecnologia tivesse sido
empregada, uma vez que seu efeito é verificável em cultura de tecido humano, mas não em ratos
e camundongos.
Uma vez que se tem preparado um cultivo de vários tipos de órgãos como coração, rim,
fígado, cérebro, nervos, pele ou qualquer outra parte do corpo, pode-se provar fármacos e outros
produtos químicos com notável rapidez e eficácia.
Em 1976, por exemplo, a Organização Mundial de Saúde aprovou o uso de cultivos
celulares para a produção da vacina contra a febre amarela e as empresas fizeram um esforço
intelectual e financeiro para adaptar as provas com cultivos celulares. As próprias empresas
reconheceram que com esta técnica se pôde comprovar um número maior de substâncias do que
quando se utilizam animais. Os pesquisadores parecem estar de acordo que através de cultivos
celulares a pesquisa se torna mais rápida e proporciona melhores resultados.
Uma área importante de aplicação destas metodologias in vitro é na produção de
anticorpos, inclusive monoclonais, que podem substituir o método tradicional de obtenção de
anticorpos através da injeção de substâncias em animais. Ao contrário do uso de anticorpos
obtidos de animais (que podem causar reações alérgicas, como febre, vômitos, taquicardias e falta
de ar), os anticorpos obtidos de tecidos humanos são mais seguros. Células obtidas
cirurgicamente de amígdalas, linfonodos ou do baço podem ser excelentes fontes para a produção
de anticorpos in vitro, mas a fonte mais utilizada para esta produção tem sido o sangue. “Uma vez
que é muito fácil de obter grandes quantidades de linfócitos humanos nas amígdalas, que contém
conjuntos completos de células necessárias para a formação de anticorpos in vitro, linfócitos de
amígdalas podem ser muito úteis para a investigação de fenômenos imunológicos em humanos”
(Watanabe et al., 1974). A utilização desta alternativa oferece vantagens como: aderência ao
princípio dos 3 R’s (principalmente o Replace); maior facilidade na purificação dos anticorpos;
pouca diferença de custo entre este método e o método in vivo, quando os custos envolvendo
manutenção e cuidados com os animais são considerados; quando utilizado meio não-protéico ou
soro, garante-se maior produção com maior pureza, obtidos em um mesmo período; consistência
de lotes em produção em grande escala. Um artigo recente publicado na Science, de autoria do
Dr. David Malakoff, da National Academy of Sciences, conclui que a maioria dos anticorpos
monoclonais deveria ser produzida por métodos que não requeiram o uso de animais (Malakoff,
1999). A produção de anticorpos monoclonais por meio de animais foi banida na Suíça, Holanda,
Alemanha, Inglaterra e Suécia. Os países da Comunidade Européia aguardam uma legislação que
deverá passar pelo Parlamento Europeu, que deverá banir o uso de animais na produção destes
anticorpos (Saxby, 1999). Uma importante aplicação dos anticorpos monoclonais tem sido na
pesquisa do câncer. Esta aplicação é valorizada por ser a forma menos tóxica de tratamento à esta
doença, ao contrário da radioterapia ou quimioterapia.
Outra grande aplicação é a produção de vacinas. As vacinas produzidas a partir de
culturas de tecidos humanos são mais seguras do que as produzidas a partir de animais, pois
evita-se que vírus desconhecidos cruzem a barreira das espécies e infecte o ser humano com
outras doenças ou disfunções. Vírus cancerígenos como o SV40 de macacos podem ser fatais se
cruzarem esta barreira. Hoje, com a tecnologia disponível, as vacinas contra muitas doenças
virais ou arbovirais (como a febre amarela) podem ser obtidas de culturas de células humanas,
eliminando completamente o uso de animais.
A placenta humana também pode ser utilizada, além de fonte de células para cultura, e de
material para testes de toxicidade e carcinogenecidade, como instrumento para treinamento de
técnica microcirúrgica.
O que cientistas importantes tem a dizer:
“Qualquer método in vitro que se utilize de tecido humano oferece um grau de confiabilidade não
obtido pela experimentação animal” – Gyte & Williams, 1985 (Gyte, G.M.L. & Williams, J.R.B.,
1985).
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“A insatisfação de predizer efeitos adversos em humanos através da experimentação animal é
conhecida ha tempo” – Dr. M. Weatherall, Wellcome Research Laboratories, 1982.
“Sabemos os testes de toxicidade obtidos a partir da experimentação animal são indicadores
imprecisos para a toxicidade em humanos; apenas a experiência clínica e controle cuidadoso da
introdução de novas drogas podem nos alertar sobre seus perigos reais” – The Lancet, Abril 1972.
“Apesar da limitada relevância da maioria dos tecidos animais para a farmacologia humana, o uso
de material humano nos estudos farmacológicos continua como exceção ao invés da regra” – Dr.
Else Müller-Schweinitzer, Sandoz Pharmaceuticals (Müller-Schweinitzer, 1988).
“... enquanto os conflituosos testes em animais têm atrasado a guerra contra o câncer, eles não
produziram sequer um avanço substancial na prevenção ou no tratamento do câncer humano” –
Dr Irwin Bross, Roswell Park Memorial Institute for Cancer Research, 1981.
“No que diz respeito ao risco ao homem, existem vantagens teóricas óbvias no uso de uma
cultura de células hepáticas preparada a partir de tecidos humanos, que pode diferir de tecidos
preparados de ratos, em relação a sua eficiência em ativar ou detoxicar químicos” – Britain
Guidelines for the Testing of Chemicals for Toxicity, 1982.
2 - Estudos Epidemiológicos
Os estudos epidemiológicos foram, sem sombra de dúvida, os principais responsáveis
pelos principais avanços na saúde humana. Foram estes estudos que conseguiram eliminar ou
reduzir drasticamente a incidência de doenças infecto-contagiosas, ao relacioná-las com as
condições de higiene e saneamento. A epidemiologia é baseada em comparações: pesquisadores
obtém indícios comparando os níveis de presença de doenças em grupos com diferentes níveis de
exposição ao fator investigado.
A primeira relação formalmente reconhecida entre trabalho e doença foi realizada no
século XVI por Filippus Aureolus Theophrastus Bombast von Hohenhein (Paracelsus para os
amigos), quem escreveu sobre a relação entre o minério e a enfermidade. Na mesma época,
George Bauer, publicou um conjunto de dozes livros que listavam em grande detalhe os tipos de
acidentes e enfermidades que afetavam os trabalhadores de minérios, junto com conselhos sobre
como podiam evitar tais acidentes mediante a instalação de ventiladores para renovar o ar e
eliminação de pó mineral.
Durante os últimos trinta anos tem-se acumulado uma enorme quantidade de provas
valiosas por parte dos médicos que tem estudado os costumes das pessoas. Hoje em dia, sabe-se
como se desenvolvem a maior parte das doenças cardíacas.
Na entrada do Hospital de Doenças Infecto-Contagiosas de Teresina, Piauí, está escrito:
“Os homens adoecem porque são pobres. Mantêm-se pobres porque estão doentes e continuam
doentes porque são pobres”. A maioria de doenças como malária, cólera, leptospirose, febre
amarela e dengue, estão diretamente relacionadas às condições básicas de saneamento e higiene
pessoal. Em Teresina, que enfrenta um surto de meningite viral, somente 10% da cidade tem
esgoto tratado, e o número de favelas cresce em taxas altas. Infelizmente gasta-se muito em
pesquisas, e pouco em medicina preventiva.
Estudos epidemiológicos também estabeleceram relações entre o colesterol e as doenças
do coração; o câncer com o fumo (apenas o tabaco causa 30% do todos os casos de câncer);
dietas ricas em gorduras e os tipos de câncer mais comuns (a dieta rica em gorduras aumenta as
chances de se contrair câncer de cólon em 10 vezes, o de mama em 5 vezes e o de próstata em 3,5
vezes); defeitos de nascimento com exposição à químicos (álcool, nicotina, e drogas testadas em
animais, como talidomida ou tegretol). Os mecanismos de transmissão do vírus da AIDS também
resultaram de análise epidemiológica. Estudos também demonstraram que pessoas com
problemas cardíacos que adotaram uma dieta vegetariana, pararam de fumar, exercitavam-se
moderadamente e usavam técnicas de relaxamento, apresentaram uma redução nas placas de
gordura nas artérias em pouco tempo. Numa pesquisa comparando povos de 65 países, os dados
indicaram que a gordura e a carne como sendo as maiores fontes de doenças (Vines, 1990; New
York Times, 1990). Estudos também demonstram que a arteriosclerose é rara entre os
vegetarianos (Stambler, 1958).
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O que cientistas importantes tem a dizer
“Enquanto pode ser dramático demonstrar nossa habilidade técnica em substituir artérias
entupidas, ou mesmo substituir um coração humano por um mecânico, a redução dos fatores de
risco são muito mais realísticos, baratos e humanitários para que se resolvam este sério quadro de
saúde” – Dr. David Nash, State University of New York Health Service Center (Nash, 1988).
“Embora hajam dados confiáveis que relacionam o benzeno à leucemia, cientistas tem sido
relutantes em categorizar o benzeno como um carcinogênico pois não há artigos publicados que
indiquem a incidência de leucemia em roedores” – American Statistician, August 1982 .
“A solução para dados conflituosos não será obtida pelo abandono dos dados humanos, mas pelo
exame minucioso das informações disponíveis nos humanos para identificar e eliminar as falhas
nos atuais metodologias e estudos, de modo que as estimativas de risco possam ser baseadas na
verdadeira população de referência, a humana” – Dr Matanoski, Johns Hopkins University
(Matanoski, 1988)
"Todo nosso conhecimento atual da medicina e cirurgia deriva da observação de humanos... Estas
observações nos permitiram descobrir a relação entre o fumo e o câncer, entre a dieta e a
arteriosclerose, entre o álcool e a cirrose, e muito mais...”- Dr. Bruno Fedi, diretor do City
Hospital of Terni, Itália (Fedi, 1986).
" A epidemiologia, ciência baseada na observação do homem e de eventos que ocorrem
espontaneamente que o afligem, poderia ter um papel decisivo na pesquisa do câncer, em certas
disfunções metabólicas adquiridas e em doenças degenerativas... Apesar disso, o método
epidemiológico é pouco utilizado e mal aplicado. O custo desta eficiente organização é,
obviamente, alto, mas poderia ser mais eficiente se o dinheiro não fosse gasto em pesquisas
inúteis, em alimentação de animais de laboratórios e em indústrias farmacêuticas, que estão mais
interessadas em criar novas doenças do que em acabar com as velhas” - Dr. Pietro Croce, in
Vivisection or Science: a choice to make (14)
“O estudo mais apropriado para a humanidade é o do homem” – Alexander Pope
3 - Estudos Clínicos e Autópsias
As descobertas provenientes a partir de estudos de casos clínicos em seres humanos, e do
acompanhamento destes casos, foram e são responsáveis por uma vasta gama de descobertas
cruciais para a saúde humana. Dr. Beddow Bayly, em seu famoso livro Clinical Medical
Discoveries, lista alguns avanços que estão mais relacionados ao trabalho clínico do que a
experimentação animal: anestesia, operações cirúrgicas para contornar defeitos cardíacos
congênitos, respiração artificial, cateterização cardíaca, o uso da iodina como antiséptico e no
tratamento da doença de Graves, o tratamento cirúrgico nos casos de dores insuportáveis, e
muitos instrumentos diagnósticos como o estetoscópio, eletrocardiograma e instrumentos de
mensuração de pressão saguínea (Croce, 1991).
A autópsia é uma ferramenta muito importante para a descoberta de detalhes acerca de
determinadas doenças. Foi muito utilizada para entender os mecanismos de ação de muitas
doenças que assolaram a humanidade.
A descoberta dos anestésicos e antisépticos foram muito importantes para os avanços na
cirurgia. O clorofórmio e o éter, por exemplo, foi descoberto nas “festas” por volta da metade do
século XIX. Aqui os casos de auto-experimentação são vários. Alguns foram testados em
animais, mais por costume do que por necessidade (vale lembrar que se o clorofórmio fosse
testado em cães, por exemplo, não o usaríamos em humanos, pois esta substância é tóxica para
cães).
O acompanhamento de casos clínicos pode servir de alternativas para o uso de animais,
uma vez que acompanham os quadros sintomáticos da doença no ser humano. Este
acompanhamento geralmente é associado à outras metodologias. Métodos de imageamento não
invasivos, através de CATscans, PETscans e MRI’s (veja quadro abaixo), vem ajudando na
detecção de anormalidades nos portadores de doenças como Alzheimer, epilepsia ou autismo.
Biópsias para cultivo de células ou tecidos ainda podem ajudar a entender ou a descobrir o
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comportamento de células cancerígenas. Os dados obtidos destes métodos podem auxiliar na
compreensão, combate e prevenção de muitas enfermidades.
CAT – utiliza computadores na reconstrução de imagens tridimensionais do corpo
humano através de raios - X.
MRI (Magnetic Ressonace Imaging) - permite a elaboração de mapas funcionais
do cérebro humano, assim como o diagnóstico de pacientes com epilepsia. Pode
também monitorar as mudanças de fluxo sanguíneo, e revelar novas introvisões do
mecanismo dos ataques. Esta técnica também revela anomalias no cérebro,
causadas por falhas do desenvolvimento psicológico de pacientes autistas.
PET (Positron Emission Tomograph) e SPECT (Single Photon Emission
Computerized Tomograph) - usados em estudos do mal de Parkinson, doença de
Alzheimer e Huntington, assim como outras doenças cerebrovasculares e
distúrbios psiquiátricos.
Na educação, o acompanhamento de casos clínicos e autópsias também podem servir de
alternativas para a medicina humana ou veterinária. Em várias universidades de vários países, o
uso de animais foi abolido, e, juntamente com a adoção de recursos tecnológicos e novas
abordagens na educação, os estudantes são expostos à quadros reais de pacientes humanos ou
não-humanos, que permitem que se estudem princípios fisiológicos, farmacológicos e
procedimentos cirúrgicos. Estas novas abordagens humanitárias desenvolvem no estudante o
senso de responsabilidade, compaixão, respeito e sensibilidade necessários para a formação de
um profissional de qualidade, uma vez que expõem o estudante às necessidades reais do paciente,
às suas qualidades (angústia, medo, etc.), e possibilita o acompanhamento após a intervenção.
4 - Simulações em Computadores e Modelos Matemáticos
Os computadores podem predizer as reações biológicas causadas por drogas novas,
baseadas no conhecimento de sua estrutura tridimensional, eletrônica e química. Uma destas
técnicas é a farmacologia quântica, onde o comportamento de drogas pode ser explicada por
cálculos matemáticos envolvendo o nível de energia das substâncias químicas. Este método, que
está se baseando cada vez mais em simulações em computadores, pode identificar drogas
promissoras sem qualquer teste em animais.
Os avanços nesta área tem se dado numa velocidade muito alta. As simulações em
computadores vêm substituindo o uso de animais em muitas universidades. Simulações
envolvendo efeitos de drogas em animais não-humanos, em humanos, modelos tridimensionais
de anatomia, viagens no interior de organismos, e outros recursos computacionais estão se
mostrando como alternativas mais humanitárias, que oferecem uma série de vantagens
(econômica, educacional e ética).
Simulações em computadores têm sido utilizados para a avaliação da toxicidade de
substâncias, eliminando os testes LD50 em animais. Agouron Pharmaceuticals e a Affymax
Research Institute tem sido os principais expoentes neste tipo de pesquisa, produzindo drogas
anti-cancerígenas e para a AIDS. A Vertex também desenvolveu, por este método, uma outra
droga no combate à AIDS e um agente anti-inflamatório que demonstra bons resultados para
vítimas de artrite reumatóide, e para vítimas de choques anafiláticos. Uma nova droga contra a
ansiedade, com efeitos colaterais mínimos, está sendo produzida pela Neurogen Corp. Isto são
apenas exemplos para ilustrar como estas simulações em computadores podem auxiliar na
descoberta de novas drogas, sem que passem pela experimentação animal, e, por conseguinte,
garantindo resultados mais seguros. Estudos recentes realizados pela Health Design Inc. (HDI)
demonstraram que os testes de toxicidade baseados em testes de simulação são confiáveis. A HDI
desenvolveu um programa de computador chamado TOPO-KAT, que pode ser aplicado para
avaliar a probabilidade de carcinogênese, teratogênese, irritação de pele e olhos e LD50 (Fadali,
1996).
5 - Culturas de Bactérias ou Protozoários
Bactérias e protozoários são organismos muito sensíveis à mutagênicos, o que lhes dá a
capacidade de identificar agentes cancerígenos. O teste Ames, que usa uma linhagem de
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Salmonella – bactéria causadora da febre tifóide – tem confirmado a correlação entre
mutagenecidade e carcinogenecidade. Bactérias e protozoários ainda podem ser utilizados para
estimar os níveis de vitaminas em estudos farmacológicos e toxicológicos, e também na
identificação de antibióticos.
6 - Tecnologia DNA recombinante
Esta tecnologia envolve a síntese de compostos protéicos através de manipulação genética
em bactérias como, por exemplo, Escherichia coli. Um gene responsável pela produção de uma
determinada substância é isolado e inserido à bagagem gênica destas bactérias, que passarão a
produzir esta substância. É uma tecnologia que tem sido utilizada para a produção de insulina,
por exemplo.
7 - Cromatografia
Este método separa e identifica componentes de drogas, amostras de sangue ou urina, por
exemplo. Pode ainda identificar químicos desconhecidos ou estranhos.
O HPLC (High Performance Liquid Chromatography) é uma destas tecnologias. Mais
recentemente, o aprimoramento desta técnica tem conseguido mensurar insulina por métodos que
não envolvem o uso de animais, e tem substituído o teste LD50 para a mensuração de antibióticos
anti-tumores como a dactinomicina (Sharpe, 1988).
8 - Espectometria de Massas
Técnica utilizada para identificar a localização de substâncias químicas no organismo
humano, sua concentração e reações.
9 - Medicina Preventiva
Sem sombra de dúvidas, práticas que estimulem os cuidados com a saúde podem reduzir
crucialmente a incidência de enfermidades no ser humano. Infelizmente, os gastos com a
medicina preventiva são muito menores do que os gastos com a pesquisa. Hábitos como o
tabagismo, alimentação rica em gorduras e carne, alcoolismo, exposição à químicos, e o stress,
são os maiores responsáveis pela maioria das doenças que assolam atualmente a humanidade,
principalmente os problemas cardíacos, derrames e câncer. Muitos destes problemas poderiam ser
evitados se adotássemos hábitos mais saudáveis em nossa vida. Uma mudança radical que exige o
abandono de vícios maléficos ao nosso organismo, e ao meio ambiente.
Hoje, os recursos tecnológicos, com suas conquistas sucessivas, associados à uma ciência
responsável e à uma medicina de prevenção e de pesquisa séria, podem muito bem abolir
completamente o uso de animais. Essa mudança deve ser dar o mais rapidamente possível. Para o
bem dos seres humanos e, porque não, dos animais.
10 - Prevenção X Medicamentos
A prevenção de doenças, através da adoção de medidas para uma vida mais saudável, não
traz lucros à indústria farmacêutica, daí a dificuldade em se combater a voracidade comercial dos
grandes laboratórios. Vale lembrar que os medicamentos meramente tentam curar sintomas, não
havendo previsão real de fim da terapia, com o sucesso da mesma. Dessa forma, há um ciclo
incessante de consumo de medicamentos, sempre almejando a tão sonhada cura. Chega-se ao
cúmulo de usar-se drogas para combater os efeitos indesejáveis de outras drogas, e assim por
diante.
As principais causas de morte, no Ocidente, são; derrames, distúrbios cardíacos, pressão
sangüínea elevada, câncer e doenças respiratórias, todos difíceis ou impossíveis de curar, porém
passíveis de prevenção.
O que cientístas importantes tem a dizer
“A necessidade de um relato claro e documentado das conquistas do passado provém do costume
predominante de autoridades médicas que apoiam e defendem a prática de experimentação em
61
animais vivos, distorcendo fatos históricos e criando a impressão no público que cada diagnóstico
médico e tratamento dependem da vivissecção... Felizmente, mesmo a menor leitura cuidadosa
das evidências disponíveis mostra a falsidade destas afirmações e fornecem a prova histórica do
valor supremo da observação e experimentação clínica quando contrastado com a duvidosa e
mesmo distorcida prática da experimentação animal” - Dr. M. Beddow Bayly, in Clinical
Medical Discoveries (1961).
3.2 - Métodos Alternativos na Educação
Quando fala-se em métodos alternativos, isso não significa completa abolição do uso de
animais, mesmo, por exemplo, no ensino da Medicina Veterinária. Os mesmos podem ser usados
para esse fim desde que não lhes sejam infligidos sofrimento ou dor. Sendo assim, também são
métodos alternativos a utilização do animal de estimação do próprio estudante em sua prática
clínica (oftalmologia e semiologia) e o treinamento de cirurgia de castração em animais de
abrigos e que serão posteriormente doados. Ainda pode se lançar mão de vídeos que exibem
quadros de intoxicação ou anafilaxia, obtidos a partir de casos reais dispensando a indução
experimental de tais situações e suas inúmeras repetições. Mas porque utilizar métodos
alternativos? Além de duradouros (animais de laboratórios morrem) e econômicos (animais se
alimentam e precisam de alguém que cuide deles), a maioria desse métodos, pode ser repetida
quantas vezes se desejar, sem que isso implique em custo adicional. Além disso tais métodos
permitem aos estudantes aprender no seu próprio ritmo, sem o estresse das aulas envolvendo
animais. Já que esse métodos frequentemente podem ser utilizados fora da sala de aula o
estudante pode adquirir prática maior do que se estivesse aprendendo com animais de laboratório.
O mais importante é que tais métodos são humanitários permitindo a educadores e estudantes
ensinar e aprender sem a necessidade de machucar ou matar outros seres.
Segue abaixo alguns exemplos de métodos que podem ser aplicados, sozinhos ou
combinados. É muito importante salientar que abaixo estão descritas somente uma ínfima parcela
de alternativas disponíveis, e que representam apenas alguns tipos de recurso. Nesta parte,
compilou-se apenas alguns exemplos para áreas específicas das ciências biológicas e da saúde,
humana e animal.
Anatomia Humana:
1. Estudo em cadáveres eticamente obtidos
2. Human Anatomy – programa interativo em CD-Rom que simula a dissecção humana,
com mais de 5.900 fotografias, de vários estágios de dissecção. O estudante pode
visualizar detalhes de partes que lhe interesse, e ser testado em seus conhecimentos sobre
anatomia. Preço: U$ 99 (individual); U$ 750 (para instituições, com material que o
acompanha).
3. BodyWorks – programa em computador. Detalhes minuciosos do corpo humano. O
estudante pode visualizar sistemas internos distintos, como o nervoso, muscular,
esquelético, digestivo, linfático, endócrino, cardiovascular e reprodutivo. Pode ainda
identificar tecidos e órgãos, além de relacionar as funções do corpo à vida. Inclui ainda
uma sessão especial de saúde, com informações de primeiros socorros, saúde geral, lesões
de esportes e doenças comuns. O Bodyworks é uma excelente ferramenta para estudantes
de medicina. Preço: £ 59,95
4. ADAM Scholar Series – O Animated Dissection of Anatomy for Medicine (ADAM) é um
software multimídia. O ADAM constitui-se de séries, como o ADAM Comprehensive
(destinado à compreensão da anatomia humana, para estudantes de graduação ou
profissionais); ADAM Essentials (relaciona anatomia humana às funções do organismo); e
o ADAM Interactive Physiology (integra a anatomia à fisiologia, relacionando estruturas e
funções). Os programas incluem testes e vídeos quick time.
5. Radiologic Anatomy – Este programa apresenta uma visão de anatomia humana de uma
perspectiva radiológica. Ele inclui a anatomia normal, e ainda uma introdução a
patologias radiológicas, e técnicas radiológicas (em video clips). Preço: U$ 99
6. Modelos tridimensionais – Modelos em materiais resistentes e detalhados. Estas
alternativas oferecem uma grande variedade de modelos.
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Anatomia Animal
1. Veterinary neuroanatomy: An interactive atlas of the brain and neural pathways
(Neuroanatomia Veterinária: Um atlas interativo do cérebro e trajetos neurais) - Trata-se
de um programa de informática para Macintosh, comercializada pela S. L. Cummings, e
que se constitui de imagens digitais coloridas do cérebro e tronco encefálico de ovelha,
além de cortes histológicos corados do cérebro canino. Os trajetos neurais são
visualizados através de programas tutoriais de animação, de modo interativo. Cortes
histológicos ou porções macroscópicas podem ser visualizados a partir de qualquer
ângulo.
2. Fish Guts - Trata-se de programa de informática para Macintosh ou Windows
comercializado por Andrew Kane. É ferramenta para treinamento da anatomia e patologia
de peixes, utilizando recursos multimídia. Preço: U$ 200
3. Cat Dissection – vídeo de uma dissecção de um gato, com narração dos detalhes
observados, e com legendas. Preço: U$ 219
4. The Dog: functional and comparative anatomy – video dividido em partes detalhadas da
anatomia do cão, principalmente na parte locomotora.
5. Digidiss – programa interativo em CD-Rom. Detalha a dissecção de ratos, tubarões, sapos
e galinhas. Relaciona a anatomia com fisiologia, histologia, sistemática e evolução.
Fotografias de alta resolução e vídeos quick time são uma das características deste
programa.
6. DissectionWorks – programa interativo de computador de alta qualidade. Dissecção de
minhocas, lagostas, peixes, sapos e fetos de suínos. Preço: U$ 99,95
7. Modelos tridimensionais – Modelos em materiais resistentes e detalhados. Estas
alternativas oferecem uma grande variedade de modelos.
Fisiologia Humana
1. Experiments in Human Physiology – programa interativo de computador. Ritmo
cardíaco, respiratório, temperatura, tempo de resposta, e outros parâmetros obtidos dos
próprios estudantes podem ser estudados neste programa. Muitas variáveis podem ser
analisadas com este software. Acompanham sensores, manual, timer, etc. Preço: U$
275,95
2. Exercise Physiology – simulações de importantes medidas fisiológicas, principalmente
relacionadas à performance cárdio-respiratória. Preço: £ 50
3. MacPee – programa que analisa a interação entre a circulação, funçã renal, liquido
corpóreo e equilíbrio eletrolítico. Registra níveis de sódio, potássio, uréia, creatinina,
albumina, hemoglobina, volume celular, pressão atrial direita, peso corpóreo, e outros.
Simula condições como diabetes, por exemplo. Preço: U$ 225
Fisiologia animal
1. Anesthesia and Analgesia of Laboratory Animals (Anestesia e Analgesia de Animais
de Laboratório). - Trata-se de um programa de informática para Macintosh
comercializada por Richard T. Fosse e que contém programas interativos qur ensinam
aspectos da anestesia inalatória e injetável, bem como analgesia em camundongos, ratos,
porquinhos da índia. Preço: U$ 40 à U$ 45
2. Effect of neuroctomies in the horse (Efeitos das neurectomias no equino) - Trata-se de
um vídeo disponibilizado pela Universidade do Estado de Ohio (Escola de Medicina
Veterinária). Constitui-se de dois vídeos demonstrando: 1.Efeito das neurectomias distais
ao plexo braquial; 2.Efeito das neurectomias dos principais nervos do plexo lombo-sacro.
Preço: U$ 15 a 50
3. Introduction to Acute Inflammation (Introdução à Inflamação Aguda) - Trata-se
de programa de informática para Macintosh, desenvolvido pelo Médico Veterinário B. R.
Weeks e colaboradores, e ensina conceitos de inflamação e mediadores da resposta
inflamatória e alterações vasculares observadas no processo inflamatório. Utiliza gráficos
e animação e contém um teste de revisão.
4. Cardiolab - Trata-se de programa de informática para IBM ou compatível comercializada
pela Biosoft. Simula os efeitos de drogas de ação cardiovascular em animais anestesiados.
Frequencia cardíaca e valores de pressão sanguínea são utilizados para monitorar
alterações ocorridas após a administração de drogas agonistas, antagonistas ou
desconhecidas. Preço: U$199
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5. Cardiovascular Laboratory Videodisc Simulation (Simulação Cardiovascular
Laboratorial) - Trata-se de um programa de informática para IBM ou compatível, em
Vídeodisco. Simula a fisiologia cardiovascular e respiratória do cão de laboratório
incluindo preparação do animal e resultados de demonstrações fisiológicas e
farmacológicas. Preço: U$ 50 a 800
Cirurgia Humana
1. Prática clínica em pacientes
2. Prática em cadáveres eticamente obtidos
3. P.O.P Trainer – simulador de técnicas cirúrgicas. Um aparelho que permite que órgãos
obtidos de abatedouros sejam perfusionados constantemente com líquido, e que possibilite
o treinamento de técnica de cirurgia abdominal, vascular, ginecológica, urológica e
torácica. O controle de hemorragias pode ser treinado neste aparelho.
4. Surgical Training Board – produto que permite a prática de incisão e sutura.
5. Suture Practice Arm – modelo de braço humano para prática de incisão e sutura.
6. Simulator/Media Based Teaching of Basic Surgical Skills – Trata-se de um
modelo/simulador desenvolvido pelo médico veterinário Daniel D. Smeak. Consiste de
estrutura feita de espuma, com corte em V na superfície, permitindo incisões cirúrgicas, e
também há fitas vermelhas simulando vasos sangrando.
7. Emergency Surgical Procedures – CD-Rom interativo. Possibilita o estudo de
toracotomia, pericardiotomia e outros procedimentos cirúrgicos. O estudante pode ver os
procedimentos em vídeos, passo a passo, em velocidades controladas por ele mesmo. Os
vídeos são narrados, e exercícios são realizados, levando em consideração aspectos de
tempo, equipamento, extensão de cada procedimento, etc.. Qualidade audio-visual
excelente.
8. Placenta – permite a prática de microcirurgia vascular
9. Instituto Berkeley - O Instituto Berkley é um representante de equipamentos de CTI e
centro cirúrgico, foi fundado em 1994 e sua sede fica em Botafogo, Rio de Janeiro. Em
1998 trouxe para o Brasil o Simulador Real de Paciente, que é capaz de treinar o
profissional de forma interativa, simulando casos médicos reais, sejam em ambientes
cirúrgicos, em uma sala de trauma ou leito de tratamento intensivo.
Neste simulador, chamado de SAM, os médicos podem treinar intubação, esofagostomia,
anestesia inalatória, e manobras de emergência dispensando o uso de animais.
Cirurgia Animal
1. Prática clínica em pacientes
2. Prática em cadáveres éticamente obtidos
3. Sawbones for dogs and horse orthopaedic procedures – modelos realísticos de ossos
caninos e equinos, que possibilitam o aprendizado de operações ortopédicas
4. Dasie - Dog Abdominal Surrogate for Instructional Exercises (substituto do abdômen
canino para instrução cirúrgica) - Trata-se de um modelo desenvolvido pela DAISE
International para simular a prática de cirurgia abdominal em geral, mais especificamente
procedimentos cirúrgicos gastrointestinais e urogenitais. Preço: U$ 15 a 50
5. Plastic parenchimal abdominal organ models (Modelos plásticos de órgãos abdominais
parenquimatosos) - Trata-se de modelos desenvolvidos pela médica veterinária Cathy L.
Greenfield para prática cirúrgica no baço, rim e fígado de cães. Preço: U$ 20
6. Sharpoint Practice Rat - Trata-se de um simulador desenvolvido pela Surgical
Specialties Corporation para aprendizado e prática de microcirurgia, incluindo
microcirurgia vascular e microneurocirurgia.
Bioquímica
1. Biochemical Simulations: Computer Simulation Of Laboratory Exercises
(Simulações Bioquímicas: Simulação Computadorizada de Exercícios Laboratoriais) -
Trata-se de um programa de informática para IBM ou compatível, comercializada por
David A. Bender. Vários exercícios de bioquímica são simulados. Preço: U$ 25
64
2. ENZKIN: Enzyme Kinetics - Trata-se de um programa de informática para Apple II,
comercializada pela Universidade de Iowa e pela CONDUIT. O programa oferece
resultados rápidos e realísticos de reações catalizadas por enzimas. Preço: U$ 60 a 175
Farmacologia
1. KinetiClass - Trata-se de programa de informática para Macintosh desenvolvido por Jeff
Wilck e traz demonstrações de farmacocinética.
2. Drug Metabolism – Vídeo que aborda absorção, distribuição, biotransformação e
excreção de drogas. Também trata da transferência de drogas pela placenta, como as
diferenças individuais afetam o metabolismo, etc.
3. CalcSyn – programa de computador que analisa a combinação de drogas, com grande
capacidade de análise e variabilidade. Preço: U$ 399
4. Cardiovascular Pharmacology – programa de computador que aborda os efeitos das
drogas no sistema cardíaco. Apresenta simulações de procedimentos e execuções de
experimentos.
5. Basic Pharmacokinetics – uma coleção de 5 simulações em computadores, abordando
conceitos de farmacologia e fisiologia. Preço: U$ 60 para os 5 programas
Manuseio animal
1. Koken Rat - Trata-se de um modelo de rato comercializado por Peninsula Laboratories
Inc, que permite aos alunos aprender e praticar punção venosa e intubação gástrica. Um
modelo de coelho também está disponível. Preço: U$ 175
3.3 - Métodos Alternativos na Pesquisa
Eytex
Produzido pela National Testing Corp., em Palm Springs, Califórnia. O Eytex é um
procedimento in vitro que mede a irritação ocular através de sistema de alteração protéica. Uma
proteína vegetal obtida da semente de feijão mimetiza a reação da córnea a substâncias estranhas.
Tal método é usado pela Avon como alternativa ao cruel teste Draize.
Skintex
Método in vitro para avaliar irritação cutânea, usando a casca da semente de abóbora para
mimetizar a reação de substâncias estranhas sobre a pele humana (tanto o Eytex como Skintex
podem testar 5.000 materiais diferentes).
EpiPack
Produzido pela Clonetics, em San Diego, Califórnia. O EpiPack utiliza tecido humano
clonado para testar substâncias potencialmente tóxicas.
Neutral Red Bioassay
Desenvolvido pela Universidade Rockefeller e divulgado pela Clonetics, o Neutral Red
Bioassay consiste de células humanas em cultura usadas para computar a absorção de um
pigmento hidrossolúvel que mede toxicidade relativa.
Testskin
Produzido pela Organogenesis, em Cambridge, Massachusetts; o Testskin utiliza pele
humana cultivada em saco plástico estéril, podendo ser usado para medir o grau de irritação
cutânea (método usado pela Avon, Amway, e Estee Lauder).
TOPKAT
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Produzido pela Health Design Inc., em Rochester, Nova York. O TOPKAT é um programa de
computador que avalia toxicidade, mutagenicidade, carcinogenicidade e teratogenicidade
(método utilizado pelo Exército dos Estados Unidos, pela Agência de Proteção Ambiental, e pela
FDA).
Ames Test
Teste para avaliação de carcinogenicidade, através de cultura de Salmonella typhimurium e
enzimas. Pode detectar 156 carcinógenos animais (90% de um total de 174 substâncias testadas).
Agarose Diffusion Method (Método de Difusão em Agarose)
Teste para avaliação da toxicidade de elementos plásticos e sintéticos empregados na
constituição de equipamentos médicos tais como valvas cardíacas, articulações artificiais e kits
para infusão intravenosa. Caso o material testado mostre-se irritante, uma área de células mortas
aparece ao redor da substância testada.
Alternativa ao teste de DL 50
O professor Heinrich Koch do Depatarmento de Química Farmacêutica da Universidade
de Viena, disse: “Estávamos procurando métodos alternativos tão significativos quanto os
experimentos em animais, mas sem usar criaturas vivas, sensíveis à dor.”
O método encontrado foi o uso de levedo de cerveja comum, em vez de ratos,
camundongos e cobaias para determinar a toxicidade de medicamentos e outras substâncias
químicas. A medida que indica dose letal de uma substância (DL 50) – concentração que mataria
a metade dos animais testados – é a mesma concentração que impede metade das células do
levedo de se reproduzirem.
Fonte: World Monitor Magazine
Transplante de Pele para Tratamento de Queimados e Vitiligo
Uma técnica desenvolvida por um grupo de médicos e pesquisadores do Hospital
Clementino Fraga Filho, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, consiste em retirar de uma
pessoa uma pequena amostra da pele, não mais que 2cm quadrados, submetê-la a alguns
processos químicos e depois cultivá-la por algumas semanas numa solução contendo soro fetal
bovino. A seguir, é só esperar que cresça para que as novas placas, bem maior, sejam implantadas
no próprio doador. A pele é da mesma cor, com a mesma estrutura genética, sem risco de
rejeição, sem ter que esperar um doador.
A mesma técnica permite o cultivo de células de cartilagem, os condroblastos, para tratar
a artrose e recuperar acidentados e atletas. Depois de multiplicados “in vitro”, os condroblastos
são inoculados dentro de um molde, cuja forma corresponde a parte comprometida. “Uma
pequena incisão na orelha é suficiente para se conseguir cartilagem para implantar em qualquer
parte do corpo”, explica Radovan.
• Banco de Células da UFRJ: 564-2010 •Instituto de Ciências Biomédicas: 590-8736
(Fonte: Saúde Medicina; fevereiro, 1999)
A opção ao Soro Antiofídico
O soro antiofídico, antídoto para veneno de cobras obtido através de um processo caro e
complicado, envolvendo o sofrimento e martírio de cavalos criados exclusivamente para esse fim,
já pode ser considerado ultrapassado pela confirmação dos efeitos de algumas plantas. Os estudos
feitos em laboratório, por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, já comprovaram
os efeitos neutralizantes de seis plantas encontradas em abundância no Brasil, mas até agora
66
nenhuma indústria farmacêutica se mostrou interessada em produzir um medicamento antiofídico
de origem vegetal.
(Fonte: Jornal do Brasil; 13/10/91)
Teste Draize
Pesquisadores canadenses conseguiram criar uma córnea artificial com aparência e
funcionamento muito semelhantes aos da natural. A córnea artificial foi feita com células
humanas e desenvolvida com técnicas de engenharia genética.
Em estudo publicado na revista científica americana Science, os cientistas disseram que
podem produzir córneas a partir de uma pequena amostra de células humanas. Eles ressaltam que
ainda levará alguns anos antes que seres humanos possam se beneficiar da córnea feita em
laboratório. O implante, porém, já tem uma aplicação imediata: testar a sensibilidade dos olhos a
medicamentos e produtos químicos, livrando os coelhos da crueldade imposta pelo teste Draize.
Referências:
Croce, P. Vivisection or Science: A Choice to Make. CIVIS. Klosters, Switzerland. 1991.
D. Nash. Physicians Committee for Responsible Medicine, Press Release 1988, October 31;
Postgraduate Medicine, 1988, July, 231-234
E. Müller-Schweinitzer. Trends in Pharmacological Sciences, 1988, vol.9, 221-223
Fadali, M. Animal Experimentation: A Harvest of Shame. Hidden Spring Press, 1996.
Fedi, B. Abstract from various TV interviews and articles, 1986. Reprinted in 1000 Doctors
Against Vivisection. CIVIS. New York.1989.
G.M.L. Gyte & J.R.B. Williams, ATLA, 1985, vol.13, 38-47
G. Matanoski. Epidemiology & Health Risk Assessment. Ed. L.Gordis, Oxford University
press, 1988
G. Vines, New Scientist, 1990, December 8, 39-43
J. Stambler in Cerebral Vascular Diseases (2nd Conference), C.H. Millikan (ed.) (Grune &
Stratton, 1958)
Lancet, 887, 22 de abril de 1972
Malakoff, D. Alternatives to animals urged for producing antibodies. Science; 284:523-540,
1999
New York Times, 1990, May 8
Saxby, S.J.Y. Perspective on in vitro production of monoclonal antibodies. Lab Animal,
Autumn 1999
Sharpe, R. The Cruel Deception. Thorsons Publishing Group, 1988.
T. Watanabe et al., Journal of Immunology, 1974, vol.113, 608-616
67
IV – 3R’s
Análise Critica ao Movimento dos 3Rs e aos Comitês de Ética
4.1. A origem dos 3 R’s:
A história oficialmente aceita para a origem do conceito dos Três Rs de Russel e Burch, -
replacement, reduction e refinement (substituição, redução e refinamento da pesquisa em
animais) foi da proposta feita em 1954 por Charles Hume, fundador da Universities Federation
for Animal Welfare (UFAW) no Reino Unido, cujo suposto objetivo era buscar por técnicas
“mais humanas” na experimentação animal. O projeto era gerenciado por um comitê sob direção
do Sr. Peter Medawar, com a presença de William Lane Petter, então secretario da Sociedade de
Defesa da Pesquisa. A idéia se difundiu internacionalmente quando Christine Stevens, do Animal
Welfare Institute (AWI) dos EUA, forneceu apoio financeiro e fez freqüentes visitas a UFAW,
enquanto os estudos eram conduzidos (Balls et al., 1995).
W.M.S. Russel e R.L. Burch foram os responsáveis por divulgar o conceito, através de
seu livro, The Principle of Humane Experimental Technique (Russel & Burch, 1959), um livro de
referências para vivisseccionistas considerado válido até os dias de hoje. Neste livro Russel e
Burch apresentam o conceito dos Três Rs. Mas o que exatamente diz os Três Rs? Eles definiram
a substituição (replacement) como “qualquer método científico que empregue material sem
sensibilidade que possa substituir métodos que usem vertebrados vivos conscientes,
na...experimentação animal”; a redução foi definida como diminuir “o número de animais usados
para se obter a informação de uma amostra com (maior) precisão”; e refinamento como qualquer
desenvolvimento em prol da “diminuição na incidência ou severidade de procedimentos
desumanos aplicados àqueles animais que devem ser usados”.
Não existem dados precisos que revelem a história anterior do conceito dos Três Rs, nem
a data exata em que passou a ser difundido (Russel, 1995), mas foi algo entre 1955 e 1957. A
UFAW realizou um simpósio em Técnicas “Humanas” no Laboratório, em 1957 (Anon, 1957), e
foi então que o conceito dos Três Rs foi primeiramente discutido em público. Mais informações
sobre a origem do conceito dos Três Rs pode ser encontrado em um trecho de fala de Charles
Hume em Washington, em Outubro de 1959, onde ele diz que o The Principle of Humane
Experimental Technique “merece tornar-se um clássico para todos os tempos, e temos grandes
esperanças que ele inaugure um novo campo de estudos sistemáticos. Esperamos que outros o
sigam, e que um estudo generalizado em uma técnica humana, como um componente sistemático
da metodologia de pesquisa, venha a se considerar essencial para a formação do biólogo.”
(Hume,1962).
A “vontade” em aplicar o “critério humano” em pesquisas vivisseccionistas está expresso
no The Principle of Humane Experimental Technique na página 157, onde se lê: “Se tivermos de
utilizar um critério para escolha de experimentos para conduzir, o critério de humanidade é o
melhor que teríamos possibilidade de inventar... Os maiores experimentos científicos tiveram
sempre sido o mais humano e o mais atrativos esteticamente, levando a um senso de beleza e
elegância que são a essência da ciência melhor sucedida.” Desvinculando do contexto
vivisseccionista em que esta frase foi dita, os autores tem toda a razão: a melhor pesquisa, a que
produz melhores resultados, é aquela conduzida humanamente; isto é claro não se aplica ao
contexto, uma vez que utilizar animais sensíveis saudáveis para intervenções fisiológicas não
pode de forma alguma ser considerado “atrativos esteticamente”, nem se pode considerar que isto
possua qualquer “senso de beleza e elegância”.
4.2 - A evolução (?) dos Três R’s:
Apesar da iniciativa deste livro haver sido considerada “original e erudita”, e muitos
cientistas de renome haverem se envolvido na discussão, o que finalmente conduziu à sua
publicação, o livro de Russel e Burch teve um pequeno impacto inicial no pensamento e prática
68
nos primeiros anos após sua publicação. De fato, seus autores ficaram 30 anos sem se comunicar,
até que fosse interesse de cientistas passarem a aplicar seus conceitos (Balls et al., 1995),
provavelmente forçados pela opinião publica que passava a criticar mais severamente a
vivissecção.
Em 1969, Dorothy Hegarty fundou o Fund for the Replacement of Animals in Medical
Experiments (FRAME); apesar da denominação “Replacement” (substituição), a entidade não era
completamente abolicionista, apoiando a perspectiva de Russel e Burch, de que benefícios
humanitários e científicos resultariam da aplicação do conceito dos Três Rs. O FRAME não
refutava os outros dois Rs: Apesar de haver decidido por focalizar suas atividades primariamente
no replacement como o alvo máximo, a longo termo, viu a redução e o refinamento como
realizáveis a curto prazo (Annet, 1995). Talvez com uma proposta inicial bem intencionada, o
FRAME caiu na armadilha dos Três Rs, no qual jamais replacement poderá ser aplicado,
enquanto os outros dois Rs continuarem a existir e serem considerados necessários.
O FRAME buscou se estabelecer no meio do caminho entre os movimentos antivivisseccionistas
e os defensores da pesquisa baseada no sacrifício de animais, no entanto,
buscando tal posição, acabou se inflamando na exaltação à vivissecção, e contrariamente ao que
talvez fossem seus objetivos originais, não impediram o avanço da vivissecção, mas sim a
colocaram em um pedestal ainda mais alto do que haviam feito os próprios vivisseccionistas. Por
esta experiência, todos os movimentos que se preocupassem com a boa ciência ou com os direitos
dos animais de fato deveriam se opor aos Três Rs até com mais força do que à própria
vivissecção, se é que os dois podem ser distinguidos. Os Três Rs exaltam a vivissecção a tal
ponto que a segunda principal premissa contra a boa pesquisa é o direito dos animais (a primeira
é a de que não existem avanços científicos que não derivem da experimentação animal).
Nos anos 70 ocorreram eventos importantes. Por exemplo, os dados oficiais na Grã-Bretanha
registram uma queda substancial no uso de animais de laboratório na primeira parte da década, o
que foi influenciado diretamente pela forte participação da opinião publica. Os Três Rs neste caso
serviram para acalmar a opinião publica sem, no entanto, impedir os lucros da indústria
farmacêutica e adjacentes; os dados oficiais podiam ou não corresponder à realidade, fato é que a
vivissecção continuava agora com menos protesto da população. Por exemplo, com aplausos da
população, foi criado o Animal Welfare Year em 1976, organizado para marcar o centenário do
Cruelty to Animals Act 1876 (Anon, 1876), a lei na qual a experimentação em animais é
permitida e regulamentada. A lei britânica diz que todas “as alternativas para animais usados em
laboratórios de vivisseção devem ser testadas em animais antes de que elas possam ser chamadas
alternativas”. Ou seja, a validação só se dá mediante a vivissecção, que na verdade ninguém
validou. E a alternativa, nos termos em que é considerada, conduzem à vivissecção.
Em consequência desta lei, foi então formado o primeiro grande comitê, o Committee for the
Reform of Animal Experimentation (CRAE), que tinha como principal meta a reforma do próprio
Act de 1876 (Hollands, 1995). O conceito de alternativas passou a ser também considerado nos
EUA, por influencia do Animal Welfare Institute ( que distribuiu o livro de Russel e Burch), da
United Action for Animals, e a Humane Society dos EUA.
Mais ou menos na mesma época, o fisiologista David Smyth preparava uma revisão sobre os
Três Rs para a Research Defense Society, o que levou à publicação de outro livro que marca a
história da vivissecção, o Alternatives to Animal Experiments (Smyth, 1978). Apesar do titulo
sugerir para uma mente saudável que o livro trata de substituir animais em experimentos, seja por
motivos científicos, seja por motivos éticos, o autor trata de dar uma explicação bastante
divergente sobre a palavra “alternativa”, que é largamente aceita atualmente pelos defensores dos
Três Rs:
“Todo o procedimento que puder substituir completamente a necessidade de animais em
experimentos, reduzir o número de animais requeridos, ou diminuir a quantidade de dor ou
estresse sofrido por animais no encontro às necessidades essenciais do homem e outros animais.”
Desta forma, qualificando a vivissecção como um “mal necessário”, o movimento dos Três Rs
não apenas não a detém, como a exalta e promove.
Um grande número de mudanças particularmente importantes passou a ter lugar no inicio dos
anos 80. Nos EUA, o ativista pelo direito dos animais Henry Spira lançou uma campanha para
abolir o teste Draize de irritação ocular, com o forte apoio de uma coalizão de 400 organizações
de defesa dos animais. Na Europa, iniciaram-se discussões que mais tarde conduziram à
formação do Conselho da Convenção Européia para a Proteção de Animais Vertebrados Usados
para a Experiências e Outros Propósitos Científicos (Anon, 1986a) e o conselho Diretivo
86/609/ECC de 24 de novembro de 1986 na Aproximação das Leis, Regulações e Provisões
69
Administrativas dos Estados Membros Atenciosos à Proteção dos Animais Usados na
Experimentação e Outros Propósitos Científicos(Anon, 1986b).
Enquanto isso, a secretária da British Home, Merlyn Rees, pôs-se disposta a considerar ouvir
as propostas para a reforma do Ato de 1976; mas fez a ressalva de somente ouvir as propostas das
organizações de “bem-estar animal” que concordassem com uma política em consenso; todos os
demais movimentos que não estivessem dispostos a aceitar a nova política da vivissecção foram
desconsiderados. Uma aliança foi então formada entre a CRAE, FRAME e a British Veterinary
Association (BVA). Um conjunto de propostas da CRAE/FRAME/BVA foi submetida em 1983
(Anon, 1983a), o que muito influenciou o pensamento do governo britânico, como revelaram dois
White Papers (Anon, 1983b; 1985).
O White Paper de 1985 contém um comentário quanto ao conceito dos Três Rs, nestas
palavras: “Experimentos em animais que são desnecessários utiliza um grande número de
animais desnecessariamente, ou são desnecessariamente dolorosos; eles são indefensíveis.”
Justamente este permanece sendo o discurso vivisseccionista até a atualidade: Cabe aqui ressaltar
que não existe forma de se determinar quais experimentos são necessários e quais são os
desnecessários, até porque o código moral determina que isto cabe a cada cientista, segundo seus
próprios interesses, julgar. “Desnecessariamente dolorosos” também é um termo estúpido, porque
indubitavelmente a dor se dá no sujeito de estudo, e jamais no experimentador; jamais um
experimento será considerado “desnecessariamente doloroso”, porque quem julga não é quem
sofrerá o dor, mas quando muito quem tem interesse que este seja conduzido. Considerando que
alguns experimentos podem ser considerados “indefensíveis” é uma forma diferente de dizer que
outros tantos são “defensíveis”.
Membros da aliança CRAE/FRAME/BVA foram convidados para atuar como consultores do
governo britânico durante a preparação e passagem pelo parlamento do Animals (Scientific
Procedures) Act 1986 (Anon, 1986c) e substituíram o Ato de 1876. O Ato de 1986 estabeleceu
um projeto e sistema de licença pessoal, bem como um comitê de procedimentos animal (APC)
independente, que tem o pretenso poder de aconselhar o governo, caso procurados ou não.
O Diretivo 86/609/EEC (Anon, 1986b) exprime sua base nos Três Rs no artigo 7, como
segue:
7.2. Um experimento não deve ser levado a cabo se houver um outro método satisfatório para
buscar-se o resultado almejado, sem supor o uso de um animal, que seja razoável e
praticavelmente útil.
7.3. Quando um experimento tiver de ser realizado, a escolha das espécies deve ser
cuidadosamente planejada e, se necessário, explicada para as autoridades. Na escolha entre
experimentos, aqueles que utilizarem o menor número possível de animais, envolvendo animais
com os mais baixos graus de sensibilidade neurofisiologica, causando menos dor, sofrimento,
estresse ou danos duradouros e que sejam mais prováveis de proporcionar resultados satisfatórios
devem ser selecionados.
7.4. Todos os experimentos devem ser planejados para impedir o estresse e dor e sofrimento
desnecessários para os animais experimentais.
Ora, qualquer método pode ser considerado satisfatório ou não, dependendo apenas do
interesse do cientista e de sua corporação, inclusive a escolha por não realizar determinada
pesquisa é muitas vezes a melhor escolha. O cientista possui o direito de escolher com quais
animais realizará sua pesquisa, usando seus próprios critérios, inclusive o “costume” e as
preferências pessoais. Qualquer obrigação da pesquisa produzir resultados satisfatórios é rebatida
por cientistas vivisseccionistas fazendo uso da própria argumentação dos cientistas antivivisseccionistas,
de que os resultados produzidos em animais não podem ser aplicados ao caso
humano, e de fato o uso deste argumento é comum. O parágrafo que diz que “todos os
experimentos devem ser planejados para impedir o estresse e dor e sofrimento desnecessários
para os animais experimentais” pode ser, e frequentemente é, rebatido pela mera argumentação
de que o sofrimento foi minimizado (pois poderia ser pior), e que o sofrimento que os animais
sofrem é “necessário”, pois de outra forma os resultados do experimento “poderiam ser
influenciados”. Esta lei possui tantas brechas que serve apenas aos interesses da vivissecção, em
argumentação contra os anti-vivisseccionistas, se sua pretensão é o bem-estar animal ela é nula.
Leis similares foram usadas no Conselho da Convenção Européia (Anon,1986a). Na
Alemanha, quando a legislação nacional foi alterada em 1987 para ir de encontro aos
requerimentos do Diretivo 86/609/EEC, uma cláusula foi inserida, que requer do governo federal
a apresentação de um relatório (o Tierschutzbericht) para o Bundestag a cada dois anos, para
70
documentar o progresso feito com respeito à implementação de medidas de proteção animal. Este
relatório foi estabelecido como uma mera formalidade para que a pesquisa na Alemanha
continuasse exatamente da mesma forma, só que desta vez sem a interferência de supostos
protetores de animais. De acordo com o ato alemão de proteção animal (o Tierschutzgesetz),
ninguém tem permissão de causar dor, sofrimento ou danos a um animal “exceto em alguns
casos”. O problema destas leis estabelecidas por vivisseccionistas, e apoiadas por certos grupos
auto-denominados anti-vivisseccionistas, é que as proibições são sempre ressalvadas por palavras
como “exceto”, o que a invalidam, já que qualquer argumentação serve para incluir qualquer
experimento dentro da ressalva.
Por exemplo, esta legislação acima citada é bem parecida com o Diretivo 86/609/EEC, com
uma provisão adicional que proíbe a experimentação em animais para o desenvolvimento de
produtos do tabaco, detergentes de lavar louça e cosméticos para estética. Proibir este tipo de
pesquisa apenas, qualificando seus frutos como sendo fúteis e desnecessários, é o mesmo que
valorizar os frutos de outras pesquisas, como a da indústria farmacêutica, por exemplo, como útil
e necessária. As concessões feitas pela vivissecção na realidade possuem valor contrário ao que
parecem, já que ao admitir que certos experimentos serão proibidos, admite-se que tantos outros
são mais importantes e necessários. A concessão neste caso não é uma manifestação de boa
vontade, mas sim uma forma de impedir os crescentes protestos pedindo pelo fim da
experimentação animal. Os Três Rs são uma arma poderosa contra a anti-vivissecção.
Na Holanda, o Act on Animal Experimentation foi adotado em 1977. Os ítens incluídos neste
Ato que são de importância com respeito à implementação dos Três Rs são:
a) Registro obrigatório do uso animal.
b) Proibição do uso de animais para um propósito que possa ser preenchido igualmente
usando-se métodos In vitro ou outro procedimento sem animais.
c) O requerimento de que pessoas envolvidas na experimentação animal devem mostrar
serem competentes. A educação e o treinamento no campo da ciência dos animais de laboratório,
incluindo ética e alternativas, é obrigatório para cientistas e técnicos que manipulem animais em
laboratórios.
d) O requerimento de que instituições que experimentem em animais sejam licenciadas.
e) O requerimento de que a referida instituição esteja vinculada a um escritório certificado
de bem-estar animal.
f) O uso obrigatório de anestesia e analgésicos quando se puder prever dor no experimento.
Seu uso só pode ser omitido caso possa comprometer o propósito do experimento (Balls et al.,
1995).
Apesar de a lei holandesa ser a segunda mais bem fiscalizada do mundo (a primeira é a
inglesa), podemos verificar brechas na lei que a invalidam quase que completamente: instituições
credenciadas não servem de nada se a fiscalização não tem o direito de vistoriar os locais de
confinamento e experimentação sem avisar com antecedência os responsáveis pelo laboratório.
Isto porque mesmo que sejam diariamente cometidas irregularidades, estas não podem ser
observadas pelos fiscais, que verificam um “terreno preparado”, um cenário estéticamente
agradável, quando de sua fiscalização. Nem o vínculo entre a instituição e um órgão de bem-estar
animal, nem o treinamento conferido aos cientistas e técnicos é garantia de que os animais serão
tratados com o devido respeito. Se realmente estas pessoas fossem ensinadas sobre “alternativas e
ética”, se oporiam com veemência à experimentação animal. Por último, no item “f” podemos
observar um bom exemplo de dubiedade da lei, ao passo que a lei cita que o uso de anestesia e
analgésicos é obrigatório, por outro lado ela cita que seu uso pode ser omitido em certos casos.
O Ato de 1977 foi recentemente revisado; as novas emendas do Ato incluem provisões
relacionadas com os comitês de experimentação animal (AECs) (Balls et al., 1995). Este comitês
de ética são o maior triunfo dos 3Rs, e por conseguinte, da própria vivissecção, como será
discutido mais à frente.
Para exemplificar o quanto os Três Rs têm contribuído para a continuidade da vivissecção,
veja o que apenas o Act on Animal Experimentation ocasionou na Holanda: na Universidade de
Utrecht, em 1983, foi montado um departamento de Ciência de Animais de Laboratório, cujos
objetivos era estabelecer programas de pesquisa e educação especificamente direcionadas para a
implementação futura dos Três Rs (vide vivissecção). Neste estabelecimento são fornecidos
cursos para que os cientistas se tornem vivissectores com maior poder de argumentação.
Em 1987, a Dutch Alternatives to Animal Experiments Platform foi estabelecida pelo governo
holandês, industria e organizações de “bem-estar” animal cooperando para estimular os Três Rs,
71
e por conseguinte, a vivissecção. Seu objetivo alegado é proporcionar ao governo projetos de
pesquisa concernentes com o desenvolvimento de alternativas. The Netherland Centre
Alternatives to Animal Use (NCA) foi estabelecido em Utrecht em 1994, como um centro de
informação nacional em alternativas. Apesar de seu inegável valor no que se refere ao banco de
dados em métodos substitutivos aos animais de laboratório, não podemos deixar de lembrar que o
NCA promove também os outros dois Rs, e portanto a vivissecção; seu principal objetivo é o de
apoiar a plataforma a buscar a realização de seus objetivos.
Antes deste centro holandês, outro centro de alternativas já havia sido estabelecido com apoio
a concessão das associações de cosmético, utilitários de banheiros e fragrâncias, nos EUA. O
John Hopkins Center for Alternatives to Animal Testing (CAAT) foi fundado em 1981 (Frazier &
Goldberg, 1990) . O foco inicial da CAAT foi o estabelecimento de um pequeno programa de
admissão, através do qual foi fundamentado o desenvolvimento de novos sistemas In vitro, e
ensaios que poderiam enfim ser utilizados em teste de segurança de produtos, por cientistas de
pesquisa básica. Apesar deste inicio inocente e louvável, com o passar dos anos o CAAT tornouse
um assíduo defensor dos Três Rs, vindo a se tornar na única instituição americana a fazer a
interface entre cientistas acadêmicos, de indústrias e organizações governamentais. Com esta
capacidade, o CAAT se fortaleceu, vindo a organizar um simpósio científico regular e adotar
como função principal reunir diversos grupos para formular um dispositivo para a validação de
métodos alternativos para teste de segurança de produtos (Goldberg et al., 1993).
Durante os primeiros anos da década de 80, a campanha contra o teste Draize e o LD50, e
simultaneamente a tentativa de fazer passar a legislação nos EUA para promover o uso de
alternativas, focalizou a atenção da industria e do congresso nos Três Rs. Com a intenção de
acalmar a pressão pública, o US Animal Welfare Act e o Public Health Service Policy on the
Humane Care and Use of Laboratory Animals foram revisados e fortalecidos (Anon, 1986d),
ambos constando exigências de que os Três Rs seriam considerados antes que qualquer pesquisa
envolvendo o uso de animais fosse começada. O conceito de “alternativas” foi também
promovido via legislação relacionando a lei e atividades do Instituto Nacional de Saúde (NIH).
“Alternativas”, não como poderia se pensar, seria “alternar” métodos científicos com métodos de
pesquisa que utilizassem animais. Nas palavras do Dr. Pietro Croce, um dos mais importantes
patologistas da Europa: “Há alternativas à vivisseção? Claro que não. Não há nenhuma
alternativa a vivisseção porque qualquer método que pretenda substituir terá as mesmas
qualidades; mas é difícil de encontrar qualquer coisa em pesquisas biomédicas que seja, e sempre
tenha sido, mais deceptivo e enganoso que a vivissecção. Assim, os métodos que nós propomos
para a pesquisa médica deveriam se chamar ‘métodos científicos’… eles não são ‘alternativas’”.
Uma vez que na prática este termo não muda nem proíbe nada, foi facilmente abraçado pelo
governo e industria americano. Os Três Rs de fato se expandiu.
Em 1986, um relatório do US Congress Office of Technology Assessment, de Alternativas
para o Uso de Animais em Pesquisa, Teste e Educação (Anon, 1986e) proporcionou evidências
do amplo alcance e potencial do conceito dos Três Rs de “alternativas” e, no mesmo ano, o
Health Research Extension Act deram força legislativa para a revisão política do serviço de saúde
pública em pesquisa animal. Na Europa, o European Research Group for Alternatives in Toxicity
Testing (ERGATT) também foi estabelecida em 1986, fazendo uso do mesmo conceito de
“alternativas”.
Um conjunto de regras denominado Princípios Guias Internacional para a Pesquisa
Médica Envolvendo Animais foi estabelecido em 1985 (Howard-Jones, 1985), com o fim de
contribuir para a licitação da vivissecção. Já nos fins da década de 80, novas leis deste tipo
surgiram em várias partes do mundo, que não apenas reconheciam o conceito de Russel e Burch,
mas se comprometiam com tudo que dissesse respeito à meta de substituir, reduzir e refinar a
experimentação em animais de laboratório sempre que possível (Balls et al., 1995); este “sempre
que possível” poderia ser substituído por “sempre que minha consciência assim o quiser”, ou até
mesmo “nunca”. Esta lei jamais poderá ser implementada plenamente, pois pode-se vistoriar os
centros de bioterismo, mas jamais poderão ser vistoriados todos os laboratórios e nem todos os
experimentos realizados nestes. A dificuldade em se desenvolver alternativas substitutivas aos
animais de laboratório se encontra em um fato simples que será mais à frente melhor tratado: não
se pode validar um método potencialmente bom através de um método duvidoso. No entanto, os
Três Rs são o escudo protetor da vivissecção, pois validam a vivissecção como método padrão, e
escolhe segundo o qual um método alternativo pode ser validado ou invalidado, ou seja, os Três
Rs alimentam um ciclo vicioso que requer mais testes em animais, e raramente expõe
substitutivos a esta.
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Em 1993, o US NIH Revitalization Act incluiu estatutos redigidos e apoiados por
organizações de “proteção animal” e por várias corporações grandes que promovem o conceito de
“alternativas” (Três Rs). Em particular, o Ato autorizou o estabelecimento de um programa de
toxicologia desenvolvido pelo Interagency Coordinating Committee for the Validation of
Alternative Methods (ICCVAM) aplicada em convênio com o Instituto Nacional de Ciências da
Saúde Ambientais (NIEHS). Os métodos In vitro até então desenvolvidos seriam julgados
utilizando-se como padrão os resultados obtidos de animais, e não de seres humanos; portanto,
estariam válidos a avaliar a toxicidade de substâncias para animais e não para seres humanos.
Desta forma, os resultados destas pesquisas levariam a novas pesquisas, que levariam a novas
pesquisas, e assim sucessivamente.
Ao mesmo tempo que isto ocorria, um grupo de cientistas de agências regulamentais
importantes nos EUA estabeleceram o Interagency Regulatory Alternative Group (IRAG), para
discutir a implementação de alternativas no setor regulatório. Os Três Rs ganhavam fama e
cresciam.
Em 1989, Alan Golberg e Bert van Zultphen decidiram iniciar uma série de congressos
mundiais devotados a alternativas e uso de animais nas ciências da vida (abrangendo os Três Rs
na pesquisa, teste e educação) que deveriam ocorrer a cada três anos. O primeiro Congresso
Mundial conduzido em Baltimore, EUA, em novembro em 1993, e contou com a participação de
725 pessoas (representantes acadêmicos, da industria e organizações de “proteção animais” e
governamentais) de 24 países (Goldberg & van Zutphen, 1995). O segundo Congresso Mundial
se deu em outubro de 1996 em Utrecht, na Holanda, e o terceiro foi conduzido em 1999, em
Bologna, Itália. O quarto congresso está previsto para o ano de 2002, em Massachussetts, EUA.
O principal mérito auto-requerido pelos Três Rs é o de haver modificado planos e
condutas dos projetos de pesquisa biomédicos. Na Grã-Bretanha, onde alega-se possuir acuradas
estatísticas quanto ao uso de animais em pesquisa, os dados oficiais indicam que o uso de animais
aumentou em uma taxa de 6% ao ano entre 1937 e 1971, atingindo um total de mais de 5.5
milhões (Anon, 1995). De 1972 a 1978, o número de animais utilizados permaneceu praticamente
estável, e então o uso de animais começou a declinar a uma taxa de 5% ao ano de 1979 em
diante. O período de aumento no número de animais mortos corresponde mais ou menos ao
período em que a indústria farmacêutica descobriu o grande negócio que tinha em mãos, e
quando começou sua busca por novas drogas, algumas delas desenvolvidas para curar doenças
que ainda nem mesmo existiam, outras para curar doenças que poderiam bem ter sido evitadas se
fosse interesse dos governos preveni-las, como é o caso das doenças degenerativas e infecciosas.
Os dados oficiais mostram que desde o meio da década de 70, o uso de animais declinou
em laboratórios hospitalares/universitários (26%), governamentais (56%), comerciais(65%), no
Reino Unido. Na Holanda, o uso total de animais usado foi de 50% à partir de 1978 (Anon,
1993). Enquanto que os dados nos EUA são menos disponíveis, tem-se argumentado que o uso de
animais tem diminuído muito nos laboratórios americanos, ainda que a pesquisa biomédica tenha
se desenvolvido durante este período (Rowan et al, 1995).
Na década de 90, o conceito dos Três Rs se manteve sendo pregado como alternativa
satisfatória para cientistas de mentalidade medíocre (e a palavra é aqui usada não na forma
pejorativa, mas com seu significado pleno) e falsos “protetores de animais” (“falsos” pode ser
considerado aqui em sua forma o mais pejorativa possível).
4.3 - Justificativas medíocres e falácias dos comitês:
As leis apoiadas nos Três Rs determinam que todos os projetos de pesquisa que envolva
uso de animais de laboratório devem ser sujeitas à revisão, para determinar-se se sua proposta
parece ser “ética e cientificamente justificada”. No entanto, assume-se que apenas em alguns
casos “as alternativas podem simplesmente não utilizar qualquer procedimento animal” (Balls et
alli, 1995). Em geral, as “alternativas” requerem sim o uso de animais. A regra dos comitês
determina que onde a necessidade de conduzir-se certo procedimento animal não pode ser
justificado em nível cientifico ou ético, a proposta de projeto deve ser rejeitada, porém, na
prática, e principalmente no Brasil, estes comitês têm tido como principal função fornecer
certificados para que sirvam de aval de aprovação para que os cientistas possam publicar seus
trabalhos em periódicos que exijam tal aprovação. Este aval é fornecido, principalmente no
Brasil, seja qual for o “refinamento de técnica” que tenha sido empregado na pesquisa.
Várias linhas de conduta têm sido preparadas para auxiliar a estes comitês serem mais
convincentes. Levando em conta a “ética de usar-se animais na pesquisa médica”, um grupo de
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trabalho do Institute of Medical Ethics (UK) concluiu que “um projeto de pesquisa envolvendo
animais deve ter lugar somente quando puder ser demontrado:
a) Que o objetivo do projeto vale a pena;
b) Que o desenho do projeto está bem definido, e que este possue forte possibilidade de ser
finalizado;
c) Que o objetivo não pode ser alcançado usando-se alternativas não menos aceitáveis
moralmente e cientificamente;
d) Que os benefícios do projeto sejam substanciais o suficiente em relação ao sofrimento que
venham a causar aos animais utilizados (deve se pesar a razão custo beneficio da experimentação
animal) (Smith & Boyd, 1991).
Esta lei inglesa é, como se pode perceber, recheada de brechas e imperfeições: 1) Se
questionarmos uma industria farmacêutica, é claro que será argumentado que o objetivo da
pesquisa vale a pena; da mesma forma argumentará o cientista que vive de fazer pesquisas, sejam
quais forem os resultados que obtiver. 2) Qualquer argumentação pode ser utilizada para não
empregar-se métodos substitutivos, inclusive a facilidade em obter-se animais para a
experimentação, a comodidade do cientista que está acostumado a trabalhar com animais e não
outros métodos, o direcionamento de verbas para a produção do biotério e não para a compra de
equipamentos que possibilitem a aplicação de alternativas, etc. 3) Uma vez que quem sofre os
efeitos maléficos do experimento em primeira instância, e quem potencialmente (e supostamente)
se beneficia de seus resultados não são o mesmo indivíduo, jamais se concluirá que os benefícios
são inferiores ao sofrimento infringido, já que jamais as cobaias são questionadas, mas apenas os
alegados beneficiários. Esta lei é uma lei incoerente, uma mera formalidade e legalismo.
Que comitê de ética, em sã consciência, e principalmente no Brasil, negaria qualquer forma de
pesquisa, por mais que sua metodologia parecesse substituível, e os prováveis resultados fossem
improváveis de serem significativos? Ora, estes comitês no mundo todo são compostos em sua
maioria por cientistas vivissectores das diversas áreas da ciência: biólogos, médicos, biomédicos,
veterinários e em menor grau, sem muito direito ao voto e sem poder para tomar decisões
referentes à técnica em si, os filósofos da ética e comunidades representativas com supostos
interesses na proteção animal. Obviamente que estes comitês estão sujeitos a todas as criticas do
mundo, ou alguém acreditaria que os cientistas vivissectores recusariam projetos de seu
interesse? Ou ainda, que pessoas que realmente se interessam pelo bem estar animal, se tivessem
poder de voto decisivo, aprovariam qualquer procedimento invasivo que fosse?
O comitê de ética mais rigido do mundo é o do Reino Unido e assim funciona: O sistema
envolve licenciar pessoas específicas tanto com respeito aos projetos a serem conduzidos, quanto
ao seu uso pessoal de animais de laboratório (Straughan, 1995). Isto proporciona um sistema
compreensivo e vigoroso de controle quando conduzido juntamente com a certificação formal
(designação) dos líderes do estabelecimento onde animais de experimentação são usados e
espécies comuns são criadas. O Animals (Scientific Procedures) Act 1986 também proporciona
um apontamento de inspetores no Home Office (o equivalente governamental ao ministério de
assuntos internos de outros países). Os inspetores do Home Office checam todos os
estabelecimentos designados para assegurar a conformidade, ou para relatar a falta de
conformidade, com o Ato, ou com os termos e condições das licenças e certificados relatados no
Ato.
Somente na Inglaterra, os vários inspetores do Home Office revisam projetos e protocolos
legais, e aconselham o ministro (na prática, seus oficiais) quanto aos custos e benefícios, com o
suposto objetivo de assegurar que apenas o trabalho apropriadamente justificado seja licenciado;
em outros países existem comitês de ética inspirados neste modelo. Onde parecer apropriado, os
pareceres de propostas de projetos de pesquisa são encaminhados para outros inspetores e,
ocasionalmente, para assessores externos ou de comitês de procedimentos animal (APCs).
Algumas categorias especiais de trabalho são indicadas obrigatoriamente ao APC, por exemplo, o
trabalho com primatas e com cosméticos, e aplicações do uso de animais no treinamento em
microcirurgia. A função dos inspetores do Home Office é apenas fazer recomendações aos
oficiais do governo mas, na prática, seus conselhos são geralmente aceitos. Os inspetores não
possuem quase nenhum fortalecimento formal ou poder executivo com respeito a licenças, mas
pode ordenar a eutanásia de um animal que julgue esteja sofrendo excessivamente. Vivissectores
raramente são surpreendidos desrespeitando o parecer dos inspetores da Home Office, mas isto se
dá porque os inspetores não fiscalizam cada experimento em cada laboratório, mas tão somente o
que se passa nos biotérios.
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Na Alemanha, o Departamento de Agricultura, que é o responsável pela proteção animal,
adotou a filosofia geral de que, ainda que seja mais caro, o método que não utiliza animais deve
ser preferido ao método que utiliza animais. Isto por um motivo bem simples: um preço mais
baixo não é razão para se prosseguir utilizando animais na pesquisa. No entanto, em 1994, a
corte constitucional maior na Alemanha regulamentou que uma pesquisa em animais que seja
cientificamente justificada não pode ser proibida por razões éticas, interpretando que isto estaria
de acordo tanto com a legislação nacional, quanto com o Diretivo 86/609/ECC. Dizendo de outra
maneira, o cientista pode fazer o que quiser, e ninguém tem o direito de lhe impedir.
Na Holanda, o cumprimento de um experimento animal não pode se dar sem um protocolo
revisado e aprovado por um comitê de experimentação animal (AEC). De acordo com a revisão
proposta no 1977 Act on Animal Experimentation, o diretor e outras duas pessoas membros do
comitê devem ser independentes, ou seja, não podem ter vínculos empregadícios com a
instituição a que este protocolo se destine. Além disso, a AEC deve também incluir especialistas
em ética e em métodos “alternativos” e a composição do comitê deve ser aprovada pelo Comitê
Nacional em Experimentação Animal. A principal tarefa de uma AEC é avaliar os “possíveis
benefícios” da proposta, o sofrimento dos animais envolvido (como se alguém pudesse avaliar a
dor do outro) e se a implementação dos Três Rs foi adequadamente levada em conta quando da
preparação dos protocolos. As AEC’s são também requeridas para avaliar a competência das
pessoas envolvidas no planejamento e performance do experimento. A rejeição do protocolo de
uma proposta de experimentação pelo AEC só pode ser indeferida pelo Comitê Nacional de
Experimentação Animal, que não tem interesse que isto ocorra.
Nos EUA, onde “funcionam” tanto o Animal Welfare Act de 1985 (regulações aprovadas em
1989), quanto a política revisada do Serviço Público de Saúde, os Institutional Animal Care and
Use Committees (IACUC’s) são requeridos para revisar e aprovar todas as propostas de
experimentação em animais antes que a pesquisa seja posta em prática (isto mesmo, a intenção
não é recusar nenhuma proposta). Os IACUC’s são preparados para certificar de que os
protocolos de pesquisa em animais aprovados valem a pena, que usem o mínimo possível de
animais necessário, que haja uma minimização da dor e estresse sofridos pelos animais, e, que
não haja nenhum procedimento provável de ser doloroso ou estressante (ainda que sejam
empregados anestésicos ou analgésicos), e um documento do principal pesquisador envolvido
onde haja garantias de que “alternativas foram adequadamente consideradas” (Anon,1989).
Seria utopia querer garantias por parte dos vivissectores de que os animais sofram o mínimo
de dor e estresse. O “cientista” tem pleno poder sobre seus corpos, e se os animais sofrerão muito
ou pouco, não é uma lei que pode assegurar, mas apenas a consciência do vivissector. Todos os
vivissectores sempre asseguram que os animais sofrem minimamente em seu laboratório, mas
crêr nisto é enganar a si mesmo; muitos destes vivissectores já foram surpreendidos causando
sérias injúrias em animais aprisionados, o que envalida a palavra de todos os outros. Fato é que
ninguém está vendo e o cientista faz o que bem entende. A lei é mero formalismo.
Por outro lado, a própria obrigatoriedade do cientista chefe em justificar sua pesquisa,
alegando porque que o projeto vale a pena e assegurando que considerou as alternativas já nos
demonstra a falta de seriedade destas leis. Em toda a história da vivissecção até hoje não foi
demonstrado um único caso, um único avanço benéfico ao homem ou para animais domésticos
que tivesse derivado da experimentação animal e que não pudesse ter sido obtido de outra forma.
Logo, seria difícil crer que um vivissector pudesse defender a obrigatoriedade do uso de animais
em sua pesquisa, fazendo considerações às alternativas. Fato é que estas leis servem apenas para
ludibriar a opinião pública, não tem valor científico nem moral.
Percebendo esta problemática, a opinião pública exigiu uma maior ênfase nas alternativas, e o
protocolo padrão que o cientista deve preencher para ter sua pesquisa aprovada contém a seguinte
mensagem: “Os estabelecimentos de pesquisa serão responsabilizados se for subsequentemente
determinado que já haviam procedimentos alternativos disponíveis para atingir os objetivos do
experimento proposto...ou se for subsequentemente determinado que um experimento é
desnecessariamente duplicativo e que uma revisão de boa fé de fontes alternativas teria indicado
o mesmo”. De fato atualmente nos EUA, muito mais animais vem sendo substituídos por
métodos alternativos do que gostariam os vivissectores, mas ainda não tem sido satisfatório, pois
animais continuam a ser utilizados como resultado de um erro metodológico padrão.
4.4 - Os Três Rs no Brasil
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Segue abaixo a primeira lei que formaliza a vivisseçção em território brasileiro:
Lei 6638 de 08 de maio de 1979
Normas para Prática Didático-Científica a Vivissecção de Animais
Art. 1 - Fica permitida, em todo o território nacional, a vivissecção de animais, nos termos desta
Lei.
Art. 2 - Os biotérios e os centros de experiências e demonstrações com animais vivos deverão ser
registrados em órgão competente e por ele autorizados a funcionar.
Art. 3 - A vivissecção não será permitida:
I - sem o emprego de anestesia;
II - em centros de pesquisas e estudos não registrados em órgão competente;
III - sem supervisão de técnico especializado;
IV - com animais que não tenham permanecido mais de 15 (quinze) dias em biotérios legalmente
autorizados;
V - em estabelecimento de ensino de 1° e 2° graus e em quaisquer locais freqüentados por
menores de idade.
Art. 4 - O animal só poderá ser submetido às intervenções recomendadas nos protocolos das
experiências que constituem a pesquisa ou os programas de aprendizagem cirúrgico, quando,
durante ou após a vivissecção, receber cuidados especiais.
Parágrafo 1 - Quando houver indicação, o animal poderá ser sacrificado sob estrita obediência às
prescrições científicas;
Parágrafo 2 - Caso não sejam sacrificados, os animais utilizados em experiências ou
demonstrações somente poderão sair do biotério 30 (trinta) dias após a intervenção, desde que
destinados a pessoas ou entidades idôneas que por eles queiram responsabilizar-se.
Art. 5 - Os infratores desta Lei estarão sujeitos:
I - às penalidades cominadas no artigo 64, caput, do Decreto-lei 3.688, de 03/10/41, no caso de
ser a primeira infração;
II - à interdição e cancelamento do registro do biotério ou do centro de pesquisas, no caso de
reincidência.
Art. 6 - O Poder Executivo, no prazo de 90 (noventa) dias, regulamentará a presente Lei,
especificando:
I - o órgão competente para o registro e a expedição de autorização dos biotérios e centros de
experiências e demonstrações com animais vivos;
II - as condições gerais exigíveis para o registro e o funcionamento dos biotérios;
III - órgão e autoridades competentes para fiscalização dos biotérios e centros mencionados no
inciso I.
Art. 7 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 8 - Revogam-se as disposições em contrário.
Esta lei possui como único lado positivo de haver proibido a vivissecção em
estabelecimento de ensino de 1° e 2° graus e em quaisquer locais freqüentados por menores de
idade, um claro posicionamento em favor do fato de que a vivissecção exerce influências
psicológicas negativas em quem a pratica, observa ou é condizente com ela. No entanto, apesar
de ser uma lei de 1979, muitos estudantes posteriores a ela continuaram a presenciar a
vivissecção por vários anos no colégio, em muito menor grau é claro. Fato é que jamais foi dada
a devida importância a esta lei, como tantas outras do Brasil, e a vivissecção continuou a ser
praticada sem o emprego de anestesia; em locais não registrados em órgão competente; sem a
supervisão de técnicos especializados (o que são, inclusive, raros no Brasil).
O Artigo 4 é sistemáticamente burlado até os dias de hoje em todos os estabelecimentos
de pesquisa do Brasil, e as disposições contidas no artigo 5 jamais foram consideradas sérias e
jamais foram aplicadas.
76
Após esta lei, a seguinte a tratar da vivissecção foi a Lei dos Crimes Ambientais (Lei n°
9.605, 12 de fevereiro de 1998) que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, mas que abrange também a fauna doméstica e de
laboratório. Segue abaixo trecho do artigo 32, relevante ao tema:
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda
que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 2º. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
Partindo do suposto de que sempre existem alternativas, já que isto depende unicamente
da capacidade do cientista e de mais ninguém, esta lei teoricamente proíbe a vivissecção em todo
o Brasil. O mesmo é reforçado pelo próprio cabeçalho do artigo, que proíbe qualquer ato de
abuso, maus-tratos, ferida e mutilação em animais. Ora, a vivissecção sempre pode ser
considerada um abuso, ainda mais reforçado pelo fato de que ela fere e mutila animais. No
entanto, quando a Regulamentação da Lei foi encaminhada ao Presidente da República para sua
assinatura, a bancada ruralista do Congresso Nacional se articulou com vistas a retirar o “Anexo
de Definições” (onde se definia atos de abusos e maus-tratos) do corpo da regulamentação. Com
isto eles visavam proteger seus próprios interesses, uma vez que a Regulamentação definiria
como maus tratos os rodeios e as vaquejadas.
Importante dessa Lei é que se ela realmente funcionasse, não apenas o vivissector, mas
também toda a instituição em que a vivissecção é praticada, seria responsabilizada, e ambos
estariam sujeitos às penalidades estabelecidas, conforme descrito nos seguintes artigos:
Art. 2º. Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide
nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o
administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a
sua prática, quando podia agir para evitá-la.
Art. 3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme
o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante
legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
A Lei também dispõe das penalidades:
Art. 79. Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do Código Penal e do Código de
Processo Penal.
Apesar de dispor das penalidades, a Regulamentação da Lei (Decreto 3179 de 21 de
setembro de 1999) não estabelece qual o órgão responsável pela fiscalização das instituições com
referência ao uso científico de animais. Segundo algumas fontes oficiais do Ministério do Meio
Ambiente, os responsáveis pela fiscalização dos biotérios e locais de experimentação seriam os
biólogos do IBAMA. No entanto, como evidenciou o episódio da investida da Polícia Federal e
do Ministério Público na Fundação Osvaldo Cruz -RJ, os referidos profissionais se mostraram
despreparados, já que qualificaram como manejo inadequado as evidencias de maus tratos contra
os animais, além de haverem se recusado a vistoriar animais que não fossem domésticos ou
domesticados.
No Brasil, os comitês de ética, quando existem de fato, geralmente seguem “normas”
(desconhecidas pela maioria dos cientistas, é fato) estabelecidas para a utilização de animais em
projetos de pesquisa inspiradas em leis internacionais. Segue abaixo um exemplo:
“Utilização de Animais em Projetos de Pesquisa”
Comissão de Pesquisa e Ética em Saúde/GPPG/HCPA Resolução Normativa 04/97
A Comissão de Pesquisa e Ética em Saúde credenciada, junto a Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (CONEP) do Ministério da Saúde, como Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), vinculada
ao Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, com o objetivo
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de estabelecer normas para a utilização de animais em projetos de pesquisa submetidos à
apreciação desta Comissão, com base nos princípios e normas internacionalmente aceitas, dispõe
que:
a) a utilização de animais em pesquisas científicas deve ocorrer somente após ser provada a sua
relevância para o avanço do conhecimento científico, considerando-se a impossibilidade de
utilização de métodos alternativos como: modelos matemáticos; simulações computadorizadas;
sistemas biológicos “in vitro” ou outro método adequado:
b) a espécie utilizada e o cálculo do tamanho da amostra devem ser adequados para a obtenção de
resultados válidos;
c) deve ser oferecido alojamento, transporte, alimentação e cuidados adequados à espécie através
de assistência qualificada;
d) procedimentos que possam causar dor ou angústia devem ser desenvolvidos com sedação,
analgesia ou anestesia, salvo quando forem os mesmos o objetivo da pesquisa. Devem ser,
igualmente, observados cuidados com assepsia e prevenção de infecções, assim como cuidados
para minimizar o desconforto e estresse dos animais em estudo;
e) necessitando de imobilização física e/ou de privação alimentar ou hídrica, os pesquisadores
devem procurar manter estas condições pelo menor período de tempo possível, evitando
prolongar a angústia, desconforto e dor;
f) quando for necessário ao estudo, ou após o mesmo, se indicado, que os animais devam ser
sacrificados, este procedimento deve ser realizado de forma rápida indolor e irreversível;
g) as técnicas aceitas para o sacrifício de animais são as seguintes: hipoxia por barbitúricos,
anestésicos inalatórios, dióxido de carbono e monóxido de carbono (engarrafado),
metanesulfonato de tricaína, benzocaína e irradiação por microondas;
h) as técnicas aceitas, de forma condicional, são as seguintes: hipoxia por deslocamento cervical,
por nitrogênio ou argônio, decapitação, concussão cerebral e dano medular;
i) não serão aceitas, salvo exceções extremamente justificadas, as seguintes técnicas de sacrifício
de animais: sangramento, descompressão, congelamento rápido, embolismo gasoso, afogamento,
atordoamento, uso isolado de estriquinina, nicotina, sulfato de magnésio, cloreto de potássio,
agentes curariformes, clorofórmio e cianeto.
Comissão de Pesquisa e Ética em Saúde/GPPG/HCPA. Resolução Normativa 04/97 - Utilização
de Recursos Financeiros em Projetos de Pesquisa. Aprovada na reunião conjunta das Comissões
Científica e de Pesquisa e Ética em Saúde de 08 de maio de 1997.”
Pode-se observar que os termos normativos para funcionamento desses Comitês, são
estabelecidos para satisfazer o interesse de cada pesquisador. Observa-se:
O artigo “a” pode ser refutado pelo mero argumento de que não se pode jamais provar a
relevância da vivissecção para o avanço do conhecimento científico; em toda a história da
medicina nenhum conhecimento derivou desta prática, e continuará não derivando. Por outro
lado, métodos alternativos, por serem infinitamente muitos, sempre podem ser improvisados.
Ignorando estes fatos, merece atenção a análise do restante das “normas”: O artigo “b”
diz que a espécie utilizada e o cálculo do tamanho da amostra devem ser adequados para a
obtenção de resultados válidos; mas quem julgará se a espécie utilizada e o tamanho da amostra
são adequados? É claro que será o próprio cientista que planejou o experimento, ou seja, é um
artigo completamente dispensável.
O artigo “c”, que dispõe dos cuidados quanto ao biotério em si é também irrelevante. Ele
trata de disposições básicas para a manutenção de uma entidade viva (alimento, etc), e portanto
seria seguido de toda forma; no entanto, a exigência de adequação é contraditória com a própria
condição do biotério e dos procedimentos em si: os “cuidados adequados” de que as “normas”
falam só poderiam ser considerados caso os procedimentos não fossem realizados, e não é o que
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ocorre. Ainda assim, todas as outras condições listadas não podem ser consideradas como sendo
seguidas, já que a fiscalização quanto muito diz respeito ao biotério central, e não aos setoriais.
O artigo “d”, que estabelece que os procedimentos que possam causar dor ou angústia
devem ser desenvolvidos com sedação, analgesia ou anestesia, salvo quando forem os mesmos o
objetivo da pesquisa, evidenciam o pouco valor de qualquer lei referente à experimentação
animal. Se cada “norma” benéfica for seguida por palavras como “salvo”, “a não ser que”,
“porém em caso de”, então que validade possui estabelecê-la? Certamente que cada cientista
pode justificar em sua pesquisa a necessidade de não usar qualquer forma de anestesia ou
analgesia se assim o quiser, além do mais, que benefícios podem derivar de experimentos cuja
intenção principal seja a própria dor e a angústia?.
Se a lei nacional proíbe a prática de atos de abuso, maus-tratos, de ferir ou mutilar
animais, qual pode ser o propósito de “normas” que permitam experimentos que
propositadamente causem dor e angústia a animais? É sabido que estas normas foram
estabelecidas anteriormente à lei nacional, no entanto elas ainda são citadas pelos vivissectores.
Se a lei nacional proíbe a prática de atos de abusos e maus-tratos, então porque ainda é
considerado a “norma” “e”, que permite a imobilização física e a privação alimentar e hídrica
propositadamente causada em certos experimentos, e que o próprio artigo reconhece como
causadoras de angústia, desconforto e dor?
Os artigos “f”, “g”, “h” e “i” evidenciam novamente falta de coerência, já que dispõe das
formas como os animais devem ser mortos após o experimento, fazendo porém ressalvas.
Primeiramente, não há evidências de que os animais obrigatoriamente devam ser mortos, já que
quem não quiser se dar ao trabalho, pode justificar que naquele experimento em especial não
havia nem a necessidade, e nem a indicação de fazê-lo. De outra forma, cada cientista pode
sacrificar pelo método que julgar mais apropriado, ou seja, mais barato, o que não impede
simplesmente deixar o animal acordar e morrer berrando de dor. Seria interessante uma releitura
destes artigos analisados por outra ótica, para que se verifique que não se trata de um exagero, já
que algumas das técnicas sugeridas não são muito melhores. O artigo “i” em especial, traz
novamente a palavra “salvo”, como uma permissão para que o cientista possa matar animais
como bem entender: por sangramento, descompressão, congelamento rápido, embolismo gasoso,
afogamento, atordoamento, uso isolado de estriquinina, nicotina, sulfato de magnésio, cloreto de
potássio, agentes curariformes, clorofórmio e cianeto.
Se em outros países onde as leis geralmente são seguidas, os comitês de ética são falhos e
as próprias brechas da lei as anulam, o que dizer do Brasil, onde as leis além de possuírem as
mesmas brechas, geralmente não são postas em prática nem são fiscalizadas? Em palestra
proferida na UNICAMP em 13/11/98, o professor Dr. Roberto Sogayar, então presidente do
Comitê de Ética da UNESP de Botucatu, expôs a situação da seguinte forma: os cientistas que se
servem dos animais do biotério não precisam se preocupar, nenhuma pesquisa será recusada pelo
comitê de ética; sua única intenção será fornecer o aval necessário para que os resultados de suas
pesquisas sejam aprovados para a publicação em periódicos internacionais que exijam o aval de
um comitê de ética. Ou seja, a intenção do comitê de ética é proteger o cientista contra a opinião
pública, não importando a “ética” em si do mau uso de animais (e em verdade, todo uso o é) e
nem a ciência própriamente dita.
Outra evidência da displicência dada ao assunto por membros de comitês de ética no
Brasil foi demonstrada pelo Prof. Dr. Armen Thomassian, durante o I Encontro sobre Normas e
Alternativas ao Uso Didático de Animais nas Faculdades de Medicina Veterinária, em 11/12/99.
Sendo presidente do comitê de ética da Faculdade de Medicina Veterinária da UNESP de
Botucatu, e argumentando em defesa deste tipo de comitê, sequer havia ouvido falar do conceito
dos Três Rs quando questionado. Desta forma o referido professor doutor evidenciava não
compreender absolutamente nada sobre os comit6es que defendia, já que o conceito dos três Rs, a
base destes comitês era sistematicamente ignorado pelo mesmo.
A direção da Fundação Osvaldo Cruz - FIOCRUZ, sofrendo fiscalização de suas
instalações no dia 06/06/99 , pelo Ministério Público e Polícia Federal, argumentou que todos os
experimentos eram aprovados por um Conselho de Ética, composto por cientistas ligados à
experimentação animal. Excetuando o fato de que para possuir alguma credibilidade, um comitê
como tal deveria contar no mínimo com membros da sociedade civil que estivessem interessados
no “bem-estar animal”, e que os próprios comitês de ética, conforme demonstra a experiência
estrangeira, não podem funcionar de forma satisfatória de qualquer maneira, mais tarde ficou-se
sabendo que este comitê não havia se reunido até aquela data sequer uma única vez.
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Outro exemplo recente diz respeito ao comitê de ética na Universidade Federal de Santa
Catarina, criado às pressas devido à denúncias envolvendo, entre outras, práticas de vivissecção
na disciplina de “Técnica Operatória”, oferecida pelo curso de Medicina, e ministrada pelo então
professor Armando d’Acâmpora. Este mesmo professor faz parte, ironicamente, deste comitê.
Pode-se imaginar que tipos de barreiras as pesquisas em animais podem encontrar com comitês
formados por vivisseccionistas declarados.
No mundo inteiro os Três Rs e os Comitês de Ética não conseguem transmitir a
credibilidade que pretendem. No Brasil é necessário que aqueles que discutem a ciência, se
informem, ao menos, sobre o principio que desejam defender.
4.5 - Por que após tanta documentação que prova ser a
vivissecção um método falho, os Três Rs ainda serão uma
tendência?
Por que mesmo após toda a argumentação contrária à vivissecção, pode-se considerar por
certo que ela perdurará ainda por muito tempo? Seria porque os argumentos contrários a ela são
inferiores do que os argumentos a seu favor? Ou ainda seria porque o ser humano não sabe optar
por o que é melhor para si próprio? Certamente que nenhuma destas suposições é verdadeira, o
problema é muito maior do que este. O que se segue foi publicado pela Mobilize! (Número 28,
outubro de 1990), publicação da New Zealand Anti-Vivisection Society:
“Todas as principais instituições possuem infiltrações, e as de bem-estar animal, as
defensoras de animais, e os movimento anti-vivissecção não são nenhuma exceção. A vivissecção
é um dos empreendimentos comerciais mais poderosos da Terra. Sua proteção vem de algumas
fontes muito surpreendentes.
Existem líderes auto-proclamados de grupos que promovem a política da anti-vivisseção
ou de outras áreas como o “bem-estar animal”… e que atacam os abolicionistas da vivissecção
dizendo que eles devem ser “sensatos e realistas”. Estes são líderes que, cuidadosamente, evitam
em tornar publico aos seus membros o número crescente de profissionais médicos que estão
fazendo campanha pela abolição… total e imediata. (Tais líderes, ou são ignorantes e carecem de
intelectualidade, ou como pode-se suspeitar… talvez sejam agentes pagos!) No Reino Unido, os
principais grupos são servidos por “conselheiros” científicos que foram vivissectores por muito
tempo.
Muitos dos grandes grupos possuem enormes investimentos vindos de instituições que
executam experiências toxicológicas em animais. O RSPCA (Reino Unido) recebia enormes
quantidades de investimentos de Boots, Beechams, BP, Glaxo, ICI e Unilever… todas empresas
que experimentam em animais. O Fundo para a Vida Selvagem Mundial (WWF) é financiado
pela CIBA Geigy. Algumas das grandes organizações possuem subsídios, ou são de outras
formas financiadas por aqueles que executam experiências.
Aqueles que se subscrevem em grupos de bem-estar animal e não questionam o jogo
político de seus líderes são instrumentos, por outro lado, que prolongam, morosam e impedem a
abolição da vivissecção. Alguns grupos são desviados habilmente para apoiar a continuidade da
vivisseção, camuflados debaixo da promoção da vida “cruelty –free” ( a adoção de um estilo de
vida que promova a recusa em se servir de qualquer item de origem animal, ou que tenha sido
testado nestes) e o comprimento de outros assuntos.
Os jornalistas, repórteres e editores que, agindo segundo os interesses de seus anunciantes,
perpetuam o mito de que a vivisseção é benéfica, ainda suprimem, desacreditam e censuram as
opiniões daqueles que fazem campanha contra ela.
Os políticos que são aconselhados pelos líderes de departamentos governamentais, ou seja
Agricultura, Saúde, Ciência, Educação, todos eles estão interconectados com a vivisseção. Os
Políticos, que normalmente adoram falar, ficam, sem exceção, milagrosamente mudos ante a
mera menção da palavra anti-vivisseção.
O público, normalmente engole e digere o que lhes dermos, sem questionar, sem se
interessar ou protestar. Alguns de nossos próprios membros, quando apresentados com os fatos
tornam-se pouco dispostos ou incapazes de compreender ou discutir sobre este assunto.
Os vivissectores são os mais facilmente demolíveis. A maioria deles são pesquisadores
“biomédicos”, não médicos, que vivissectam como um trabalho… para viver. Quem ficaria sem
trabalho se a pesquisa se concentrasse na investigação clínica dos problemas humanos?”
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Fica então evidente que a ciência e a humanidade propriamente dita não necessitam da
vivissecção. Ela é necessária apenas para sustentar as pessoas que construiram suas carreiras em
torno da experimentação animal e se vêem intelectualmente incapazes de proceder outra forma de
metodologia, por mais prática e barata que possa ser.
4.6 - Conclusões
As conclusões do prof. Pietro Croce determinam, de forma definitiva, o quanto a ciência
precisa sofrer uma revolução de conceitos na área de experimentação animal”
"Deixe-nos examinar estas três sugestões:
1) Primeira Sugestão: Redução de Experiências em Animais
Todos aqueles que apoiam esta proposta aceitam, talvez sem perceber, o ponto de vista
das pessoas do “bem-estar” animal que sugere: “Deixem-nos tentar limitar o número de animais
que devem sofrer e morrer”. Assim, eles não só aceitam o caminho que promove o sofrimento e
morte de animais, mas também a reivindicação de que nós não podemos viver sem a vivisseção.
Se estas pessoas estão convencidas de que experiências em animais são úteis para a ciência
médica, sua sugestão está certamente de acordo com suas idéias. Mas esta sugestão não é dirigida
de maneira nenhuma contra as experiências em animal, bem como em favor do senso científico.
Só importa a uma forma de proteção animal. Mas um tipo de protecionismo subordinado e
supostamente necessário à humanidade; um protecionismo que aceita o princípio de que o
homem, sendo o mestre de todos os outros seres viventes e tendo o direito de utilizá-los no que
bem entender.
2) Segunda Sugestão: Controle Através de Leis
Esta também é uma proposta dos “defensores” animais ou “protetores”. Mas justamente
esta sugestão também é defendida por nossos oponentes, os vivisseccionistas, que vêem nisto o
cavalo de Tróia triunfante: disfarçado como oponentes da vivisseção, eles agem como se
estivessem apoiando nosso movimento, enquanto sua intenção é miná-lo por dentro. Controlar as
experiências animais por meios de leis significa conferir um estado legal e moral neste método
falso, colocando-o num lugar entre as formas verdadeiramente científicas e eticamente legais de
procedimentos. Significa dar aos vivissectores o direito absoluto para sempre continuar,
imperturbáveis, abrigados e protegidos pela lei. Muitos daqueles que defendem o controle legal
da vivisseção enveredam-se por caminhos pragmáticos, como propor só proibir experiências para
produtos desnecessários como cosméticos, mas os mantendo para propósitos “sérios” como
medicamento, cirurgia e farmacologia. Assim, de acordo com eles, a vivisseção é uma questão
séria, que deve ser reservada para propósitos sérios. Este sempre é o maior elogio recebido pela
experimentação animal, uma deificação da vivisseção.
3) Terceira Sugestão: Abolição Total
Esta é a única escolha lógica, e a única escolha correta em uma base científica: a abolição total
de experiências em animais, um método não-cientifico responsável tanto por danos antigos
quanto novos para a saúde humana, e por alguns desastres reais iatrogênicos (induzidos por
médicos).
Neste momento muitos levantarão a objeção de que este é o objetivo último, máximo, que
ainda não pode ser atingido no presente momento. Eles estão errados. Em meu livro Vivisection
or Science?, publicado na Itália em 1981, eu escrevi na primeira página: “O país que primeiro
abolir as experiências animais será para o mundo o que a Itália foi para a Renascença; e por que
não poderia ser novamente a Itália?”. Bem, eu posso lhes dizer hoje que esta profecia - ao menos
em parte - já se torna realidade; a Província de Sul de Tirol proibiu a experimentação em animais
ao longo de seu território. A lei Provinciana de bem-estar animal, número 16 de 8 de Julho de
1986, estabelece no parágrafo B do Artigo 7: “… qualquer um que experimenta em animais
vivos, só tanto para propósitos científicos ou instrutivos, está sujeito à mesma pena”.
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Assim, ao final dessa exposição, pode-se afirmar que a abolição das experiências com
animais não é uma utopia. Já foi levada a cabo em uma província italiana. Seria este o início da
nova Renascença, a qual traria a verdadeira visão da saúde humana?