quinta-feira, 5 de julho de 2012

Continua batalha contra comércio de animais no Mercado Central de Belo Horizonte (MG)


Mais uma batalha dos defensores do meio ambiente contra os comerciantes de animais vivos no Mercado Central de Belo Horizonte. As entradas do centro de compras foram palco de uma manifestação dos conservacionistas. Com faixas e cartazes, eles distribuíram panfletos aos clientes do Mercado Central e receberam apoio da população. “Enquanto você come, compra e se diverte, centenas de vidas definham em um silencioso desespero”, dizia um dos cartazes. A segurança foi reforçada nas portarias para impedir a entrada dos participantes.
A aposentada Janine Guido foi uma das organizadoras do protesto de domingo (1) e recebeu o apoio de organizações de defesa dos animais. Indignada, ela disse que as lojas que comercializam os animais não oferecem condições adequadas. “É uma crueldade. Os animais não têm luz solar, ventilação e higiene. Vivem em meio ao calor e jaulas superlotadas. Eles ficam o tempo todo aí, até morrer. Muitos estão doentes, são vendidos, levados para casa e morrem. Há uma incompatibilidade sanitária entre vender no mesmo recinto animais vivos e alimentos para humanos”, reclama Janine, lembrando a existência de uma lei municipal que proíbe a entrada de animais em hipermercados, supermercados e similares.
O desabafo da aposentada foi endossado por Marimar Poblet, integrante da ONG Animais Urbanos e coordenadora da comissão que trata da questão da saúde animal do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte. “Do ponto de vista sanitário, é uma atividade ilegal. Do ponto de vista ético, também é ilegal, considerando as leis ambientais federal, estadual e municipal. Os animais aqui são tratados como mercadorias”, Marimar.
Já a médica Eulália Jordá fez um alerta para o risco de transmissão de doenças dos animais para as pessoas que fazem compras no Mercado Central. Ela destacou as bactérias shigella e salmonella, que podem contaminar os alimentos vendidos a granel. “Baratas que se alimentam das fezes e do sangue dos animais podem transportar essas bactérias e causar sérios problemas de saúde às pessoas”, disse a médica.
Cinomose
O médico-veterinário Gilson Dias Rodrigues afirmou que os problemas sanitários decorrentes da venda de animais vivos são negligenciados no Mercado Central. “As fezes dos animais são transportadas pelo ar, em forma de partículas, e atingem o prato das pessoas que estão se alimentando”, disse o veterinário. Ele acrescentou que os animais comercializados no centro de compras apresentam muitos problemas de saúde. “Esses bichos chegam aos consultórios com doenças conhecidas, como a cinomose, que atinge os sistemas nervoso e imunológico, causando pneumonia, paralisia e desidratação. Muitos animais morrem, trazendo frustrações aos compradores”, disse Gilson.
A estudante Marcela Tonholli, de 14, contou que sua avó comprou um cão no Mercado Central e o animal morreu no mesmo dia. “O cachorro chegou em casa com diarreia. Foi levado ao veterinário e morreu”, disse a adolescente.
O professor Lizt Vianna, de 26, participou do protesto e contou que vários turistas estrangeiros ficaram indignados com as péssimas condições dos animais no Mercado Central. “A Europa tem mais consciência a esse respeito. Acho que é algo que o Brasil deveria repensar, principalmente com o evento da Copa do Mundo de 2014”, disse o professor. Ninguém da direção do mercado foi encontrado para falar sobre o assunto.
Pojeto em tramitação
Está tramitando na Câmara Municipal de Belo Horizonte o Projeto de Lei nº 2.178/12, apresentado pela vereadora Maria Lúcia Scarpelli (PCdoB), que regulamenta a criação e o comércio de animais domésticos em Belo Horizonte. Um dos artigos do projeto de lei proíbe a venda de animais em estabelecimentos que comercializam alimentos para consumo humano, como hoje ocorre no Mercado Central. A proposta também regulamenta a prestação de serviços por parte de pet shops e clínicas veterinárias. Várias audiências públicas já foram realizadas para debater a questão.

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