quarta-feira, 4 de julho de 2012

Crianças devem ou não ver touradas na televisão?



O Bloco de Esquerda pretende que a transmissão de touradas na televisão seja proibida nos canais públicos e em horário nobre e que venha acompanhada de bolinha vermelha no canto superior direito do ecrã.

«A transmissão televisiva de touradas parece causar (...) um impacto emocional negativo nas crianças, produzindo graves consequências ao nível da agressividade e ansiedade das mesmas», pode ler-se no projeto de lei que será discutido esta quarta-feira e votado na sexta-feira no Parlamento.

A deputada Catarina Martins recordou ao tvi24.pt que a «legislação internacional» vai neste sentido, exemplificando com os casos do Equador, que proibiu a emissão em horário diurno, e de Espanha, onde a televisão pública não transmite estes espetáculos por mostrarem «violência com animais» e para «poupar as crianças ao conteúdo violento» e onde os menores são proibidos de entrar nos recintos.

«Qualquer programa com violência só é emitido depois das 22:30 e com bolinha. A exceção da tourada não tem fundamento», disse, lembrando uma decisão neste sentido da 1ª Secção da Vara Cível de Lisboa, em 30 de maio de 2008, em relação a uma tourada transmitida pela RTP.

Já o pediatra Mário Cordeiro afirma-se «desconfiado» com as consequências destas «medidas higienistas que pretendem purificar a sociedade». «As sociedades não são mais ou menos violentas por transmitirem touradas na televisão. O facto de as crianças serem demasiado protegidas até torna maior o choque com a realidade. É bom que se habituem à violência», afirmou ao tvi24.pt.

O especialista defende que os atos de violência transmitidos na televisão, como as touradas, devem ser «explicados e integrados» pelos pais, que podem, desta forma, introduzir o «debate para incentivar a comportamentos não violentos». «Por vezes, as crianças até descarregam ao ver as cenas violentas e depois não têm essas reações no dia-a-dia», completou.

Segundo Mário Cordeiro, as crianças mais pequenas, até cerca dos cinco anos, «nem notam» a violência na televisão. A partir daí, «começam a tomar atenção», pelo que é aconselhável evitar «imagens completamente sádicas, como de tortura». Só aos nove ou dez anos é que «começam a perceber» do que se trata. «Os pais conhecem o seu filho. Se acharem que não está preparado para ver uma tourada, mudem de canal», avisou.

Quanto à colocação da bolinha vermelha, o pediatra alerta que este até pode ser «um convite a ver». «Um programa torna-se mais excitante para as crianças com esse sinal», concluiu.

Fim dos subsídios às touradas?

A outra proposta do Bloco que vai esta quarta-feira a plenário apela ao fim dos apoios do Estado às touradas. «Nenhum recurso ou apoio público pode contribuir para este tipo de práticas», pode ler-se no projeto de lei.

A deputada Catarina Martins admite que «é muito difícil chegar a um número» em relação aos apoios públicos para estes espetáculos, mas garante que, em 2010, foi detetado «pelo menos um milhão de euros». «Mas as organizações de defesa dos direitos dos animais dizem que há muito mais dinheiro envolvido», completou.

O controlo destes apoios pode ser feito «através dos orçamentos das autarquias e dos apoios europeus». O objetivo, frisa, não é «proibir as práticas», mas antes reforçar que «os recursos públicos não devem ser utilizados para infligir sofrimento nos animais».

Para os bloquistas, esta proposta é «muito pacífica para a sociedade», porque «a maioria da população compreende que os recursos públicos não sejam utilizados para as touradas», num «momento em que se discutem as prioridades no uso de dinheiros públicos». 

Ambos os projetos deverão ser chumbados na votação no Parlamento.
fonte:.tvi24.iol.pt

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