quarta-feira, 4 de julho de 2012

Cães explorados para proteger imóveis sofrem de solidão e passam fome


Animais são explorados para tomar conta do lugar e sofrem sem ventilação e luz(Foto: Antônio Vasconcelos/Especial para o NE10)
Há pouco mais de dois meses, a reportagem do NE10 recebeu a denúncia de um cachorro que foi “contratado” para ser explorado como cão de guarda em um imóvel abandonado na Rua Mariz e Barros, no bairro do Recife Antigo, e vivia em um local sem luz, sem ventilação e sem alimentação diária. Um dia antes da reportagem chegar ao local, o cachorro foi retirado pelo Canil Colosso, que era responsável pelo animal.
Canil Colosso era responsável por tomar conta do imóvel
Em junho, parte da história se repetiu: a vizinhança do imóvel novamente entrou em contato com o NE10 para informar que um novo cachorro estava no local. O que mudou desta vez é o canil responsável por tomar conta do imóvel e os “cuidados”. O Canil Encanto é o novo contratado pela Santa Casa de Misericórdia, dona do imóvel, e, segundo pessoas que trabalham por lá, o animal é alimentado diariamente, mas continua vivendo preso e em um local sem luz e sem ventilação.
De acordo com Rodrigo Vidal, militante da causa de defesa animal, o cão é um animal gregário, de matilha, portanto, social: “Só a solidão já é sofrimento”. Ao menor sinal de movimentação na frente do prédio, o cachorro que vive no local já se aproxima da fresta entre a parede e o portão tentando colocar o focinho para fora e interagir com os de fora. A gerente de vendas Sheyla Menezes, 36 anos, passa todos os dias na frente do local para conversar com o animal que chama de “meu bebê” e lamenta: “Já começo meu dia mal, triste, depois que o vejo naquela situação”.

Após rompimento de contrato, novo animal é de responsabilidade do Canil Encanto
A direção do Canil Encanto informou que os serviços no prédio começaram emergencialmente. Rilani Dueire, diretora de Patrimônio da Santa Casa de Misericórdia do Recife, após vistoria nos prédios da instituição, verificou a situação precária na qual vivia o outro animal e rompeu contrato com o Canil Colosso. “Mas eu não posso deixar os imóveis sem animais, no da rua da Aurora fiz isso e entraram, renderam o funcionário e levaram até o telhado”, justifica a diretora.
A direção da Santa Casa, no entanto, solicitou que o novo canil enviasse um relatório a respeito da situação dos imóveis. Sobre o local, foram notificadas a falta de luze de ventilação e a necessidade de uso de bactericida e viricida em lavagem. Diante da demanda, Rilani Dueire informou que as obras no local se iniciariam na segunda-feira (25 de junho) tão logo passasse o festejo de São João. A reportagem voltou ao prédio na última sexta-feira (29) e a situação do imóvel continuava a mesma.
De acordo com Flávio Brito, sócio administrativo do Canil Encanto, o animal é alimentado uma vez por dia. Uma vez por semana é levado para tomar banho e, uma vez por mês, ao veterinário. Não é levado para passear porque “muitas vezes, quando tiro o animal do imóvel, as pessoas ficam com medo”, explica Flávio, que prefere “evitar esse desconforto com a população”.
Crime de maus-tratos
Já Rodrigo Vidal acredita que a situação se enquadra na lei 9605/98, que trata dos crimes de maus-tratos contra animais. “Assim como um trabalhador humano tem uma legislação que o protege, o animal também deve ter”, acredita. Para a delegada Nely Carvalho, da Delegacia de Polícia do Meio Ambiente (Depoma), na hora de contratar esse tipo de serviço, as pessoas devem visitar os canis, ver como os animais são tratados e dar condições de instalação do animal (como limpeza, por exemplo). “Devem ser enviados dois animais para que eles se façam companhia”, explica. Em caso de maus-tratos, tanto o canil como o dono do imóvel podem ser responsabilizados pelo crime.
Marcos Aurélio, responsável pelo Canil Colosso, informa que na situação do imóvel da Rua Mariz e Barros, ambos os lados resolveram romper o contrato. “A gente não consegue entender hoje que caracteriza maus-tratos e, até que exista uma definição mais clara de como a lei será aplicada, as atividades no imóvel estão suspensas”, explica. Hoje a pena é de 3 meses a 1 ano de reclusão e multa.
 Santa Casa de Misericórdia descarta uso de animais
O NE10 entrou em contato, novamente, nesta terça-feira (2), com a Santa Casa de Misericórdia. Rilani Dueire, diretora da instituição, informou que, após reunião, ficou decidido que a segurança dos imóveis da instituição não será mais feita com animais. De acordo com a diretora, dentro de 15 dias não se verá mais nenhum cachorro no prédio da Mariz e Barros.
Fonte: NE10

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