sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Unifesp é acusada de torturar e sacrificar saguis

A comunidade protetora de animais está perplexa com a solicitação que recebeu da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), por intermédio do Ibama e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a entidades mantenedoras de fauna silvestre: a doação de saguis para experimentos científicos na faculdade de medicina, em testes a serem realizados para combater a epilepsia e mal de Parkinson.
Segundo os protetores, essas pesquisas são torturantes e o culminam com o sacrifício da cobaia. “O governo não nos dá um tostão. Nós investimos nosso tempo, dedicação, carinho, respeito e dinheiro para resgatar a dignidade dos animais silvestres que nos confiam (em depósito judicial) de todo o país. Não recebemos nenhuma verba. Cuidamos dos animais pensando em um dia entregá-lo à natureza da melhor forma, ou, se isso não é possível, de dar-lhes o melhor tratamento. Quase 90% foram vítimas de tráfico e foram maltratados e mutilados de tal maneira que a recuperação é lenta e difícil”, conta Sílvia Pompeu, de 50 anos, fundadora do Rancho dos Gnomos, que há 21 anos cuida de animais silvestres em Cotia, na Grande São Paulo.
Segundo ela, a solicitação é descabida. “Como podem pedir a nós que enviemos saguis para serem torturados e mortos? Se o nosso trabalho caminha na direção completamente oposta?”, indagou, indignada.
O Rancho dos Gnomos e outras entidades mantenedoras de fauna, como o Projeto Mucky (dedicado exclusivamente para o cuidado de primatas), receberam o e-mail da Secretaria do Meio Ambiente há um mês.
Mobilização
Em trecho de uma carta aberta publicada na internet, o Projeto Mucky se manifesta: “É uma lástima que os órgãos responsáveis, em vez de cumprirem seu papel na proteção desses animais, que são patrimônio do Estado, abram brechas para que esse tipo de absurdo aconteça com a nossa fauna. Quantos projetos de soltura, reabilitação e reintrodução de espécies silvestres são aprovados (e apoiados) em nosso país? Podemos dizer, com certeza, que são em número bem menor do que as aprovações para experimentação animal e vivissecção (dissecação do animal vivo)”.
O episódio mobilizou a comunidade defensora dos animais. No dia 19, o deputado estadual Feliciano Filho pretende criar a primeira Comissão Antiviviseccionista Permanente do país. Para tanto, ele convocou especialistas e amantes dos bichos para um encontro a ser realizado das 19h às 22h no Auditório Paulo Kobayashi da Assembleia. O Ministério da Ciência, Tecnologia publicou, na segunda-feira, chamada pública para selecionar propostas para estruturação da Renama (Rede Nacional de Métodos Alternativos) com prazo até 18 de outubro. A Renama foi criada para o desenvolvimento e a certificação de métodos alternativos ao uso de animais para os testes de medicamentos e cosméticos.
Trecho de carta aberta revela indignação do Projeto Mucky
“Infelizmente a população não conhece os bastidores dos laboratórios de experimentação animal. Muitas vezes os animais são mantidos em condições precárias, submetidos a testes que causam sofrimento com choques, injeções de substâncias tóxicas, queimaduras, lesões na pele, amputações e implantes de objetos, fome, sede, privação de luz, ventilação e higiene, indução de doenças graves, de estresse, entre outros testes. Posteriormente eles são eutanasiados ou sacrificados. Pesquisas e experimentos científicos são fundamentais, mas não justificam a tortura, a crueldade e o sofrimento animal. Lembramos o que está decretado na Constituição brasileira de 1988: todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.”
De: Governo do Estado para ONG
Enviada em:
Terça-feira, 31 de julho de 2012 09:37
Recebemos do Ibama – Susep/SP, a seguinte informação, para ser repassado para conhecimento das instituições no estado de São Paulo: caso alguém queira destinar saguis para pesquisa, o Criadouro Científico da Unifesp (registrado e em situação regular) está com disponibilidade e interesse em receber, tufo branco, preto ou híbrido. Em geral, eles buscam se for próximo, mas é questão de combinar.
Esclarecemos antecipadamente que trata-se de fins científicos, em universidade de medicina reconhecida, com projeto de pesquisa aprovado e a devida anuência do Conselho de Ética da Universidade etc.
A Unifesp recorreu ao Ibama, que, por sua vez, recorreu à Secretaria de Estado do Meio Ambiente atrás de saguis para pesquisa. Acompanhe a troca de e-mail entre o órgão estadual e a ONG Rancho dos Gnomos
Da: ONG para a Faculdade de Medicina da UNIFESP
Enviadas:
Terça-feira, 14 de agosto de 2012 21:07
Recebemos informativo quanto o interesse da Unifesp em saguis para pesquisas com fins científicos.
Pedimos a gentileza de nos informar quais as pesquisas serão realizadas com os animais em questão e quais os verdadeiros fins.
Agradecemos a atenção e aguardamos retorno.
De: Faculdade de Medicina da UNIFESP para a ONG
Enviada em: quarta-feira, 15 de agosto de 2012 09:17
Trabalhamos num laboratório de neurofisiologia com pesquisas voltadas a doenças neurológicas como epilepsia e Parkinson. Todos nossos experimentos terminam no sacrifício do animal para análises histológicas. Sei que isso nem sempre é bem aceito pela sociedade, mas trabalhamos em conformidade com órgãos como Ibama, MMA e comitês de ética em pesquisa.
Muito obrigado pela atenção
O que eles dizem
UNIFESP
O Criadouro Científico da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) está em situação regular, aprovado pelo Ibama, órgão do governo federal oficialmente responsável pelo controle e fiscalização do uso de animais silvestres em pesquisas. Esse órgão periodicamente divulga listas de animais disponíveis para doação às instituições devidamente cadastradas. Todos os projetos científicos só são iniciados depois de aprovados pelo comitê de ética e pesquisa da universidade. (O DIÁRIO solicitou entrevista com representante do conselho, mas não houve disponibilidade).
IBAMA
O Ibama não solicitou “doações de animais” a qualquer entidade, apenas indicou a disponibilidade manifestada por um criadouro científico público em receber esses animais. Saguis são animais de difícil destinação para a natureza, não são nativos da Mata Atlântica, há híbridos entre espécies, causam impactos ambientais nos locais onde foram introduzidos, além de existir questões sanitárias relevantes e de difícil destinação para cativeiro. Há excesso de população em muitos locais, há poucos criadouros registrados e, dentre os registrados, poucos aceitam receber os animais. Não há obrigação de encaminhar animais à Unifesp. O encaminhamento de animais para o criadouro científico depende de licença de transporte emitida pelo Ibama ou pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
Secretaria de Meio Ambiente
A pedido do Ibama, divulgamos a informação para os nossos criadouros e mantenedores cadastrados. A nossa atribuição é desenvolver ações e realizar a gestão da fauna silvestre em âmbito estadual.
Fonte: Diário de S. Paulo

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