Na feira realizada em uma área da sede do CCZ no último dia 25, no bairro Compensa, apenas 20 animais foram adotados.
Uma
mobilização de entidades protetoras de animais de Manaus foi iniciada
nesta semana para salvar os cães e gatos filhotes que não foram adotados
na última feira promovida pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). O
temor é que os animais (mais de 100) sejam infectados com alguma doença
enquanto permanecerem no CCZ e sejam eutanasiados devido à saúde
debilitada.
Na feira
realizada em uma área da sede do CCZ no último dia 25, no bairro
Compensa, apenas 20 animais foram adotados. Segundo informações do
órgão, 40 serão encaminhados para as entidades que atuam como parceiras
do CCZ. Os demais permanecerão no local. A próxima feira acontecerá no
último sábado de setembro.
O
destino dos animais que sobraram na feira tem causado uma comoção nas
redes sociais devido à campanha que as entidades estão realizando para
que os animais encontrem lares que os recebam.
Jaqueline
Canizo, presidente da ong Compaixão Animal, diz que a entidade já
retirou 20 cachorros e seis gatos filhotes que não foram adotados
durante a feira. O acritica.com apurou que outras ongs (cujos membros
pediram para não serem identificados nesta matéria) estão fazendo o
mesmo. Há estimativa de que mais de 40 poderão ser acolhidos, número
superior ao informado pela direção do CCZ.
Uma
pessoa ligada a outra entidade disse que o CCZ solicitou ajuda porque
no local não havia condições de manter os animais saudáveis. “Se ficarem
lá acabam adoecendo e morrendo. Fora que não tem espaço para tanto
animal. O abandono é grande. Muito triste. A gente está retirando,
castrando e vermifugando para colocar para adoção. Mas vale ressaltar
que as pessoas que trabalham lá fazem o possível para salvar, mas a
população não ajuda, pois abandona todos os dias, e a prefeitura não tem
coragem nem de dar a ração”, contou.
Falta de atenção
O
problema do CCZ, contudo, ultrapassa a dificuldade em convencer a
população animais abandonados e/ou deixados voluntariamente pelos seus
ex-donos no local. Segundo Jaqueline Canizo (opinião partilhada por
outras pessoas que atuam nestas entidades de proteção) é a indiferença
do poder público à atenção dada aos animais de Manaus, à falta de
estrutura do CCZ e ao ínfimo investimento dado ao setor os principais
causadores da atual situação.
Para
se ter uma ideia, no dia da realização da feira, os protetores de
animais foram ao local dar banho, dar remédio e até mesmo por perfume
nos animais para que eles ficassem ficarem mais atraentes e assim
conseguirem ser adotados.
“A
feira aconteceu no sábado. Se os funcionários fossem fazer o trabalho,
teriam que receber hora extra. O CCZ não tem estrutura, não tem
condições para nada. O que estamos fazendo é o que a prefeitura deveria
fazer. Tudo o que a gente faz é com nosso dinheiro. Não temos sequer um
terreno para dar receber os animais.Eles ficam espalhados nas nossas
residências”, disse Jaqueline.
A
presidente da Compaixão Animal elogiou, contudo, a atuação do atual
coordenador do CCZ, Francisco Zardo, dizendo que este deu abertura às
entidades protetoras para que elas atuem como parceiras do órgão. Uma
das contrapartidas do CCZ é abrir cotas de vagas para que as entidades
possam ter acesso à castração gratuita dos animais recolhidos.
“O
problema não é o CCZ em si, é a prefeitura. Com a entrada do Francisco
Zardo a situação melhorou em relação ao que era. Antes era um matadouro
sem parar e um caos total. Hoje, está só um caos. Pelo menos pararam com
as matanças diárias dos animais”, contou Jaqueline.
Articulada
e bastante contundente em suas críticas, Jaqueline contou que o CCZ
precisa de uma reforma urgente e não apenas na sua estrutura física, mas
na qualificação dos funcionários, no aumento do número de veterinários e
na descentralização dos serviços.
“Para
atender a Compensa está bem. Mas como uma pessoa que mora na Zona Leste
e que não tem dinheiro vai levar seu animal de táxi ou de ônibus para o
CCZ, no outro lado da cidade? O ideal seria colocar um distrito por
zona. Por que a área de saúde da prefeitura deixa o CCZ nesse caos?”,
disse.
O
responsável pelo estado do CCZ e pela superpopulação de animais
abandonados e nas ruas, porém, não é apenas o poder Executivo. Jaqueline
reiterou o alerta de muitas outras entidades protetoras de animais: é o
dono o outro culpado pela condição dos animais.
“Infelizmente,
50% do culpado somos nós seres humanos. As pessoas não têm posse
responsável. Você não gostar de um animal ou não ter um animal em casa é
um direito seu. Mas a partir do momento que pega e coloca no lar você
tem o dever e a obrigação e cuidar”, disse Jaqueline.
Semsa
A
reportagem enviou perguntas, por email, para Francisco Zardo e para a
assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) a
respeito dos animais da feira. A resposta informa que, durante a feira,
foram disponibilizados adultos e filhotes, mas só os filhotes foram
adotados. “Muitas pessoas adotam para atender ao desejo das crianças e
elas preferem os filhotes”, diz trecho da resposta, atribuída a
Francisco Zardo.
Desde
a segunda-feira, contudo, novos animais entraram no CCZ. Até nesta
sexta-feira, o local recebeu 51 cães e 11 gatos por demanda espontânea
(donos que deixaram) e 12 cães por remoção.
De
acordo com a assessoria de imprensa da Semsa, em média o CCZ recebe 150
animais por semana, inclusive nos finais de semana e feriados, nas mais
diversas condições. Desde grandes ninhadas até animais adultos com
sérios problemas de saúde. A maioria, contudo, é saudável.
Parceria
Quanto
à parceria com as entidades de proteção, a Semsa diz que ela surgiu do
anseio das partes em aumentar o número de adoções e castrações
disponibilizadas pelo CCZ, bem como promover ações educativas em posse
responsável conscientizando a população da necessidade de se evitar o
abandono de cães e gatos em benefício da saúde pública e do bem estar
dos animais.
“Cada
entidade protetora tem garantidas três castrações por semana e em
contrapartida nos ajudam preparando os animais para a feira e divulgando
nas redes sociais. Temos também, pessoas que nos ajudam
voluntariamente, aos quais somos muito gratos”, diz Zardoa, em nota.
Zardo
informa que CCZ está de portas abertas tanto à população em geral,
quanto aos profissionais da área que queiram contribuir de alguma forma,
seja adotando, cedendo uma cota de castrações, como fez recentemente
uma clínica recém inaugurada na cidade ou simplesmente não abandonando
seus animais sob qualquer pretexto.
Estrutura
A
diretora do departamento de vigilância epidemiológica da Semsa, Sheley
de Sá, reconheceu que o CCZ tem déficit de funcionários e, sobretudo, de
veterinários. Apenas um ocupa o cargo. Outros três profissionais que
estão na função de “fiscal veterinário”, cujo trabalho é realizar
fiscalização nas ruas, acabam também atendendo à demanda, considerada
“ilimitada”.
Sheley
disse que uma de suas lutas é “ampliar a atuação” do CCZ. “O ideal é
ter um distrito por zona. Seria um avanço. Estamos lutando por isso”,
disse.
Ela
informou também que um recente concurso público vai destinar dois novos
veterinários para o CCZ e outros dois que ficarão de reserva. Ainda não
há data para eles assumirem os cargos.
Sheley
admitiu que o local não tem condições de atender à demanda de
esterilizações devido à pouca quantidade de profissionais. Em média, as
pessoas chegam a esperar vários meses para conseguir vaga do
procedimento.
O
horário de funcionamento do CCZ é de 8h às 18h. Para diminuir o impacto
da baixa quantidade de funcionários, estes são distribuídos por turnos.
O turno dos veterinários, por normas trabalhistas, é de apenas seis
horas. No total, o CCZ tem 83 funcionários. Destes, 25 são agentes de
zoonoses.
O
orçamento do CCZ é financiado pelo Ministério da Saúde, que arca com as
ações do órgão por meio do Piso de Vigilância em Saúde, repassado para
todas as atividades de saúde da Semsa. Em 2012, o CCZ recebeu uma
“proposta de R$ 450 a 500 mil”, segundo Sheley.
A
contrapartida da prefeitura é destinada à manutenção de serviços de
rotina, como pagamento de servidores, manutenção de veículos, manutenção
do prédio, refrigeração das vacinas e serviços de água e luz.
“A
gente está fazendo uma requisição de R$ 295 mil do Ministério da Saúde
para investir na estrutura do CCZ. Nossa preocupação é melhorar a
qualidade do ambiente dos animais e tentar descentralizar”, disse.
A folha de pagamento para 2012 do CCZ é estimada em R$ 1, 9 milhões, segundo a Semsa.
Fonte: acritica.uol
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