sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Crianças de 7 a 12 anos terão aulas de caça em escolas públicas espanholas


Por Noelia Gigli (da Redação – EUA)
Foto: Edu Bayer
A comunidade de Castela e Leão, na Espanha, subsidiará aulas de caça nas escolas públicas para meninos e meninas. O acordo, assinado a pedido da Federação de Caça da mesma comunidade, já conta com 303.000 euros.
O convênio, que contempla diversas atuações, foi assinado pela exconselheira do Meio Ambiente, María Jesús Ruiz, do PP, partido que governa Castela e Leão há mais de 30 anos, e pelo porta-voz dos caçadores da região, Santiago Itumendi Mauregui, ex-militar que preside a Federação de Caça. Tal acordo, de 29 de novembro de 2010, estabelece o início de um programa chamado “Caçador por um dia”, dirigido a meninos e meninas
com idades entre 7 e 12 anos, “onde se explica por que a caça é necessária, além de mostrar, através de jornadas práticas, como se caça”.
Para justificar o início das aulas, Santiago Inturmendi, presidente dos Caçadores de Castela, afirmou que o sistema educativo ensina “a cultura do Bambi, onde é dito para as crianças que os caçadores são maus e os cervos, bons”. Os meios de comunicação tampouco escapam do caçador, que os acusa de “intoxicação informativa generalizada contra essa atividade”.
“Os valores da caça”
A maioria das federações de caça, muitas com boas relações com os governos regionais, concorda com os caçadores e reclama por causa da queda das licenças de caça. De acordo com o Ministério da Agricultura, as licenças em 1990 eram de 1.443.514, número
que caiu para menos de 800.000 este ano.
A caça é uma atividade que, por ano, move mais de 2.230 milhões de euros no Estado espanhol, segundo um estudo da Federação Real de Caça, embora outras fontes revelem a cifra de 3.580 milhões de euros. Castela e Leão é a terceira comunidade em licenças, entretanto o número de caçadores diminui. O acordo com a polêmica ex-conselheira do Meio Ambiente diz que “o objetivo é levar à sociedade os valores do aproveitamento cinegético” e fazer com que “não se perca o hábito da caça como passatempo”. Por enquanto, a Federação dos Caçadores gravou um vídeo sobre o tema para exibi-lo nas escolas.
Armas nas mãos de menores
A campanha contempla aulas teóricas nas escolas, além de “jornadas práticas”, o que implica o contato com armas de fogo, segundo denúncias de vários grupos ecologistas. A legislação que regula o uso de armas, em nível estadual, entra em contradição legal com os planos da Comunidade.
O Decreto Real 137/1993, de 29 de janeiro, especifica que os menores poderão usar espingardas de caça “com Autorização Especial para Menores (AEM)”, expedida pela Guarda Civil, uma vez que atinjam os 14 anos e estejam “acompanhados por um maior de idade”. A norma permite, também, que os menores, a partir dos 16 anos, usem rifles de caça, sob a supervisão de um maior de idade. Atualmente, mais de 13.000 menores, entre 14 e 18 anos, contam com porte de armas, segundo dados da federação de caça.
Lei diminuirá de 16 para 14 anos a idade mínima para caçar
A comunidade de Castela e Leão não é a única que pretende fomentar esse negócio entre os menores. A nova Lei de Caça da Galícia se prepara para diminuir de 16 para 14 anos a idade mínima legal para um porte de rifle. Galícia justifica tal medida dizendo que “é preciso garantir um relevo geracional” para essa prática.
Mobilização contra uma educação bélica
Uma plataforma de trinta organizações sociais, culturais e ecologistas da Galícia, chamada “Matar por Matar Não”, denuncia que tais medidas são “o retorno à caverna” e a contradição diante da defesa de uma educação não bélica e de respeito ao meio-ambiente.
Por outro lado, o “Ecologistas em Ação” de Castela e Leão lamenta que medidas similares sejam adotadas. Em um comunicado, a organização explica que essas aulas contribuirão para “educar os alunos a matar por diversão”. Os ecologistas questionam também o caráter ambiental e educativo de a comunidade apoiar economicamente os caçadores.
Além do mais, lembram que a Comunidade de Castela e Leão eliminou, recentemente, os subsídios para mais de 250 atividades de educação ambiental geridas por convênios assinados com associações culturais, coletivos de cidadãos e ajuntamentos da região. A maioria dos técnicos em meio-ambiente contratados para as atividades foi despedida.
O grupo “Ecologistas em Ação” pede aos pais “que se recusem a permitir que seus filhos recebam uma educação bélica”.
fonte: anda

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