É manhãzinha. O trânsito caótico ainda não toma conta da avenida 23 de Maio, na zona sul de São Paulo. Mas perto dali um outro movimento já está a todo vapor.
Com seu topete amarelo e uma manchinha vermelha na bochecha, o pica-pau-de-cabeça-amarela canta enquanto faz seu ninho numa cavidade de um velho eucalipto.
Mais adiante, uma alma-de-gato exibe sua vistosa cauda vermelha e preta em um voo pela copa de um ipê. Estamos no parque Ibirapuera, no meio da metrópole, e os passarinhos não parecem se intimidar com a cidade à sua volta.
Os paulistanos mais atentos já devem ter percebido que a atividade das aves está mais intensa nesta época do ano. É porque, com a primavera, inicia-se a temporada de reprodução, e os pássaros passam a se exibir mais. Sorte nossa.
“Todo dia acordo com passarinho no ouvido. Das 5h às 9h eles cantam loucamente”, diz a personal trainer Taina Cicone Bartolo, 25, moradora da Penha.
O período começou no fim do inverno e segue até janeiro. Agora, estamos em pleno auge da “revoada”. Esta é a melhor hora para quem gosta de observar os habitantes mais coloridos da metrópole.
“Nesta época, eles aumentam o canto pra atrair o parceiro e espantar os machos rivais”, explica o biólogo Marcos Antônio Melo, da divisão de fauna da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.
Dentre as espécies avistáveis estão canários, pica-paus e almas-de-gato. Além dos pássaros “da casa”, esse é o momento para avistar aves migratórias, vindas de outras regiões do país. E até do exterior.
Melo conta que algumas “visitas” são andorinhão-do-temporal, juruviara e suiriri, vindos do Centro-Oeste e do Norte do país. Das Américas Central e do Norte vêm os maçaricos e a águia-pescadora.
Binóculos e paciência
Engana-se quem pensa que só é possível avistar esses pássaros em áreas isoladas. Segundo estudo do CEO (Centro de Estudos Ornitológicos), já foram registradas na cidade cerca de 400 espécies, que aparecem em lugares como o Ibirapuera (zona sul), Cidade Universitária (oeste), parque do Carmo e parque Ecológico do Tietê (leste).
“Dá pra ver até no centro”, empolga-se Luiz Fernando, do CEO. “Eles aparecem principalmente no parque da Luz e até na Sé.” Fernando explica que algumas espécies se instalam por aqui por não encontrarem os predadores presentes na mata, como cobras e gaviões. O acesso a comida também pode ser mais fácil.
“Em alguns lugares o fato de as pessoas colocarem alimento para as aves favorece. Muitas sobrevivem em bairros bem arborizados como Jardins e Alto de Pinheiros.”
Também é possível avistar e ouvir a cantoria em bairros como Perdizes e Higienópolis.
Para começar sua jornada pela observação de aves, os especialistas recomendam: um par de binóculos, um guia de campo, com informações sobre as aves, uma câmera fotográfica e paciência. O melhor horário é de manhã.
Depois de um tempo, você não vai mais querer parar de procurar pássaros por aí, atesta Eric Gallardo, criador do site Birdwatcher Brasil. “É excitante quando você começa a conhecer mais. Faz viagens só pra ver um bicho raro.”
Fonte: Jornal Floripa
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