Por Aparecida Negreiros (em colaboração para a ANDA)
A situação de má conservação do piso no Quebra-Mar, no bairro da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, tem sido motivo de queixa dos moradores, mas também está servindo como campanha contra os gatos do local. Duas matérias publicadas com informações incompletas no Jornal O Globo, uma em abril e outra em agosto, estão contribuindo para um serviço de desinformação e preconceito contra os animais.
As matérias da jornalista Leandra Leal sugerem a retirada dos gatos do Quebra-Mar, mas a conclusão que se tem chegado em várias partes do mundo é que, ao contrário do que se imagina e que se pretende, a transferência de colônias de felinos, seja feita por qual método, não elimina de forma efetiva a presença dos mesmos naquela localidade. Retirar uma colônia de gatos deixa o território livre para ser novamente colonizado. Novos gatos tomarão o lugar dos anteriores e os problemas antigos regressarão (o chamado “efeito de vácuo”). No entanto, castrar os gatos da colônia e deixá-la no seu território quebra este ciclo de repovoamento. Os felinos são extremamente territoriais e, ao adotarem certo território, geralmente não permitem que outros felinos dali se aproximem. Essas informações são baseadas em instituições de referência no assunto como a “Feral Cat Coalition” de San Diego, na Califórnia, Estados Unidos.
Enquanto se discute a situação do Quebra-Mar alguns cidadãos, como Ana Claudia Cardoso, cuidam ou cuidaram por um período dos felinos do local. Ana explica que os gatos estão quase todos castrados e vai adiante:
- Castrados com o dinheiro do nosso bolso, trabalho que deveria ser realizado pela prefeitura. Os gatos são alimentados todos os dias e levados ao veterinário, quando necessário, também com dinheiro do nosso bolso. Sempre que possível são colocados para adoção, também por nós. Nossos potes de água são constantemente jogados fora, por uma pequena quantidade de pessoas. Isso se chama falta de respeito, falta de educação e cultura. Não temos gatos doentes. Temos algumas pessoas que os ameaçam com pedras, paus, cacos de vidro. Reclamar de bichos, hoje em dia, é cafona, fora de moda, e não cabe mais no mundo que estamos vivendo!
Cristina Palmer, advogada e vice-presidente da ONG Oito Vidas completa:
- Animais castrados e cuidados, como é o caso dos animais do Quebra-Mar, não expõem pessoas a doenças. Muito pelo contrário. Eles ajudam a conter a população de animais rasteiros, ratos e outros que, somados à urina, fezes e lixo (de humanos) que se espalham nesta cidade, poderia se tornar um desastre e, com certeza, expõem todos nós a doenças.
A colaboração da mídia é fundamental para que fique pública a real situação desses gatos, que têm direito à vida e fazem parte da cidade do Rio com o status de animais comunitários, e estão, portanto, devidamente protegidos pela lei Nº 4.956, DE 3 DE DEZEMBRO DE 2008.
Mas não é só no Quebra-Mar onde é possível constatar esforços para cuidar dos animais abandonados. Cada vez mais pessoas, empreendimentos e condomínios estão se mobilizando para castrar, alimentar e manter os animais. Essa nova atitude é uma resposta ao triste resultado da negligência e da irresponsabilidade das pessoas que, no momento apropriado, não castraram os seus animais, permitindo uma procriação desenfreada. Portanto cuidar de animais abandonados nas ruas vai além da proteção animal. É um trabalho de ética, respeito pela vida e saúde pública. E por falar em saúde, é comum usar o argumento da Toxoplasmose para apavorar as pessoas na tentativa de remover gatos. Conforme Maria Regina Reis Amendoeira, Pesquisadora Titular Chefe do Laboratório de Toxoplasmose do Instituto Oswaldo Cruz, citada na matéria do jornal O Globo de agosto sobre os gatos do Quebra-Mar, escreve em seu artigo: A importância dos animais de produção na infecção por Toxoplasma gondii no Brasil:
“A toxoplasmose … tem sido usualmente atribuída à ingestão de carnes cruas ou mal cozidas, de animais de produção infectados, sendo a taxa de infecção destes animais de grande importância para o estudo desta protozoose… Animais infectados possuem grande quantidade de cistos do parasita em variados órgãos e músculos e estes não são detectados durante a inspeção da carne nos abatedouros. Esta revisão enfatiza aspectos da protozoose em suínos, caprinos e ovinos, bovinos, equinos e aves visando esclarecer o potencial de cada espécie como fonte de infecção do parasita, principalmente no Brasil.”
Portanto é importante destacar o risco de contrair toxoplasmose por meio da ingestão de carne crua ou mal passada. Ressaltando que no Brasil muitos abatedouros são clandestinos, nesses locais faltam condições adequadas de higiene, sofrimento de animais e riscos para a saúde humana. A mídia tem um importante papel na sociedade, pois a disseminação das informações corretas pode facilitar a união de esforços na busca e concretização de soluções. Quem sabe todos nós, cidadãos, possamos ser contemplados de uma próxima vez com uma matéria sobre não abandono e posse responsável de animais, importância de castração no controle populacional de cães e gatos, consumo sem crueldade contra animais. Uma matéria que fale sobre a convivência humana respeitosa com os animais. Segundo uma publicação da prefeitura de Curitiba, humanizar uma cidade significa que uma nova consciência deve ser assumida: a de que TODOS os seres têm direito à vida, à liberdade e à expressão de comportamentos próprios de sua espécie. Portanto, devem ser tratados com dignidade.
Para saber mais sobre as reportagens do jornal O Globo acessar os links:
http://oglobo.globo.com/barra/quebra-mar-na-barra-esta-cheio-de-gatos-4626503
http://oglobo.globo.com/barra/quebra-mar-esta-sujo-malconservado-5797962
Fonte: anda.jor.br
A situação de má conservação do piso no Quebra-Mar, no bairro da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, tem sido motivo de queixa dos moradores, mas também está servindo como campanha contra os gatos do local. Duas matérias publicadas com informações incompletas no Jornal O Globo, uma em abril e outra em agosto, estão contribuindo para um serviço de desinformação e preconceito contra os animais.
As matérias da jornalista Leandra Leal sugerem a retirada dos gatos do Quebra-Mar, mas a conclusão que se tem chegado em várias partes do mundo é que, ao contrário do que se imagina e que se pretende, a transferência de colônias de felinos, seja feita por qual método, não elimina de forma efetiva a presença dos mesmos naquela localidade. Retirar uma colônia de gatos deixa o território livre para ser novamente colonizado. Novos gatos tomarão o lugar dos anteriores e os problemas antigos regressarão (o chamado “efeito de vácuo”). No entanto, castrar os gatos da colônia e deixá-la no seu território quebra este ciclo de repovoamento. Os felinos são extremamente territoriais e, ao adotarem certo território, geralmente não permitem que outros felinos dali se aproximem. Essas informações são baseadas em instituições de referência no assunto como a “Feral Cat Coalition” de San Diego, na Califórnia, Estados Unidos.
Enquanto se discute a situação do Quebra-Mar alguns cidadãos, como Ana Claudia Cardoso, cuidam ou cuidaram por um período dos felinos do local. Ana explica que os gatos estão quase todos castrados e vai adiante:
- Castrados com o dinheiro do nosso bolso, trabalho que deveria ser realizado pela prefeitura. Os gatos são alimentados todos os dias e levados ao veterinário, quando necessário, também com dinheiro do nosso bolso. Sempre que possível são colocados para adoção, também por nós. Nossos potes de água são constantemente jogados fora, por uma pequena quantidade de pessoas. Isso se chama falta de respeito, falta de educação e cultura. Não temos gatos doentes. Temos algumas pessoas que os ameaçam com pedras, paus, cacos de vidro. Reclamar de bichos, hoje em dia, é cafona, fora de moda, e não cabe mais no mundo que estamos vivendo!
Cristina Palmer, advogada e vice-presidente da ONG Oito Vidas completa:
- Animais castrados e cuidados, como é o caso dos animais do Quebra-Mar, não expõem pessoas a doenças. Muito pelo contrário. Eles ajudam a conter a população de animais rasteiros, ratos e outros que, somados à urina, fezes e lixo (de humanos) que se espalham nesta cidade, poderia se tornar um desastre e, com certeza, expõem todos nós a doenças.
A colaboração da mídia é fundamental para que fique pública a real situação desses gatos, que têm direito à vida e fazem parte da cidade do Rio com o status de animais comunitários, e estão, portanto, devidamente protegidos pela lei Nº 4.956, DE 3 DE DEZEMBRO DE 2008.
Mas não é só no Quebra-Mar onde é possível constatar esforços para cuidar dos animais abandonados. Cada vez mais pessoas, empreendimentos e condomínios estão se mobilizando para castrar, alimentar e manter os animais. Essa nova atitude é uma resposta ao triste resultado da negligência e da irresponsabilidade das pessoas que, no momento apropriado, não castraram os seus animais, permitindo uma procriação desenfreada. Portanto cuidar de animais abandonados nas ruas vai além da proteção animal. É um trabalho de ética, respeito pela vida e saúde pública. E por falar em saúde, é comum usar o argumento da Toxoplasmose para apavorar as pessoas na tentativa de remover gatos. Conforme Maria Regina Reis Amendoeira, Pesquisadora Titular Chefe do Laboratório de Toxoplasmose do Instituto Oswaldo Cruz, citada na matéria do jornal O Globo de agosto sobre os gatos do Quebra-Mar, escreve em seu artigo: A importância dos animais de produção na infecção por Toxoplasma gondii no Brasil:
“A toxoplasmose … tem sido usualmente atribuída à ingestão de carnes cruas ou mal cozidas, de animais de produção infectados, sendo a taxa de infecção destes animais de grande importância para o estudo desta protozoose… Animais infectados possuem grande quantidade de cistos do parasita em variados órgãos e músculos e estes não são detectados durante a inspeção da carne nos abatedouros. Esta revisão enfatiza aspectos da protozoose em suínos, caprinos e ovinos, bovinos, equinos e aves visando esclarecer o potencial de cada espécie como fonte de infecção do parasita, principalmente no Brasil.”
Portanto é importante destacar o risco de contrair toxoplasmose por meio da ingestão de carne crua ou mal passada. Ressaltando que no Brasil muitos abatedouros são clandestinos, nesses locais faltam condições adequadas de higiene, sofrimento de animais e riscos para a saúde humana. A mídia tem um importante papel na sociedade, pois a disseminação das informações corretas pode facilitar a união de esforços na busca e concretização de soluções. Quem sabe todos nós, cidadãos, possamos ser contemplados de uma próxima vez com uma matéria sobre não abandono e posse responsável de animais, importância de castração no controle populacional de cães e gatos, consumo sem crueldade contra animais. Uma matéria que fale sobre a convivência humana respeitosa com os animais. Segundo uma publicação da prefeitura de Curitiba, humanizar uma cidade significa que uma nova consciência deve ser assumida: a de que TODOS os seres têm direito à vida, à liberdade e à expressão de comportamentos próprios de sua espécie. Portanto, devem ser tratados com dignidade.
Para saber mais sobre as reportagens do jornal O Globo acessar os links:
http://oglobo.globo.com/barra/quebra-mar-na-barra-esta-cheio-de-gatos-4626503
http://oglobo.globo.com/barra/quebra-mar-esta-sujo-malconservado-5797962
Fonte: anda.jor.br
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