sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Conviver com animal doméstico dá noção de responsabilidade à criança


O contato com animais faz com que a criança desenvolva sua percepção sobre o ciclo da vida (Foto: Thinkstock)
Ter um animal como parte da família é o sonho de muitas crianças. Mais do que companheiros de brincadeiras e parceiros afetivos, os animais trazem inúmeras vantagens para o desenvolvimento e o bem-estar infantil.
A psicóloga e veterinária Ceres Berger Faraco, presidente da Associação Médico-Veterinária Brasileira de Bem-Estar Animal, afirma que crianças se relacionam facilmente com animais porque ambos têm duas características importantes em comum: gostam de brincar e possuem uma comunicação mais gestual e menos verbal.
O envolvimento entre eles pode começar desde o berço, desde que supervisionado por adultos. Segundo a psicóloga Katia Aiello, diretora da área de comportamento animal do Instituto Nacional de Ações e Terapias Assistidas por Animais, o contato do bebê com o animal será sensorial. “Ele vai tocar o animal, sentir o pelo, a respiração, as emoções. Com isso, vai ser um bebê mais observador.”
Quando a criança começa a engatinhar, os adultos devem ficar mais atentos. Com liberdade de movimentos, o bebê começa a ir até o animal e, sem querer, pode machucá-lo ou incomodá-lo em um momento de descanso, provocando mordidas ou arranhões acidentais.
À medida que a criança cresce, o relacionamento muda. Aos poucos, durante as brincadeiras, ela desenvolve uma compreensão maior de que se trata de um ser com vontades e reações próprias e treina sua capacidade de enxergar o mundo por outro ângulo. “Ela aprende a se colocar no lugar do outro. O animal age de uma maneira diferente das outras crianças, e ela vai ter de aprender a lidar com isso”, diz Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal e apresentador do programa “Missão Pet”, do canal pago National Geographic.
Responsabilidade
Para Katia Aiello, a relação com o animal também permite que a criança exercite sua imaginação, já que é comum que ela dê a ele papéis diferentes em cada brincadeira. O animal também fará com que ela comece a perceber as necessidades de outro ser e assim desenvolva noções de responsabilidade. “Com cinco anos, a criança pode começar a ver que o animal precisa de água senão ele morre de sede, por exemplo.”
Katia diz que, por volta dos sete anos, a criança tem capacidade de participar dos cuidados básicos com o animal, como ajudar no banho, no passeio e na escovação. “Coincide com a fase em que ela começa a cuidar de si mesma, passa a tomar banho sozinha.”
Alexandre Rossi afirma, no entanto, que a responsabilidade nunca deve ser totalmente da criança, pois ela não tem maturidade para compreender todas as necessidades e sentimentos do animal. Além disso, ela não pode ser cobrada pelo trabalho que o animal dá aos adultos. “Acho ruim quando os pais aceitam ter um animal, mas, cada vez que ele faz alguma coisa errada, culpam a criança. O animal tem de ser fonte de união na família.”
O cão Ozzy e a pequena Beatriz. Foto enviada pela mamãe Tatiana Pires de Oliveira Morais Nogueira, de Barbacena (MG) (Foto: Arquivo pessoal)
Respeito
Outra lição que a criança aprende e coloca em prática com seu animal é a do respeito ao espaço do outro. Para Rossi, é função dos pais ensinar ao filho, desde o início, a interagir apenas quando o animal vier até ele. “Precisa evitar que ele fique indo atrás, que mexa com o animal quando ele está comendo ou dormindo.”
De acordo com Rossi, é preciso que o animal tenha um lugar sagrado dentro de casa, onde ele saiba que não será importunado e no qual se abrigará quando quiser descansar ou estiver sentindo alguma dor.
O animal certo
Muitos pontos devem ser levados em conta na decisão de trazer um animal para a família, tendo sempre em vista que gatos e cachorros podem viver até 18 anos. “Deve haver um planejamento familiar com a participação da criança. Ajudar na decisão, acompanhar esse processo, é também um ótimo exercício de aprendizado”, declara Ceres Faraco.
Na hora de escolher o tipo de animal, é preciso combinar aquele com potencial de melhor convívio com a criança com as condições que a família possui de dar a esse novo integrante uma boa qualidade de vida. “O cachorro labrador virou moda porque é muito ativo e brincalhão, mas precisa de muitos cuidados senão destrói a casa”, diz Katia.
É preciso avaliar o espaço disponível, os gastos com banho, vacinas, exames, remédios e ração, além do tempo que os membros da casa terão para dedicar ao animal –pelos longos, por exemplo, demandam escovações constantes.
Entre os cachorros, há raças que interagem melhor com crianças. Felinos também podem ser ótimas companhias na infância. “Existe muito preconceito contra gatos, e não só no Brasil”, diz Alexandre Rossi. Mas esses animais são mais delicados e têm menos tolerância a brincadeiras bruscas, por isso pedem uma vigilância maior.
No processo de escolha, Rossi afirma que é importante deixar que a criança interaja com animais em casas de conhecidos antes de decidir. “Existe uma distância entre o que ela acha que vai poder fazer com aquele animal, como vai brincar com ele, e a realidade.”
Saúde
Estudo conduzido na Finlândia e publicado na revista americana “Pediatrics”, em julho deste ano, constatou que bebês que tiveram contato com cães ou gatos no primeiro ano de vida apresentaram menos infecções respiratórias e de ouvido do que crianças que não cresceram próximas a esses animais. A pesquisa foi realizada por especialistas ligados ao Hospital Universitário e ao Instituto Nacional de Saúde e Bem-Estar da cidade finlandesa de Kuopio, da Universidade Oriental da Finlândia e da Universidade de Ulm, na Alemanha.
O garoto Justino tem 5 anos, mas aqui aparece ainda menorzinho, junto com a cadela Neruska. Foto enviada por Michele Jeanine Justino Evagelista. A família mora em Itanhaém (SP) (Foto: Arquivo pessoal)
O pediatra Cid Pinheiro, do Hospital São Luiz, em São Paulo, diz que essa pesquisa está de acordo com a “teoria da sujeira”. “Um ambiente totalmente estéril é ruim para a criança. Ela precisa ter contato com agentes que estimulem seu sistema imunológico dentro de casa, senão, quando sair desse ambiente, vai sofrer um choque e seu corpo pode não desenvolver a resposta adequada.”
Hamilton Robledo, pediatra do Hospital São Camilo, na capital paulista, também não vê problema no convívio desde cedo entre o bebê e o animal da família. “Não é porque chegou o bebê que o animal tem de ser abandonado”, fala o especialista, que, no entanto, reforça a necessidade de supervisão constante.
Apesar do sinal verde dos dois especialistas, algumas medidas têm de ser observadas. O animal precisa passar por consultas regulares com um veterinário para prevenir doenças, como toxoplasmose (infecção causada por protozoário), ser vermifugado e vacinado. Também é fundamental que ele tome banhos periodicamente. Outros cuidados incluem ficar atento a doenças de pele que possam aparecer no animal e recolher suas fezes rapidamente, não deixando que fiquem expostas na casa.
Comportamentos comuns nas crianças como beijar o animal, dividir comida com ele ou deixar que ele lhe dê lambidas no rosto não devem ser estimulados nas crianças, mas Robledo fala que são difíceis de serem evitados. “A criança enxerga o animal como amigo, então isso vai acontecer. Desde que o animal esteja com vacinas e vermífugo em dia, não é o fim do mundo.”
Animais que saem de casa sozinhos, como gatos, exigem atenção redobrada. Nesses casos, a visita ao veterinário deve ser de dois em dois meses e os contatos mais próximos, como beijos, precisam ser proibidos.
Se os pais notarem alterações na criança quando ela entra em contato com o animal, como espirros, coceira no nariz ou nos olhos, ela deve ser levada ao médico para uma avaliação. Caso comprove-se que ela tem alergia ao animal, o médico e a família deverão decidir sobre a conduta a ser adotada.
Para o pediatra Cid Pinheiro, nem sempre tirar o animal de perto pode ser a melhor solução. “Se a criança tem três ou quatro anos e já convive com o animal, tirá-lo da casa e do convívio dela seria como um óbito, então depende de cada caso.”
Fonte: Uol


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