Pesquisadores identificaram, nas margens do Rio Madeira, em Rondônia, um fenômeno ambiental que ainda não tinha sido visto no Brasil. Só que essa descoberta está no centro de uma obra “importante”.
O dia amanhece e elas começam a chegar de todos os lados. Em duplas, em grupos. Uma reunião barulhenta nas copas das árvores à beira do Rio Madeira.
Depois, descem para o café da manhã. No cardápio: argila. Um banquete a céu aberto.
São aves da família dos psitacídeos, que inclui araras, moleiros, papagaios e periquitos. Lá, elas somam um milhão, segundo um levantamento feito por especialistas contratados pela Hidrelétrica de Jirau, que está sendo construída nessa área.
Mas foi só no período da seca que biólogos e ornitólogos observaram que 23 espécies se alimentam da argila nos barrancos do Rio Madeira, chamados de barreiros.
”Eles buscam argila por duas razões. A primeira é porque ela é concentrada de um sal, que é raro aqui no oeste da Amazônia, e também para neutralizar toxinas da dieta, da alimentação dessas aves”, afirmou Patrick Pina, biólogo.
Em um raio de 100 quilômetros, na área de influência do Rio Madeira, foram localizados 20 barreiros. A região será alagada e a grande preocupação dos ambientalistas é que se não for controlado o nível da água na época da seca, quando o rio baixa, os barreiros vão desaparecer e com eles, as aves também.
É só nessa época que elas se alimentam da argila. É também o período da reprodução das espécies e o alimento serve para os filhotes.
“E se durante o represamento eles mantiverem o nível alto, mesmo na estação seca da região, eles não terão esse recurso e nós não sabemos o que vai acontecer com essa população”, ressaltou Patrick Pina
Segundo a concessionária responsável pela construção da usina, os barreiros do rio madeira ficarão submersos apenas durante um período do ano, o que não vai alterar a dieta de argila das aves.
“Esses barreiros não vão deixar de existir. Inclusive estes barreiros não são os únicos que são utilizados por essas aves. E as aves vão continuar utilizando esses barreiros do Rio Madeira, assim como outros barreiros que tem na região”, afirmou o diretor do Meio Ambiente e Sustentabilidade, Antônio Luiz Fonseca Abreu Jorge.
Em cada um desses barreiros são pelo menos três mil aves. Entre elas, espécies raras como a curica da bochecha laranja e o menor dos periquitos.
Fonte: G1
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