terça-feira, 20 de novembro de 2012

Entrevista: D.H. Hildebrand, modelo vegano e autor


Por Lobo Pasolini (da Redação)
D.R. Hildebrand é aquela pessoa rara: um modelo masculino profissional e vegano, além de autor do romance Walking Marina sobre a única indústria onde a mulher é mais poderosa que o homem. Nesta entrevista exclusiva, D.R. Hildebrand fala de seu veganismo e daquela questão que a indústria da moda insiste em rebobinar: as peles.
Como modelo, você acha que seus colegas de profissão têm consciência da questão da pele?
Até um certo ponto. Eu sinto que a maioria dos modelos, como a maioria dos não-modelos, nunca foram educados sobre os detalhes da produção de pele. Tendo dito isso, a maioria parece saber o suficiente para pelo menos pausar e se perguntar se eles endossam o que eles são contratados para vestir. Para muitos modelos, sem saber especificamente porque, o estigma é claro: pele é má. Infelizmente, a indústria da moda glorifica o mau. Ela busca o malvado. Malvado é bom. Malvado é arriscado. Malvado é misterioso e esquivo e é este aspecto do levado pelo qual nossos egos anseiam. Os modelos aspiram a esta imagem de mau porque a moda apóia. E a moda apóia porque vende. Porém, como as décadas recentes de ativistas e jornalistas têm exposto o que “mau” realmente significa em respeito às peles – que se trata de algo grotesco e altamente barbárico – mais modelos e mais consumidores se deram conta de que é mais sexy agir responsavelmente do que ser afiliado com um ato tão horrível.
Você já se sentiu pressionado comercialmente para modelar peles?
Não. Como um modelo masculino com traços clássicos, eu não interesso aos estilistas de pele. No entanto, as peles são uma realidade para mulheres que trabalham em propaganda e para qualquer modelo que trabalha regularmente em editoriais, onde o visual desejado é sempre gelado e andrógino e as roupas excêntricas. Desde que surgiram as campanhas antipele nos anos 80 e 90, o uso de peles em geral declinou, mas infelizmente não desapareceu.
Por outro lado, os estilistas sentem a pressão. Como empresas farmacêuticas que atraem médicos para receitar suas drogas, as peleterias se agarram aos estilistas e estudantes de moda através de concursos anuais, amostras grátis, viagens grátis e qualquer coisa que os façam mais acostumados e entusiasmados com as peles, e passem a apoiar. Eles fazem uma lavagem cerebral para que eles acreditem que a pele é um pré-requisito para se produzir peças bonitas e desejáveis. Aqui é precisamente onde o movimento pelos direitos dos animais precisa recuperar campo: com a próxima geração de estilistas impressionáveis.
Em relação a outros produtos animais como couro, lã e seda? Existe menos rejeição destes materiais em comparação com peles?
Não existe rejeição alguma de produtos animais que não sejam pele. Tome o exemplo de uma modelo da ficha que modelos têm que preencher, com perguntas sobre habilidades lingüísticas e atléticas e sua disposição para serem fotografados nus e muitos outros tópicos. Apenas uma dessas perguntas diz respeito aos animais: “Você estaria disposto a modelar peles: sim ou não?” Não há problema em responder não. Porém, não existe pergunta alguma sobre couro, lã e seda. Não há urgência. Nunca houve uma grande campanha e abrangente contra eles e a indústria da moda, apesar de sua retórica, tende a ser mais pró-ativa em questões que realmente importam.
2012 viu um retorno de peles nas passarelas de todo o mundo. Como um modelo vegano, o que sente em relação a isso? Você acha que a tendência irá reverter?
D. R. Hildebrand: 2012 e anos recentes viram um pico de peles na moda. Eu não tenho idéia se isso vai durar, embora eu ache insensível e triste. Quando Lady Laga no verão posou revestida com um lobo morto, com cabeça e tudo, e declarou aquilo arte, eu pensei: essa é exatamente a imagem que define nossa apatia, nossos egos e nossa ignorância. Eu fiquei feliz quando ficou provado que eu estava parcialmente errado com uma explosão de repúdia na mídia. Eu espero que os estilistas prestem atenção no desprezo do público quando eles desenvolverem coleções futuras. Uma forma de reverter a tendência é provocar e explorar o lado especista das pessoas. Muitos consumidores idolatram gatos e cães, e, no entanto, mais da metade de toda a pele feita na China vem de gatos e cães, e etiquetada de forma enganosa, intencionalmente e ilegalmente. Este é um fato que as pessoas talvez comecem a levar a sério. Enquanto eu aplaudo o trabalho de pessoas como Tim Gunn e seu vídeo para a PETA, “Fashion Victims”, no qual ele detalha como coelhos, chinchilas, cobras e outros animais são escapelados e jogados fora vivos, eu fico surpreso que não exista mais trabalho sendo feito para criar consciência para muitos dos animais que nós adoramos e cujo pelo está sendo adicionado a uma gama de produtos baratos. O mercado não é de luxo, mas uma revolta contra o assassinato de gatos e cães poderia incitar mudança para outros animais também.
Qual o conselho você daria para veganos que trabalham na indústria da moda?
D. R. Hildebrand: Primeiro, conheça seus limites. Pense naquilo que você vai e não vai vestir, modelar e vender de antemão, de modo que você não se encontre em uma situação da qual você não pode sair. Segundo, não perca o ânimo e não desista. É melhor ficar na indústria e influenciar aqueles que estão ao seu redor, um por um, do que desistir como forma de protesto que poucos irão notar. E, terceiro, junte-se com outros veganos na indústria. Em Nova Iorque e em outros lugares, uma gama de pessoas da indústria, desde estilistas a maquiadores e editores, estão aos poucos desafiando a norma da crueldade na moda. É no mínimo fortificante saber que há outras pessoas no seu lado. Juntos vocês podem colaborar, motivar e vencer.
Visite: D.R. Hildebrand
Fonte: anda

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