quarta-feira, 11 de julho de 2012

Paula Cairo “...o amor comove sempre”


Paula Cairo, a autora do livro "Peto", esteve recentemente numa sessão de autógrafos, na Feira do Livro Usado, promovida pela Amigo Fiel (Associação Protectora dos Animais do Bombarral).
Falámos com a autora e ficámos a conhecer o seu amor e dedicação aos animais, em especial aos animais de rua.

O seu livro ("Peto" foi o nome que deu a um cão, sénior, que viveu a sua triste vida na rua e que acabou por ser recolhido pela autora, para viver os seus últimos anos, no conforto de uma família) acaba por ser uma homenagem a todos os Petos do mundo (animais abandonados), e apesar de abordar muitas das adversidades e privações que um animal pode viver na rua, acaba por conter uma mensagem de esperança, pois há pessoas que não lhe ficam indiferentes.

Revista Festa - Fale-nos um pouco sobre o seu livro "Peto". Quando e como começou a escrever?
Paula Cairo - Comecei a escrever em 2007.
Tudo começou porque na altura pediram-me para o Peto fazer uma apresentação de "Obediência de Companhia" para crianças. Pensei, por isso, fazê-lo de um modo pedagógico e apresentá-lo com um pequeno texto sobre a sua vida, que alguém ia lendo ao microfone enquanto eu mostrava o Peto a fazer alguns comandos como "senta", "quieto", "deitar", etc.
Os miúdos gostaram imenso principalmente quando souberam que o Peto vinha da rua e era um canito, na altura, com 14/15 anos.
Mais tarde encontrei um site para animais de estimação e pus lá umas fotos do Peto com esse mesmo texto e, sem esperar, as pessoas começaram a pedir-me mais histórias sobre ele. Foi aí que decidi começar a escrever um texto por mês. Parei ao fim de três anos quando o Peto partiu.
R. F. - Porquê sobre um cão de rua?
P. C. - Principalmente por o Peto ter sido um cão que viveu na rua durante 12 anos.
Aproveitei para chamar a atenção para os animais que são abandonados aos milhares todos os anos, e que, quando não morrem acabam na rua, tal como o Peto, que de algum modo conseguiu sobreviver mais de uma década porque duas senhoras foram tomando conta dele. Uma delas, também com um cão, vacinava-o e mesmo quando lhe detetou Leishmaniose, tratou-o. Foi uma sorte para o Peto.
A maioria das pessoas não faz isto por um cão que vive na rua. A maioria não trata os seus próprios animais quando estes têm uma doença crónica.

os animais em Portugal são tratados como lixo

R. F. – Que objetivos tinha quando decidiu avançar com esse projeto?
P. C. - Eu nunca pensei nisto como um projeto porque, infelizmente, os animais em Portugal são tratados como lixo.
Nunca imaginei conseguir editar um livro sobre um cão. Tentei porque desde sempre houve pessoas a pedir-me um livro sobre ele.
Depois do Peto ter partido, os pedidos continuaram e intensificaram-se. Foi por isso que decidi tentar a sorte.
O Peto merecia uma homenagem e todo o meu esforço seria sempre pouco tendo em conta tudo o que recebi e vivi com ele.
R. F. – Que feedback está a ter do público? Tem participado em eventos, como feiras do livro, onde os leitores lhe têm feito chegar as suas opiniões...
P. C. - Felizmente o livro do Peto tem sido um sucesso. Particularmente até porque não foi muito divulgado.
As pessoas elogiam muito o livro e comovem-se imenso com a história de vida dele. A maioria diz-me que não consegue ler o livro em público porque chora imenso.
Sentem que o Peto foi um cão especial, uma lição de vida que acaba numa história de amor. E o amor comove sempre. Principalmente, e neste caso, a quem gosta verdadeiramente de animais.
R. F. – O Peto, já faz parte da vida de algumas pessoas, que apesar de nunca o terem conhecido, hoje, reúnem-se em sua memória.
Como é sentir que um livro, em especial o Peto, conseguiu jun-tar tantas pessoas?
P. C. - Acho muito especial, tudo isso porque existe um elo de ligação. O amor pelos animais.
Algumas pessoas foram acompanhando as histórias do Peto e identificando-se com elas ao longo de três anos no site. Outras descobriram-no agora no livro. Mas o que sentem pelos animais é o mesmo fascínio e amor.
A maioria tem ou tiveram animais e muitas delas revêm-se naquilo que sinto pelos 'quatro patas'. Sem pudores.

A maior parte das coisas que escrevi foram para o lixo

R. F. - Como é conciliar a sua vida profissional, com a de escritora? Fale-nos um pouco sobre o seu percurso...
P. C. - Eu não me vejo como escritora mas como alguém que gosta de escrever as palavras. Faço-o nos meus tempos livres.
Sempre escrevi desde miúda mas sempre tive vergonha de o mostrar a alguém.
A maior parte das coisas que escrevi foram para o lixo. Foi o Peto que me deu coragem para me expor e o facto de fazê-lo de uma forma virtual também ajudou.
R. F. - A 'causa Animal' está no bom caminho no nosso país?
Já se conseguiram mudar consciências?
O trabalho com as novas gerações está efectivamente a ser feito?
P. C. - Penso que Portugal tem ainda quase tudo por fazer em relação aos animais.
A legislação é medieval e à nossa classe política falta-lhe coragem e uma visão actual e evoluída da condição animal.
Continua a ver-se diariamente cães acorrentados. Cães na rua abandonados. Cães a viver em varandas, em galinheiros.
O flagelo impune do abandono, a existência dos canis de abate em Portugal, a falta de esterilização dos animais, a não existência de Hospitais Veterinários Públicos, a quase inexistência de autarquias que tratam dos seus animais errantes promovendo a esterilização e a adoção dos mesmos, mostra bem o retrato do nosso país enquanto povo.
Ficamos vergonhosamente mal na fotografia.
Com as novas gerações algum trabalho está a ser feito, exclusivamente a título particular, nomeadamente através de algumas Associa-ções de Animais, mas não é manifestamente suficiente.
É extremamente difícil mudar mentalidades e agitar consciências...
R. F. – Depois de "Peto", qual é o caminho? Mais livros?
P. C. - Já tenho mais um livro escrito e desta vez é sobre uma cadelinha que foi abandonada num canil de abate pelos donos, e que, devido à sua doença crónica, só voltou a andar com a ajuda de um auxiliar de locomoção, mais conhecido como cadeirinha de rodas.
R. F. – Editou "Peto" com a chancela de uma editora de renome. Como foi a aceitação por parte da editora?
P. C. - A editora gostou logo do livro do Peto mas, mesmo assim, foi um parto difícil.

Ajudar um animal no terreno não é a mesma coisa que ajudar virtualmente

R.F. – A internet e as redes sociais são hoje uma poderosa ferramenta. Os amigos dos animais têm sabido usá-las? O que é que, na sua opinião, ainda falta fazer?
P. C.- São uma rede poderosa que podia ser melhor aproveitada.
As pessoas deviam dedicar-se mais diretamente à ajuda aos animais e menos às "guerrilhas pessoais" opinando, na maioria das vezes, sobre um assunto sobre o qual nem participam.
Ajudar um animal no terreno não é a mesma coisa que ajudar virtualmente. Por isso não frequento fóruns. Sempre que posso, ajudo Associações anonimamente ou pessoas a quem reconheço, no terreno, a luta pelos animais.
No entanto, deixo aqui um apelo a quem gosta e se preocupa com animais; seja de que maneira for, ajude a Associação de Animais da sua zona.
R. F. - Como surgiu a paixão pelos animais?
P. C. - Penso que já nasceu comigo mas a consciência despertou com uma gata que tive em miúda, a Saninha.
Eu devia ter uns 7 ou 8 anos. A Saninha apareceu lá por casa e acabou por ficar. A gata foi, na altura, a filhinha com quem eu brincava às bonecas, foi a mana com quem conversava, foi a minha melhor amiga até morrer. Chorei muito quando isso aconteceu.
Dormia na minha cama contra a vontade dos meus pais que acabaram por ter de aceitar.
A Saninha era uma doçura. De noite ia buscá-la às escondidas à cozinha onde ela ficava e levava-a para a minha cama. Há quarenta anos atrás ninguém punha um cão ou gato dentro de casa. Ainda hoje assim é, principalmente no interior do país...
R. F. - Depois de se ler o livro, o sentimento que fica é que esta paixão nunca acaba, e que, apesar de os animais passarem a ser estrelinhas, há sempre espaço para salvar mais um.
Quer comentar?
P. C. - Para mim, esta é uma paixão para sempre. Não seria capaz de viver sem animais. Tudo o que recebemos deles é imenso. É tanto e tudo bom! Não há nada comparável. São seres que nos aceitam tal como somos e que nos amam mais que a si próprios.
No caso dos gatos ou cães não existe outro ser vivo capaz de tal entrega. As lágrimas que vertemos no fim das suas vidas, por muito dolorosas que sejam, não são nada quando comparadas à sua dedicação e lealdade.
Amo animais e estes farão sempre parte da minha vida...
fonte: evistafesta

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