Arrumar o barco é apenas uma das tarefas do senhor Izumi Ishii. Com 66 anos, enfrenta o frio das manhãs de inverno no litoral do Japão. O mar revolto não é nada, se comparado com o que ele precisa lidar todos os dias: lembranças de um tempo que gostaria de deixar para trás.
O senhor Ishii já foi um caçador de golfinhos. E nesta época do ano, as recordações voltam com mais força. Até março, a caça ocorre em um ponto bem específico do litoral japonês. A enseada de Taiji, já foi tema de documentário vencedor do Oscar de 2010. Os pescadores de lá chamam de “tradição”.
Mas ambientalistas denunciam os métodos bárbaros que ainda são utilizados.
“Uma barra de metal é enfiada nas costas do golfinho e eles ficam sangrando, até sufocar e morrer”, diz Melissa Sehgal, do grupo ambientalista Sea Shepherd.
A caça aos golfinhos tem o apoio do governo do Japão.
Nas últimas semanas, os pescadores tentaram impedir as imagens. Com lonas na enseada. Mesmo assim, os ativistas do Sea Shepherd conseguiram gravar mais golfinhos sendo mortos.
Antes de Taiji e sua infelizmente famosa enseada, foi na cidade de Ito, que começou a caça aos golfinhos no Japão, distante cerca de 100 quilômetros da capital, Tóquio. E não deixa de ser curioso que também tenha sido, desse local, que se levantou um homem contra a matança.
O senhor Ishii registrava em fotos a sua época de caçador. Imagens que ajudam a entender como tudo acontecia. “Eu conduzia um dos barcos e fazíamos uma formação de ferradura para trazer os golfinhos até o porto, onde eles eram mortos. Um trecho de mar ficava vermelho, com o sangue dos animais’, conta Izumi Ishii, ex-caçador de golfinhos.
Hoje o que é um estacionamento, servia para agrupar as carcaças. Em uma foto, tirada pelo senhor Ishii, aparecem pelo menos 150 golfinhos mortos. Eram depois levados por caminhões e crianças assistiam a tudo.
Ao ser perguntado sobre quando ele decidiu parar com a caça, o senhor Ishii responde: “Foi em 1996, quando percebi que eram caçados mais golfinhos do que a cota permitida. Num só dia foram caçados dois mil golfinhos”, conta.
Passou a levar turistas de barco pela costa. Mas os caçadores estavam sempre por perto. Algumas imagens foram feitas quando ele voltava de um passeio. Ao chegar ao porto, encontrou os barcos na formação de cerco os golfinhos. Os caçadores batiam em barras de metal, técnica usada para assustar e desorientar os animais, que acabaram presos no cais.
Eram quase 250 golfinhos, concentrados em uma área com 2 metros de profundidade. Naquele dia, 65 golfinhos foram mortos.
“Eu ainda ouço os sons dos golfinhos quando estavam para ser assassinados”, assume Ishii.
“Eu ainda ouço os sons dos golfinhos quando estavam para ser assassinados”, assume Ishii.
Hoje, o senhor Ishii recebe cartas de apoio do mundo inteiro. Criou um instituto para acabar com a caça, dando opções de trabalho para os pescadores.
Fantástico: O senhor se orgulha de ter mudado de posição? De caçador, para uma pessoa que preserva os golfinhos?
Senhor Ishii: Eu me orgulho. Fui o primeiro a começar esse tipo de passeio e hoje já existem cinco barcos para turistas aqui em Ito.
O senhor Ishii está feliz: se mantém perto do mar. E dos golfinhos.
Fonte: Fantástico
De anda.jor
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