Mais de 40 países adotaram nesta quinta-feira (13) durante conferência em uma declaração internacional contra o tráfico de marfim, chifres de rinocerontes e o comércio em geral de espécies ameaçadas.
Os governos de 46 países signatários se comprometeram a não usar produtos de espécies em risco, agravar a tipificação dos delitos de caça e tráfico de espécies e estudar melhor este tipo de crime que movimenta ao ano US$ 19 bilhões, segundo os organizadores.
“Foi uma conferência muito bem sucedida e penso que as medidas adotadas podem representar uma guinada decisiva na luta contra os grupos criminosos”, afirmou em coletiva de imprensa o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague.
O porta-voz do Reino Unido comemorou “o papel construtivo de países consumidores (destes produtos) como China e Vietnã” durante a reunião de dois dias, lembrando os avanços chineses na redução das mortes de tubarões, cujas barbatanas são usadas como ingrediente principal de uma sopa muito apreciada. “Os caçadores acreditam que podem agir com toda a impunidade. Vamos demonstrar que se enganam”, afirmou Hague.
O encontro foi realizado por iniciativa do governo britânico, do príncipe-herdeiro Charles, da Inglaterra, e de William, seu filho. “Não há tempo a perder” diante da “magnitude inimaginável” do comércio em alguns países, disse o príncipe Charles.
Ainda na reunião, Chade, Gabão, Tanzânia, Etiópia e Botsuana – que sediará em 2015 uma reunião para avaliar os avanços -, anunciaram um plano de ação para a proteção dos elefantes, uma das espécies mais ameaçadas.
Os mais ameaçados
O encontro se concentrou particularmente em três espécies emblemáticas, com risco de declínio de suas populações a médio prazo: elefantes-africanos, rinocerontes e tigres.
Nas vésperas do encontro, vários países, entre eles França e Grã-Bretanha, destruíram marfim do tráfico ilegal e os Estados Unidos se comprometeram a endurecer suas leis contra este crime.
Mas em campo, o problema persiste. Em dez anos, 62% da população de elefantes africanos da floresta foi eliminada e sua sobrevivência não é garantida neste ritmo. Mil rinocerontes foram mortos na África do Sul em 2013 contra 13 em 2007, e o número de tigres vivendo na natureza na Ásia passou de 100.000 a 3.200 em cem anos.
“Infelizmente, todos os rinocerontes selvagens que restam no mundo caberiam de sobra no estádio (londrino) de Wembley”, lamentou o príncipe William.
O comércio de animais, que “escapa a todo controle”, segundo o professor Jonathan Baillie, da sociedade zoológica de Londres, está mais motivado do que nunca pelo lucro.
O comércio de animais, que “escapa a todo controle”, segundo o professor Jonathan Baillie, da sociedade zoológica de Londres, está mais motivado do que nunca pelo lucro.
Forte demanda da Ásia
Segundo os especialistas, o comércio ilegal de espécies ameaçadas representa um mercado que varia entre US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões ao ano. Um chifre de rinoceronte é, por exemplo, mais caro do que o ouro.
A forte demanda da Ásia, onde são atribuídas propriedades medicinais aos chifres de rinoceronte e aos ossos de tigre, estimula o tráfico. Já o marfim continua sendo um símbolo de ostentação, desafiando a moratória de seu comércio, decretada em 1989.
“Não se trata apenas de uma crise ambiental. Virou uma indústria criminosa, na mesma escala que a das drogas, as armas e o tráfico humano”, afirmou Hague. “Temos que demonstrar uma ‘tolerância zero’ diante da corrupção e mostrar o compromisso de todos os governos de não manter nenhum vínculo comercial com produtos procedentes de espécies ameaçadas”, insistiu.
Foi possível avançar
As organizações protetoras da natureza comemoraram a declaração, embora tenham destacado que seria possível avançar mais. “Foi um encontro sem precedentes, o primeiro indício de que os governos levam a sério o combate ao crime organizado da vida selvagem”, disse Mary Rice, da ONG Environmental Investigation Agency.
No entanto, “teríamos gostado que fossem mais longe, particularmente com o marfim e os tigres, acabando com o mercado doméstico legal”.
Fonte: G1.
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