Mesmo acostumados com temperaturas tropicais, os animais que vivem na Mata Atlântica também vão sofrer as consequências do aquecimento global. É o que mostra um estudo realizado por pesquisadores do Laboratório de Biogeografia de Conservação da Universidade Federal de Goiás (UFG).
De acordo com o trabalho, até 12% das 431 espécies de anfíbios na Mata Atlântica serão extintas. Tudo porque locais climaticamente adequados para a sobrevivência delas devem diminuir até 2050. Para chegar a essa conclusão, os cientistas se basearam em pesquisas que indicam como o clima vai responder a uma série de fatores — como aos gases de efeito estufa —, considerando os possíveis cenários que podemos enfrentar.
Essas projeções são feitas em escala global. O que os pesquisadores da UFG fizeram foi pegar as previsões dos modelos para a Mata Atlântica e usar conhecimentos da biologia para associar as espécies a essas mudanças de clima. Assim, eles são capazes de dizer se determinadas áreas que hoje são adequadas para algumas espécies sobreviverem continuam sendo apropriadas.
“É consequência que parte das espécies pode se extinguir e outra parte terá de migrar para algum outro lugar”, explica Rafael Loyola, coordenador do laboratório e um dos autores do estudo. “São 12% desaparecendo, acho esse número bastante alto.” Segundo o pesquisador, poucas espécies se beneficiariam com um clima mais quente.
No caso dos anfíbios, os cientistas descobriram que invasores, como a rã-touro-americana (africana posteriormente introduzida no Brasil) seriam favorecidos, enquanto boa parte das espécies nativas estaria perdendo locais para viver. Além delas, espécies mais antigas da Mata Atlântica, que estão restritas à região norte da floresta, também ganhariam espaço. “Mas, para a grande maioria, os efeitos são negativos”, destaca Loyola.
Até mesmo outros grupos de animais seriam afetados: para mariposas, aves e mamíferos a resposta é parecida. “Na maioria das espécies, existem menos lugares onde elas podem viver”, diz o cientista.
Problema reversível
O futuro pode até parecer sombrio, mas não é inevitável. No entanto, é preciso agir rapidamente. O estudo propõe algumas soluções, como a criação de novas reservas para proteger essas espécies em locais estratégicos. A pesquisa ainda incentiva dar atenção especial para áreas montanhosas, onde a mudança climática será mais leve. E, por fim, a elaboração de planos nacionais para conter a invasão de espécies que não são nativas.
“Tudo isso é reversível”, frisa Loyola. “Se o Brasil criar mais 5% de áreas protegidas na Mata Atlântica, nenhuma espécie seria extinta. A mudança climática não é reversível — o clima vai mudar. Agora, adaptar a situação para que essa mudança do clima não gere perda de biodiversidade é totalmente possível. Mas tem que agir.”
O trabalho, que reúne cientistas do Brasil, Estados Unidos e Austrália, foi publicado na edição de fevereiro da revista Biodiversity and Conservation.
Fonte: Galileu
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