Itália
Cão enfrenta dura realidade em Monreale (Foto: Reprodução)
“A situação de abandono na Sicilia está totalmente fora de controle”, diz Barbara d’Aquilla, vice-diretora da Liga Italiana pelos Direitos Animais – regional Palermo, ao telefone. “O meu celular não para de tocar um minuto: uma ninhada dentro de um lixo, gatinhos que estão morrendo de fome, um cachorro envolvido em um acidente e ninguém o socorre…”. São tantas as emergências a serem atendidas, mas poucos os voluntários. As informações são do jornal italiano Corriere Della Sera.
“Em toda Palermo e províncias, são sete os voluntários ativos da Liga. Nas tragédias nas estradas, só pensam em nós, mais que qualquer outra associação como a Oipa [Organização Internacional de Proteção Animal] que se ocupa, predominantemente da adoção dos cães dos abrigos municipais”. Nas estradas, a situação parece um faroeste, com crânios de cães mortos deixados na terra e nunca recolhidos porque faltam agentes do serviço veterinário.
Gatinhos enfrentam a fome, em Monreale (Foto: Reprodução)
E, de fato, se forem observadas as fotos tiradas por Barbara e por outros voluntários da Liga, que valem mais que mil palavras, não restam dúvidas que a situação do abandono na região está totalmente fora de controle. As fotos, que documentam uma realidade que poucos esperariam encontrar na Itália, foram feitas em Monreale e em Carini. Monreale é conhecida em todo o mundo pelo sua esplêndida igreja medieval visitada todos os anos por milhares de turistas. E a apenas cinco quilômetros de Palermo fica Carini. Nestas cidades a situação é semelhante: cães vagam por entre resíduos de lixo, cochilam em velhos colchões abandonados e andam perigosamente pelas autoestradas. E depois há os animais mortos em decorrência da fome, de doenças, de atropelamentos cometidos por motoristas que quase nunca param para prestar socorro e, muitas vezes, em decorrência de sufocamento por saco plástico.
“Infelizmente, Carini e Monreale são apenas dois dos exemplos da terrível realidade de Palermo. Muitas administrações municipais não têm estrutura própria nem convênios particulares ou, em alguns casos até têm, mas se tratam de canis privados gerenciados por empreendedores que especulam em função dos cães, opondo-se a adoções e fazendo os animais sumir para quem sabe onde…”, continua Barbara. Por sorte, existem também os canis privados geridos de modo honesto e impecável, com ambulatório veterinário moderno e com pessoal qualificado. “Nestes, até nós levamos nossos cães para serem tratados”, acrescenta a voluntária.
Cães vagam por entre resíduos de lixo, em Monreale (Foto: Reprodução)
Outro problema é que em lugares como Carini, e muitos outros da Sicília, a sensibilidade e a cultura do respeito à vida dos animais é praticamente ausente. “Quem alimenta os animais abandonados muitas vezes é ameaçado. Então somos chamados a levar comida a eles, e o fazemos, pois não temos medo de ameaças e não somos pessoas sozinhas, somos uma associação.”
Em Palermo as coisas estão um pouco melhores porque o canil municipal, apesar de superlotado (atualmente são 470 animais adotáveis), efetua regularmente a esterilização de cães e gatos de rua. Além disso, provê a recuperação dos animais acidentados ou doentes que, após a cura, são postos em liberdade novamente. O canil, porém, está à beira de um colapso, como todas as outras estruturas de Palermo.
Mas não é a situação do abandono e dos canis o mais duro de entender. As leis regionais da Sicilia contemplam a presença do chamado “cão de bairro”, que é designado como tal quando um ou mais moradores se inscrevem na prefeitura pedindo para tomar conta do animal na rua e não na própria residência. Trata-se de um compromisso assumido entre uma verdadeira adoção e a liberdade total. O cão continua a viver na rua e correr os riscos, mas é alimentado e tratado caso fique doente.
Outro problema é que a cultura de adoção não é desenvolvida na região. Os cachorros sicilianos, assim como os sardos, têm um problema a mais: o custo da viagem aérea, por vezes, trava o possível processo de adoção. A Liga de Palermo – que não recebe subsídios públicos e se mantém graças a doações particulares – pede aos adotantes que arquem com os custos do transporte. “As adoções que a Liga faz são poucas, cerca de uma dezena de cães ao ano. Mesmo porque somos muito seletivos: antes de confiar um animal a alguém, fazemos uma pesquisa muito escrupulosa”, explica Barbara.
Palma está em reabilitação (Foto: Reprodução)
Entre os sortudos, Tommaso, um beagle resgatado em condições lamentáveis. “Cuidamos dele, conseguimos um lar temporário onde ele pode se recuperar e, graças aos apelos que circularam na internet, encontramos uma esplêndida adoção em Turim.”
Por outro lado, ainda esperam uma família dois filhotes especiais. O primeiro é Palma, de pelo lúcido e preto e com olhos tristíssimos da cor de âmbar. Ela se recupera atualmente em um ambulatório veterinário particular, onde faz sessões de fisioterapia. Palma foi atropelada por um motorista de automóvel que fugiu sem prestar socorro, A cadela seria atropelada de novo se uma moça não houvesse chamado a Liga. Palma teve uma lesão nas vértebras e os movimentos das patas posteriores estão paralisados. Ele ainda tem muitas visitas ao neurologista antes de que as esperanças estejam todas perdidas.
Creamy nasceu surda e sem visão (Foto: Reprodução)
Há Creamy também, um caso ainda mais trágico. Filhote de pastor alemão puro, Creamy foi abandonada porque nasceu surda e sem enxergar. Ela percebe o mundo ao seu redor por meio do olfato, tato e paladar. “É preciso que as pessoas se movimentem com doçura em volta dela porque, não vendo e não ouvindo, ela tem medo que qualquer um queira fazer mal a ela, por isso ela rosna e late. Come ela se tornará uma cadela de porte grande e de bom caráter, precisamos da ajuda de um especialista em comportamento, mas não temos recursos suficientes para pagá-lo. E outra, ninguém se ofereceu a ajudar Creamy”, fala Barbara.
“Por fim, existem os cães que foram deixados na rua por contra própria, sozinhos, como Yuma. Infelizmente não conseguimos dinheiro suficiente para transferi-los para abrigos. Mas vamos adiante, com o coração em pedaços porque precisamos de tudo: de voluntários, alimentos, remédios e de dinheiro para pagar os tratamentos veterinários e os abrigos. Ajudem-nos, estamos no extremo”, declara.
fonte: anda
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