quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Tráfico de espécies silvestres está entre os crimes mais praticados no mundo


A cada 10 animais retirados da natureza, 9 morrem antes de chegar nas feiras onde são vendidos


POR GISLANDIA GOVERNO
Rio - Há cinco anos, o músico Rafael Gomes, 35, tomou uma decisão: ele entregou, voluntariamente, ao Centro de Triagem de Animais do Ibama, em Seropédica, um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), ave com a qual conviveu por um ano. A espécie, da região Nordeste, se juntou a outras centenas apreendidas pelo Batalhão Florestal de Meio Ambiental. Na maioria dos casos, em operações feitas em feiras livres no subúrbio do Rio.
“A ave era arredia, e a comprei por R$ 150 numa feira em Caxias. Na hora, só pensei em realizar meu desejo de ter um papagaio. Mas percebi que ele tinha que viver livre. E não distraindo um ser humano em troca de sementes de girassol”, reflete Rafael.
Provavelmente, se o músico tivesse conhecimento da triste sina de maus-tratos pela qual papagaios, macacos, tartarugas, aves de canto, e outros bichos silvestres cobiçados pelo tráfico passam antes de serem vendidos ilegalmente, ele sequer teria comprado a ave: de cada 10 espécies retiradas da natureza, 9 morrem antes de chegar ao destino final: colecionadores, zoológicos particulares, criadouros clandestinos e proprietários irregulares (que não têm permissão do Ibama).
CONFINAMENTO, FOME E MUTILAÇÃO
Essa mortandade se deve ao fato de serem transportados confinados em pouco espaço, sem água e alimento, presos em caixas superlotadas, onde se estressam e se mutilam, além de práticas cruéis para amortecer suas reações e fazê-los parecer mais mansos ao comprador. 

Um relatório produzido pela ong Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), em parceria com o Ibama, a Polícia Federal e as Polícias Florestais, esquentou as discussões sobre o tráfico de animais silvestres e suas consequências para o Meio Ambiente. Trata-se do terceiro comércio mais lucrativo do mundo — estima-se um lucro de até US$ 20 bilhões. Já o Brasil, mesmo detendo a maior biodiversidade, é também a principal rota desse crime contra a natureza. 

Apesar dos esforços dos órgãos de repressão ambiental, o desafio para coibir esse comércio ilegal ainda é grande. “O maior é a criação de uma política nacional para gestão da fauna no País, pois o combate ao tráfico passa por todas as esferas governamentais, englobando a legislação, a educação ambiental, as ações de repressão e os programas para o manejo e a reintrodução da fauna apreendida”, comenta Raulff Lima, coordenador executivo da Renctas.

Para o ambientalista, as leis no País são deficitárias. “Temos a lei 9.605/98 para tratar do tráfico de animais. Porém, algumas ações precisam mudar. Na maioria dos casos, o traficante quando é preso paga fiança e responde em liberdade. E, quando julgado, paga multas irrisórias ou presta serviços comunitários, já que este crime é interpretado como de menor poder ofensivo. É uma lástima, pois estamos falando de violência, roubo e exploração contra a nossa biodiversidade”, constata Raulff.

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