Swami Fonseca*
Em todo o País os rodeios têm criado polêmicas aprofundando discussões entre os limites da cultura e dos abusos da liberdade, justamente por lidar com a percepção de violência em relação ao outro (no caso, os animais) em seus diversos níveis. De um lado, estão os seus árduos defensores que fazem parte de uma cadeia econômica de exploração animal, que vai desde os organizadores de eventos, criadores etc e que visam apenas ao lucro. Já do outro, os que contestam as provas do rodeio, pois a participação do animal se dá pela força, através do medo, dor, estresse, enfim; pelo condicionamento forçado que contrariam o seu comportamento natural, pois a tendência do animal é buscar uma saída da arena, como alternativa, já que são animais mansos.
Esses aspectos são apenas alguns que mostram que os rodeios se dão sobre algum tipo de violência contra os animais e que são consentidos pelo público como diversão e mascarados, através de uma pretensa tradição importada dos cowboys norte-americanos, no final do século retrasado. Cabe dizer que, a cultura e/ou tradição sempre legitimaram – e ainda o fazem – as mais diversas formas de crueldade nas sociedades, tidas como normais para a época. Como exemplo disso, teríamos os gladiadores de Roma, que davam um “espetáculo de sangue” levando o público ao delírio, comportamento até muito assemelhando aos rodeios quando o peão tomba e incita no público gritos e levantes. Mas hoje achamos aqueles ocorridos em Roma espetáculos horríveis.
Será que a mentalidade evoluiu? Por que a humanidade ainda precisa se alimentar de shows que envolvam algum tipo de violência alheia? Ora o mundo está cada vez mais violento e os rodeios se expandem fornecendo um quadro sintomático da banalização da violência e que muita coisa precisa ser repensada. A começar pelas crianças que assistem os rodeios e vão assimilando a cultura da violência, achando tudo normal e sem limites, onde se pode fazer tudo com os outros, não apenas com os animais.
Eis também esse chamado aos pais para educarem seus filhos com respeito ao próximo, pois está faltando mães e pais responsáveis que exerçam a sua função de construir um cidadão com princípios éticos de respeito pela vida. Já que os animais são seres “sencientes”, ou seja, que possuem consciência de si em relação ao mundo e está mais do que na hora de refletirmos sobre a nossa responsabilidade diante eles, que são considerados sujeitos de direitos, bem como a realidade que queremos através da cultura pela paz.
Por isso também a chamada ao Poder Público de exercer a sua função de fiscalizar a situação dos animais e não apoiar eventos que fazem apologia à violência, como os rodeios. Os rodeios se fantasiam de tradição importada e banalizam a violência contra os animais.
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