Em um sábado, enquanto fazia um piquenique com seus pais na acidentada Península Fleurieu no sul da Austrália, o garoto Simon Kruger, de 7 anos de idade, entrou na mata para colher flores para a sua mãe. Não demorou muito, no entanto, para que o menino perdesse o caminho de volta.
Conforme caía a noite, com seu filho ainda perdido, os pais de Simon e um time de resgate vasculharam a área na procura por ele, mas seus esforços foram infrutíferos. Mas naquela noite muito fria, sozinho na selva implacável, o garoto perdido encontrou um amigo que ajudou a salvá-lo.
De acordo com Simon, no meio de suas andanças, ele se deparou com um canguru, que ele logo alimentou com o buquê de flores que havia coletado mais cedo. Após comer as flores, o animal se deitou e dormiu perto dele – oferecendo um pouco de conforto e o calor de seu corpo para aquecer o perturbado garoto.
Antes de completar 24 horas, helicópteros juntaram-se às buscas e Simon foi descoberto e resgatado.Foi quando ele contou a história de sobrevivência assistida por um animal, que pareceu quase incrível. Embora não tenha sido a primeira vez que um garoto de sete anos conta uma história considerada fantástica pelos adultos, a mãe de Simon disse que soube que era verdade quando cheirou as roupas do filho:
“Eu achei que foi um milagre, mas quando cheirei sua jaqueta, era cheiro de canguru – mato e canguru”, disse Linda Kruger, emocionada, ao 7News. As informações são do TreeHugger.
De acordo com a reportagem, é difícil dizer se o canguru estava exibindo um comportamento altruísta, ou se esse é seu comportamento natural que foi meramente interpretado por uma criança imaginativa – mas não foi a primeira vez que se soube de um canguru que tenha se mobilizado para ajudar um humano.
Em 2003, um canguru órfão resgatado prestou grande auxílio ao seu tutor que tinha sido atingido por um galho que caíra de uma árvore quando caminhava fora de sua propriedade. O pequeno filhote viu o homem caído no chão, inconsciente, e começou a gritar alto e freneticamente até que a família chegou para socorrê-lo.
Esse gesto fez com que o animal ganhasse o prêmio National Animal Valour Award da RSCPA ( Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals Australia ) naquele ano – uma distinção que os pais de Simon indubitavelmente gostariam de ver dada também ao animal que ajudou a manter o seu filho vivo.
Uma história de solidariedade entre dois animais comoveu moradores de São Joaquim, na Serra Catarinense, na noite desta quinta-feira. Por volta de 19h, um cão lutava bravamente para socorrer outro que acabara de ser atropelado por um carro nas proximidades da creche do Bairro Santa Paulina.
Foto: Divulgação/ Mycchel Hudsonn Legnaghi/ São Joaquim Online
O locutor Emerson Oliveira, de 29 anos, passava pelo local no momento e chegou a parar o seu automóvel para acompanhar a cena.
Emerson conta que o cão saudável puxava o atropelado para fora da rua, bastante movimentada, no instinto de protegê-lo, ainda que o outro já estivesse morto.
Depois de arrastar a vítima por uns três metros para fora da pista, o cão herói continuou por alguns minutos suas tentativas de reanimar o outro cão.
Comovido com o que via, Emerson telefonou para o repórter Mycchel Hudsonn Legnaghi, que registrou a cena em fotos e vídeo. Por telefone, Emerson disse que o episódio lhe proporcionou uma grande lição de vida. Para ele, a diferença entre o animal e o ser humano é grande sob o ponto de vista do controle emocional.
“O fato de o cão demonstrar equilíbrio naquela situação me chamou a atenção. Ele manteve uma postura de controle na tentativa de socorrer o outro, que já nem agonizava mais. E dava para perceber o esforço dele, pois estava cansado, já que ambos tinham o mesmo porte”, disse Emerson.
Emerson entende que os animais, principalmente em episódios como o presenciado por ele, deixam um ensinamento aos humanos.
“Existem certas coisas que precisam ser compartilhadas. A essência da vida está em pequenos gestos, como os proporcionados por um animal indefeso. Aquele cão foi um exemplo de como é possível ajudar o próximo de várias maneiras”, afirmou Emerson.
Na semana passada, no céu claro de Winnipeg, no Canadá, uma cena sinistra se desenrolou na medida em que dezenas de pássaros começaram a cair abruptamente do céu – incidente cuja causa ainda é desconhecida. As informações são do TreeHugger.
De acordo com a CBC News, mais de 50 pássaros mortos, identificados como grackles, foram descobertos espalhados por toda a região de North End na quarta-feira. Embora pistas para revelar o motivo sejam escassas, moradores da área disseram ter testemunhado um bando incomum de pássaros nas árvores e telhados ao redor da cidade.
“Havia provavelmente milhares de pássaros nas árvores, e então eu olhei pra cima e um caiu na minha frente”, disse Tanya Lee Viner.
Por volta das 10h30 da manhã, o que começou com poucos pássaros caindo do céu se tornou uma tempestade de corpos que cobriram as ruas. A comerciante Susan Tiganagis descreveu a cena à CBC como algo muito perturbador, e talvez até um pouco apocalíptico:
“Parecia um filme de terror. Os pássaros pareciam tontos, eles pareciam não saber onde estavam indo. Eu nunca vi esses animais se comportando assim. Eles estavam literalmente caindo das árvores e morrendo no chão”, descreveu Susan, que também contou que não se podia andar para lugar nenhum sem que se pisasse em um pássaro.
Funcionários da prefeitura chegaram para recolher os pássaros mortos, e aproximadamente dez entre eles que ainda estavam vivos mas incapazes de ficar de pé ou voar. Amostras dos corpos dos pássaros mortos foram enviadas para testes de toxicologia, na esperança de descobrir uma causa para a morte em massa, mas as autoridades estão supondo que a exposição a toxinas pode ter sido o motivo.
Esse caso ocorrido em Winnipeg é reminiscente de muitas outras mortes massivas de aves que ocorreram recentemente. Em 2011, por exemplo, milhares de aves caíram mortas do céu em várias cidades em todo o mundo. Enquanto as causas de cada incidente são variadas, a atividade humana foi apontada como responsável direta ou indiretamente, por todas essas ocorrências.
O Parlamento de El Salvador informou nesta semana que a Assembleia Legislativa proibiu a utilização de animais em circos e outros espetáculos públicos no país.
Com 54 votos a favor, o Parlamento, de 84 lugares, introduziu a proibição através de uma reforma do artigo 20 da Lei de Conservação da Vida Silvestre.
A reforma, segundo um comunicado da Assembleia, estabelece que “ se proíbe a entrada, utilização ou maltrato da fauna silvestre em todos os tipos de espetáculos; seu trânsito pelo território nacional será conforme os convênios internacionais para o assunto”.
Acrescenta que, “unicamente se permitirá a exibição da fauna silvestre em zoológicos ou refúgios de animais que cumpram com os cuidados específicos que estas espécies necessitam para sua subsistência e se proíbe todo tipo de maltrato para as mesmas”.
No entanto, foi esclarecido que os animais domésticos poderão participar de espetáculos.
O Deputado Francis Zablah afirmou que “com esta reforma El Salvador atua na vanguarda da América Central e América Latina”, além disso os deputados reformaram também o artigo 260 do código penal, com o qual as penas pelo delito de depredação da fauna, entre outros aspectos, serão aumentadas de 2 a 4 anos.
“O próximo passo é contar com todos os cidadãos para denunciar onde esta lei não esteja sendo cumprida e vamos seguir lutando contra o maltrato animal em todas as suas formas, mas este foi o primeiro passo para um país melhor”, diz Gabriela Escalante, representante da ONG Circo sin Animales (Circo sem Animais).
Foto: Reprodução/ elsalvador.com
A iniciativa foi promovida na Assembleia pelas ONGs “Circo sin Animales” e Asociación Rescate de los Animales (Associação Resgate dos Animais).
El Salvador se une assim a outros países latino-americanos que também proibiram a utilização de animais em circos.
Nota da Redação: Esta reforma legislativa em El Salvador é um avanço para os direitos animais, principalmente por se tratar de uma lei federal. Porém, só poderíamos comemorar a notícia plenamente se a proibição de animais em circos contemplasse todos os bichos, independente de serem considerados por nós como domésticos, silvestres ou exóticos. Pois para os indivíduos explorados, pouco importa a classificação que recebem. Esperamos que a nova lei traga consciência aos artistas circenses e donos de circos, e que eles deixem de explorar animais em seus espetáculos, mesmo aqueles que (ainda) não foram incluídos na proibição.
fonte:
El Salvador proíbe o uso de animais silvestres em circos
15 de agosto de 2013 às 6:00
Por Loren Claire Canales (da Redação)
O Parlamento de El Salvador informou nesta semana que a Assembleia Legislativa proibiu a utilização de animais em circos e outros espetáculos públicos no país.
Com 54 votos a favor, o Parlamento, de 84 lugares, introduziu a proibição através de uma reforma do artigo 20 da Lei de Conservação da Vida Silvestre.
A reforma, segundo um comunicado da Assembleia, estabelece que “ se proíbe a entrada, utilização ou maltrato da fauna silvestre em todos os tipos de espetáculos; seu trânsito pelo território nacional será conforme os convênios internacionais para o assunto”.
Acrescenta que, “unicamente se permitirá a exibição da fauna silvestre em zoológicos ou refúgios de animais que cumpram com os cuidados específicos que estas espécies necessitam para sua subsistência e se proíbe todo tipo de maltrato para as mesmas”.
No entanto, foi esclarecido que os animais domésticos poderão participar de espetáculos.
O Deputado Francis Zablah afirmou que “com esta reforma El Salvador atua na vanguarda da América Central e América Latina”, além disso os deputados reformaram também o artigo 260 do código penal, com o qual as penas pelo delito de depredação da fauna, entre outros aspectos, serão aumentadas de 2 a 4 anos.
“O próximo passo é contar com todos os cidadãos para denunciar onde esta lei não esteja sendo cumprida e vamos seguir lutando contra o maltrato animal em todas as suas formas, mas este foi o primeiro passo para um país melhor”, diz Gabriela Escalante, representante da ONG Circo sin Animales (Circo sem Animais).
Foto: Reprodução/ elsalvador.com
A iniciativa foi promovida na Assembleia pelas ONGs “Circo sin Animales” e Asociación Rescate de los Animales (Associação Resgate dos Animais).
El Salvador se une assim a outros países latino-americanos que também proibiram a utilização de animais em circos.
Nota da Redação: Esta reforma legislativa em El Salvador é um avanço para os direitos animais, principalmente por se tratar de uma lei federal. Porém, só poderíamos comemorar a notícia plenamente se a proibição de animais em circos contemplasse todos os bichos, independente de serem considerados por nós como domésticos, silvestres ou exóticos. Pois para os indivíduos explorados, pouco importa a classificação que recebem. Esperamos que a nova lei traga consciência aos artistas circenses e donos de circos, e que eles deixem de explorar animais em seus espetáculos, mesmo aqueles que (ainda) não foram incluídos na proibição.
El Salvador proíbe o uso de animais silvestres em circos
15 de agosto de 2013 às 6:00
Por Loren Claire Canales (da Redação)
O Parlamento de El Salvador informou nesta semana que a Assembleia Legislativa proibiu a utilização de animais em circos e outros espetáculos públicos no país.
Com 54 votos a favor, o Parlamento, de 84 lugares, introduziu a proibição através de uma reforma do artigo 20 da Lei de Conservação da Vida Silvestre.
A reforma, segundo um comunicado da Assembleia, estabelece que “ se proíbe a entrada, utilização ou maltrato da fauna silvestre em todos os tipos de espetáculos; seu trânsito pelo território nacional será conforme os convênios internacionais para o assunto”.
Acrescenta que, “unicamente se permitirá a exibição da fauna silvestre em zoológicos ou refúgios de animais que cumpram com os cuidados específicos que estas espécies necessitam para sua subsistência e se proíbe todo tipo de maltrato para as mesmas”.
No entanto, foi esclarecido que os animais domésticos poderão participar de espetáculos.
O Deputado Francis Zablah afirmou que “com esta reforma El Salvador atua na vanguarda da América Central e América Latina”, além disso os deputados reformaram também o artigo 260 do código penal, com o qual as penas pelo delito de depredação da fauna, entre outros aspectos, serão aumentadas de 2 a 4 anos.
“O próximo passo é contar com todos os cidadãos para denunciar onde esta lei não esteja sendo cumprida e vamos seguir lutando contra o maltrato animal em todas as suas formas, mas este foi o primeiro passo para um país melhor”, diz Gabriela Escalante, representante da ONG Circo sin Animales (Circo sem Animais).
Foto: Reprodução/ elsalvador.com
A iniciativa foi promovida na Assembleia pelas ONGs “Circo sin Animales” e Asociación Rescate de los Animales (Associação Resgate dos Animais).
El Salvador se une assim a outros países latino-americanos que também proibiram a utilização de animais em circos.
Nota da Redação: Esta reforma legislativa em El Salvador é um avanço para os direitos animais, principalmente por se tratar de uma lei federal. Porém, só poderíamos comemorar a notícia plenamente se a proibição de animais em circos contemplasse todos os bichos, independente de serem considerados por nós como domésticos, silvestres ou exóticos. Pois para os indivíduos explorados, pouco importa a classificação que recebem. Esperamos que a nova lei traga consciência aos artistas circenses e donos de circos, e que eles deixem de explorar animais em seus espetáculos, mesmo aqueles que (ainda) não foram incluídos na proibição.
A plataforma de gelo da Antártica está desaparecendo rapidamente, e duas atividades humanas em particular – a pesca e o turismo – têm contribuído ainda mais para mudar o ecossistema do continente.
Alarmada por este cenário, a Comissão para a Conservação dos Recursos de Vida Marinha da Antártica (CCAMLR), um grupo internacional cujos membros incluem a Austrália, a Nova Zelândia, os Estados Unidos, a Rússia, a China, a Noruega e a França, reuniram-se no mês passado para considerar uma proposta de transformar uma faixa de aproximadamente 1,5 milhões de quilômetros quadrados do oceano ao redor da Antártica, no que poderia se chamar de maior santuário oceânico do mundo e onde seria bloqueado qualquer tipo de caça e pesca.
Isso significa que a Antártica teria um santuário marinho ainda maior que o de um milhão de quilômetros quadrados criado no Mar de Coral da Austrália, ao leste da Grande Barreira de Corais.
Uma proposta, apresentada pelos Estados Unidos e Nova Zelândia, sugeria separar para o santuário 1,6 milhões de quilômetros quadrados do Mar de Ross, a maior baía do Pacífico. Outra proposta, trazida pela Austrália, França e União Europeia, pleiteava a proteção de 1,9 milhões de quilômetros quadrados da costa leste da Antártica, no lado que compreende o Oceano Índico.
Ambas as propostas encontraram um obstáculo no dia 16 de Julho, quando a Rússia se recusou a concordar com qualquer uma delas. As informações são da Care2.
Com seus 3,8 milhões de quilômetros quadrados, as reservas antárticas estariam uma área rica em espécies únicas, e deveriam abranger mais espaço que a soma de todas as reservas marinhas do mundo. Mas, tristemente, parece que isso não irá ocorrer, pois a Rússia usou o seu poder de veto para bloquear a implementação.
Ao fazer isso, a Federação Rússia desafiou a União Europeia bem como os Estados Unidos e outros vinte e três membros da CCAMLR.
Andrea Kavanagh, responsável pela campanha em prol do santuário pelo grupo ambientalista americano Pew Environment declarou que a decisão da Rússia estará prejudicando a conservação marinha global.
Steve Campbell, diretor da Antarctic Ocean Alliance, em entrevista à Raw Story, disse ter ficado profundamente desapontado: “Após dois anos de preparação, incluindo este encontro, nós saímos sem nada”.
A Comissão Global de Oceanos, uma organização que tem trabalhado para recomendar a melhoria do gerenciamento internacional dos oceanos, mandou uma carta aos líderes da CCAMLR em cada país pedindo a aprovação urgente dos santuários, pela proteção dos habitats críticos.
Segundo a reportagem da Care2, essa foi uma oportunidade maravilhosa dos líderes globais se unirem e entrarem em acordo pela proteção do ecossistema oceânico em uma região tão crítica, e teve um desfecho triste.
De qualquer forma, a Comissão Global e outros proponentes dos santuários não desistiram: a questão voltará a ser discutida no encontro anual da CCAMLR que será realizado em Hobart, na Austrália, em Outubro deste ano.
Apesar de tudo que dizem contra eles por causa de filmes que os associaram a seres folclóricos noturnos (os vampiros), morcegos são animais extraordinários, importantes e úteis na natureza. Enquanto o conde Drácula aterroriza o imaginário mundial, há um super-herói inspirado no morcego que é o Batman, símbolo de generosidade, solidariedade e justiça.
Morcegos são sagrados em Tonga (Oceania – Polinésia) e na África Ocidental. Representam longevidade e felicidade na China, Polônia, Macedônia e Arábia Saudita. Em alguns países asiáticos consome-se morcegos, e esse consumo vem sendo proibido pelas autoridades – por causa da ameaça à existência de certas espécies, embora ainda sejam apreciados na culinária tradicional.
Etimologicamente, a palavra “morcego” vem do latim “mure”, significando “rato cego”, (os morcegos não enxergam muito bem, mas não são cegos e possuem excelentes paladar, audição e olfato) e são os únicos mamíferos que voam. Podem voar a 50 km/h e até o século XIX pensava-se que eram aves.
Dependendo da espécie, sua gestação dura de 2 a 7 meses e a maioria das espécies tem apenas 1 filhote por gestação e de 1 a 2 gestações por ano. Os filhotes se tornam independentes aos 4 meses e com 2 anos estão sexualmente maduros, aptos a procriarem.
As asas dos morcegos são formadas por 5 ossos alongados com uma membrana entre eles. Muitas espécies também possuem uma membrana nos membros posteriores e cauda. No verão eles expandem suas asas para baixar a temperatura do corpo e no inverno se enrolam nas mesmas, como se fossem um casaco. As cores de seu pelo curto podem variar muito: preta, cinzenta, bege, marrom, branca, vermelha e amarela. Morcegos também podem se mover no chão, mas desajeitadamente. Vivem de 4 a 30 anos dependendo da espécie.
Segundo a classificação tradicional, morcegos pertencem à ordem dos quirópteros com duas sub-ordens: a dos morcegos propriamente ditos e a das raposas voadoras, e há 1100 espécies (140 delas vivem no Brasil, sendo que 125 na Floresta Amazônica), que podem ter uma envergadura de 3 cm a 2 m. Mas essa classificação vem sendo alterada. São animais noturnos, com exceção do subgrupo raposas voadoras, que inclui muitas espécies diurnas.
A origem desses animais não é muito conhecida, pois seus ossos pequenos e frágeis não resultam em bons fósseis, quebrando-se com facilidade. Os morcegos mais antigos foram encontrados há cerca de 50 milhões de anos.
Vivem em quaisquer ambientes, menos nos polos. Preferem habitar locais úmidos e escuros como cavernas e descansam pendurados de cabeça para baixo. Quando um grupo de morcegos sai de uma caverna, vira sempre à esquerda, não se sabe porque.
Apesar de 70% dos morcegos serem insetívoros, eles possuem a dieta mais variada entre os mamíferos, podendo consumir frutas, folhas, pólen, sementes, peixes, pequenos vertebrados e até sangue. Somente 3 espécies se alimentam exclusivamente de sangue – são os chamados hematófagos e são encontrados unicamente na América Central e América do Sul. Em torno dos hematófagos é que surgiram lendas sobre “vampiros”. Mas esses morcegos nem sugam – eles cortam superficialmente a pele de suas presas com seus dentes afiados e lambem o sangue que escorre. Os hematófagos possuem um sentido chamado “termo-percepção”, que permite que eles localizem vasos sanguíneos mais superficiais, tornando a mordida menos profunda e menos dolorida, com menor risco da presa acordar ou perceber o ataque. Ao contrário do que se pensa, morcegos não possuem anestésicos na saliva – o que produzem é um anticoagulante, que mantém a ferida aberta por mais tempo, permitindo que se alimentem durante um intervalo maior.
Os morcegos possuem um sonar próprio, que é o sentido da ecolocalização, biossonar ou orientação por ecos para se locomoverem no escuro, utilizado para buscar alimentação, comunicação e orientação. Emitem ultrassons pela boca e narinas, sons de altas frequências, acima de 70 mil khz, que são inaudíveis para seres humanos (humanos captam sons em frequências de 20 khz a 20 mil khz). Essas ondas atingem obstáculos e voltam para os morcegos na forma de ecos – eles percebem os ecos e podem localizar um obstáculo ou um inseto em voo. Esse sistema acústico é muito útil aos morcegos, pois necessitam se orientar à noite e em ambientes como as cavernas que são bem escuras. Mas morcegos frugívoros também contam com esse sentido, que os ajuda a localizar frutos e flores, além do reconhecimento de outros indivíduos da mesma espécie. Os morcegos têm sido estudados para desenvolvimento de aparelhos de sonar e ultrassons. Golfinhos e baleias também possuem esse sistema de eco-localização.
Morcegos podem ser predados por corujas, falcões, algumas espécies de sapos e lacraias, gambás, cobras, e há registro de predação de morcegos menores por bem te vis. Mas um grande problema para eles são os parasitas: pulgas e carrapatos. Também podem sofrer infestação por fungos nas asas, o que os impede de voar.
Como a maior parte dos morcegos é insetívora, eles possuem uma substancial importância como predadores de pequenos roedores e insetos, mantendo essas populações controladas, impedindo que virem pragas. Um morcego marrom pode comer em 1 hora cerca de 900 insetos do tamanho de um mosquito. Morcegos também são importantes por seu guano, pela polinização e dispersão de sementes que executam. Guano é a acumulação dos excrementos de uma colônia de morcegos (ou aves), rico em fosfato e nitrogênio, sendo portanto, excelente adubo natural. O guano foi muito utilizado, e ainda é, mesmo depois da criação de adubos industriais. Mas deve-se tomar cuidado com seu manuseio, pois pode conter fungos causadores da histoplasmose, que é uma micose que ataca os órgãos internos causada por inalação. O guano de morcegos sustenta muitos ecossistemas, já que é a principal fonte de nutrientes em uma caverna.
Na polinização os morcegos, assim como abelhas e beija flores, visitam flores para consumir o néctar, e levam o pólen de uma flor a outra da mesma espécie, ajudando assim na reprodução dessas flores. Mas eles não só polinizam como também dispersam sementes, quando carregam os frutos que comem. Dessa forma podem transportar as sementes por grandes distâncias, ajudando na reprodução de plantas e colonização de áreas. Um único morcego pode transportar mais de 500 sementes em uma noite, garantindo a sobrevivência de muitas florestas e regeneração de florestas degradadas.
No Brasil os morcegos são espécies silvestres, sendo portanto, protegidos pela Lei de Proteção à Fauna, Lei 5197/67, sendo proibidas sua caça, perseguição ou destruição. Esses atos constituem crimes – Art. 1º. Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha.
São também protegidos pela Lei Contra Crimes Ambientais, Lei Federal 9605 / 98 que proíbe a utilização, perseguição, destruição e caça de animais silvestres e prevê pena de prisão de 6 meses a 1 ano, além de multa para os infratores.
Morcegos são animais muito importantes, movimentando a cadeia alimentar e contribuindo decisivamente para o equilíbrio ambiental.
Infelizmente, já há 8 espécies na lista de animais ameaçados de extinção do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA). A preservação dos morcegos é vital para a preservação de florestas, e são necessários esclarecimentos e educação da população assim como campanhas preservacionistas.
Um fato alarmista, controvertido e mal entendido é a transmissão da raiva por morcegos a seres humanos. Sim, os cientistas afirmam que a maioria dos casos de transmissão dessa doença é causada por mordidas de morcegos. Os transmissores são os hematófagos. Mas a maioria dos morcegos não está contaminada com a raiva, e os animais portadores são identificáveis, pois perdem a capacidade de voar, ficam desorientados, agressivos, com tremores, descoordenação motora, contrações musculares, o que faz com que possam entrar em contato com humanos. Claro está que deve-se evitar a manipulação e tê-los nos locais onde se vive, cuidados esses que devem ser aplicados em relação a qualquer animal silvestre. Caso o morcego tenha atacado alguém, a pessoa deve procurar um hospital ou o centro de saúde mais próximo, e o morcego deve ser capturado e enviado imediatamente ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), que orientará o indivíduo. Mesmo que o morcego tenha morrido, deve ser encaminhado ao CCZ. Um dado curioso é que, nos últimos 50 anos menos de 10 pessoas contraíram raiva de morcegos, na América do Norte.
Morcego livre
O Projeto Morcego Livre alerta:
“O morcego só morde para se defender. Ele tem muito mais medo de você do que você dele, pode ter certeza. Nunca toque num morcego principalmente se ele estiver no chão e parecer machucado. Em caso de mordida ou mesmo um arranhado por morcegos faça o seguinte:
- Lave o local com bastante água e sabão: - Não mate nem jogue fora o animal; - Procure orientação médica numa unidade de saúde mais próxima de sua casa imediatamente; - Ligue para o Laboratório de Manejo de Fauna, CCZ, para buscarem o animal, mesmo que ele esteja morto. Isso é muito importante para você e para toda a comunidade, pois o morcego tem que ser examinado.
“Nunca peque um morcego. Deixe o bicho em paz. Ele só vai morder para se defender.”
*Texto meramente informativo. Procure sempre orientação médica, veterinária e de especialistas.
Corpo do elefante que morreu, sendo enterrado. (Foto: NBC News)
Na semana passada, próximo à aldeia de Matari no leste da Índia, um trem atropelou e matou um elefante. Era uma fêmea e, de acordo com autoridades locais, ela cruzava os trilhos procurando por comida. Mas enquanto o infeliz incidente, relativamente comum na região, é de fato lamentável sob uma perspectiva humanitária propriamente dita, é apenas mais uma das inumeráveis tragédias aceitas em nome do progresso.
Para membros do rebanho de elefantes ao qual pertencia o elefante que morreu, no entanto, a perda foi perturbadora demais para ser ignorada.
De acordo com o Times of India, desde o incidente, o rebanho de aproximadamente quinze elefantes parece estar velando o corpo da amiga falecida. Por muitos dias, o grupo permaneceu nas proximidades do local onde ocorreu a tragédia, em vigília contínua, atrapalhando as outras locomotivas que passavam pela área.
Enquanto tais demonstrações de tristeza não são incomuns quando elefantes perdem um membro do rebanho, para este grupo, suas emoções parecem tingidas com uma fúria especial, dirigida às criaturas responsáveis – que eles entendem como os humanos de forma geral. Nos dias seguintes ao atropelamento, os elefantes começaram a se vingar nas vilas da redondeza. Apesar dos esforços por parte dos moradores em espantar os animais, o rebanho danificou pelo menos dez casas na região, incluindo a demolição de parte de um prédio onde funciona uma escola.
Em um esforço para restituir a ordem, autoridades florestais chamaram um esquadrão de caçadores de elefantes para mandar o rebanho embora usando fogos de artifício. Entretanto, os elefantes persistiram em seus esforços para permanecer no local da tragédia, compelidos talvez por um sentimento de luto entre os elefantes que permanece até hoje incompreendido pelos humanos.
“Elefantes frequentemente tentam voltar ao local onde ocorreram tais incidentes pois acreditam que o seu companheiro pode estar apenas machucado e pode ser salvo por eles”, disse D S Srivastava, ativista de vida selvagem indiano. Eles também cumprem rituais de luto de forma sensível e devotada. “Mesmo quando um elefante morre por causas naturais, seus amigos cobrem o corpo com arbustos e galhos de árvores, em sinal de reverência”, complementou o ativista.
Tristemente, tais colisões violentas entre elefantes e trens têm sido muito comuns. Desde 2010, pelo menos cinquenta elefantes foram mortos em trilhos de trens na Índia – parte de uma infraestrutura vital usada para conectar vilas isoladas, que corta trechos inexplorados de florestas.
Só neste ano, já foram publicadas três notícias na Anda sobre o mesmo tipo de incidente: no dia 01 de janeiro o ano começou com a triste notícia de seis mortes em um mesmo acidente ; em março houve uma morte trágica cuja foto dispensa palavras); e em maio, três elefantes, sendo duas fêmeas adultas e um filhote, também morreram pelo intermédio dessas máquinas conduzidas por humanos. Esta é, portanto, a quarta notícia em oito meses, e pode ser que outras não tenham sido divulgadas ou chegado à mídia internacional.
Infelizmente, nos outros anos, também há diversas notícias de atropelamentos, e não só por trens: há um ano atrás, uma notícia falava de dois elefantes que foram atropelados por um caminhão, e em 2009, por um trailer.
Segundo esta reportagem, desta vez, devido à reação do rebanho por conta do ocorrido, as autoridades têm instruído os motoristas de trens a serem “mais cuidadosos”.
É interessante que, desde que chegaram os trens na Ásia como símbolo de conquista humana, os elefantes não têm cedido facilmente aos chamados “demolidores a vapor”. Em 1894, conforme publicado pela ANDA, um elefante descarrilou um trem em defesa de seu rebanho, sacrificando a sua vida contra o agressor revestido de metal.
A reportagem do TreeHugger termina com o comentário de que “infelizmente o progresso humano sobre a natureza, é claro, não descarrila trens, nem tem o instinto dos elefantes para fazer tal oposição”.
Talvez muito pelo contrário – subscrevemos.
Foto: Utpal Baruah / Reuters
Nota da Redação: Todos os dias nos deparamos com notícias sobre atropelamentos de animais no Brasil e no mundo. Cães, gatos, tigres, onças, vacas, cavalos e outros, todos os dias morrem pelas estradas atingidos por carros em alta velocidade, guiados por motoristas submersos na falta de consciência e movidos pela pressa insana da sociedade atual.
Crescemos vendo corpos de animais dilacerados pelas ruas, que morreram de forma violenta por atropelamento e ficaram sem socorro, sem respeito e sem dignidade, e a cultura em que somos criados tenta nos obrigar a ser indiferentes a esse absurdo. Tenta nos fazer considerar a coisa mais natural do mundo ver esses corpos dos animais mortos sendo pisados por dezenas de milhares de carros no meio das ruas, por vários dias após o atropelamento, como se um dia não tivessem respirado, vivido, corrido alegres, se emocionado, tentado receber e dar carinho a algum ser humano da mesma espécie desta que o atropelou e dos que agora passam por cima deles com seus carros apressados como se eles fossem nada – e não há dúvidas de que são mesmo, para tantas pessoas.
Se o atropelamento a animais é algo extremamente cruel, inaceitável e evitável, chega a ser o ápice do surreal concluirmos que esses são tempos em que até elefantes são atropelados. Infelizmente, as notícias não deixam negar que o surreal já se mistura e se confunde com o real na sociedade da pressa e do consumo em que vivemos, realidade cega que corre para o que chamam “progresso” – palavra esta altamente questionável.
Bombeiros combatem incêndio em pet shop no Setor Campinas (Foto: Bill Guerra/AgMais)
Cerca de 150 animais morreram durante um incêndio em um pet shop, na tarde de domingo (11), no Setor Campinas, em Goiânia. Segundo o Corpo de Bombeiros, o fogo teve início por volta de 16h10 e se alastrou rapidamente. Cerca de 200 animais, entre cães, gatos e pássaros, estavam no local no momento do incêndio. Bombeiros conseguiram resgatar 50 bichos.
De acordo com a corporação, a loja foi totalmente destruída pelas chamas. Os animais morreram sufocados pela fumaça ou carbonizados. Ainda não há informações sobre o que teria motivado o incêndio. Uma equipe da Polícia Técnico Científica deve realizar a perícia do local para identificar onde e como o fogo teria começado.
Nota da Redação: É um absurdo que animais sejam vendidos como objetos em lojas de pet shops. Lamentamos a morte terrível destas pobres vítimas do desrespeito, da prepotência e da ganância humana. E não apenas quem vende, mas também quem compra animais financia este mercado cruel, que só atesta a condição de mercadoria a qual os animais são sujeitados. Esta é uma realidade que pode e deve mudar.
Salil Shetty, da ONG Anistia Internacional, diz que o Brasil precisa agir com urgência para proteger seus cidadãos
Após uma semana de encontros no Brasil, o secretário-geral da ONG Anistia Internacional, Salil Shetty, cobrou o fim da impunidade policial e um maior consistência na proteção aos direitos humanos, afirmando que tanto favelas do Rio quanto comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul parecem ser "zonas francas de direitos humanos".
"É como se essas pessoas não estivessem no Brasil. Lá valem regras diferentes. Elas vivem em zonas de guerra, e todos os direitos humanos estão suspensos", disse o indiano.
Em entrevista à BBC Brasil, Shetty condenou a violência policial, comentou o desaparecimento do pedreiro Amarildo, na Rocinha, e afirmou que a ação da polícia durante as manifestações foi "um alerta para o cidadão brasileiro médio sobre como a polícia atua".
Shetty passou a última semana no Brasil e ouviu relatos de violência de moradores do Complexo da Maré e de comunidades indígenas em Dourados, no Mato Grosso do Sul, onde visitou uma aldeia Guarani-Kaiwoá e se reuniu com lideranças de diversas etnias.
Em Brasília, ele teve encontros com os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e o secretário-geral da presidência, Gilberto Carvalho.
"Procurei transmitir para eles um sentido de urgência", disse. "Essas comunidades (tanto as indígenas quanto as favelas) estão perdendo a paciência."
Ao encerrar sua visita na sexta-feira, Shetty considerou que o governo tem muitas conquistas das quais deve se orgulhar, citando a redução da pobreza, a desigualdade de renda e a criação da Comissão da Verdade.
Mas disse que o Brasil precisa agir com urgência para proteger seus cidadãos com consistência.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil: Nos últimos meses, tivemos uma onda de manifestações que balançou o país. Na sua opinião, o que esse momento em relação à defesa dos direitos humanos no Brasil?
Salil Shetty: O conceito básico que permeia os direitos humanos é que aqueles no poder precisam prestar contas diante das pessoas comuns. Em muitas democracias, como no Brasil, Turquia e Índia, os líderes tendem a presumir que, eleitos, eles têm legitimidade, e só precisam prestar contas nas eleições seguintes.
Acho que as pessoas no mundo estão dizendo para os líderes que as eleições são o primeiro passo para isso, e não o último. É um processo constante, e se você não cumprir o que prometeu - as pessoas não estão mais apáticas. Elas vão exigir seus direitos. É um sinal muito positivo de certa forma.
Para mim, essencialmente, os protestos foram sobre direitos humanos - sejam direitos econômicos, sociais, civis, políticos. A triste realidade no caso do Brasil, e não foi diferente na Turquia e na Índia, é que a resposta do estado foi uma de repressão. Em parte porque esse país ainda tem uma herança da ditadura em termos do comportamento da polícia.
BBC Brasil: A atuação da polícia durante as manifestações gerou muitas críticas, com denúncias de abuso de poder e prisões arbitrárias. A própria Anistia se pronunciou sobre o uso excessivo da força e de armas não-letais. Shetty: Paradoxalmente, acho que foi a primeira vez que a classe média experimentou a brutalidade da polícia, porque para moradores de favelas essa experiência é rotineira, assim como para os povos indígenas. O que aconteceu foi infeliz, mas por outro lado foi um grande despertar para o cidadão brasileiro médio sobre como a polícia atua.
Mas se você não tem segurança em uma favela, como vai querer ter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU?
Salil Shettysecretário-geral da Anistia Internacional
BBC Brasil: Na sua avaliação, o que precisa mudar? Shetty: O país precisa de uma reforma profunda na polícia. Precisa de uma força policial unificada, de um banco de dados e de informações unificado, de um treinamento muito mais sério para o policiamento comunitário - um policiamento que ajude as pessoas, e não as prejudique. E precisa de uma reforma jurídica.
Temos que lembrar que o Brasil tem um dos maiores índices de homicídios violentos no mundo, e uma proporção significativa, de cerca de 20%, são de homicídios cometidos pela polícia.
A questão central é a impunidade. Nós visitamos o Complexo da Maré, onde 10 pessoas foram mortas, inclusive um policial (durante operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais, o Bope, em junho). Tivemos o desaparecimento de Amarildo na Rocinha (o pedreiro que sumiu depois de ser levado para a Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP, da favela, em 14 de julho).
A Anistia vem levantando esses problemas há muito tempo, e agora eles se tornaram mais visíveis para a mídia e para a classe média por causa dos protestos e do uso excessivo da força.
BBC Brasil: Em muitos casos a polícia argumentou que precisou intervir e dispersar as manifestações para combater a ação de vândalos e a depredação do patrimônio público. Shetty: Ninguém está falando que o estado não deve conter o vandalismo. É responsabilidade do estado proteger vidas e o patrimônio público. Não é essa a questão. Mas parece haver um consenso no Brasil de que a reação da polícia foi desproporcional nas manifestações. Não se pode usar o vandalismo para justificar ataques a estudantes comuns e a pessoas que estão protestando de forma pacífica.
BBC Brasil: Você se referiu à operação do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) no Complexo da Maré que terminou com dez mortos durante a Copa das Confederações. Como foi sua visita à comunidade? Shetty: O interessante na Maré é que existe essa expectativa da chegada da UPP, que deve trazer paz, mas as pessoas têm medo dessa "paz". Nós já fizemos uma campanha lá para que os moradores conheçam os seus direitos e saibam como agir se a polícia entrar em suas casas chutando a porta no meio da noite.
O principal problema no combate à impunidade policial é que o sistema atual de investigação é conduzido pela própria polícia. As pessoas não reclamam porque têm medo; ou se reclamam, não há investigação e nada acontece; e se há investigação, ninguém é condenado.
Em Brasília, nossa recomendação (a representantes do governo) foi pela criação de um mecanismo independente de fiscalização de denúncias relacionadas à impunidade policial, que tenha poder investigativo e participação civil.
BBC Brasil: O desaparecimento do pedreiro Amarildo, na Rocinha, mobilizou pessoas em protestos até fora do Rio e se tornou um caso emblemático, embora não seja a primeira vez que algo assim aconteça. Essa mobilização tem a ver com o momento dos protestos, com o fato de ter acontecido em uma favela pacificada? Shetty: Acho que a mídia se tornou mais consciente e deu mais visibilidade ao caso. E a UPP aumentou a expectativa das pessoas. Se você tem uma UPP, a favela é supostamente pacificada, e o cara entra lá e...
Conversamos com uma sobrinha do Amarildo, a Michele, e ela falou que ele tem seis filhos e que as crianças estão perguntando onde está o seu pai. Ele saiu para comprar limão para preparar um peixe e nunca mais voltou. É uma história dramática que aumentou a compreensão do problema após os protestos, ainda mais com a UPP lá.
E o ponto que ressaltamos com o governo é - vocês vão sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada. Vocês não podem ter uma situação em que grandes partes da população do Rio, nas favelas, vivem com tanto medo, intimidação e incertezas. Não pode ser bom para esses grandes eventos. Os protestos que vimos não tiveram muita participação das pessoas das favelas e giravam em torno da Copa das Confederações. Você pode imaginar o que pode acontecer durante a Copa do Mundo.
BBC Brasil: As manifestações durante a Copa das Confederações também denunciavam a violação de direitos humanos no contexto da Copa do Mundo, falando sobre remoções forçadas e questionando as prioridades dos investimentos. Shetty: Nesses eventos, é essencial dialogar com as comunidades e atentar para suas necessidades, mas aqui já documentamos muitos casos de remoções forçadas relacionadas à infraestrutura para as Olimpíadas.
O Brasil é signatário de diversos tratados internacionais de direitos humanos. O governo federal precisa ter a responsabilidade sobre isso. Não podemos ir cobrar de cada município. Não é o prefeito ou o governador que está assinando o tratado. Se o governo assina, é seu papel resolver todos os processos internos dentro do país.
BBC Brasil: E o país não está fazendo isso? Shetty: Não, está violando diretrizes da ONU, se você olha para a polícia, para os povos indígenas. O que eu vi nas favelas e nas comunidades indígenas é muito semelhante - ambas são espécies de "zonas francas" de direitos humanos. É como se essas pessoas não estivessem no Brasil. Lá valem regras diferentes. Elas vivem em zonas de guerra, e todos os direitos humanos estão suspensos.
Há 25 anos, o Brasil assegurou que os povos indígenas teriam direito a suas terras tradicionais demarcadas. Agora, 25 anos depois, os Guarani-Kaiowá, os Terena, as outras etnias que encontramos, as comunidades estão perdendo a paciência. Nas favelas também. Em inglês temos um ditado: justiça atrasada é justiça negada. ("Justice delayed is justice denied")
Tentamos transmitir um sentido de urgência aos ministros. Tudo bem, são questões complexas e o Brasil tem um sistema burocrático. Mas por quanto tempo vocês vão continuar dizendo isso?
BBC Brasil: O que o senhor viu na sua visita às comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul? Shetty: Nós visitamos comunidades que foram removidas de suas terras e estão vivendo à beira da estrada. Foi uma visão chocante. Algumas centenas de pessoas vivendo ali, com acampamentos dos dois lados da estrada, muitos casos de crianças mortas por atropelamento. Depois visitamos seus locais de sepultamento. Indígenas mortos por barões de açúcar ou mafiosos.
É uma luta muito desigual, porque os homens (capangas) chegam com armas e carros e eles estão ali à beira da estrada sem proteção nenhuma. A consequência do adiamento da demarcação das terras é que as comunidades indígenas estão sofrendo com violência, intimidação e remoções forçadas.
Falei para os ministros que essa estratégia é de muito alto risco. Continuam pedindo a eles para esperarem, mas eles chegaram a um ponto em que estão prestes a ocupar as terras. E se eles ocuparem as terras, você pode imaginar as consequências.
O Brasil é um país moderno, democrático, com uma sociedade relativamente abastada, está se tornando uma potência mundial. Os direitos humanos básicos têm que estar assegurados.
O Brasil quer ter uma cadeira no Conselho de Segurança (da ONU). É uma reivindicação legítima. Mas se você não tem segurança em uma favela, como vai querer ter um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU? Tem que haver uma correlação entre os dois. Você tem que proteger os seus cidadãos, e isso tem que ser feito de forma consistente.