No atual momento, o sonho de consumo dos cientistas para experimentos médicos
são as famosas células-tronco embrionárias. Elas têm uma qualidade que as tornam
uma grande esperança de cura: a capacidade para se converter em qualquer um dos
mais de 200 tipos de tecido do organismo humano. Espera-se que essas células
combatam doenças degenerativas hoje incuráveis, que vão de diabetes a mal de
Parkinson.
Como são células humanas, elas poderão ser manipuladas para produzir "modelos"
mais precisos de doenças, substituindo os animais que hoje são manipulados
geneticamente para contrair alguns dos males que nos afligem. Só tem um porém:
antes de conseguir as células-tronco embrionárias, é preciso destruir um embrião humano.
Se seguirmos o raciocínio do filósofo Peter Singer e evitarmos quaisquer especismos
(a defesa de uma espécie, em detrimento de outra), é mais aceitável destruir um embrião -
que, no estágio em que seria manipulado, ainda não teria nem sequer vestígio de um
sistema nervoso e, portanto, seria incapaz de sofrer - do que sacrificar animais.
Mas na prática é diferente. Há quem defenda que um embrião, após a concepção, já
deveria ser tratado como um ser humano. E, embora haja pouco para sustentar tal
visão, também há pouco para sustentar qualquer outra; definir onde a vida humana
começa depende de quem estabelece a linha divisória.
Enquanto ninguém traça essa fronteira, a controvérsia segue no Brasil. A Lei de
Biossegurança permite a manipulação de embriões com mais de três anos que
seriam descartados por clínicas de fertilidade. Mas sua constitucionalidade foi
questionada pela Procuradoria-Geral da República, e a questão aguarda decisão
do Supremo Tribunal Federal. Por outro lado, a maioria dos países permite tais
estudos, e nos EUA há uma única ressalva: as pesquisas não podem ser financiadas
pelo governo federal.
Celebridades: pesquisador chinês segura porcos fluorescentes. Eles ganharam as
manchetes em 2006, ao serem usados em estudos sobre transplantes de órgãos
Mais aprendizado, menos mortes
O falso roedor foi desenvolvido originalmente por uma organização não-governamental
na Holanda, mas se demonstrou uma idéia tão boa que foi abraçada pela própria indústria
farmacêutica - hoje é a gigante belga Solvay Pharmaceuticals que produz os ratos,
fabricados totalmente a partir dessa espécie de plástico.
A idéia é substituir cobaias vivas no ensino da realização de microcirurgias. "Atualmente,
quando um aluno precisa aprender a operar, ele tem de prestar atenção em duas coisas:
na execução correta da técnica e nos cuidados para que o animal não morra", diz René Remi,
membro da ONG responsável pela criação do bicho de mentira, a Microsurgical Developments.
"Ele simplesmente não consegue prestar atenção nas duas coisas, e o animal morre. Depois de
matar um, dois, três, quatro ratos, ele chega para o professor e diz 'faça isso você, eu não sei fazer
direito'. Com o rato de PVC, os dois aprendizados são feitos separadamente, tornando o processo
menos traumatizante para o aspirante a médico."
O custo de um rato de PVC é de cerca de US$ 160. Um rato de verdade, levando em conta tudo que
se gasta para tratar, acondicionar e alimentar, sai por US$ 40. Mas, depois de morto, o animal de verdade
não serve mais; já o artificial pode ser recondicionado e reutilizado milhares de vezes. Acaba sendo uma
barganha.
O falso animal permite o aprendizado de algo como 25 técnicas diferentes de microcirurgia. Ainda assim,
até mesmo seu criador realça que há certas coisas que não se consegue replicar num robô. "Acho muito
improvável que consigamos desenvolver um rato artificial totalmente funcional. Já sabemos muito sobre
esses animais, mas não o suficiente para reproduzir totalmente o sistema deles, que é muito complexo",
diz Remi.
Moral da história: que ninguém se confunda - quando o assunto é entender e tratar doenças
(e não simplesmente testar cosméticos ou dar treinamento a futuros médicos), o buraco é ainda mais embaixo,
e cortar indistintamente todos os experimentos com animais equivaleria a deixar milhões e milhões de seres
humanos à mercê de um sem-número de moléstias hoje intratáveis. E essa talvez seja uma situação incontornável
- mesmo no longo prazo.
"É possível que o avanço científico proporcione a redução da experimentação animal. No entanto, é muito provável ]
que sejamos para sempre dependentes dos animais", afirma Stevens Rehen. O grande problema é que organismos
vivos complexos (como o ser humano e os animais que guardam maior semelhança com ele) são complexos demais.
Hoje, ainda estamos muito longe de entender como eles funcionam, em todas as minúcias. "Os sistemas circulatório, respiratório, locomotor, tudo isso integrado forma um organismo de tamanha complexidade que não é possível utilizar
células isoladas ou programas sofisticados e simuladores computacionais para definir o comportamento de um
determinado fármaco no corpo", diz Rehen.
revista Galileu
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