Atualizado em 17/07/2011 - 00:59 h
Muitos animais morrem atropelados no DF (Foto: CB)
Placas afixadas às margens da BR-020 anunciam a presença de animais silvestres nas proximidades. O alerta não impede que a fatalidade ocorra de forma recorrente na via. Levantamento realizado por estudiosos do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) que fazem parte do projeto Rodofauna aponta dados alarmantes: de fevereiro de 2010 a março deste ano, foram encontrados cerca de mil animais atropelados em rodovias localizadas próximas a áreas ambientais do Distrito Federal. Isso equivale a dois animais mortos por dia.
Os animais podem deixar o habitat em busca de comida ou para fugir de um incêndio florestal, entre outros motivos. Na madrugada de ontem, por sorte, um bicho não foi morto.
Depois de um chamado dos moradores, a Polícia Militar Ambiental encontrou uma fêmea de lobo-guará no Residencial Oeste, em São Sebastião. Ela foi levada para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Taguatinga Norte.
Estava bastante estressada e com a pata machucada. “O período de acasalamento da espécie é agora e o animal deve ter saído para se alimentar. Como o habitat dele está cada vez menor, pode ter chegado no meio da cidade”, explicou o comandante da Polícia Militar Ambiental, tenente-coronel Cláudio Ribas de Sousa.
Felipe Alves Barroso, analista ambiental do Ibama, explicou que o lobo-guará deve voltar à natureza assim que tiver condições. “Ele será avaliado pela equipe e o mais correto é devolvê-lo o mais próximo possível do local encontrado.” O comandante da unidade lembra que o número de animais resgatados dentro das casas e nas cidades aumenta durante o período de incêndios florestais. “Até o fim deste mês e nos seguintes resgatamos muitos tamanduás, lobos, tatus, serpentes, saruês, mas muitos não resistem e morrem”, contou. De janeiro até ontem, policiais militares ambientais já encontraram 572 animais silvestres fora do habitat natural.
Morte no asfalto
Motoristas que passam por vias de muito movimento, como a BR-020, a DF-001 e a DF-128, são surpreendidos diariamente com animais mortos na estrada. A DF-128, que liga Brasília a Planaltina de Goiás, é uma das rodovias em que mais ocorrem acidentes desse tipo.
Em uma ronda do Rodofauna, também foi observado o aumento de registros de mortes de animais por atropelamento nos períodos de chuva do DF. “Agora, estamos analisando os dados para que possamos inferir as causas desse aumento, que pode estar relacionado à paisagem no entorno da unidade de conservação, ao tráfego de veículos, às características da pista, entre outros fatores”, explicou o coordenador do Rodofauna, Rodrigo Santos.
Durante a pesquisa, biólogos, geógrafos, químicos e analistas ambientais no Ibram percorreram aproximadamente 12 mil quilômetros das vias que circundam a Estação Ecológica Águas Emendadas (Esecae), o Parque Nacional de Brasília (PNB), o Jardim Botânico de Brasília (JBB), a Reserva Ecológica do IBGE e a Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília (FAL/UnB). O tiziu, a coruja-buraqueira e o cachorro-do-mato foram os três tipos encontrados com mais frequência entre os atropelados. As aves representam 69,8% desse contingente, seguidas de répteis (16,3%), mamíferos (10,4%) e anfíbios (4,5%). O trabalho dos estudiosos deve seguir até março de 2013. Duas vezes por semana, eles saem com equipamentos, como GPS e máquinas fotográficas.
De acordo com o biólogo Leonardo Gomes, 31 anos, os motoristas se enganam ao pensar que aves não são vítimas em potencial. “Em geral, pelo tamanho, os pássaros acabam passando despercebidos pelas pessoas que dirigem e acabam mortos.” Para ele, a ocupação humana desordenada, a falta de sinalização e de fiscalização da velocidade das vias são alguns dos fatores que propiciam o aumento da mortalidade de animais nas rodovias. “Podemos observar que as áreas onde ocorrem os atropelamentos são aquelas onde estão cercadas por atividades humanas”, apontou.
Soluções
Para o coordenador do Rodofauna, a instalação de redutores de velocidades, radares e pardais é uma das saídas para o fim dos acidentes envolvendo bichos e carros. “Existem inúmeras placas indicando travessia de animais silvestres nos trechos que monitoramos, mas o que os nossos dados indicam é que os motoristas não as respeitam e não reduzem a velocidade ao passar por esses trechos”, acredita Rodrigo Santos.
As possíveis soluções para o fim ou para a redução desses índices podem estar na construção de travessias — passagens subterrâneas e aéreas — para os animais, em um programa de conscientização dos motoristas e na implementação de cercas de alambrados nas margens das pistas.
Olho na estrada
Criado em 2010, o projeto tem o objetivo de monitorar o impacto das rodovias sobre a fauna silvestre, registrando os animais silvestres atropelados e identificando os pontos críticos de acidentes, a fim de direcionar a adoção de medidas preventivas, promovendo ações e estratégias conservacionistas e educativas.
Queimadas e apreensões
Cerca de 70 militares trabalham diariamente para atender os chamados que denunciam queimadas no DF. Até a última terça-feira, o Grupamento de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros registrou 245 ocorrências de incêndios florestais que destruíram 994 hectares. No dia 11, um incêndio de grandes proporções atingiu o Parque Nacional. O fogo queimou 40 hectares, o que representa10% de área do parque. Sessenta homens, com a ajuda de moradores do Núcleo Rural 2 Boa Esperança, levaram cerca de seis horas para controlar as chamas.
De acordo com os dados do grupamento, em julho de 2010, os bombeiros registraram 640 incêndios e uma área de 2.848,07 hectares destruídos. No mês passado, os militares atenderam 420 ocorrências, que provocaram a destruição de 850 hectares. Em maio foram detectados 72 focos de incêndio. Segundo o major do grupo especializado, Valber Costa, a maioria dos incêndios é provocada pelos homens. Muitos insistem em usar o fogo para limpar terrenos.
Além da ameaça do fogo e da falta de atenção dos motoristas, há o problema do tráfico de espécies silvestres. Ontem de manhã, a Polícia Militar Ambiental e agentes ambientais do Ibama apreenderam 37 aves silvestres.
Após denúncia anônima, os homens chegaram a uma oficina no Km 3 da DF-440, em Sobradinho, e localizaram as gaiolas e o viveiro. O dono do estabelecimento, Mauro Francisco da Silva, não estava no local, mas a esposa do suspeito confirmou que os animais eram dele. As aves foram levadas para o Centro de Triagem de Animais Silvestres, em Taguatinga Norte. Mauro já havia sido autuado pelo mesmo crime em 2001. A pena para quem mantém animais silvestres em cativeiro varia de seis meses a um ano de prisão, mais multa.
Evite acidentes com animais
» Reduza a velocidade próximo às unidades de conservação, onde a presença de animais é frequente.
» Redobre a atenção ao avistar placas indicando que há animais na pista.
» Dirija com cuidado à noite, quando os animais são mais ativos.
» Evite buzinar ou usar o farol alto para que o animal saia da estrada. Ele pode se assustar e ir em direção ao veículo.
» Após passar por um animal na rodovia, alerte os outros motoristas, piscando os faróis.
» Não jogue lixo nas estradas. Alimentos atraem os animais para a pista.
» Cuidado no atropelamento de animais, pois você também pode ser vítima.
» Ao avistar animais na pista, reduza a velocidade e procure desviar por trás
do animal para não assustá-lo.
» Antes de qualquer manobra, veja pelo retrovisor se outro carro se aproxima. Movimentos inesperados podem provocar acidentes.
» Em caso de avistar um animal atropelado, se decidir parar no acostamento, ligue o pisca-alerta. E não toque no animal, porque ele pode feri-lo ou transmitir doenças.
Dicas do Ibram
Fonte: CB | Editor: Orlando Portela
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