sábado, 3 de dezembro de 2011

Como os animais detetam os sismos



Após a observação de uma colónia de sapos a abandonar a sua lagoa em L’Aquila, na Itália, dias antes do grande sismo de 2009, os cientistas começaram a investigar possíveis alterações químicas que ocorram na água antes de um sismo. Esta poderá ser a causa dos comportamentos bizarros dos animais associados a estes eventos naturais.
Em 2009, Rachel Grant, da Open University, estava a monitorizar uma colónia de sapos numa lagoa em L’Aquila, na Itália, quando verificou que em poucos dias a colónia quase desapareceu. “Foi bastante dramático”, relembra. “Passámos de 96 sapos a praticamente zero em três dias.” Cinco dias após o êxodo dos sapos a região foi abalada por um grande sismo.
Após ter publicado estas observações no Journal of Zoology, Grant foi contactada pela Nasa. Os cientistas da agência espacial norte-americana estavam a estudar alterações químicas que ocorriam nas rochas quando estavam sobre grande pressão. A equipa queria saber se estas alterações estariam relacionadas com o desaparecimento temporário dos sapos.
Os testes de laboratório realizados revelam que estas alterações podem afetar diretamente a química da água dos lagos onde os sapos estavam a viver e a reproduzir-se.
Friedemann Freund, geofísico da Nasa, demonstrou que quando as rochas estão sob grandes níveis de pressão mesmo antes de um sismo, libertam partículas carregadas. Estas partículas podem fluir para as rochas adjacentes e quando chegam à superfície da Terra reagem com o ar, convertendo as moléculas em partículas carregadas como os iões.  “Os iões positivos do ar (…) reagem com a água, transformando-a em peróxido de hidrogénio.”
Esta cadeia de eventos químicos pode afetar o material orgânico dissolvido na água da lagoa, transformando material orgânico inofensivo em substâncias que são tóxicas para os animais aquáticos. Para Grant este é o primeiro possível mecanismo convincente para uma “sinalização pré-terramoto”.
Freund refere que o comportamento dos animais é apenas um, num conjunto de eventos conectados que podem prever um terramoto. “Assim que compreendermos como todos estes sinais estão ligados e se detetarmos quatro ou cinco sinais todos a apontar [na mesma] direção, podemos dizer que algo está prestes a acontecer.”
Os sapos de L’Aquila não são o único exemplo de comportamentos animais estranhos antes de um grande sismo. Em 1975, em Haicheng, na China, muitas pessoas observaram cobras a saírem das suas tocas um mês antes da cidade ser atingida por um grande terramoto. Este caso foi particularmente estranho, porque ocorreu durante o inverno. As cobras estariam no meio da sua hibernação anual e com temperaturas bastante baixas no exterior, sair das tocas foi fatal.
As descobertas de Grant e Freund foram publicadas no International Journal of Environmental Research and Public Health. A equipa espera que a sua hipótese inspire os biólogos e geólogos a trabalharem em conjunto para descobrir exatamente como estes animais nos podem ajudar a reconhecer os sinais de um sismo eminente.
http://naturlink.sapo.pt/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

verdade na expressão