A atrazina, usada em cultivos como milho e cana-de-açúcar, foi associada a uma "feminilização" de peixes, anfíbios, répteis e mamíferos
Sapos expostos à atrazina podem mudar de sexo (Foto: Tyrone Hayes)
Vinte e dois cientistas das Américas do Sul e do Norte, da Europa e do Japão fizeram uma revisão das evidências que ligam o herbicida atrazina a problemas reprodutivos em animais. O time de pesquisadores encontrou um padrão consistente de disfunção reprodutiva em peixes, anfíbios, répteis e mamíferos expostos ao agrotóxico.
A atrazina é usada para matar as ervas daninhas de lavouras como milho, cana-de-açúcar e sorgo. O herbicida é o segundo mais usado nos Estados Unidos e é aprovado em mais de 60 países. E é também o pesticida mais comum encontrado nos lençóis freáticos americanos.
Os pesquisadores analisaram os resultados de estudos que associavam a exposição à atrazina a níveis anormais de androgênio, o hormônio masculino, e a problemas no desenvolvimento sexual dos indivíduos. As pesquisas concluem que a substância está relacionada a um processo de "feminilização" das gônodas de machos de várias espécies.
Os estudos mostram que a atrazina muda a expressão de alguns genes ligados à atividade hormonal, interfere na metamorfose (no caso dos anfíbios) e inibe algumas enzimas que controlam a produção de estrogênio e androgênio. Isso leva ao nascimento de mais fêmeas do que machos, o que pode levar a um desequilíbrio ecológico.
O efeito mais significativo foi observado nos anfíbios: pelo menos dez estudos encontraram evidências de que a atrazina leva a uma feminilização dos sapos machos, às vezes até o ponto de mudar de sexo. A conclusão é ainda mais alarmante porque o efeito acontece mesmo quando a concentração do herbicida na água não é muito alta, diz o pesquisador Val Beasley, da Universidade de Illinois.
Outra preocupação dos pesquisadores é entender melhor todos os efeitos desse herbicida nos organismos. Os estudos mostram que a atrazina pode estar ligada ao aumento da produção do hormônio do estresse, o cortisol. E mais cortisol pode, no longo prazo, afetar o sistema imunológico dos animais.
"Espero que esse estudo estimule os políticos a olhar para a totalidade dos dados e a se perguntar sobre as grandes questões", diz Tyrone Hayes, da Universidade da Califórnia em Berkeley. "Queremos isso no nosso meio ambiente?"
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