Indonésia
Há um belo mosteiro perto das colinas das florestas de Java Ocidental, na Indonésia, local que eu tive a oportunidade de conhecer durante um passeio espiritual feito em dezembro. A melhor parte era o jantar. Nesse período, vários animais que viviam ali perto desciam as montanhas por causa do cheiro da comida e nos observavam. Dois cachorros selvagens ficavam em volta da fogueira e, naturalmente, tiveram sua parte de uma refeição saudável.
Minha atenção foi atraída, entretanto, por uma presença muito discreta no grupo, uma gatinha de pelagem “escaminha” (escama de tartaruga) silenciosamente sentada enquanto nos fitava. Sempre que alguém se levantava do círculo, ela fugia. Mas naquela noite eu coloquei um prato de arroz, frango e ovos mexidos do lado de fora do meu quarto e fui dormir.
No dia seguinte, acordei de manhã cedo me perguntando como ela estava, se ela havia comido o que eu deixei para ela, mas não precisei pensar muito. Ela estava ali, encolhida no canto da minha cama, dormindo sossegadamente. Nos dias seguintes eu continuei deixando um prato de comida do lado de fora, mas ela comia apenas os ovos.
Na última noite de meu passeio, ela entrou no meu quarto antes do jantar. Ela ronronava enquanto eu a acariciava. Percebi que ela estava bastante familiarizada comigo e coloquei o prato do lado de dentro e a observei comer, mas apenas o ovo novamente.
Por curiosidade, tentei olhar a boca da gata e descobri que ela não havia quase nenhum dente, exceto por um canino do lado esquerdo.
Por isso estava tão magra. Não consigo imaginar como a vida dela era difícil sem a capacidade de comer adequadamente. Então eu decidi naquela noite que a traria para casa e que, no dia seguinte, a “contrabandearia” na minha mochila para que ninguém soubesse que eu estava levando um gato para a cidade.
Felizmente todos no meu grupo gostavam de animais e não se importaram quando me viram desempacotar as coisas.
Tortie é a mais querida, amável e compreensível gata que eu já conheci. Quase não precisei mudar o caminho para casa e o motorista do ônibus não descobriu que tinha um passageiro extra.
Sob meus cuidados, Tortie tem as melhores refeições possíveis. Apenas frango ou peixe (apena a carne) moídos e o seu favorito, ovos mexidos. Sem os dentes, ela apenas lambe e engole qualquer alimento que entra em sua boca.
A falta de mastigação provavelmente contribui para as dificuldades ao defecar (uma vez e cada dois dias) e para o inchaço no estômago. Ela precisa de ajuda do organismo para digerir corretamente a comida.
Conviver com os outros animais que resgatei e adotei motivou um comportamento diferente. Sabendo que ela é indefesa, sem seus dentes para brincar com os outros gatos, ela se levanta apenas para ir comer ou beber água, para ir ao banheiro e logo retorna para a proteção de sua caminha. Ela evita o contato com os outros gatos o máximo que pode. Como ela não se exercita, tende a ganhar peso, principalmente depois que foi castrada. O veterinário ficou perplexo como ela conseguiu viver tanto tempo.
E mesmo com tantas limitações, ela adotou dois filhotes que resgatei recentemente. Dá todo o cuidado necessário, apesar de não ter leite para oferecer. Ela os está preparando e nunca os abandona.
Ver Tortie é testemunhar uma graça divina em forma de mãe: sua tolerância, aceitação, disposição, seu amor abundante que lhe dá forças para cuidar de gatinhos estranhos e criá-los como se fossem dela. E tanto amor me dá forças para continuar com meu trabalho de resgate animal.
- fonte: anda
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