domingo, 9 de dezembro de 2012

Fechamento de criadouro que torturava beagles reacende debate sobre uso de animais para testes


TRÊS MORREM POR SEGUNDO

Por Helena Barradas (da Redação)
O fechamento de uma empresa italiana que criava cachorros para testes e os torturava reacende o debate sobre o uso de animais na ciência
Animais vítimas da experimentação (Foto: Reprodução/ABC.es)
Eles acabam em uma mesa de cirurgia universitária ou cheios de produtos em fase de teste. Na Espanha, são utilizados aproximadamente 900 mil animais; em toda a Europa, 12 milhões. Um escândalo ocorrido na Itália colocou mais uma vez o tema em discussão. As informações são do jornal espanhol ABC.
Green Hill é uma empresa de Montichiari, uma cidade italiana, que explora cachorros da raça beagle para testes. O beagle é a cobaia perfeita: pequeno, dócil e fácil de lidar. Um cientista não terá medo de ser mordido por um cachorro desses. Por mês, Green Hill enviava 250 cachorros para os laboratórios de vivissecção. Suas instalações abrigavam cerca de 2500 cachorros adultos e filhotes, todos amontoados em jaulas em um local sem janelas, apenas com luz artificial e alguns exaustores. Esses cachorros não passeiam nem veem o sol; dormem sobre jornais, entre fezes e xixi.
A proprietária do Green Hill, a firma norte-americana Marshall Farms, é quem mais faz testes em animais em todo o mundo, e conta com filiais em três continentes e um enorme criadouro na China. Ela praticamente monopoliza o mercado. Seus cachorros, patenteados e conhecidos como Marshall Beagle, são enviados por avião e custam entre 450 e 900 euros. Se forem fêmeas prenhas, o valor é mais alto.
Só na Espanha em 2010, 1046 cachorros foram destinados aos testes; a maioria, para estudos sobre novos remédios. Outros foram utilizados para testes de pesquisa sobre o câncer, doenças cardiovasculares e outros tipos de enfermidade.


Foto: Reprodução/Il Messaggero
O criadouro de Green Hill foi tomado por ativistas pelos direitos animais há alguns meses, durante um protesto contra a vivissecção. Uma dúzia de manifestantes ultrapassou os cordões policiais e chegou às jaulas. Algum tempo depois, saíram recebendo aplausos e com vários cachorros nos braços, após libertar os animais.
Depois, a família que administra o local fechou o acesso da população aos criadouros, recuperou os cães e os ativistas que libertaram os animais (8 mulheres e 4 homens) foram enviados à prisão, onde esperariam para saber quais delitos lhes seriam imputados. Nesse momento, houve uma reação surpreendente.
A sociedade italiana se mobilizou, as redes sociais levantaram o debate e a polêmica ultrapassou fronteiras. Foram recolhidas assinaturas durante meses, e a Delegacia da cidade tirou as acusações que estavam sobre os ativistas e, ao saber das condições de tortura a que eram submetidos os cachorros, ordenou uma investigação.
Foram encontrados centenas de cadáveres nos freezers. Há algumas semanas, Green Hill foi fechada por ordem judicial e suas instalações, isoladas por policiais enquanto as denúncias são apuradas. Os 2500 animais foram tirados do local e agora estão sob custódia do Estado, que os encaminha para adoção.
As associações de defesa animal celebram uma vitória histórica.
Três animais mortos por segundo
O último Eurobarômetro (que recolhe informações com a sociedade europeia sobre vários assuntos) mostra que o tema deixa os europeus divididos. Quarenta e quatro por cento da população apoia o uso de animais em pesquisas (se forem ratos, a porcentagem aumenta; se cachorros e macacos, diminui), enquanto 37% é contra. Os mais permissivos são os espanhóis: 65% não se sensibiliza com o assunto.
Por outro lado, três em cada quatro europeus acreditam que apenas deveriam ser permitidas as pesquisas que fossem relacionadas a enfermidades graves ou mortais; todo o restante deveria ser proibido. O que realmente se discute é se é realmente necessário utilizar animais nos laboratórios das indústrias médicas e farmacêuticas, mas, acima de tudo, na química ou militar. Só na Espanha, são utilizados quase 900 mil animais (dados de 2010); e 12 milhões em toda a Europa. A maioria são ratos, camundongos, porcos, coelhos e peixes, que nos sensibilizam menos que os beagles, mas também macacos, gatos, cachorros em geral, cavalos, cabras, pássaros…
A cada segundo, três animais morrem no mundo em favor da ciência. A polêmica cobra vigilância, porque em 2013 acaba a moratória europeia que permitia à indústria cosmética continuar utilizando animais em testes de produtos – uma proibição que deveria ter entrado em vigor há quatro anos.
fonte: anda

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