quarta-feira, 1 de maio de 2013

Egito, uma porta aberta ao tráfico de animais



Por Luiz Carlos Guedes (da Redação)
As espécies chegam à China através do Egito (Créditos: agência EFE)
As espécies chegam à China através do Egito (Créditos: agência EFE)
Os primatas podem ser oriundos da África, mas jamais do Egito.  Entretanto, as redes de tráfico fizeram deste país um dos principais portos de saída. As informações são do portal venezuelano El Mundo.
Como é possível, por exemplo, um gorila da República Democrática do Congo acabar sendo contrabandeado na China ou Europa? Seria uma questão de transportá-lo para a Nigéria ou Quênia, e em seguida para o Sudão e Egito, onde seria enviado até algum desses dois destinos finais.
Essa é uma das rotas mais comuns entre os traficantes do continente africano, segundo um recente estudo da GRASP (Great Apes Survival Partnership) – organismo de parceria entre governos de países, instituições de pesquisa, agências da ONU, organizações conservacionistas e apoiadores privados em prol da preservação dos orangotangos e gorilas e dos seus habitats na África e no Sudeste da Ásia.
Nesse obscuro negócio, onde calcula-se que anualmente são roubados das selvas da África e Sudeste Asiático cerca de 3.000 desses primatas, o aeroporto do Cairo compartilha com os de Conakry, Johanesburgo e Jacarta a duvidosa honraria de ser uma via chave para tirar esses animais do mercado cruel.
Para seu documentário “Cairo Connection”, o fotógrafo suíço Karl Ammann dedicou-se a seguir a pista de uma família egípcia que durante décadas introduziu macacos da África Central no Oriente Médio.
Em conversa telefônica no Quênia, Ammann explicou à agência Efe que muitos árabes ricos do Golfo costumam comprar (para suas coleções particulares) esses animais, que cada vez mais entram no Egito por terra através da Líbia.
O ambientalista também denuncia, em seu documentário, a situação ilegal de alguns zoológicos privados do monte Sinai egípcio, embora isso tenha lhe custado a apreensão de sua câmera para confiscarem provas comprometedoras.
Se os chimpanzés são “peças” apreciadas do comércio ilegal, os falcões também são (como os dezessete apreendidos no ano passado no aeroporto do Cairo), as tartarugas do mar Vermelho, os cavalos marinhos, as cobras e tantas outras espécies exóticas.
Um dos eventos recentes mais marcantes foi o pouso emergencial de um avião que fazia a rota Cairo-Kuwait, quando uma cobra mordeu um cidadão jordaniano, que a tinha escondido em sua bagagem de mão.
Se há uma mercadoria irresistível para as redes de tráfico, essa mercadoria é o marfim. Um relatório do programa ambiental Traffic revelou em 2012 que o Egito segue sendo um dos maiores mercados africanos onde pode-se encontrar produtos feitos a partir de dentes de elefantes, sem a permissão regulamentar.
Nos meses seguintes à revolução de 25 de janeiro de 2011, que derrubou Hosni Mubarak do poder, os investigadores encontraram mais de 8.000 peças de marfim em alguns lugares da cidade da capital egípcia, como o mercado Jan-al-Jalili, foco de atração turística.
“A maioria dessas peças (desse mercado) não são de marfim original, e sim de ossos de camelos e plástico, já que o marfim está escondido”, diz à Efe, o diretor geral egípcio de Serviços da Vida Selvagem, Ragy Toma.
O responsável admite que antes da revolução chegaram a apreender até três toneladas de marfim, e que atualmente somente tem conhecimento de algumas apreensões.
Nos casos de tráfico de animais, recorda ele, os seres vivos são enviados ao zoológico e os demais produtos, aos museus; enquanto que ao infrator é imposta uma multa de até 7.200 dólares.
O Egito é um dos 178 países que assinaram a convenção sobre o comércio internacional de espécies ameaçadas da fauna e flora, conhecida como CITES, que em sua última reunião, em março, classificou as mencionadas práticas ilegais como “crimes contra a vida silvestre”.
Toma argumenta que estão implantando as normas com departamentos especiais e que aos nove zoológicos governamentais se somam outros cinco centros de acolhimento que atendem a distintas necessidades.
Há uma tremenda ignorância sobre as leis de proteção de espécies, ressalta -em controvérsia- a defensora de animais Dina Zulfikar.
Na sua opinião, pode-se obter licenças para terem determinadas espécies, oriundas de circos e zoológicos públicos ou privados, que na prática “escapam” ao controle das autoridades.
Além de solicitar que espécies apreendidas, como os macacos, retornem aos seus locais de origem, conforme estabelece a lei, Zulfikar acredita que precisam de mais restrições ao tráfico.  Mas depois de muitos anos batalhando, está ciente de que nada contra a maré: “Sempre que houver demanda, haverá mercado”.
fonte: anda

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