Nas patas do cavalo Conhaque está o peso da sobrevivência de nove pessoas. Na rédea, um jovem estudante de 16 anos. Aldeir Leandro de Andrade, aluno da Escola Estadual Major Delfino de Paula Ricardo, passa as manhãs em sala de aula. À tarde, na companhia de Conhaque, faz carretos pela vizinhança. Chega a receber R$ 130 por dia para ajudar no sustento da mãe e dos irmãos, que moram no Bairro Santa Cruz, Região Nordeste de Belo Horizonte. Além da família Andrade, números da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelam outras 3 mil cadastradas em projeto social idealizado em parceria entre o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e a Escola de Veterinária. Somados aos outros tantos sem registro, especialistas calculam 10 mil carroceiros na cidade, número que assusta os protetores dos animais, que defendem o fim das carroças.
Defesa
Enquanto novos carroceiros, como o garoto Aldeir, crescem na periferia, a Câmara Municipal de Belo Horizonte cria a Comissão Especial de Proteção e Defesa Animal. Conquista de ativistas que, há anos, se desdobram para combater e coibir maus-tratos contra os equídeos. Para Adriana Cristina Araújo, de 42, presidente do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais (MMDA), cavalos, éguas, burros e mulas são frequentemente vitimados pelo homem. “Se avançamos com os animais pequenos, com os cavalos não demos um passo”, lamenta. Cita inúmeros casos denunciados na capital. Emociona-se ao falar da égua prestes a dar à luz, obrigada pelo carroceiro a trabalhos forçados no Bairro Nova Gameleira, na Região Oeste. “Ela não aguentou o peso e foi ao chão. Abandonada, sofrendo, teve que ser eutanasiada”. Descreve, em lágrimas, o sofrimento dos voluntários, que fizeram de tudo para salvar os animais em agonia no asfalto. “Depois, ainda acompanhamos o sofrimento do filho na barriga da mãe morta. Sem mais nada a fazer.”
Em outros pontos da cidade, às margens da Via Expressa, denúncias contra maus-tratos se repetem. No início do ano, uma égua magrela, enroscada em arame farpado, sangrou até a morte. A ocorrência comoveu agentes da Primeira Delegacia Especializada de Investigação de Crimes Contra o Meio Ambiente e Conflitos Agrários – também responsável pela recém-criada primeira unidade policial na defesa dos animais. No mesmo período, no Bairro Calafate, mais um crime envolvendo equídeos. O autor, carroceiro, responde criminalmente pelos ferimentos da égua e pode pegar até três anos de cadeia. Adriana, do MMDA, denuncia a síndrome do olho furado. “Alguns carroceiros, desumanos, furam o olho esquerdo do animal, para que ele não fique estressado com os carros no trânsito.” Para a ativista, com exceções, o homem da cidade não tem preparo e não respeita os animas.
Falta política pública eficaz
Liderança de mais de 50 grupos em defesa dos animais, Adriana entende a delicadeza social que envolve os cerca de 10 mil carroceiros de Belo Horizonte. A presidente do MMDA reconhece a importância do trabalho realizado pela Escola de Veterinária da UFMG, em parceria com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). No entanto, critica a falta de “política pública verdadeira”, que ofereça alternativa para as famílias que dependem dos animais para sobreviver. “Minas Gerais caminha à sombra de outros estados no que se refere ao respeito aos animais. No Rio Grande do Sul, em 2006, aprovaram lei pela proibição das carroças e, em respeito aos carroceiros, deram oito anos para a transição. É um exemplo para o país”, ressalta. A ativista critica também o lixo e o entulho jogados nos rios pelos carroceiros que não têm acesso às Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs), da PBH – são 34, distribuídas nas nove regionais administrativas.
fonte: anda
Com informações do EM
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