segunda-feira, 11 de junho de 2012

Quando os macacos se apaixonam


É verdade. Tal como nós, humanos, os animais também têm essa capacidade de sentir desejo pelo outro e de querer estar com o outro, mesmo que isso signifique literalmente perder a cabeça. De uma forma muito simples e divertida, o veterinário e professor universitário George Stilwell conduz-nos pelo intrincado mundo da vida afetiva dos animais através deste “Quando os macacos se apaixonam” (Esfera dos Livros).

Entrevista a George Stilwell
Os animais, à semelhança dos humanos, também se zangam, apaixonam, discutem, agridem-se, seduzem, educam, matam e matam-se. Afinal, as nossas sociedades não são assim tão diferentes das dos animais, ou são?
As sociedades não são mais do que um intrincado de relações de ódio e amor. Temos tendência a pensar que estas relações são racionais e voluntárias no caso dos humanos e instintivas no caso das outras espécies, menosprezando por isso o valor destas últimas. No entanto, cada vez mais percebemos que afinal são muito parecidas – as atitudes dos humanos afinal são muito viscerais, e os animais parecem pensar e até reagir com lógica.
Há apenas uma grande diferença, o que aumenta muito a nossa responsabilidade – podemos antever o alcance das nossas atitudes e a forma como irão afetar os outros membros da nossa sociedade e até de sociedades vizinhas.


Pensar na ideia de que os animais também se apaixonam causa alguma estranheza. Que tipo de paixão é esta?
Será que a paixão entre humanos não é também instintiva? Um rapaz é capaz de explicar por uma série de equações a razão porque se sente atraído por uma rapariga? Os Páris e Helenas deste mundo pesam sempre racionalmente as consequências da sua paixão? Se assim fosse os casamentos por contrato, como acontecia entre os príncipes e princesas da História e ainda acontece em tantas partes do mundo, teriam sucesso garantido.
É verdade que as paixões entre animais são mais vezes momentâneas e são sempre presenciais, ou seja, duram enquanto a reprodução é possível e desejável e não se mantêm a não ser que os dois parceiros estejam juntos. Mas não deixam de ser paixões no sentido em que exige sacrifício, dedicação, partilha, solidariedade e, claro, anseio pelo prazer físico.


Existem verdadeiros rituais de sedução nas diversas espécies animais, alguns dos quais de fazer verdadeira inveja a nós, mulheres.
Não acho que se deva ter inveja das técnicas e recursos que certas espécies põem ao serviço do processo de sedução da parceira (geralmente são os machos que investem mais neste processo), mas de certeza que os devemos admirar. Aliás, os humanos desde há muito que se dedicam a copiar alguns dos maiores especialistas já que, como mamíferos, somos talvez dos menos abonados na arte de namorar. As aves, os peixes, os insetos e outras espécies consideradas inferiores, colocam ao serviço da sedução meios tão espetaculares como a voz, a vestimenta e a dança, enquanto que os mamíferos geralmente resumem o seu portfólio ao olfato e à força bruta. Os homens felizmente perceberam que um murro no rival ou pingos de urina à porta do apartamento da namorada já não obtinham o mesmo efeito do que uma roupa elegante, uns bons passos de dança na discoteca ou mesmo uma canção debaixo da varanda.


Contudo, algumas relações são literalmente de perder a cabeça.
No caso dos humanos continuam a existir mulheres com capacidade de fazer os homens perder a cabeça (no bom e mau sentido), mas felizmente raramente inclui a decapitação. No caso de outras espécies o sentido pode já não ser figurado e se o galã não tem cuidado pode muito bem acabar como repasto da amante. Isto parece acontecer com a viúva-negra (um nome muito bem aplicado) e com o louva-a-deus, espécies cujo macho tenta sempre encontrar uma amada bonacheirona e por isso com a probabilidade de não estar com apetite. Se alguma coisa falhar na eleição o mais certo é perder a sua cabeça muitas vezes quando ainda está entretido com o ato sexual.


As mulheres queixam-se muitas vezes dos nove meses de gravidez. Mas que dirão as burras (um ano), as éguas (11 meses) e as elefantes (650 dias)?
A gestação que os mamíferos inventaram, ou pelo menos aperfeiçoaram, tem algumas vantagens – por exemplo, as fêmeas passam a andar com a trouxa à barriga, poupam em fraldas e não tem de ficar tanto tempo ligadas a um local – mas também tem os seus inconvenientes. Não sabemos se o enjoo matinal é um deles, mas o peso extra, a perda da linhas elegantes e, principalmente, a dor no parto de um jovem com tamanho para ir para a escola, são de certeza alguns dos motivos porque os marsupiais resolveram arranjar uma bolsa para carregar as crias deixando-as sair de tempos a tempos para aliviar as costas da mãe.


Há um dado curioso que salta à vista ao longo do livro. Nem sempre as fêmeas são o sexo fraco e, em algumas espécies, são mesmo elas quem vestem as calças lá em casa.
Em quase todas as espécies do Reino Animal o macho faz literalmente qualquer coisa para obter as boas graças da fêmea e, é óbvio, a possibilidade de um pouco de sexo. Na verdade quem coordena isto tudo são as hormonas, mas normalmente as fêmeas são que têm a última palavra e acabam por recompensar aquele que tem maior probabilidade de transmitir à nova geração os melhores genes do mercado. A continuação da história é que varia muito entre espécies – alguns machos, depois do prémio, largam a amante sem sequer um obrigado; outros colaboram na alimentação e educação dos filhos; e, finalmente, alguns infelizes pagam o sexo ótimo com uma dedicação exclusiva à prole. Neste último caso estão alguns peixes e mesmo o insuspeito e enorme macho da avestruz.


Este livro é escrito num tom muito informal e divertido, diferente a maioria dos livros sobre este tipo de matérias. Por que optou por esta forma de escrita?
A pior coisa que a Ciência pode fazer é fechar-se sobre si mesma e continuar a comunicar de forma hermética com o público. Neste livro estão descritos comportamentos, ensaios e observações feitos no âmbito da biologia e zoologia, muitos deles publicados em revistas internacionais da especialidade, mas praticamente desconhecidos do público. A forma ligeira, colocando humor na descrição de cada situação, talvez torne a leitura mais fácil e menos maçuda. Foi a minha aposta.
Por outro lado as comparações com comportamentos humanos tende a ser tão exagerada que nem se pode pensar que são alusões antropomórficas. É verdade que falar de amor, tristeza, dedicação e mais uma série de emoções é bastante arriscado em biologia, mas ao ser pintalgado por algumas metáforas é mais fácil perceber o que são apenas imagens e o que são conceitos e afirmações científicas.

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