domingo, 6 de abril de 2014

Ecossistema está em risco no Sistema Cantareira


A seca nos rios e reservatórios do Sistema Cantareira e a utilização de bombas de sucção para captar a água do fundo das represas (o chamado volume morto), para evitar o racionamento, vão desestruturar todo o ecossistema desses mananciais, com prejuízos ainda incalculáveis e permanentes para algumas espécies da fauna e da flora.
Peixes vão desaparecer, aves e outros animais migrarão. Esses e demais organismos vivos do bioma passarão por transformações biológicas e comportamentais, provocadas pela seca severa fora de época do verão de 2014. Problema que será potencializado com a captação do volume morto do Cantareira.
Num efeito em cascata, toda cadeia alimentar das vidas dos mananciais vai mudar. “A alteração que essa queda de volume de água nos rios e represas e a possibilidade de se mexer no volume morto do Cantareira podem provocar nesse meio ambiente é sem precedentes e só poderá ser avaliada no futuro”, afirma a bióloga e professora da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) Silvia Regina Gobbo.
Os níveis dos reservatórios do Cantareira atingiram ontem 13% – pior índice desde que foram construídos. Nos rios da bacia do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que forma o sistema, a baixa vazão já provoca alterações. Em fevereiro foi registrada a mortandade de cascudos no Rio Camanducaia, na altura de Amparo. A espécie é uma das mais resistentes e vive no fundo dos mananciais.
“O que aconteceu em Piracicaba também foi um exemplo do que pode ocorrer com a soma de poluentes, rios em baixo nível e calor”, afirma Dejanira de Franceschini de Angelis, professora do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Rio Claro. Com menor quantidade de água, a temperatura aumenta, acelerando a queima de oxigênio. Sem oxigênio, os mais fracos são os primeiros a morrer. A especialista em toxicidade da Unesp afirma que a situação é de aumento de poluentes com reflexos imediatos.
Laudo da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, aponta que foi essa combinação de baixa vazão do rio – que de uma média de 240 mil litros por segundo caiu para 14 mil l/s – com o revolvimento do fundo do curso d”água, causado por uma pancada de chuva de dois dias, que provocou a mortandade de 20 toneladas de peixes. Entre as espécies, estão dourado, corimba e piapara.
Nos últimos 5 anos, aumentou de 23 para 49 o registro de mortandade de peixes ao ano nos rios da bacia do PCJ, segundo a Cetesb. Por isso, especialistas ouvidos pelo Estado afirmam que drenar a água do volume morto vai mexer o fundo da represa, concentrado de poluentes, e alterará o ecossistema. “Toda vez que há uma mudança no ambiente, as espécies são obrigadas a se adaptar para sobreviver. Algumas somem”, afirmou a professora da Faculdade de Biologia da PUC-Campinas Luiza Ishikawa Ferreira.

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