terça-feira, 11 de março de 2014

Elefantes identificam predadores humanos pela voz


Os elefantes são capazes de reconhecer a voz de humanos que representam perigo para eles, uma descoberta que sugere sua capacidade de distinguir grupos étnicos, sexo e faixa etária de seus predadores, revelaram cientistas britânicos nesta segunda-feira.
Para este estudo realizado no Parque Nacional de Amboseli, no Quênia, os pesquisadores tocaram para os elefantes gravações de vozes de tribos da região: os Massai, criadores de vacas e cabras que competem com os elefantes pelo acesso à água e pasto, e os Kamba, agricultores que representam uma ameaça muito menor.
A experiência revelou que os elefantes têm um comportamento muito mais defensivo quando escutam as vozes dos Massai em relação aos Kamba.
Também se mostram menos defensivos diante das vozes de mulheres e crianças, mesmo sendo Massai, o que sugere que os elefantes associam idade e sexo dos seres humanos à potencial ameaça.
Estudos anteriores já haviam revelado que famílias de elefantes africanos reagiam com temor ao cheiro da roupa de homens Massai. Os animais também se mostram agressivos diante de tecidos vermelhos, a cor típica dos Massai.
“Reconhecer os predadores e avaliar seu grau de ameaça é uma capacidade de sobrevivência fundamental para um grande número de animais selvagens”, disse Karen McComb, da Universidade de Sussex, principal autora da pesquisa, publicada nas Atas da Academia Nacional de Ciências (PNAS) dos Estados Unidos.
McComb, especialista em comunicação de mamíferos, explicou que os “predadores humanos representam um desafio muito interessante, já que diferentes grupos podem apresentar graus de risco extremamente variados em relação aos animais que vivem a seu redor.
Graeme Shannon, pesquisador da Universidade de Sussex e um dos coautores do estudo, destacou que esta capacidade dos elefantes serve de sistema de alerta precoce, especialmente se o perigo não puder ser detectado visualmente.
“A capacidade dos elefantes para distinguir os Massai dos Kamba quando pronunciam a mesma frase em seu dialeto sugere que os elefantes são capazes de captar sutilezas vocais próprias da linguagem humana”.
Segundo o pesquisador, “esta sofisticada capacidade provavelmente é ensinada pelas fêmeas mais velhas – que lideram o grupo – aos elefantes mais jovens”.
Os elefantes se organizam em um sistema matriarcal, e os machos abandonam o grupo na adolescência, com entre 12 e 15 anos.
“Trata-se de um aprendizado social: observam como outros elefantes, mais velhos, reagem a uma determinada ameaça, aprendendo que alguns grupos humanos constituem um risco maior que os demais”, explicou Shannon à AFP.
Os elefantes analisados no estudo tinham entre 25 e 60 anos e “todos pareciam distinguir muito bem entre os Massai e os Kamba. Os mais velhos sabiam diferenciar entre a voz de jovens e adultos Massai”.
Os elefantes velhos também foram capazes de contar o número de leões em um grupo e diferenciar os rugidos produzidos por machos e fêmeas, disse Shannon, citando um estudo anterior.
“Os elefantes não utilizam ferramentas, como outros animais, mas são muito sofisticados, já que têm a capacidade de acumular informação social e ecológica complexa ao longo de muitos anos e aplicar tal conhecimento de uma maneira muito detalhada para encontrar a melhor solução diante do perigo”. Os golfinhos e as orcas têm capacidades semelhantes, destacou Shannon.

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