quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Geoffrey Giuliano: de Ronald McDonald a defensor dos Direitos Animais


Por Robson Fernando de Souza (da Redação)


Geoffrey Giuliano em 1991, nove anos depois de ter atuado como Ronald McDonald no Canadá. Foto: Reprodução
Não se deve tratar pessoas que trabalham a serviço da exploração animal como seres irrecuperáveis que devem ser retirados do convívio social. Porque elas podem mudar. E mudar de lado. Geoffrey Giuliano, que nos anos 80 encarnou o palhaço Ronald McDonald, mascote da gigante de fast-food McDonald’s, é um exemplo.
Giuliano já era vegetariano desde 1971, mas daqueles que não comiam carnes por motivos de saúde ou por não gostar de carne. Seu vegetarianismo, nos anos 70 e 80, não era pelos animais. Pelo contrário, ele atuou como uma ilustração divertida da indústria da carne, propagando o carnismo, a ideologia oculta que mascara a escravidão animal na pecuária e na pesca e o massacre de animais em matadouros e torna o consumo de carne algo divertido, mágico e delicioso.
Inicialmente, entre 1978 e 79, ele foi o “Maravilhoso e Mágico Rei do Hambúrguer”, homem-mascote do Burger King, e atuou como tal nos restaurantes da franquia nos estados do nordeste dos Estados Unidos.
Em 1980, ele mudou de rede e de país – mudou-se dos EUA para o Canadá – e passou a encarnar o famoso e famigerado Ronald McDonald, o palhaço-símbolo da McDonald’s, depois de ter se formado na “Universidade Ronald McDonald”, a escola de treinamento de funcionários da rede, e sido escolhido dentre 600 outros candidatos a palhaço. Ele foi um dos diversos Ronalds que atuavam pelo mundo, mas foi o primeiro Ronald do Canadá.
Como Ronald, ele ganhava 50 mil dólares por ano e contava com um chef particular, serviço de limusine e um escritório com uma secretária pessoal. Também tinha seu próprio programa de TV. Tinha fama e relativa riqueza. Era adorado pelas crianças hipnotizadas pela publicidade carnista.
Porém, acabou demitido em 1982. Diz Giuliano, que “a McDonald’s me deixou ir porque disseram que eu não estava ‘mcdonaldizado’ o suficiente, e isso quer dizer que eu não seguia fielmente a linha corporativa”. O então porta-voz da McDonald’s, Simon Halls, disse em 1990 ao jornal The Sunday Sun: “Nós [da McDonald's] temos orgulho de tudo que fazemos.” E Giuliano não tinha todo esse orgulho do que a empresa fazia.
Pelo contrário, ele estava começando a despertar sua consciência. Um processo que durou alguns anos ainda, até que, entre 1990 e 91, ele saiu em diversos jornais e revistas por ter-se declarado defensor dos animais e, por tabela, opositor de sua antiga empresa, que até hoje fatura milhões por ano com os sanduíches cuja carne é fruto da exploração, miséria e morte violenta de milhões de animais.
Giuliano publicou a seguinte carta aberta na época:
“Caro cidadão preocupado,
Por quase dois anos eu andei contra tudo aquilo em que eu acreditava em me vender ao colosso corporativo McDonald’s por atuar como Ronald McDonald para milhares de crianças inocentes e que confiavam em mim.
Antes disso, lamento em dizer, eu também encarnei “O Maravilhoso e Mágico Rei do Hambúrguer” no nordeste dos Estados Unidos, fazendo um show de mágica para crianças e promovendo as glórias do consumo de carne para a Burger King Corporation.
Dez anos se passaram e eu hoje imagino que tenho uma dívida para com pais e filhos de todos os lugares, e pretendo pagá-la experimentando e apresentando a verdade sobre o maravilhoso estilo de vida vegetariano ao qual eu tanto devo. Para alcançar esse fim, eu desenvolvi um novíssimo espetáculo para gentilmente educar as crianças sobre sua verdadeira relação com o meio ambiente, com seu amigos animais e com outras crianças, como vizinhos de um terrivelmente vitimizado e sobrecarregado planeta.
Esse espetáculo, completo com música, mágica e diversão, é minha maneira de pedir desculpas por ter me vendido tão escandalosamente aos interesses de quem fatura seus milhões a partir do assassinato de incontáveis animais e da exploração de crianças para seus próprios fins. Ainda que gastos moderados sejam esperados dos patrocinadores, este é um esquema sem fins lucrativos centrado em mostrar a jovens pessoas as pacíficas alternativas de um natural, saudável e vegetariano estilo de vida.
Paz & amor,
Geoffrey Giuliano”
Giuliano quando interpretava o palhaço Ronald McDonald, em foto de 1980. Foto: Reprodução
Profissionalmente, ele se tornou biógrafo de cantores e bandas de rock, tendo escrito inclusive uma biografia dos Beatles. E no meio ativista, vem desde então fazendo o que descreveu em sua carta: apresentações com mágica e música envolvendo a divulgação do vegetarianismo e do respeito aos animais e ao meio ambiente.
Em junho de 1991, recebeu em sua casa uma equipe do programa de TV “A Current Affair”. E declarou, conforme o Union Sun & Journal, jornal da zona ocidental de Nova York: “Nos dias de hoje as pessoas estão se tornando cada vez mais cientes e conscientes do que estão pondo dentro de seus corpos. As pessoas precisam ser educadas, e essa é minha meta.” Sempre confiando na não violência, considera-a algo que muitas vezes pode ser bem sucedido, ainda mais na educação. “Uma vez que muitas pessoas são cristãs, eu os convoco a lembrar que a Bíblia diz ‘Não matarás’. Não há nenhuma subcláusula que diga que é aceitável matar animais para alimentação”, diz ele.
Afirmou ele também: “Se eu fosse apenas um vegetariano, eles não iriam querer conhecer minha história. Mas já que eu trabalhei fazendo o papel de Ronald, os produtores do programa [A Current Affair] se interessaram por ela.”
Geoffrey Giuliano é um exemplo de vida e mostra ao mundo que mesmo alguns dos carnistas mais ativos podem se tornar vegetarianos pelos animais um dia. Têm seu tempo, assim como qualquer outra pessoa. Mesmo que demorem 20 ou 30 anos para acordarem para o fato de que o carnismo é sempre baseado em mitos e mentiras e a exploração animal não tem qualquer justificativa ética, irão acordar um dia. E o que os vegetarianos podem fazer nesse meio tempo é continuar conscientizando as pessoas de mente mais aberta e evitando usar de métodos impositivos.
Quem sabe, algum dia, aquele carnista que vive enchendo a paciência do leitor se torne um exímio vegano defensor dos Direitos Animais? Foi o que aconteceu com Giuliano – embora ele já fosse vegetariano (mas certamente não pelos animais) antes de atuar como o “Maravilhoso e Mágico Rei do Hambúrguer” e como Ronald McDonald.
fonte: anda

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