sábado, 28 de abril de 2012

Sangue, paixão e dinheiro nas rinhas de cachorros no Afeganistão



Fawad Peikar.
Kapisa (Afeganistão), 28 abr (EFE).- Sexta-feira, dia sagrado do islamismo, é também o dia das rinhas de cachorros nas colinas de Mir Bacha Koot, no norte do Afeganistão, onde se reúnem centenas de pessoas indiferentes às tentativas oficiais de proibi-las.
Todas as semanas, nesta área da província de Kapisa, se enfrentam, frequentemente até a morte e de maneira sangrenta, entre 10 e 20 cachorros, enquanto o público se dedica a apostar na vitória de seu cão favorito.
'Comecei a treinar cachorros de luta quando tinha dez anos', contou à Agência Efe o criador Wahidulá Rahimi, de 30 anos, que possui cinco animais e que detalhou que 'as apostas podem chegar a US$ 10 mil'.
'Para mim esta é uma maneira de conseguir dinheiro, mas ao mesmo tempo a verdade é que gosto da competição', acrescentou.
Rahimi leva seus cachorros a cada semana às colinas de Mir Bacha Kot, para onde costumam deslocar-se pessoas de classes menos favorecidas, mas também empresários e policiais vindos de diferentes pontos do país apenas para presenciar as rinhas.
Uma vez ali, o combate tem lugar em uma área circular. Rahimi aguardava nela com um de seus cães, enquanto um árbitro cantava seu desafio: 'Este cachorro está pronto para lutar, quem quiser enfrentá-lo com o seu que venha a esta plataforma'.
Poucos minutos depois, o criador já tinha um rival, Haji Barat, que apareceu com seu cachorro pronto para deixar que os animais lutem, enquanto os curiosos se empurravam para presenciar o espetáculo.
O árbitro se assegurou que ambos cães estavam situados um frente ao outro e colocou uma tela verde entre os dois, que levantou de forma repentina para iniciar a briga no terreno poeirento.
Ao redor, a multidão, entre a qual havia muitos apostadores, torcia com afinco por seu cão preferido, enquanto o árbitro não hesitava em insultar aqueles que, em sua tentativa de ver mais de perto o espetáculo, entravam na zona do combate.
Paradoxalmente enfastiada pelas guerras intermináveis que o país sofreu ao longo de sua história, a cultura afegã se orgulha de sua personalidade indômita e de sua admiração pela arte e pela natureza da luta.
Isto explica em parte que as rinhas de animais - galos, cachorros e, mais raramente, camelos e touros - gozem de tanta importância na vida afegã, por mais que fossem proibidas por seu caráter anti-islâmico durante o regime fundamentalista dos talibãs (1996-2001).
O cachorro de Rahimi demorou dez minutos para dar conta de seu oponente e não parecia disposto a soltá-lo até que o árbitro conseguiu introduzir um pau entre seus dentes para que o cão derrotado pudesse fugir.
'Cada cachorro custa entre US$ 2 mil e US$ 10 mil, portanto não é de estranhar que os proprietários sejam em sua maioria líderes milicianos, gente rica que pode fazer a manutenção dos combatentes', afirmou Rahimi.
Os tratadores submetem seus cachorros a um treinamento intensivo, que consiste em corridas e escalada de montanha, e os alimentam com comida especialmente energética em um país onde uma grande parte da população passa fome.
'Estamos tentando proibir esta tradição por todo o país e prendemos alguns proprietários. É ilegal no islã obrigar dois animais a lutarem', disse à Efe um porta-voz da polícia da capital afegã, Hashmat Stanikzai.
Em Kapisa, no entanto, o único agente policial presente durante as rinhas de cães vinha da cidade de Logar... para participar delas com seu cachorro.
O Afeganistão passou três décadas envolvido em distintas guerras e no país seguem ativas as milícias dos talibãs, cujo governo foi derrubado após a invasão das tropas lideradas pelos Estados Unidos no final de 2001.
Da atual luta insurgente contra as tropas estrangeiras e o governo afegão também não se livram as rinhas de animais: em 2011, pelo menos 14 civis morreram em um ataque suicida contra uma multidão que presenciava uma briga de cachorros em Kandahar. EFE

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