quinta-feira, 22 de março de 2012

Natureza carioca: os lugares onde animais estão à vontade


Há lugares na Zona Sul onde o bicho rola solto. Não estamos falando da jogatina que levou, recentemente, alguns contraventores para a cadeia, mas, sim, de uma turma que, para alegria de quem adora a natureza, não apenas rola: mergulha, bate asas, pula, brinca... Muitas vezes, faz tudo isso bem perto de alguns dos pontos mais agitados da região. São animais que vivem, entre outros locais, no Parque Guinle, em Laranjeiras, e no Jardim Botânico, ponto de encontro de observadores de aves como saíras e lavadeiras-mascaradas, espécies diferentes que, apesar da vizinhança tão densamente ocupada, estão presentes em recantos sossegados em meio ao caos urbano. Confira, nesta reportagem, alguns espaços que abrigam uma fauna ainda pouco conhecida por muitos cariocas, mas que alegra a cidade com cores exuberantes e hábitos selvagens. Além disso, aproveite para saber a melhor maneira de conhecê-los.
A delicada relação com os humanos
Laranjeiras, terça-feira, 17h. A poluição sonora causada pelo trânsito e por britadeiras usadas em uma obra não tiram a tranquilidade de um belo espaço verde. Palco de aulas de tai chi chuan e com bancos ocupados por animados estudantes, o Parque Guinle representa o programa preferido da pequena Margaux Gras, de 5 anos, que chegou da França no ano passado. Acompanhada pela mãe, a menina observa, todas as tardes, o crescimento de uma ninhada de patos. São os novos moradores do lago que também é frequentado por garças e micos.
Assim como Margaux, vários moradores da região sempre tentam chegar perto dos filhotes. Para atrai-los, às vezes oferecem rações ou sementes. Uma prática comum nos parques da cidade, mas que é alvo de um alerta da bióloga Cristiane Rangel, coordenadora do projeto Fauna do Jardim Botânico.
- Temos de aprender a conviver com os bichos dentro da cidade. Alimentá-los pode ser um erro. Quando os animais se acostumam a receber comida de pessoas deixam as áreas verdes e podem virar um problema. É o caso dos macacos-pregos, que são extremamente inteligentes e, em busca de comida, passaram a invadir casas no Horto e no Jardim Botânico - diz Cristiane.
Com uma equipe de estagiários, a bióloga coordena um passeio noturno pelo Jardim Botânico nas semanas de lua cheia. A inscrições podem ser feitas no centro de visitantes do parque no primeiro dia de cada mês ou pelos telefones 3874-1808 e 3874-1214.
- O passeio visa a desmitificar algumas lendas que envolvem os bichos, como um suposto veneno que os sapos soltam ou o perigo dos morcegos. Ao longo de duas horas, eu e outros instrutores apontamos algumas curiosidades, como folhagens farfalhando por causa de um gambá ou o pio de uma coruja que dá pistas de sua localização - informa.
De acordo com Cristiane, aproximadamente 190 espécies de aves vivem no Jardim Botânico, incluindo o quero-quero, o tiê-sangue e a saíra-de-sete-cores. Perto dali, na Lagoa Rodrigo de Freitas, também é possível ver boa parte delas, como o tucano-de-bico-preto, que havia sumido da região cem anos atrás, mas que foi reintroduzido na cidade pelo primatólogo Coimbra-Filho, ex-diretor do Zoológico do Rio, na década de 70.
O bico preto, longo e curvo do tucano faz a festa de fotógrafos amadores como o aposentado Laizer Fishenfeld, que começou a fazer registros de animais ao encontrar uma coruja durante uma caminhada pela Praia de Ipanema, em 2005. Atualmente, ele tem um banco de cerca de 50 mil fotos.
- Eu não estava com uma câmera profissional, e a foto da coruja não ficou muito boa. Desde então, procurei me aperfeiçoar, peguei o hábito de passear com uma câmera nas mãos. Entre os registros mais inusitados que fiz está uma sequência que mostra uma jiboia enlaçando um caxinguelê no Jardim Botânico. Dá para ver ele sumindo aos poucos. Foi algo do outro mundo - conta Fishenfeld.
O fotógrafo, colaborador constante da coluna de Ancelmo Gois, afirma que a relação entre o homem e os animais está se estreitando:
- Temos de respeitar o espaço deles, que, aos poucos, começam a aparecer em vários pontos da cidade e se acostumam cada vez mais com humanos. Sou um mero observador com uma máquina nas mãos, mas, com o tempo, fui aprendendo os nomes das espécies e suas características. Lembro que uma vez, andando pelo Jardim Botânico, vi uma jacupemba que resolveu pousar no chapéu de uma senhora. Aquilo foi real, estava acontecendo na minha frente e consegui fotografar. É uma prova que os bichos estão perdendo o medo das pessoas.
Uma espécie que virou sucesso entre os cariocas desde que passou a ser vista às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas é a capivara. Considerada o maior roedor do mundo, ela faz dos mangues o seu abrigo.
- A recuperação dos manguezais do entorno da lagoa vem atraindo espécies como as capivaras, os caranguejos-tamandarés e os frangos d'água. O ideal é que os bichos não sejam alimentados para que convivam entre si e com os humanos harmoniosamente, sem riscos de descontrole na proliferação - diz o biólogo Mário Moscatelli.
Assim como a Lagoa e o Jardim Botânico, o Parque Estadual da Chacrinha, em Copacabana, e o Aterro do Flamengo, apesar de serem vizinhos de áreas urbanas densamente ocupadas, também abrigam uma boa variedade de pequenos mamíferos e aves, como o mico-estrela, o gambá, o sanhaço e o tiriba. Este último, aliás, está ameaçado de extinção em outros estados.
Algumas curiosidades
1) TIÊ-SANGUE: Espécie muito observada no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas com plumagem avermelhada. Alimenta-se de frutos da embaúba, insetos e vermes.Um fator que beneficiou a manutenção da população da espécie na região sudeste foi a extensiva cultura da banana.
2)
MACACO-PREGO: Além de andarem em bando, os macacos podem ser encontrados ao longo da Mata Atlântica e na Zona Sul podem ser vistos pelas ruas do Jardim Botânico e até mesmo no Parque Lage. São considerados os mais inteligentes das Américas e sabem usar ferramentas para tirar larvas de dentro de árvores.
3) MURUCUTUTU: esta espécie de coruja mede 40 centímetros e é muito fácil de ser reconhecida devido ao som fantasmagórico que emite. Pode ser encontrada no entorno do Jardim Botânico e é predadora, se alimenta de pequenos bichos.
4)
PERERECA-VERDE-DE-COXA-LARANJA: Uma das espécies mais comuns de pererecas. Alimenta-se de insetos e fica localizada próxima a lagos e copos de bromélias do Jardim Botânico. Possui uma cor alaranjada na parte interna da coxa que constrasta com o verde do corpo. Em algumas épocas do ano ela possui pintas brancas nas costas, que armazenam veneno, substância irritante direcionada somente a predadores, mas que pode causar irritação nas pessoas.
5)
TUCANO-DE-BICO-PRETO: Oriundos da Mata Atlântica, os tucanos-de-bico-preto foram reintroduzidos na Vista Chinesa na década de 70. Atualmente estão espalhados pela Zona Sul, mas podem ser vistos também sobrevoando a Barra da Tijuca. Ficam próximos a canteiros de palmeiras, comuns no Horto e no Jardim Botânico. Apreciam sementes.
6)
MARTIM-PESCADOR: Vive ao longo de rios, lagos e lagoas. Alimenta-se de peixes e pode ser visto facilmente sobrevoando o corpo d'água em busca de comida.
7) CAXINGUELÊ: considerado o símbolo do Jardim Botânico, este animal vem desaparecendo com o tempo por conta de saguis e gatos da região. Eles se alimentam de frutos duros e sementes.
8)
SAÍRA-SETE-CORES: Conforme o nome, esta ave possui sete cores distintas. Costumam andar sempre em bando e são vistos muitas vezes no entorno da Lagoa e do lago Frei Leandro, no Jardim Botânico. Aprecia frutos de palmeiras.
9)
JACUPEMBA: É uma ave de chão e voa muito pouco. O macho e a fêmea são idênticos e podem ser facilmente confundidos. Apreciam frutos e insetos do chão.
10) CAPIVARA: este roedor costuma frequentar o entorno da Lagoa, principalmente próximo a áreas de mangue, onde se alimenta e se reproduz. De hábitos noturnos, eles sempre andam em bando e costumam se alimentar de vegetais.
11)
SAGÜI: introduzido pelo homem, o sagüi se adapta à áreas que homens vivem. Ele se alimenta de frutos, insetos e pequenos animais e tem o hábito de furar troncos de árvores para se alimentar da seiva. Cinco árvores do Jardim Botânico já foram mortas pela espécie.

noticias.yahoo.

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