O Cão conhecido como Branco, baleado por um policial militar em 2008, quando foi em defesa do seu tutor, um morador de rua que dormia em frente à Câmara Municipal de Salvador, faleceu nesta sexta (16) devido a um quadro de insuficiência renal.
Com idade estimada de 10 anos, Branco sofria com a doença há um ano e meio e periodicamente era internado em clínicas veterinárias conveniadas com a Associação Terra Verde Vida, ONG que mantinha o animal abrigado após o resgate.
O corpo de Branco foi encaminhado a um cemitério de animais, localizado no distrito de Abrantes, Camaçari, onde será enterrado amanhã (17).
Histórico
O crime, que revoltou protetores, veterinários e comerciantes que atuam no entorno da Câmara, aconteceu no dia 3 de outubro, um dia antes do Dia Mundial dos Animais. A data também homenageia São Francisco de Assis, tido como o padroeiro dos animais.
O tiro foi disparado pelo soldado da Polícia Militar (PM-BA) Wellington Sena Mariano que, segundo testemunhas, tentou acordar o morador de rua Cristiano Lisboa dos Santos, conhecido como “Índio” com chutes. Ao ver as agressões, Branco tentou defender o tutor e latiu para o policial, que sacou a arma e atingiu o cão.
A bala deflagrada pelo PM atravessou o pescoço do cachorro e ficou alojada no tórax. Branco recebeu os primeiros socorros da comerciante Priscila Cordeiro e Jussara Cerqueira, que o encaminharam para uma clínica veterinária, onde o animal foi submetido a uma cirurgia para a retirada do projétil.
A advogada voluntária da ONG Terra Verde Viva e vereadora eleita por Salvador, Ana Rita Tavares, assumiu o caso juridicamente na época e processou criminalmente o policial, que logo após a agressão foi afastado das ruas pelo comando da PM. O julgamento de Wellington durou um ano e dois meses. Ele foi condenado a pagar R$ 1.200 pelo tratamento do animal e mais R$ 1.100 em cestas básicas.
Um cão especial
De acordo com a diretora da ONG Animal Viva, Branco vivia no Centro de Salvador, na companhia de moradores de rua e com a assistência de protetores da área, desde que foi abandonado por um comerciante local. “Ele almoçava todos os dias em um restaurante situado em frente ao edifício onde funcionam os gabinetes dos vereadores. Ao meio-dia, pontualmente, Branco chegava para receber a sua ‘quentinha’, que devorava com apetite,” relata Roberlena.
Depois de ter sido baleado, Branco ainda viveu um tempo na companhia de outro morador de rua Gilson “Capenga”, mas ao apresentar problemas de saúde, foi levado para o Abrigo da Terra Verde Viva, onde viveu ao lado de 250 cães, com o carinho das pessoas que dele cuidavam.
Muito abatida, Ana Rita Tavares chorou a morte do amigo. “Ele foi um ícone de resistência às agressões que os animais abandonados sofrem de pessoas insensíveis. Viveu quase toda sua existência na rua, enfrentando doenças (erliquiose e insuficiência renal), superando as adversidades de muitos invernos, alcançando, enfim, a velhice. Morreu com dignidade, internado na clínica veterinária Prontovet, sob os cuidados dos médicos veterinários Leonardo e Ariane, mas deixando muita saudade. Eu amava Branco e ele a mim”, relembra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
verdade na expressão