domingo, 21 de abril de 2013

Humanos deveriam ser punidos por agredir animais


JUSTIÇA


Por Amary Nicolau (da Redação)
Foto: Brendan Mcdermid / Reuters
Foto: Brendan Mcdermid / Reuters
Somos rápidos ao punir animais que atacam seres humanos. Mas como fica essa história ao inverso, como no caso do elefante do Ringling Bros que foi morto a tiros? É o que questiona o artigo de Colleen Boggs, publicado essa semana no The Guardian, que você lê a seguir.
Infelizmente, todos nós estamos muito acostumados com notícias de assassinatos. Mas na semana passada, um incidente chamou a atenção especialmente porque a vítima era um elefante.
Na cidade de Tupelo, em Mississippi, um elefante de circo viajava com os Ringling Bros Barnum & Bailey Circus quando foi baleado. PETA ofereceu uma recompensa para a apreensão dos autores, e a polícia segue investigando.
Quando os autores deste crime forem identificados, eles devem ser responsabilizados, nos mesmos termos que se aplicaria se tivessem disparado a arma contra uma pessoa. Quando um animal fere um ser humano, somos rápidos em culpar e punir o animal. Mas não damos aos animais direitos iguais, quando eles são vítimas de violência humana.
Thomas Edison eletrocutou o elefante Topsy em 1903, porque ela tinha esmagado três pessoas, uma das quais tinha tentado lhe dar um cigarro aceso como alimento. Thomas também eletrocutou outros animais, mas apenas a execução de Topsy foi filmada para fins promocionais, demonstrando o poder superior da corrente elétrica que ele tinha desenvolvido. Mesmo depois de morto, Topsy foi utilizado como propaganda.
Em casos onde as estrelas dos picadeiros cometem violência, nós somos rápidos em puni-los. Mas quando as vítimas são os animais, eles são esquecidos. Isso precisa mudar, porque a forma como tratamos os animais põe a humanidade em risco. Por muito tempo, a discussão sobre seres humanos e animais tem girado em torno de diferenças essenciais. Nós tentamos definir o que faz do ser humano, ser humano. E o que faz de um animal, ser animal. Tentamos determinar a “natureza” de cada um, sem reconhecer sua cultura compartilhada.
René Descartes abriu o cachorro de sua esposa para provar que os animais eram seres sem alma. Sua visão célebre “penso, logo existo”, veio a um custo terrível para os animais: ele concluiu que os animais não pensam, portanto, seria aceitável agredi-los. Esses pensamentos de Descartes circulam pelo mundo todo.
Há muito tempo, grupos de proteção animal e ativistas se opõem à essas atitudes. O filósofo utilitarista, Jeremy Bentham, argumentou em 1789 que estávamos fazendo as perguntas erradas sobre os animais. “A questão não é se eles podem raciocinar, nem mesmo se eles podem falar, mas sim se eles podem sofrer.” Com essa pergunta Bentham deu origem ao movimento iniciado por Peter Singer, “Libertação Animal”, e representado pela PETA. Eles argumentam que os animais sofrem, e que este sofrimento tem muita importância.
As pessoas que agridem animais e as pessoas que querem protegê-los contra sofrimentos são muito diferentes em suas ações. Mas ambas se baseiam na natureza dos animais, tendo como base a capacidade ou incapacidade dos animais para determinarem o que é certo ou errado. A diferença entre o bicho homem e os bichos da “natureza” é a razão pela qual estes incidentes violentos ocorrem.
Os elefantes não são nativos da cidade de Tupelo, em Mississippi. Tão pouco a grande tenda é seu habitat natural. O elefante ferido por tiros era um artista. O incidente que tirou a vida do elefante não foi apenas um crime, mas também uma lesão no local de trabalho. Uma vez que reconhecemos que o elefante é um artista e um trabalhador, temos que considerar os seus direitos como trabalhador.
Donna Haraway se baseou nesta questão em seu trabalho mais recente. Como exemplo, ela falou de um cão pastor, argumentando que o treinamento cria um vínculo entre cães e pessoas, que remodela ambos. Ela usou o termo “espécies companheiras” para explicar que o nosso foco na diferença evolutiva é equivocada: nós estamos juntos nessa. Animais humanos e não humanos criam laços fortes através de seu trabalho compartilhado, e transformam profundamente um ao outro.
Claramente, essa transformação ocorre no caso de um elefante de circo treinado. Como as vítimas de violência, esses animais devem ter direitos iguais. Esses direitos não precisam ser baseados em juízos que fazemos sobre a natureza humana e animal, ou seja, a comparação entre os seres
humanos e “animais”. A natureza há muito tempo nos impediu de reconhecer que a nossa relação com o outro molda quem somos e impõe obrigações sobre nós.
Somos rápidos à prejulgar os animais quando esses atacam, mas lentos para ver os animais como vítimas dos ataques humanos que sofrem. Relacionamentos trazem obrigações para com eles. É tempo de seguir com nossas obrigações para com os animais. Nossa humanidade depende disso.
fonte: anda

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