quinta-feira, 19 de abril de 2012

O rei caiu (do cavalo?)


No momento em que a crise se abate sobre os europeus, aumentam na Europa as discussões sobre os custos sociais das monarquias. Os ingleses já debatem o assunto há muitos anos, ou séculos.
Quando o príncipe William se casou, muita gente questionou a fatura do "conto de fadas". Alguns interessantemente argumentaram que o evento fazia circular moeda dentro da economia inglesa, do governo para os bolsos dos ingleses, retornando parcialmente aos cofres públicos sob a forma de impostos. Enfim, o velho paradigma keynesiano, embora meio vulgarizado: é possível chacoalhar uma economia deprimida cavando buracos, produzindo tanques, entrando em guerra ou fazendo docinhos e perucas em escala gigantesca. Houve um cálculo de empregos diretos e rendas geradas com o casamento do príncipe.
De um modo ou de outro, o recente safari do Rei Juan Carlos à África é um destes episódios que soltam a imaginação da gente. Em primeiro plano, é mesmo um tapão na cara do povo espanhol, que convive atualmente com um desemprego urbano da ordem de 20% (na melhor das hipóteses). De todos os países europeus, a Espanha é aquele onde as manifestações populares tem sido as mais densas, recorrentes e organizadas.
A primeira das caricaturas que o safari de "dom Juan" ecoa é a ideia clássica do monarca parvo, alheio aos problemas do seu próprio presente. A segunda é a visão de uma África com bichos selvagens, animais ferozes… e nada mais. A terceira é novamente a imagem de um rei anacrônico, comportando-se como se pertencesse a uma pintura do século XVII. Belíssimas cenas da pintura ocidental se originaram da representação de caçadas intensas. São imagens maravilhosas do embate dramático entre o homem e a natureza. Mas isso foi há muito tempo.
Como era de se esperar, grupos de defesa dos animais também protestaram na Espanha, mostrando grande indignação com a Coroa. Para esses grupos, o safari predatório é uma prática bárbara, não mais compatível com a realidade ambiental do planeta. Se em dias remotos foi sinônimo de charme e elegância, hoje não passa de um cacoete demodê para "nobres" desocupados e que tais.
Para completar o quadro, o safari só foi "descoberto" porque o rei fraturou o quadril na brincadeira. Ou seja, Juan Carlos saiu da jogada onerando o sistema de saúde espanhol e ficou com aquela cara proverbial de menino que fuma escondido. O safari era segredo, talvez porque haja uma crise, porque seja bárbaro, porque a África…

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