Por Simone Queirós
Dar a volta por cima é uma expressão utilizada normalmente para definir um ato de superação. Embora o termo seja atribuído a histórias de seres humanos, nas próximas linhas você vai descobrir que isso também pode se aplicar aos seres de quatro patas.
É o caso de uma cadelinha mestiça de Lhasa apso que chegou ao Canil Municipal de Guarujá (SP), em maio do ano passado, depois de ter sido atropelada na Estrada Guarujá-Bertioga. Assustada e antissocial com outros cachorros, ela estava totalmente paralisada do pescoço para baixo.
Depois de ser devidamente instalada na sala de vacinas do canil, a cadela recebeu tratamento intensivo até que conseguiu voltar a mexer as patas dianteiras. O mesmo não aconteceu, entretanto, com as de trás. Mesmo assim, muito carinhosa e alegre com a equipe, logo ela tornou-se a mascote do Centro de Controle de Zoonoses e recebeu o nome de Brigitte Bardot, em homenagem à atriz, uma ativista dos direitos animais.
Mudança
Três meses se passaram até que Brigitte recebeu um presente que mudaria sua vida: um suporte com rodas para as patas traseiras. O objeto era de uma veterinária cuja cadela, também deficiente, tinha acabado de falecer.
Mas o suporte precisava ser adaptado para o seu tamanho. Um homem, agora falecido, fez este trabalho em Santos. E foi no dia 20 de setembro do ano passado, quando a cadela foi fazer um teste para começar a utilizá-lo, que seu destino começou a mudar.
Tudo porque este momento foi registrado em um vídeo, que foi postado no You Tube com o título de Filha e seu Carrinho. Até a última sexta-feira, ele contabilizava 110 exibições, que foram compartilhadas também em outra rede social, o Facebook.
Pouco antes do Natal do ano passado, as imagens chegaram ao conhecimento do adestrador e tosador santista Kin Yamamoto.
Apesar de já terem na época dois cachorros, ele e sua esposa, a bancária Joana Cristina Pizzolitto, estavam pensando em adotar uma fêmea. E quando ela viu Brigitte na internet, correndo para todos os lados com seu novo suporte, essa vontade se acentuou ainda mais: “foi amor à primeira vista”, conta Joana.
Mesmo preocupados com os cuidados extras que poderiam ter por Brigitte, em relação aos outros cães, eles encararam o desafio. Pouco mais de um mês depois de terem visto o vídeo, entraram em contato com Débora Frik, coordenadora de Bem-Estar Animal de Guarujá, para adotar a cadela.
Débora, que já tinha se apaixonado pela mascote, afirma que até chorou por saber que ela não faria mais parte do seu convívio. “Era o nosso xodó aqui”. Por isso, tomou uma atitude até então inédita: fez questão de visitar a casa onde o animal iria morar, na Ponta da Praia, em Santos. “Fiquei encantada com o carinho com que eles tratam seus cães. É tudo adaptado para eles no apartamento”.
Nova ferrari
Brigitte está com o casal há três semanas e, em homenagem à rapidez com que dirige seu carrinho, recebeu até um novo nome: Ferrari.
Tratada praticamente como filha, ela agora usa até fraldas especiais para não se arrastar na própria urina. Este, segundo Joana, é o único cuidado extra que o casal precisa ter com a cadela. “Ela faz tudo que os outros cães fazem. Em casa deixamos sem o carrinho, então ela se arrasta para todos os lados, brinca, pula. E apesar de dormir ao lado da minha cabeceira, no chão, durante a madrugada ela costuma me acordar pedindo carinho”.
Depois do primeiro vídeo, a cadelinha já ganhou outros, agora postados por sua dona. Eles podem ser vistos na página do casal no Facebook.
Tanta fama tem seu preço. O único problema de Joana atualmente é que ela não consegue fazer passeios rápidos com Ferrari pelas ruas de Santos. “Todo mundo quer brincar um pouquinho com ela quando a vê neste carrinho. Vou dar uma volta de 20 minutos e fico uma hora e meia na rua. O carinho das pessoas é impressionante”, diz emocionada.
Andar
E as boas notícias não param. Por meio da equipe do Canil, a cadela ganhou um padrinho, o veterinário Caio Pereira, que ao fazer exames descobriu que ela ainda apresenta reflexos nas patas traseiras. Ou seja, em vez de paralisia completa, o que ela tem é hemiplegia, espécie de paralisia parcial.
“Vou procurar parceria com laboratórios para fazer os exames necessários para que ela faça acupuntura e exercícios na água”, diz a tutora.
Fonte: A Tribuna
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