sábado, 7 de janeiro de 2012

Antonio: o melhor amigo dos animais


ALECY ALVES
Da Reportagem

O charreteiro Antonio de Pádua Braga Taboza, 63 anos, “Seu Pádua”, como é chamado, não tem a cultura do santo do qual seus pais emprestaram o nome, na verdade sequer lê fluentemente. Mas ele conversa com os animais, até faz “pregações” - tal como fez Santo Antônio de Pádua aos peixes na costa do Adriático, depois de constatar que os homens hereges de Rimini, na Itália, não queriam ouvi-lo.

Ao Antônio de Pádua daqui não se aplica o ditado popular que diz que “quem fala demais dá bom dia a cavalo”. Ele dá bom dia, boa tarde, boa noite e ainda agradece ao “Rsom”, seu fiel companheiro, a cada dia de trabalho compartilhado.

Esse cearense que há quase 20 anos veio passear em Cuiabá e aqui decidiu ficar, conversa também com sua cadela “Brisa”, um animal nascido do cruzamento de vira-lata com rottweiler.

O “Rsom” não tem pedigree, mas para “Seo Pádua” isso não importa, não faz a menor diferença. Ele diz que algumas pessoas já lhe disseram se tratar de um cavalo pantaneiro.

Alguém pode estar pensando: “esse homem não deve ser certo da cabeça”. Nada disso. Com juízo perfeito e grande sabedoria, Pádua se revela um apaixonado pelos animais. “Como poderia tratar mal esse cavalo, se ele é meu ganha-pão, meu patrão e meu amigo”, ensina.

Tanto “Rsom” como “Brisa” obedecem ao chacarreito sem a necessidade do uso que qualquer objeto de comando ou agressão, como os chicotes que costumam ser empregados. Apenas na base do carinho e da conversa os dois atendem aos pedidos do dono.

É curioso e surpreendente ver a relação do charreteiro com seus animais. “Rsom”, por exemplo, faz manobras de ré, caminha conforme o número de passos determinados e, mesmo não gostando, obedece.

Pádua conta que o cavalo não aprova empurrar a charrete de marcha-ré e protesta mastigando a corda que integra os apetrechos que compõem o conjunto do arreio.

Nessa hora, o charreteiro começa a conversar como se estivesse falando com uma pessoa, fazendo brincadeira do tipo: “tá nervoso, vai pescar”, enquanto esboça gargalhadas e faz carinho no animal, passando as mão sobre a crina e o lombo.

De raça desconhecida, “Rsom” tem um porte parecido com os cavalos que se apresentam em exposições. É grande, forte, tem pelo brilhante na cor caramelo e a crina está cuidadosamente cortada.

Pádua, que mora com o cavalo, três cachorros e 80 galinhas em uma chácara emprestada à margem do rio Coxipó, vizinho ao Hotel Fazenda Mato Grosso, diz que no período de seca caminha mais de 2 quilômetros para apanhar capim para o animal.

Além de capim, sempre fresco, “Rsom” come um quilo de milho por dia.

A cadela “Brisa”, também forte e bem cuidada, observa à distância, mesmo com o portão aberto, e só veio ao encontro da equipe de reportagem e de seu dono, do outro lado da rua na frente da chácara, quando obteve autorização dele.

“Brisa,” chamou, sendo atendido no primeiro pedido. Depois de conversar, fazer carinho e pedir para se sentar, ele a mandou voltar para casa e ela, mais uma vez, o obedeceu.

CASAMENTOS – Casado por cinco vezes, o charreteiro tem um filho aqui, Hilário, de 6 anos, fruto de um namoro com uma mulher quase 30 anos mais jovem que ele.

Apesar de viver distante de cinco filhos, que moram em Fortaleza, no Ceará, “Seu Pádua” garante que está sempre em contato com eles. Dois deles, ainda adolescente, diz, têm o seu apoio financeiro para continuar estudar.

Bem humorado, ao ser indagado sobre o tantos casamentos que não deram certo, o charreteiro responde em tom de brincadeira: ”não aprendi a domar as mulheres”.

diariodecuiaba.

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