quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Morre cachorro que inspirou escritor José Saramago

José Saramago e o cachorro Camões (Foto: Divulgação)


Camões, o cachorro no qual o escritor português José Saramago se inspirou para criar “O Achado”, o melhor aliado do oleiro protagonista de seu romance “A Caverna”, morreu nesta quinta-feira (dia2) em Lanzarote.
A informação foi divulgada pela viúva do escritor, Pilar del Río, em um texto emocionado publicado na página da Fundação de mesmo nome do escritor. “Morreu Camões, o cão que inspirou Saramago”, é o título dado por Pilar del Río em sua despedida ao animal.
O cachorro chegou ao seu lar de Lanzarote ao mesmo tempo em que o escritor soube que tinha sido agraciado com o Prêmio Camões (1995). “Entra, chegaste a tua casa. Assim entrou Camões na vida de José Saramago”, continua a viúva do prêmio Nobel de Literatura sobre o “doce e nobre” cachorro, que foi batizado como o grande poeta português e que sofreu com a morte do escritor em 2010.
O escritor e sua mulher conviviam com três cachorros em sua casa de Lanzarote: Pepe, um poodle; Greta, uma fêmea Yorkshire; e Camões, da raça conhecida como cão d’água, o único que ainda estava vivo, e como seus companheiros, recolhido da rua.
“Quando Camões apareceu por aqui, com seu pelo preto e a exclusiva gravata branca que o distingue de qualquer outro exemplar da espécie canina, todos os humanos de casa se pronunciaram sobre a suposta raça do recém-chegado: um poodle. Fui o único que disse que poodle não era, mas cão d’água português”, escreveu em seu blog o romancista em fevereiro de 2009.
Em tal texto, Saramago falava deste animal, de seus atributos por causa de idade, de seus companheiros Pepe e Greta (“que já foram embora para o paraíso dos cachorros”), e brincava com a coincidência de o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ter escolhido um cão d’água português para suas filhas. “Novos tempo se aproximam”, dizia com ironia.
O autor se inspirou no companheiro para criar “O Achado”, o cachorro de honorável comportamento que aparece – também de repente – na casa do oleiro Cipriano Algor, protagonista de “A Caverna” (2000).
Mas este não é o único caso no qual os cães são portadores de mensagens nos livros de Saramago, pois em “Ensaio Sobre a Cegueira” um cachorro bebe as lágrimas de uma mulher, um momento do qual o escritor se mostrava especialmente orgulhoso.
Em “O Homem Duplicado”, Tomarctus salvará o protagonista do romance, Tertuliano Máximo Afonso, e em “A Jangada de Pedra”, os cinco protagonistas encontram um cachorro que o escritor batizou como Constante (entre outras opções como Fiel, Piloto e Sentinela), por seu afã de acompanhar um dos personagens até o túmulo.
“Encontro nos cachorros mais humanidade que nos homens”, afirmou o autor português em 2003 no México, uma das ocasiões nas quais falou longamente sobre sua relação com os cães, e o papel que estes tiveram em seus romances.

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