sábado, 4 de agosto de 2012

Gatinho é encontrado morto em caixa lacrada


Foto: Fátima Chuecco
Os ativistas da causa animal desenvolvem a intuição para localizar crueldades. Muitos, de tanto resgatar bichos, desenvolvem, além da intuição, o olfato e a audição. São pessoas capazes de detectar miados e latidos de socorro em locais abertos e cobertos por outros ruídos altos de uma cidade como São Paulo. É como se ficassem dotados de superpoderes para combater o mal contra animais.
Embora eu não atue diretamente em resgates, creio que também desenvolvi minha intuição por escrever desde o início da minha carreira sobre proteção animal. Foi assim que na última quarta-feira, indo para o mercado, uma caixa colocada na esquina da minha casa me chamou a atenção. Não tinha cheiro ruim e nem se movia, mas estava selada com frita crepe e, imediatamente, lembrei de casos em que gatinhos foram achados mortos em caixas de papelão extremamente lacradas.
Podia ser também apenas um capricho de alguém para a caixa não ser aberta e o lixo espalhado pela calçada. Mas algo dentro de mim me dizia pra abrir a caixa. Chegando mais perto pude perceber que, além da fita crepe, as bordas estavam coladas. Abri e vi jornais e sacos plásticos sendo que, dentro de um deles, havia um gatinho branco.
Pelo tamanho da cabecinha dava para deduzir que se tratava de um gatinho jovem, com até seis meses. As patinhas da frente estavam juntinhas e as unhas, grandes e grossas, todas saltadas. Os olhinhos fechados, a boquinha semiaberta e o corpo um pouco endurecido.
Achei melhor acionar o 190 porque podia haver mais animais dentro da caixa e se tratar de caso de maus-tratos ou de um serial killer nas redondezas. A informação foi de que o 190 só atendia chamadas referentes a “humanos”. Daí em diante começou a saga por ajuda ligando para diversos números.
Foto: Fátima Chuecco
Delegacia demonstra mentalidade avançada
Com ajuda do policiamento ambiental da Água Funda, cujos atendentes foram extremamente atenciosos, finalmente fui atendida pelo 190 e duas viaturas policias preservaram o local enquanto me locomovi até a delegacia mais perto, a 17ª do Ipiranga, para fazer B.O. O que eu pensei que fosse ser uma tarefa árdua tentando mostrar a importância de se investigar um caso como esse, teve um desfecho bastante diferente. Algo para outros policiais, delegados e sociedade em geral se inspirarem.
Segundo extensa pesquisa do FBI, cerca de 80% dos psicopatas começa a carreira matando animais. Por isso, em países como Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, os matadores de animais já são tratados e julgados de forma diferenciada. Nesses locais já se entende que deter esses indivíduos ou monitorá-los representa uma medida preventiva, de proteção não somente aos animais, mas a toda à sociedade.
Muitos dos psicopatas treinam seus métodos em animais antes de migrarem para crianças, mulheres e outras pessoas indefesas. Portanto, caso envolvendo animal morto com algum indício de crueldade não pode ser tratado com desdém pela polícia. Mas há outra razão que determina o atendimento policial: a Lei 9.605/98 de maus-tratos a animais. E por entender muito bem tudo isso, o delegado da 17ª abriu B.O e pediu perícia. Nem parecia que eu estava no Brasil tal o atendimento profissional e ético dos PMs e na delegacia.
A corrente do bem
Quando a perícia do IC – Instituto de Criminalística chegou, outra surpresa agradável. A fotógrafa pericial também demonstrou amor pelos animais e tratou o caso com todo respeito e profissionalismo. Enquanto isso, uma policial civil, do outro lado da cidade, fazia de tudo para conseguir a necropsia do gatinho que, estranhamente, não é custeada pela prefeitura nem nesses casos em que um assassino frio pode estar envolvido.
Mas, enfim, todos os que tiveram contato com o caso naquela tarde pareciam movidos por uma corrente do Bem… ou da Justiça. O gatinho tinha duas bolas (talvez da própria carne) penduradas ao copo. Uma bastante grande. Mas estavam totalmente amassadas, como se um caminhão tivesse passado por cima. Era um gato peludo, bem limpinho – o que indica que não se tratava de um animal de rua que, por ventura, foi achado morto e embalado para o lixeiro levar.
Agora será necessário aguardar a necropsia do departamento de patologia da USP para descobrir se foi caso de maus-tratos. O mais importante é que todos, a partir desse episódio, saibam que devem contar com ajuda policial nesses casos. Devem ter a Lei 9.605/98 na ponta da língua porque, muitas vezes, falta apenas orientação sobre essa lei aos atendentes do 190. É também importante ficarmos atentos a caixas muito lacradas colocadas para os lixeiros levarem. Lixo não sai correndo. Então, se tem lacre, averiguem.
fonte:anda

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