Portugal
Uma audiência pública sobre touradas, convocada pelo partido Bloco de Esquerda (BE) em Lisboa, foi marcada por insultos e ameaças. A audiência discutia o fim do apoio público às touradas, medida prevista em um projeto de lei que será debatido na Assembleia da República no próximo dia 4.
O clima de hostilidade entre defensores da tourada e opositores da mesma começou quando uma assessora do BE tirou uma fotografia da plateia, onde havia cerca de 70 pessoas. Vários indivíduos pró-tourada se revoltaram e exigiram a deleção da foto, temendo aparecerem em algum noticiário. Depois que o deputado bloquista e moderador do debate Pedro Filipe Soares prometeu que a imagem seria deletada, os pró-tourada se acalmaram mais.
Seguiu-se uma hora e meia de declarações de representantes de associações e movimentos dos dois lados e de pessoas que falavam a título individual. Alguns discursos tinham tom sério, com posições fundamentadas, e outros apelavam para a revolta e o sarcasmo. Houve acusações e interrupções de parte a parte, que eram recebidas ora com palmas, ora com gritos de “olé”.
A deputada bloquista Catarina Martins sublinhou, tanto no início da sessão como no final, que nem esse projeto nem um outro, que pretende acabar com as exibições de tauromaquia na TV pública e também será discutido em plenário em 4 de julho, irá proibir as touradas em Portugal.
A deputada disse que “A única coisa que o BE defende, nestes seus projetos de lei, é que o Estado, o dinheiro público, não deve financiar a exposição do sofrimento animal” e que a RTP, emissora pública de Portugal, não deve mais exibir touradas. Também na tentativa de arrefecer os ânimos dos pró-tourada, ela insistiu que “com estas leis, ninguém fica proibido de fazer touradas, assistir a touradas ou mesmo transmiti-las em circuito fechado, onde bem lhe aprouver. O que está aqui em causa é o apoio público”.
Os defensores das touradas argumentavam que acabar com as touradas seria “uma medida ditatorial” e um “ataque” à “herança cultural portuguesa”. Um deles chegou a insultar a presidente da Associação Animal, Rita Silva, que havia falado antes, acusando-a de “falta de inteligência”. Outro pró-tourada, José Reis, representante da Federação Portuguesa das Associações Taurinas, considerou o debate como “do mais demagógico” a que havia assistido, argumentando que não só “não há apoios públicos à tauromaquia” como “as associações de animais vivem à custa da tauromaquia”.
O secretário-geral da Associação Nacional de Proprietários e Produtores de Caça (ANPC), João Carvalho, manifestou preocupação com a aprovação dos projetos antitourada por “atividades intimamente ligadas aos espaços rurais não poderem receber apoios públicos”. A que Catarina Martins respondeu, na tentativa de apaziguar, que “há atividades ligadas à tauromaquia, sejam agrícolas ou de preservação de certos ecossistemas, cuja importância nós reconhecemos e respeitamos – apenas queremos que o Estado deixe de financiar um espetáculo de violência sobre os animais”.
Essa audiência mostrou que há um forte ranço “cultural” e pró-tradição a ser superado pelos defensores dos animais portugueses, o que é comum em toda aquela investida progressista. Sempre haverá conservadores opostos à ideia de justiça e inclusão moral dos mais vulneráveis, seja em questões humanas, seja em questões animais não humanas. Isso, porém, não deve ser motivo de intimidação para nenhum progressista. Afinal, se o conservadorismo sempre prevalecesse, a também tradicional escravidão humana ainda seria legalizada e as mulheres, negros e indígenas continuariam hoje privados de qualquer direito. Da mesma forma, o conservadorismo deve ser superado pelos defensores dos animais, de modo que o respeito à vida prevaleça.
fonte:TVI24
Nenhum comentário:
Postar um comentário
verdade na expressão