Aves marítimas ‘atacam’ humanos para proteger ninhadas em suas ilhas
08 de março de 2012 às 19:20
Antes mesmo da visão das rochas no meio do mar, o arquipélago de São Pedro e São Paulo recepciona com seus sons, gritos estridentes. As aves marinhas que habitam essas ilhas brasileiras são um atrativo à parte para quem chega ao local.
Mas não pense que a recepção na ilha continuará calorosa. Um bater de asas incessante, um grunhido ameaçador e saltos desafiadores à frente de quem ameaça dar qualquer passo são vistos a todo o momento em qualquer parte do conjunto rochoso. Segundo o biólogo Jorge Lins, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é o instinto de proteção desses animais entrando em ação, já que a área é de reprodução.
Predominam no arquipélago três diferentes espécies de aves: o atobá-marrom (Sula leucogaster), o trinta-réis-preto (Anous minutus) e a andorinha-do-mar-preta (Anous stolidus), esta última popularmente conhecida na ilha como viuvinha.
Proteção aos ninhos
Por todos os cantos é possível ver os pássaros se bicando, comportamento que não necessariamente significa briga entre eles, segundo especialistas. O olhar humano deve ser atento, pois entre as rochas milenares do arquipélago estão pequenos ovos que, na maioria das vezes, são resguardados por pais valentes e prontos para atacar – e levar uma bicada de um atobá, por exemplo, não é nada prazeroso.
A atenção se deve também para evitar constantes “presentinhos” lançados pelos pássaros durante os voos. As fezes dessas aves, segundo Lins, são ricas em carbonato de cálcio, que ajuda a fertilizar o solo. O cheiro é predominante por toda a ilha e só não é mais intenso devido às correntes de vento que atingem o arquipélago.
“Essas aves se reproduzem durante todo o ano aqui em São Pedro e São Paulo. Os pais saem durante o dia para caçar (comem principalmente peixe) e retornam com a comida, que é regurgitada aos filhotes. Grande parte dessas espécies nasce e cresce por aqui”, disse Lins.
População de aves
Não existe um estudo recente sobre a população de aves no arquipélago, mas é notável uma maior população de atobás na comparação com as demais espécies. Essas aves têm uma envergadura que pode medir até 1,5 metro. O bico, a face e os pés são tipicamente amarelos, podendo ocorrer variações de acordo com o sexo, a região e a etapa do ciclo reprodutivo.
Por ano, cada fêmea pode gerar até 37 novos filhotes – que quando nascem têm uma penugem branca – criados em ninhos construídos com pedrinhas e penas, além de folhas, ossos de aves e peixes, galhos, pedaços de caranguejo e até prendedores de roupa, quando estes se encontram perdidos pela ilha, afirma pesquisa do departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), do Rio Grande (RS), feita em São Pedro e São Paulo.
Já as viuvinhas não se importam em dividir espaço com os outros pássaros grandalhões, mas brigam entre si se descobrem que há algum “ladrão” de pedras do ninho. Com uma faixa branca na cabeça, esses pássaros temem os humanos, que ameaçam principalmente seus ovos, colocados diretamente no chão.
Quem trabalha na Estação Científica do Arquipélago de São Pedro e São Paulo diz que as aves não costumam invadir o ambiente dos humanos – até porque quem vai lá sabe reconhecer os verdadeiros donos do arquipélago.
Fonte: G1
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