Hospital A.C.Camargo e Zoológico de SP se unem para estudar diagnóstico em mamíferos, aves, répteis e anfíbios
A hipopótamo Tetéia morreu em agosto de 2011, aos 53 anos. Na ocasião foi descoberto que ela apresentava câncer do tipo sarcoma ósseo na articulação da tíbia direita, com metástases no pulmão e coração. Depois dela, foram registrados casos de câncer em leão, onça, tigre, lagarto, cutia, tamanduá, entre outros bichos do Zoológico de São Paulo.
Com o objetivo é estabelecer meios avançados de diagnóstico desta doença em animais selvagens, criar um banco de tumores no Zoo e identificar genes que sejam marcadores prognósticos e possíveis alvos terapêuticos, cruzando as informações com câncer em humanos, nasceu uma parceria entre o Núcleo de Anatomia Patológica do Hospital A.C.Camargo e a Fundação Parque Zoológico de São Paulo.
Patologistas e veterinários acompanham evolução clínica de mamíferos, aves, répteis e anfíbios e investigam fatores que levam ao diagnóstico de tumores malignos em animais selvagens. São ações de promoção da qualidade de vida aos mais de 3 mil animais selvagens que vivem no zoo paulista, por meio da adoção de estratégias que envolvem diagnóstico clínico, por imagem e molecular.
Unindo os esforços de veterinários – que conhecem o histórico clínico dos animais – com a experiência em diagnóstico molecular de patologistas do A.C.Camargo, tornou-se possível realizar biópsias de tecidos de diferentes espécies para indicar a existência ou não de câncer, apontando as características da doença como tamanho do tumor, grau de agressividade, potencial de gerar metástases, dentre outras.
Sob a liderança do patologista e diretor de Anatomia Patológica do A.C.Camargo, Fernando Soares, já foram realizados estudos em tecidos de doze animais selvagens com suspeita de câncer e, alguns casos, como o de Tetéia, foram diagnosticados. Mais velha do que a maioria dos hipopótamos, que vivem até 35 anos na vida selvagem e, portanto, com maior possibilidade de ser acometida pelo câncer, Tetéia fazia parte de um grupo de animais de grande porte que dificulta a realização de exames diagnósticos. “É muito mais complexo realizar exames em hipopótamos, girafas, elefantes. Um simples raio-x exige uma logística imensa”, explica o diretor técnico-científico do Zoo de SP, João Batista da Cruz.
Segundo Cruz, o zoológico dispõe de cinco médicos veterinários, que acompanham diariamente o comportamento clínico dos animais e realizam exames de rotina como exames hematológicos, de fezes, de urina, endoscopias, radiografias, dentre outros. Com todos estes cuidados, que incluem alimentação balanceada e ambiente seguro, a expectativa de vida dos animais em cativeiro aumenta, crescendo também a relação com o câncer. “Se os cânceres aparecem em animais de zoológico é porque estes têm a vida mais prolongada, assim como ocorre com os humanos”, observa Cruz.
Segundo o diretor do Zoo, não há uma estatística que aponte quanto anos a mais vivem os animais em cativeiro em comparação aos que estão na selva, mas ele estima, por observação, que seja um aumento médio de 15% a 20%. “Dentro do zoo os animais não estão expostos aos diversos fatores que neles causa grande estresse como as questões climáticas, a falta de alimentos, necessidade de fugir de predadores ou de ser o predador. Além disso, quando fica velho, o animal na selva se torna presa fácil para os predadores e é abandonado por seu grupo de animais”, exemplifica.
João Batista da Cruz lembra que os animais não fumam, mas estão expostos à poluição; não bebem, mas consomem alimentos também usados pelos humanos como legumes e vegetais e, portanto, também sofrem influência de fatores ambientais que podem ser cancerígenos.
Amplitude científica
O patologista Fernando Soares, juntamente com sua equipe de Anatomia Patológica do A.C.Camargo, encantou-se com o material sobre a história clínica dos animais, registrada desde a fundação do Zoo, em 1958. “Nossa proposta é montar aqui um banco de tumores nos mesmos moldes que temos no Hospital, com tecidos congelados, blocos de parafina e lâminas”, destaca Soares.
De acordo com o cientista, este material propiciará a identificação de fatores ambientais envolvidos na alteração celular que leva ao câncer e quais são os genes envolvidos neste processo. “Poderemos vislumbrar a identificação de genes que possam apontar o prognóstico para determinados animais e também estabelecer alvos terapêuticos, ou seja, saber onde atacar a doença e com quais técnicas”, explica Soares.
Outro aspecto destacado na parceria é a possibilidade de se cruzar as informações com o que hoje é sabido sobre a diversidade histopatológica dos tumores em humanos. “Um tamanduá, por exemplo, que por ventura desenvolva câncer de fígado mesmo sem nunca ter consumido bebida alcoólica ou desenvolvido quadro de hepatite por ter hábitos diferentes dos humanos, chamaria a nossa atenção e buscaríamos identificar onde se escondem os fatores que levaram à doença”, disse Soares.
Criados em zoológico, a longevidade dos animais selvagens é ampliada, atingindo, por exemplo, a média de 45 anos para primatas como os chimpanzés, e outros mamíferos como camelos (45 anos), elefantes africanos (60), girafas (28) e onças-pintadas (25) e aves como psitacideos (60).
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