Porcos eram os bichos que mais recebiam acusações.
Julgamento muitas vezes acabava com a pena máxima: forca.
Giovana SanchezDo G1, em São Paulo
Ilustração mostra porco prestes a ser enforcado. Na Idade Média, animais eram julgados como humanos
e podiam pegar a pena máxima, de execução (Foto: Arte/G1)
Em 1386, um julgamento na cidade francesa de Falaise condenou o réu
à pena máxima, enforcamento em praça pública, por cometer infanticídio
– assassinato de criança. No dia da execução, o povo se aglomerou para
ver o espetáculo. Pela importância da solenidade, o carrasco recebeu um par
de luvas brancas. No centro do show estava a ré: uma porca. Sim, isso mesmo.
A porca havia sido julgada e condenada à forca. Na Europa feudal, o julgamento
de animais era comum, já que se acreditava que, se eles eram responsáveis
por crimes, deveriam responder por eles.
O júri era igual ao aplicado aos humanos – e até a advogados os animais tinham
direito. A interpretação da criminalidade animal provavelmente vinha das crenças
judaico-cristãs. Em uma passagem bíblica, a morte por apedrejamento é citada:
“E se algum boi escornear homem ou mulher, que morra, o boi será apedrejado
certamente, e a sua carne se não comerá; mas o dono do boi será absolvido.”
(Êxodo, capítulo 21, versículo 28).
Segundo a professora de literatura inglesa da Universidade da California e autora
do recém-lançado "For the Love of Animals: The Rise of the Animal Protection
Movement" ("Pelo amor dos animais: o surgimento do movimento de proteção animal",
em tradução literal), Kathryn Shevelow, em entrevista ao G1 por e-mail, a tradição de
julgamentos era especialmente comum na França. "Os crimes eram geralmente homicídio
ou crimes sexuais, como de humanos que fazem sexo com animais. Nessa época, os homens
consideravam os animais moralmente responsáveis por seus atos."
No livro “The criminal prosecution and capital punishment of animals”, inédito
em português, o americano Edward Payson Evans examina detalhes de 191 casos do tipo. Segundo
ele, os julgamentos ocorreram principalmente entre os séculos XV e XVII, sendo que o primeiro
registro encontrado pelo autor data de 824, quando toupeiras foram excomungadas no Vale de Aosta,
noroeste da Itália. O último caso, segundo o livro, foi em 1906, quando um cachorro foi julgado em
Délémont, na Suíça.
Em alguns casos, os animais obtinham clemência. O júri podia ser tanto eclesiástico como secular,
e o crime mais comum era homicídio - mas também foram registrados roubos. Além dos porcos, entre
os bichos citados há abelhas, touros, cavalos, ratos, lobos, gatos e cobras.
Porcos
Entre os animais acusados, os porcos estavam entre os que mais frequentavam o banco dos réus.
Segundo escreveu Piers Beirne, professor de criminologia da Universidade de Southern Maine (EUA),
em um artigo sobre o assunto, o motivo de os porcos serem comunmente acusados é que eles viviam
livremente com os homens, e seu peso e tamanho faziam com que causassem problemas.
O filme “Entre a Luz e as Trevas”, de 1993, mostra um advogado que viajou ao interior da França e acabou
defendendo um porco em um julgamento.
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