terça-feira, 13 de março de 2012

o mundo se transforma

clip_image001

A foto acima é de uma beleza sem igual. O menino está internado em um hospital, portanto em tratamento, e o cachorro está lá com ele o alegrando e o estimulando.

É uma foto que mostra uma mudança de conceitos mentais significativos. É o fruto da luta de algumas pessoas determinadas que romperam com preconceitos médicos/científicos e que introduziram as brincadeiras nos hospitais, estimularam o convívio social, abriram as portas das enfermarias para que familiares possam acompanhar seus doentes. Tudo isto é o fruto de anos de luta entre esta proposta humanizadora e a reação dos reacionários de sempre.

Quando voluntários foram desenvolver brincadeiras com as crianças alguns reclamaram que hospital era lugar sério. Outros que iria atrapalhar o trabalho dos funcionários ou que os médicos seriam desautorizados. Os que dominam e querem dificultar as mudanças sempre buscam negativizar as soluções e convencer os interessados de que é melhor para eles tudo ficar como está, senão vai piorar.

Uma das maiores barreiras às mudanças dentro da área de saúde sempre foi o conceito de higiene. Quem tem hoje entre 40 e 50 anos, provavelmente saiu da maternidade, junto com a mãe, a família e as fraldas, com uma lata de leite em pó. Isto mesmo: uma lata de leite em pó. Leite distribuído gratuitamente para estimular a substituição do leite materno. Hoje parece loucura este fato. Mas, durante anos foi assim. Uma propaganda maciça contra o aleitamento materno.

Havia "bons" argumentos contra o aleitamento materno: a mamadeira era era mais higiênica, evitava o contato com o suor e com possíveis doenças das mães. O leite em pó era considerado mais saudável e era só ferver bem a água e pronto; o bebê tinha tudo o que ele precisava, sem riscos.

Hoje as campanhas são para que as mães amamentem até os dois anos. Veja que diferença. Veja que diferente: ao invés de comprar leite das “Nestlés” da vida, a pessoa utiliza um recurso próprio. Recurso que valoriza o vínculo mãe-filho, que valoriza o que nosso corpo produz e reconhece que a natureza produz algo melhor do que as fábricas. Toda esta mudança necessitou de décadas para se consolidar.

(obs: quando alguém quiser te fazer desistir de uma boa luta lembre da história da amamentação materna e não desista. Saiba que as boas mudanças são lentas e produzidas por alguns poucos abnegados que não desistem e nem se cansam.)

Me lembro quando, na constituinte de 1988, aumentaram o tempo de licença maternidade para 120 dias. Houve uma reação do empresariado nacional contra o fato. Usaram vários argumentos do tipo: vai encarecer os produtos, os pobres vão querer ter mais filhos para ficar atoa em casa, ninguém vai querer contratar mulheres para trabalhar. Lembro que a revista Veja fez uma reportagem com foto de várias mulheres grávidas em uma fábrica demonstrando o “prejuízo” do empresário com a licença maternidade. A ideologia da reportagem era a seguinte: não somos contra este direito, mas o exagero é ruim para as próprias trabalhadoras. Sempre a classe dominante negativizando as propostas que interessam aos mais humildes.

Com a humanização dos hospitais não foi diferente. As propostas eram (e ainda são) motivos de ridicularização. Quando do início do movimento para a reforma psiquiátrica chegavam a acusar seus membros de quererem soltar psicóticos assassinos pela cidade. Hoje várias vitórias já foram alcançadas. Muito ainda há que alcançar. Os que são contra ainda são fortes e com poder financeiro e político. Usam este poder para fazer a cabeça das pessoas, contra os interesses delas próprias.

É por isto que é linda a foto do cachorro em pleno hospital. Isto demonstra que o bem estar das crianças está sendo considerado fator importantíssimo para a cura. O cachorro, símbolo de sujeira, está sendo aceito como parte do tratamento e da diminuição do sofrimento de milhares de crianças. Mais uma barreira negativa está caindo. Mais uma vez estamos aprendendo a valorizar os recursos que a realidade nos apresenta. Foi assim com a amamentação materna, está sendo assim com a humanização do espaço interno dos hospitais.

Quem valoriza descobre oportunidades e soluções. Aprende a viver melhor e a tornar a sociedade melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

verdade na expressão