segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Animais selvagens tomam conta de Chernobyl

Enquanto a vida parece florescer nas áreas abandonadas da Zona de Exclusão, cientistas debatem se os animais que vivem lá são saudáveis

por Redação Galileu

Editora Globo

As andorinhas da área de Chernobyl estudadas por Mousseau apresentaram uma série de anormalidades // Crédito: Divulgação

Após o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986, uma área de mais de 1400 km quadrados em volta da antiga usina foi abandonada. Chamada de Zona da Exclusão, ela fica localizada entre a Ucrânia e a Bielorrússia e, até hoje, mais de 25 anos após o acidente, apresenta níveis de radiação gama 1000 vezes acima do normal.
Apesar disso, animais selvagens frequentam a região e plantas tomam conta das antigas construções. É possível ver matilhas de lobos, bandos de pássaros migratórios, cavalos selvagens, veados e outras espécies por lá. Mas como isso aconteceu após o acidente nuclear?
Éden da vida selvagem?

Segundo a autora de Wormwood History, a natural story of Chernobyl, Mary Mycio, a conclusão é que a presença humana é mais prejudicial aos animais do que a própria radiação. “Em um dia em Chernobyl é possível ver mais animais soltos do que em sua vida inteira”, conta.
Em 2006, um relatório feito por cientistas no Fórum de Chernobyl (evento que marcou o aniversário de 20 anos do desastre), afirmou que não só as populações de animais estavam crescendo na zona de exclusão, como nenhum efeito negativo da radiação era percebido.
Mas alguns cientistas acreditam que nem tudo são rosas. Timothy Mousseau, professor de biologia da Universidade da Carolina do Sul esteve em Chernobyl pelo menos uma vez por ano desde 1999 – e o que ele viu por lá não é nada animador. “Observamos vários efeitos causados pela radiação: anormalidades no desenvolvimento, tumores, cérebros menores do que a média e defeitos no esperma desses animais”, explica.
Analisando uma espécie de andorinha local, por exemplo, o cientista percebeu que uma grande parte delas apresentava defeitos nos olhos e nos bicos, assimetria na cauda e espermatozóides deformados. Ou seja, esses pássaros têm uma dificuldade maior em caçar e se reproduzir, comprometendo a continuidade da espécie.
Além da Zona de Exclusão
No caso das andorinhas, isso não compromete apenas os animais de Chernobyl. Por serem aves migratórias, elas poderiam acasalar com membros de outros grupos e espalhar as mutações causadas pela radiação para além da área afetada, comprometendo a espécie como um todo.
“As conclusões do Fórum de Chernobyl não foram baseadas em nenhum dado científico. No relatório eles até chegam a falar que os tumores que apareceram em humanos após o acidente foram causados pelo fumo e não pela radiação”, argumenta Mousseau. “Uma pesquisa com rigor acadêmico como a nossa, que se presta a contar os animais de forma científica, mostra que não está tudo bem em Chernobyl. E que algo parecido já está acontecendo em Fukushima”.
Mas, da mesma forma que Mousseau mostra a falta de rigor científico em outras pesquisas, outros cientistas apontam falhas em seus estudos. “Ele analisou apenas a Floresta Vermelha, de toda a área afetada pela radiação. E a Floresta Vermelha é um lugar com uma vegetação muito estranha, mesmo antes do acidente”, comenta Mary Mycio. Segundo a autora, são poucos os animais que já viviam por lá – o que explicaria a população reduzida de bichos descrita na pesquisa de Mousseau.
“Disse a ele que seria muito mais interessante pesquisar um bosque próximo à Floresta Vermelha, que apresenta uma quantidade igual de radiação, e que tem uma vegetação completamente normal”, conta Mycio. “Ele não olhou em outros lugares e esse tipo de ciência é muito ruim”, completa.

revistagalileu

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