quarta-feira, 19 de junho de 2013

Casal de moradores de rua adota animais abandonados e mobiliza paulistanos


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NATÁLIA ALBERTONI
Presidente estava pele e osso simplesmente, quase sem recheio, com pelos queimados e prestes a ser jogado de uma ponte quando os moradores de rua Marli de Castro, 35, e Sergio Astete, 42, encontraram-no em Belo Horizonte (MG) no fim de 2012. Fizeram um apelo ao algoz e adotaram o bichano.
O casal também cuida da gata Santinha Chorona, igualmente salva na capital mineira, e de Princesa, cadela vira-lata achada ainda recém-nascida em uma lixeira de Recife (PE).
Hoje, os três animais dividem um carrinho de bebê na rua Domingos de Morais, ao lado da estação Ana Rosa, zona sul de São Paulo, onde dormem tranquilos uns sobre os outros.
A moradora de rua Marli posa para foto com seus dois gatos (gato cinza: Presidente, gata branca: Santinha Chorona) e sua cadela (Princesa)
Presidente (gato cinza), Santinha Chorona (gata branca) e Princesa descansam em carrinho de bebê
Marli e Presidente (gato cinza), Santinha Chorona (gata branca) e Princesa
Marli mima e dá carinho aos animais, como o esmalte nas unhas da cadela Princesa
A cadela vira-lata Princesa achada ainda recém-nascida em uma lixeira do Recife (PE)
"Parece que é nosso destino socorrer. Se tivesse condições, teria mais [bichos], porque existem muitos na rua", explica a carioca, que diz já ter reduzido a própria alimentação para que os animais pudessem comer. "Pai não deixa filho com fome."
Juntos e sem endereço há cerca de dez anos, Marli e o companheiro argentino se conheceram em Copacabana, no Rio, e já viajaram por todo o Brasil. Ela conta que trabalhou em lavoura e até fez serviço de pedreiro, enquanto Sergio, que é escritor, diz ter colaborado para jornais de seu país.
Há cerca de um mês, fixaram-se na altura do número 480 da Domingos de Morais, entre uma farmácia Pague Menos e um supermercado Pão de Açúcar. Lá, os cinco permanecem todos os dias das 16h às 19h, horário de maior movimento de quem passa e oferece alguma ajuda.
Antes e depois desse horário, "só Deus sabe", diz Marli. "Hoje ganhei uma 'oncinha', então vamos para um hotel. Quando não arrumamos dinheiro, montamos a barraca em algum lugar seguro."
MOBILIZAÇÃO
A nota de R$ 50 foi doada por Luciana Fallani, 30. "Conheci o caso na internet. Sempre passo por aqui, mas fico sem graça de falar com eles", assume a técnica de edificações.
A história foi parar no Facebook por meio da cabeleireira Mirella Floren, 26, que, a caminho da casa do namorado, no mês passado, viu a família nos arredores da estação do metrô.
Os felinos bem tratados e de coleirinhas chamaram sua atenção. Mirella se comoveu e resolveu colocar informações sobre as necessidades do quinteto na rede social. Até a última quinta-feira, o post havia sido compartilhado mais de 700 vezes.
Desde então, já ganharam uma barraca maior, um carrinho para os "filhos", cobertores, ração, celular e até um notebook para Sergio. Autor de "Peregrino. O Poeta do Povo", publicado pela editora PoD, ele imprime palavras de paz, entregues como recompensa para qualquer apoio recebido.
VIZINHANÇA
O casal é querido na região. Na tarde em que a sãopaulo ficou no local, diversas pessoas pararam para fotografar ou acariciar o trio.
Natasha Cruz, subgerente da farmácia, elogia: "Às vezes, Marli traz roupas que ganhou e deposita na caixa de doações. Diz que, se não serviu para ela, pode ajudar alguém".
E Carlos Souza, gerente do supermercado no dia, não recebeu reclamações sobre os moradores temporários.
A aposentada Nair Mura, 79, passa todos os dias ali e doa dinheiro ou comida. "Marli é um espírito iluminado. Trata muito bem os bichinhos. Ela faz eu me lembrar da minha cachorrinha, que cuidei como uma filha."

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