VALE DO JAGUARIBE
Cachorros abandonados nas ruas estão sendo exterminados em Jaguaretama (CE), a 240 km da capital, no Vale do Jaguaribe. Os animais estão sendo capturados sem o consentimento formal do coordenador de Zoonoses, o veterinário Erico de Medeiros, que havia suspendido a ação desde o ano passado, devido à falta de estrutura para abrigar os animais. A denúncia chegou ao conhecimento do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Ceará (CRMV).
Os animais capturados nas ruas estão sendo levados para um local improvisado, instalado na área do lixão do município. É um cômodo pequeno, com apenas um vão, que mede cerca de 9m². Os animais ficam no local durante três dias, prazo dado pela lei municipal para ficar com a guarda dos animais, e depois são sacrificados. Os animais são mortos no próprio lixão e depois tem seus corpos incinerados.
De acordo com Erico, desde outubro do ano passado o serviço de carrocinha havia sido suspendido por falta de estrutura e material. “Quando o tutor não queria mais o cão, por qualquer motivo, ele entrava em contato conosco. Depois nós íamos lá recolher o animal e ele era morto, por não haver um local adequado onde eles pudessem ficar. Nós só recolhíamos os animais abandonados pelos tutores e os animais com exame confirmatório de leishmaniose para o sacrifício”, explica.
O Setor de Zoonoses de Jaguaretama não possuiu um canil para onde os animais pudessem ser levados. O local deveria abrigar os animais abandonados, dividido por canis para separação dos saudáveis, dos doentes, fêmeas, machos e dos filhotes. Ao invés disso, há apenas uma casinha, construída no próprio lixão da cidade, onde todos os cães ficam juntos. Devido às condições precárias, o serviço de carrocinha não pode ser realizado.
Erico conta ainda que em fevereiro deste ano, uma semana antes do carnaval, devido a um apelo popular, a Secretária de Infraestrutura do município começou a realizar o recolhimento dos animais de rua, sem o seu consentimento.
Os animais foram colocados na referida casinha, em péssimas condições que sempre predominaram no local. Lá, os cães ficam aguardando até o sacrifício, caso seu tutor não reivindique sua tutela novamente.
Após saber do ocorrido, o veterinário conta que pediu para suspender a ação. “Eu soube já depois do Carnaval que isso vinha sendo feito. Em nenhum momento eu fui procurado para dar minha opinião sobre o assunto. Então eu pedi para suspender novamente o serviço justamente devido à falta de estrutura e material para atender estes animais”, afirma.
No início do mês de abril, a atividade foi retomada novamente com iniciativa da Secretaria de Infraestrutura. O veterinário então procurou o titular da Secretaria de Saúde, Edimilson Pinheiro, para explicar a situação e dizer que o Setor de Zoonose não se responsabilizava pelas ações que estavam sendo adotadas no município.
“Eu cheguei para o secretário e falei o que estava acontecendo. Eu disse que eles poderiam ter chegado e conversado comigo. Daí eu iria dizer que precisaria concertar o canil, comprar o material para realizar o serviço, mas em nenhum momento isso aconteceu”, lamenta.
No dia em que a reportagem esteve no município para checar a denúncia, feita por um morador que prefere não se identificar, havia dez animais no canil improvisado. Segundo afirmou ontem o veterinário, alguns destes animais já foram sacrificados. Ele explica que o processo é feito pela chamada eutanásia humanitária, onde o cachorro recebe uma dose de sedativo e depois a injeção letal. Depois disso, os corpos são incinerados. Tudo acontece dentro da área do próprio lixão.
Repercussão mundial
Em 2008, o Diário do Nordeste publicou, com exclusividade, a denúncia de que cães estavam sendo mortos em câmaras de gás, no Centro de Zoonose do Crato. A matéria repercutiu mundialmente e levantou inúmeras questões sobre o trato com estes animais.
De acordo com a presidente da União Internacional de Proteção Animal (Uipa), a advogada Geuza Leitão, no interior o problema é muito maior devido à falta de apoio do poder público e da falta de consciência da população. “Nas grandes cidades, há inúmeros grupos de proteção animal que tratam de animais abandonados. Onde eles recolhem os animais de rua, levam para veterinários, fazem campanhas de adoção e tudo com a colaboração de anônimos. Infelizmente não é prioridade dos governos a proteção e cuidado com os animais”, afirma.
Geuza encaminhou o caso de Jaguaretama para o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Ceará (CRMV).
Mais informações
Coordenadoria do Setor de Zoonoses de Jaguaretama
Telefone: (88) 9985.1499
Telefone: (88) 9985.1499
União Internacional de Proteção Animal – (85) 3261.3330
Fonte: Diário do Nordeste
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